Marielle foi executada quatro dias depois de ter denunciado o assassinato de dois moradores de uma favela durante uma operação policial do Batalhão da PM de Acari (41º BPM). Antes disso ela tinha postado em redes sociais uma reclamação sobre a morte de um educador evangélico que voltava para casa depois de ter dado uma aula.
O site da Folha de São Paulo de 15 de março explicava:
“PMs são presos após morte de cinco jovens no subúrbio do Rio” (…) “Policial confunde macaco hidráulico com arma e mata dois jovens” (…) “PMs atiram contra carro e matam estudante” (…) “Justiça torna réus dois PMs pela morte da menina Maria Eduarda”.
Todos esses casos estão na conta do 41º Batalhão da Polícia Militar, o qual a vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ), assassinada a tiros na noite de 14 de março, no centro do Rio, vinha criticando publicamente na sua última semana de vida.
Esse é o batalhão que mais mata no Rio (567 mortos contabilizados durante sete anos, quase 100 mortos por ano, sem contar os que não foram declarados).
O site G1 (do grupo O Globo) registrava em matéria de 20/03/18:
Marielle Franco tratava da violência policial nas redes sociais.
A última denúncia foi publicada em 10 de março, quatro dias antes da execução.
“Precisamos gritar para que todos saibam o que está acontecendo em Acari, neste momento. O 41º batalhão da Polícia Militar do Rio de Janeiro está aterrorizando e violentando os moradores de Acari. Nessa semana, dois jovens foram mortos e jogados num valão”, disse Marielle.
Nos últimos oito anos, o 41º batalhão da PM foi a unidade que mais registrou mortes em confrontos.
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Nos últimos doze meses, foram mais de 1.300 roubos de cargas. É o segundo maior batalhão em número de registros deste tipo de crime.
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Um post de um grupo de moradores de Acari chegou a ser compartilhado pela vereadora Marielle Franco, quatro dias antes do assassinato.
No texto, os moradores contam que “ficaram na linha de fogo com policiais atirando, sem ter nenhum bandido atrás deles. Invadiram muitas casas sem o menor critério. Andavam pelas ruas gritando que tinham ido para tocar terror. Que não queriam matar só bandido, não”.
Como se pode ver, em meados de março, todos os indícios de autoria apontavam para a PM e para um determinado batalhão da PM (que mais mata e que, ao mesmo tempo, é um dos mais ineficientes em termos de segurança pública, já que é um dos que tem maior índice de roubo de cargas!). Mas, um mês depois, a conversa é outra.
Desde a semana passada informações sobre grupos de milicianos dominam as notícias sobre a segurança pública. De passagem, uma ou outra matéria explicando que a intervenção não mudou os índices de criminalidade. Mas a atuação dos jornais, TVs e da polícia contra as “milícias” aumentou. Cento e cinquenta e nove homens (as mulheres foram soltas) foram presos em uma festa onde, segundo a Polícia Civil, estavam só milicianos. De nada adiantou os parentes mostrarem os ingressos e os posts dizendo que era uma festa pública e que só tinham ido ver um show ou dançar. Nada disso valeu. As audiências no Judiciário foram conduzidas de forma coletiva (sem individualizar para cada um dos acusados, não foram ouvidas as razões de cada um) e, em um local aonde foram aprendidos no máximo 30 armas, todos foram acusados de “porte ilegal de armas. Os quatro “seguranças” foram mortos na porta pela polícia, segundo essa em “troca de tiros” em que nenhum policial foi ferido e seus nomes até hoje não foram divulgados.
Depois as matérias sobre a ação das milícias foram todas requentadas e mostradas à exaustão. E tudo confluiu para que no dia 16 de abril fosse feita uma entrevista do Ministro Jugmann explicando que a milícia era a principal suspeita da morte de Marielle.
E, claro, para que tudo fique “claro e cientificamente provado” foram achados pedaços de impressões digitais que não identificam ninguém, mas que poderão ser comparados com impressões de alguém preso e que será acusado.
Assim, “toda a sociedade” burguesa ficará satisfeita, o “culpado” ou os “culpados” serão identificados e a ação repressiva e letal da PM nos morros e bairros operários do Rio de Janeiro continuará. Em outras palavras, será feito um corte cirúrgico em alguns setores da PM, que serão acusados de serem “milicianos” (e podem o ser, de verdade), e a PM como um todo, a principal suspeita quando o crime foi cometido, assim como os homens armados que estavam sendo denunciados por Marielle, serão substituídos por outros e o Estado continuará. Ou como diz o ditado “tudo como dantes no quartel de Abrantes”, quer dizer, nos quartéis da PM e particularmente no 41º BPM, o batalhão que mais mata no Rio.
Por tudo isso a Esquerda Marxista segue com a campanha por uma apuração independente da morte de Marielle. Para participar dela assine seu manifesto internacional (clicando aqui) e entre em contato conosco sobre como desenvolver ações na sua região.