Dois policias militares do estado do Rio de Janeiro pararam, na noite de 12 de dezembro, sua viatura próxima a uma curva, em um local com alto índice de ocorrências criminais (Belford Roxo, Baixada Fluminense). O objetivo, segundo os PMs, era revistar um motorista em um veículo suspeito, modelo Fiat Uno. Alguns momentos depois, câmeras de segurança de uma casa flagram o início de mais um crime cometido pelos mercenários que vestem a farda da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (PMERJ).
Dois rapazes em uma motocicleta, 20 e 18 anos de idade, sem nenhuma passagem pela polícia ou ligação com o crime – o que foi constatado após encontrarem seus corpos –, visivelmente assustam-se ao dobrar na curva e verem os policiais. No lugar de parar a motocicleta, o condutor decide acelerar, e o policial decide atirar. Ambos caem da motocicleta. Com medo das consequências do “erro” de abordagem, os policiais, que não contavam com a gravação, buscam ocultar as provas e criar uma versão falsa do ocorrido para serem inocentados. E não há melhor maneira de ocultar provas de algo do que matar todos aqueles que souberam dele.
Todo jovem negro sabe que a cor da pele é um fator que o torna suspeito. Se morador de um bairro da Baixada Fluminense, pior ainda. Se está em uma motocicleta, com uma garupa, no meio da noite, é quase certo que será identificado como um criminoso pela PMERJ. Os jovens pobres e negros sabem que a regra da polícia nos bairros proletários é atirar primeiro, ocultar o crime depois.
A ação de acelerar a moto não foi uma atitude imprudente, a causa real da morte. Acelerar, tentar fugir, foi um ato de legítima defesa diante do histórico sanguinário da polícia no Rio de Janeiro. Talvez os jovens não devessem estar andando de moto àquela hora, mesmo que não constitua nenhum crime circular pela madrugada pela cidade. Deveriam respeitar o toque de recolher informal que existe em Belford Roxo e nos bairros proletários.
Tudo segue normalmente no Rio de Janeiro, a transição de prefeitos promete ser pafícica. O aprofundamento da crise leva ao aumento da desigualdade, da pobreza, da miséria, que faz com que a polícia intensifique a repressão para manter tudo nos eixos. Logo, jovens negros andam com mais medo ainda nas ruas, e são mais assassinados, inocentes ou não, mortos por “acidente” ou executados friamente.
O alto comando da PMERJ executa muito bem não só os suspeitos através dos seus soldados, mas também o trabalho para qual foi feita: preparar uma tropa de mercenários e potenciais assassinos, dispostos a identificar inimigos ou suspeitos e destroçá-los como um cão raivoso faria. Está mais que na hora de extinguir a Polícia Mililitar do estado do Rio de Janeiro.