França: Nosso panfleto para o dia 28 de outubro: Paralisar a economia!

Os sindicatos franceses convocaram outro dia de mobilizações para hoje, 28 de outubro. Oferecemos aos leitores do Brasil uma tradução em português do panfleto que na França está sendo distribuído pelos marxistas do jornal comunista ‘La Riposte’.

Paralisar a economia!

Diante da determinação dos trabalhadores, dos jovens e dos militantes sindicais que participam do movimento contra a quebra de nossas aposentadorias, o governo responde com repressão, polícia e mentira. Sob as ordens do poder a grande imprensa minimiza sistematicamente a mobilização. Com o pretexto de combater os vândalos – que são infiltrados pelos agentes provocadores – as forças policiais agridem as manifestações pacíficas. Quanto às “convocações”*, estas são vistas como um ataque inadmissível contra o direito de greve.

Agindo assim, o governo recebeu uma ajuda preciosa da direção da CFDT (Confederação Francesa Democrática do Trabalho) e seu secretário geral, François Chérèque, que se considera favorável à retomada do trabalho nas refinarias. No dia 22 de outubro, na rádio France Inter, ele chegou a apoiar o desbloqueio dos depósitos de combustível pela polícia. Com “amigos” desse tipo os trabalhadores não precisam de inimigos!

A única chance de vitória da atual luta reside na generalização das greves por tempo indeterminado. Em um recente comunicado, o secretário da Federação Nacional dos Trabalhadores das Indústrias Químicas – CGT – chamou “… à amplição das greves em outros setores profissionais, em outros setores econômicos. É o único modo que temos para juntos frearmos o desmantelamento da nossa proteção social objetivada pelo MEDEF** e pelo governo”. Está absolutamente certo. Assim a direção da CGT deveria explicar sistematicamente, em termos claros, a todos os trabalhadores do país. A organização de novos “dias de ação” não é suficiente. Na falta de uma generalização das greves por tempo indeterminado, estes dias de ação mobilizarão cada vez um número menor de trabalhadores. Além disso, se eles permanecem isolados, os trabalhadores atualmente em greve por tempo indeterminado não poderão resistir indefinidamente.

Nas universidades, os estudantes mobilizados devem se voltar para as organizações dos trabalhadores em luta e trabalharem sistematicamente para o reforço e para a extensão da greve.

Lutar contra o capitalismo!

Confrontada a uma crise econômica maior e a uma dívida pública recorde (84% do PIB), a classe capitalista não tem outra escolha e necessita atacar todas as conquistas sociais. Hoje é a aposentadoria. Amanhã será o seguro saúde, a educação nacional, a habitação social, o seguro desemprego – em seguida novamente a aposentadoria, etc. Após ter investido bilhões de euros nos cofres dos bancos e multinacionais, o Estado quer reaver este dinheiro em detrimento da grande maioria da população. Daqui em diante o capitalismo significa regressão social permanente.

Torna-se urgente o respaldo do movimento operário com um programa compatível com esta situação. Por exemplo, para terminar com o desemprego massivo deve-se dividir o trabalho disponível através da redução do tempo de trabalho, sem perdas salariais nem flexibilização. Nós precisamos de escolas, de hospitais e de habitações sociais! Devemos empregar massivamente para os construir. Contudo, essa solução supõe o ataque à propriedade capitalista. As grandes construtoras devem ser nacionalizadas e colocadas sob controle dos trabalhadores e de suas organizações sindicais. Da mesma maneira, a nacionalização de todos os bancos privados – que têm uma atuação parasitaria – e a fusão em um único banco estatal permitiriam garantir o financiamento de programas sociais de grande importância.

Não podemos terminar com a regressão social enquanto o essencial da economia continuar propriedade de um pequeno número de capitalistas. Não podemos controlar o que não possuímos. A expropriação das grandes alavancas da economia, começando pelas empresas do CAC 40***, permitirá criar os recursos para o país, em função das necessidades da maioria das pessoas e não em função do privilégio de alguns. O programa socialista é a única alternativa séria contra o capitalismo em crise. O PCF (Partido Comunista Francês) deve recolocá-lo no seio de sua política e de sua ação.

Notas

* O governo tem utilizado a legislação especial de “emergência nacional” a fim de “convocar” trabalhadores petroleiros para fazer funcionar as refinarias.

** Sindicato patronal nacional.

*** As 40 empresas mais valorizadas na Bolsa de Paris.

Fontes:

La Risposte
In Defense of Marxism

Comentário da tradutora*:

Como está a greve geral fora dos centros urbanos?

Enquanto as manifestações correm soltas nos grandes centros urbanos, mesmo com a aprovação, na Câmara, da lei que prevê o aumento da idade legal para a aposentadoria, nas regiões rurais, para os que não vivem aqui, a greve pode parecer que passe sem ser percebida. Isso não é verdade.

No campo, a população se desloca, em sua grande maioria, de carro. Com a paralisação das refinarias e a falta de combustíveis nos postos, nós também somos ‘obrigados’ a parar. Nos supermercados, os fornecedores reduzem os trajetos para repor os estoques e as prateleiras esvaziam. Por outro lado, tudo isso nos obriga a repensar o sistema capitalista e a aderir ao movimento contra o capital: nos impulsiona a encontrar soluções de quase autonomia alimentar e de locomoção. Nos voltamos para os agricultores locais para a compra de alimentos, para os pequenos comerciantes, para os vizinhos em casos de trajetos que podem ser feitos conjuntamente. A solidariedade cresce, e a conscientização através de uma prática embrionariamente socialista, também cresce. Pena que, ainda que para muitos, não mais poder comprar nos supermercados de antes, não poder mais andar no carro sozinho e como bem entendia, continua sendo uma punição… como se o Homem fosse incapaz de se adaptar a novas situações… E que maravilhosa situação é essa de agora!

* Naiana é uma brasileira que vive na França. Trabalha em uma região rural. Além de nos fazer gentilmente a tradução, fez o comentário que publicamos aqui.

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