Das pessoas entre 18 e 24 anos de idade, 24% veem a direita e as grandes empresas como as coisas mais perigosas do mundo atual. Em comparação, apenas 9% disseram o mesmo sobre os comunistas. Essas constatações de uma enquete da ComRes deixaram o establishment inquieto.
Como resultado, The Today Programme, da BBC Radio 4, convidou Fiona Lali, presidente da Sociedade Marxista SOAS e principal delegada à conferência NUS do Sindicato dos Estudantes SOAS, a participar em um debate sobre capitalismo versus comunismo. Fiona fez uma excelente defesa do comunismo contra o presidente da Associação Conservadora da Universidade Reading. Você pode ouvir abaixo a gravação do programa (em inglês).
Fiona explicou que a atual geração de jovens será a primeira a sofrer um padrão de vida pior do que o de seus pais. Estamos enfrentando um padrão de vida pior, piores condições de trabalho, cuidados de saúde mais precários e pouca ou nenhuma oportunidade de ter um lugar seguro para viver. Na sequência do colapso de Carillion [construtora britânica que foi recentemente à falência – NDT], é mais óbvio do que nunca que este não é um produto “equivocado” do capitalismo. É o melhor que o capitalismo tem para oferecer – e há um número crescente entre nós que não está disposto a continuar tolerando isso.
O apresentador da BBC John Humphrys perguntou a Fiona se a experiência da URSS não comprovaria que o comunismo é um sistema fracassado e desacreditado. Ela respondeu explicando que houve conquistas espetaculares graças à rejeição do capitalismo pela URSS e à utilização da economia planificada.
A URSS passou de uma nação que era economicamente mais atrasada do que Bangladesh hoje à segunda nação mais poderosa da Terra no espaço de menos de 50 anos. Isso prova – não na teoria, mas na prática – que a economia pode ser administrada sem latifundiários, banqueiros, capitalistas e que resultados excelentes podem ser obtidos sobre essa base.
A esplêndida defesa de Fiona das ideias comunistas na rádio nacional provocou ataques furiosos por parte do establishment. Primeiro veio o editor do CityAM, um jornal capitalista descarado, Christian May, que lançou uma diatribe no Twitter.
Capitalism subjugates the needs of the 99% to the profits of the 1%. The result is millions of preventable deaths and untold misery for people all over the world, including in Britain. If that's not tyrannical and murderous I don't know what is
— Marxist Student (@MarxistStudent) January 17, 2018
@ChristianJMay RexRexhmati em resposta a @MarxistStudent (Estudantes Marxistas)
Ela teve uma boa performance, mas não se pode defender o comunismo – uma ideologia tirânica e assassina que depende da subjugação do indivíduo a ganhos coletivos míticos. Uma ideologia que fracassou, e que continua a fracassar, onde quer que tenha sido imposta.
@MarxistStudent (Estudantes Marxistas) em resposta a @ChristianJMay RexRexhmati
O capitalismo subjuga as necessidades dos 99% aos lucros dos 1%. O resultado é milhões de mortes evitáveis e miséria incalculável para as pessoas de todo o mundo, inclusive na Grã-Bretanha. Se isso não é tirânico e assassino, não sei o que é.
Em seguida, o assunto foi abordado pelo jornal de Murdoch, o Times, e posteriormente pelo jornal de direita Daily Mail e pelo International Business Times. Esses porta-vozes do establishment convocaram Orlando Figes, confesso caluniador e acadêmico que construiu uma carreira vendendo meias verdades e distorções sobre a Revolução Russa, para denunciar que as universidades estão atraindo jovens ao comunismo.

Figes se queixa de que a juventude não parece ter conhecimento de que milhões de pessoas morreram sob o regime stalinista na União Soviética. Mas ele está equivocado. Claro que sabemos disso. Mas entendemos que a Rússia de Stalin foi um produto da degeneração dos objetivos da Revolução Russa e não de sua realização. As conquistas da União Soviética ocorreram apesar da ditadura de Stalin e não graças a ela. Com uma economia democraticamente planificada, a sociedade poderia ter se desenvolvido muito além de tudo o que vimos antes. Essas são as lições, positivas e negativas, da experiência da URSS.
É precisamente a atitude condescendente de acadêmicos arrogantes como Figes que afasta os jovens da propaganda do establishment, que diz que o sistema que temos é o melhor possível.
Pensa Figes que não podemos ver com clareza sua hedionda hipocrisia? Quantas pessoas morreram nos últimos 100 anos em guerras travadas pelo acesso a mercados e lucros? Quantos refugiados morreram afogados no Mediterrâneo ou internados em modernos gulags nas fronteiras da Europa? Um número por si só fala muito sobre o capitalismo hoje: aproximadamente 3 milhões de crianças morrem de fome ou de doenças evitáveis todos os anos.
O registro das atrocidades do capitalismo, quando se trata da vida humana, vem desde o seu nascimento. Quantas vidas o tráfico de escravos subtraiu? Quantos morreram nas mãos do Império Britânico? E durante a conquista do Novo Mundo? Quantos capitalistas, latifundiários, patrões e “estadistas” se alinharam para elogiar Mussolini, Hitler, Franco, Pinochet e outros em algum momento? A história e a realidade moderna do capitalismo são uma história de horror sem fim, tudo no interesse do lucro. Esse é o sistema que Figes e seus similares defendem.
O que a imprensa capitalista e o establishment acadêmico não podem entender é que as ideias marxistas não estão se tornando mais populares porque estão na moda ou porque os jovens são estúpidos. É porque o sistema capitalista está se expondo sistematicamente à bancarrota no pleno sentido da palavra.
As únicas ideias que, de forma clara e coerente, explicam o funcionamento fundamental do sistema capitalista e as contradições incorporadas em seus alicerces são as que foram expostas pela primeira vez por Karl Marx.
Enquanto a imprensa conservadora e os acadêmicos burgueses vociferam e deliram, a Marxist Students Federation continuará seu trabalho de educação de uma nova geração nas ideias de Marx, Engels, Lênin e Trotsky – e a usar essas ideias como um guia para mudar o mundo com uma revolução socialista.
Como disseram os próprios Marx e Engels em “O Manifesto Comunista”:
“Que a classe dominante trema ante uma revolução comunista. Os proletários não têm nada a perder além de suas cadeias. Eles têm um mundo a ganhar.”
Ao mesmo tempo, foi interessante ver desenvolver-se online o debate sobre a defesa de Fiona do comunismo. Aqui estão algumas das reações:
Bravo to the articulate young woman who powerfully made the case for socialism on #r4today this morning. Socialist ideas are gaining ground.
— Scottish Socialist Party (@The_SSP_) January 17, 2018
@The_SSP_ Scottish Socialist Party (Partido Socialista Escocês)
Parabéns à jovem bem articulada que defendeu poderosamente o socialismo no #r4today hoje de manhã. As ideias socialistas estão ganhando terreno.
https://twitter.com/carlharper_ADRV/status/953554295558983680
@carlharper_ADRV carl harper
A defesa do comunismo bem representado pela convidada do #r4today de hoje. O debate deveria ter sido mais longo. Em meio aos bastidores da crise da #Carillion, é um prazer ver os jovens rejeitando o capitalismo e suas mentiras sobre a economia planificada.
Maybe individuals like you should be put to work in a south-east Asian sweatshop to experience first-hand what capitalism is to millions of people around the world?
— Marxist Student (@MarxistStudent) January 17, 2018
@ChristianJMay RexRexhmati em resposta a @MarxistStudent (Estudantes Marxistas)
Indivíduos como ele deveriam ter a oportunidade de experimentar o comunismo em primeira mão sendo lançados de um avião sobre a Coreia do Norte. 3 por paraquedas para introduzir o espírito do comunismo durante a queda.
@MarxistStudent (Estudantes Marxistas)em resposta a @ChristianJMay RexRexhmati
Talvez indivíduos como você deveriam ser colocados para trabalhar em uma fábrica do sudeste asiático para experimentar em primeira mão o que é o capitalismo para milhões de pessoas em todo do mundo?
Capitalism just kills people in the name of profit and wreaks havoc on underdeveloped countries. It has been steeped in death and destruction since the day it entered the stage of history. That's not a quote from a novel – it's a fact from real life
— Marxist Student (@MarxistStudent) January 17, 2018
@ChristianJMay RexRexhmati em resposta a @MarxistStudent (Estudantes Marxistas)
É como dizem, “um comunista é alguém que não tem nada e quer dividir com todos”. É uma religião assassina que causou imensos estragos como quer que se tenha manifestado. A morte e a destruição são seu modus operandi. Mata o povo em nome do povo. “O zero e o infinito”, leiam esse livro, comunas.
@MarxistStudent (Estudantes Marxistas)em resposta a @ChristianJMay RexRexhmati
O capitalismo mata pessoas apenas em nome do lucro e provoca imensos estragos em países subdesenvolvidos. Ele tem se cercado de morte e destruição desde o dia em que entrou no palco da história. Essa não é uma citação de romance, é um fato da vida real.
Artigo originalmente publicado em 22 de janeiro de 2018 no site In Defense of Marxism, da Corrente Marxista Internacional (CMI), sob o título “Britain: Marxists scare the Tory press and bourgeois academics“.
Tradução de Fabiano Leite