A frente única dos partidos burgueses decidiu pelo impeachment para estabelecer um governo Temer/Cunha com apoio parlamentar do PSDB, DEM e outros. Este governo será incapaz de se estabilizar e seu advento fez surgir na cena política aquilo que Lula e a direção do PT mais temiam: massas que estão convencidas de que este é um governo de ataque (o que é verdade) e que têm todo o direito de derrubá-lo nas ruas sem esperar nenhuma eleição (o que também é verdade).
A frente única dos partidos burgueses decidiu pelo impeachment para estabelecer um governo Temer/Cunha com apoio parlamentar do PSDB, DEM e outros. Este governo será incapaz de se estabilizar e seu advento fez surgir na cena política aquilo que Lula e a direção do PT mais temiam: massas que estão convencidas de que este é um governo de ataque (o que é verdade) e que têm todo o direito de derrubá-lo nas ruas sem esperar nenhuma eleição (o que também é verdade).
O Congresso de Temer/Cunha/Aécio destruiu em um dia o trabalho que Lula e a direção do PT construíam há 30 anos, a ideia de que se devem respeitar as instituições, as eleições fraudulentas regulares, enfim, o respeito às instituições através das quais a classe dominante mantém na escravidão a classe trabalhadora e uma enorme massa de jovens e populares.
Os representantes políticos da burguesia atiraram toda legalidade burguesa (a convivência mais ou menos pacífica entre as classes no quadro definido pelo Estado Burguês) no lixo e se lançaram ao assalto do governo.
Uma matilha ultrarreacionária, sem princípios e sem escrúpulos, em nome de Deus, família (em geral a própria) e amigos (leia-se suas quadrilhas), clamando pela pátria (como sempre fazem os reacionários), unidos pelos interesses mais escusos e privados, ignorou inclusive os avisos de todas as burguesias imperialistas e deu o toque de derrubada do governo sem que eles próprios tenham a menor unidade, legitimidade ou popularidade para governar.
O imperialismo alarmado com sua manada
Na semana precedente, os maiores jornais imperialistas do mundo alertaram estes partidos burgueses provincianos e mafiosos para a aventura em que se meteriam caso aprovassem o impeachment.
New York Times, Wall Street Journal, Le Monde, The Financial Times, The Economist e uma enorme quantidade de jornais imperialistas avisaram, na capa, que era um salto irresponsável, no escuro. Era um impeachment realizado por um Congresso onde a maioria é réu ou acusado de corrupção. Todos alertavam para a criação de uma situação incontrolável. Apontavam também que os defensores do impeachment não tinham nenhum governo minimamente estável para colocar no lugar. Ao mesmo tempo, lançavam uma parte considerável da população numa situação de combate aberto.
Os grandes capitalistas nativos resistiram à ideia do impeachment durante quase um ano (vide declarações da FIRJAN, Itaú, Bradesco, Estadão etc.). No entanto, seus representantes políticos medíocres, entregues aos próprios desvarios – onde combinam-se interesses inconfessáveis à febre do ouro, degradação política e intelectual, subida à cena política dos mais baixos e ignorantes cérebros das classes dominantes – de certa maneira se autonomizaram dos industriais, banqueiros, especuladores e grandes burgueses e empreenderam sozinhos a via da aventura. Eles, que são políticos cegos e enlouquecidos pela possibilidade de assalto ao trem pagador, puseram seus interesses de tribo acima de tudo.
Em determinado momento estes verdadeiros burgueses, os capitalistas, renderam-se e foram aderindo, um a um, à política irresponsável de seus partidos ensandecidos, ao impeachment. Os seguiram porque não podiam fazer outra coisa, sob pena de choque e de perder todo contato. Fizeram como alguém que segue a correnteza esperando que mais à frente poderá retomar os esforços para chegar à margem do rio e salvar a todos. Neste caso, evitar uma crise revolucionária e salvar o capitalismo corrompido e podre que o capital imperialista controla no Brasil junto com seus sócios menores nativos. Mas, agora, amarraram sua própria sorte à destes políticos medíocres enlouquecidos e franco atiradores. A desgraça destes será a desgraça de todos eles.
Constituíram a frente única dos interesses inconfessáveis dos pequenos capitalistas e estão todos agora acreditando que unem-se assim à Macri, na Argentina, e à oposição de Leopoldo Lopez, na Venezuela, numa corrente de restabelecimento da boa ordem. Suas necessidades de atacar a força de trabalho, de aumentar a produtividade do trabalho aumentando a exploração direta e indireta, sugando mais-valia como vampiros, os levam a um caminho sem volta. A sua frente está um terreno de combate aberto entre revolução e contrarrevolução.
Os lamentáveis “socialistas” que armaram o circo e agora choram pela “democracia”
Muita gente, como a Esquerda Marxista, combateu o impeachment nas ruas. Lamentavelmente, tudo o que se ouviu dos que combatiam o impeachment no Congresso foi:
– A defesa da honra pessoal de Dilma (bastante discutível para uma presidente Poliana cercada por um mar de corrupção e que nunca sabe de nada).
– Defesa de um mandato que ela mesma, junto com Lula, atirou na lama com o estelionato eleitoral que cometeu.
– Defesa da democracia, como sendo a democracia o direito de governar fazendo o contrário do que se prometeu.
– Uma chuva de insultos despolitizados sobre corrupção, gangsterismo e uma inexistente honra dos ex-aliados que conduziam a farsa política no Congresso, onde nenhuma das acusações foi ligada ao próprio sistema capitalista, mas a um problema de honra de ambição pessoal.
– Anúncios de luta em defesa de direitos que Temer pretende atacar.
Lamentavelmente, todos que viram as cerca de quatro horas do um teatro de pulgas no Congresso, viram o PSDB praticamente desaparecer da cena, apesar de ter sido o esteio de todo o processo. Todo o ódio dos defensores do governo Dilma era voltado contra seus ex-amigos e aliados do PMDB, PP, PSD etc.
Afinal, esses partidos eram os “aliados programáticos” de Lula, do PT e do PCdoB. Eles desvelaram rapidamente a inutilidade e traição que foi esta política de alianças com os partidos burgueses, de concessão total aos capitalistas, de adesão à política de pilhagem do imperialismo.
Durante anos a maioria da direção do PT combateu e acusou de lunáticos todos que defendiam a independência de classe, que eram contra a política de colaboração com os capitalistas e exigiam a ruptura, a expropriação do capital e um verdadeiro governo dos trabalhadores. Agora, depois de domingo, está claro quem são os lunáticos!
Que dirigentes brilhantes estes que apresentaram o PMDB, o PP, Maluf, Sarney e Collor como aliados. Que brilhantes dirigentes estes que ressuscitaram estes cadáveres políticos quando tinham nas mãos as armas para enterrá-los.
Em toda a defesa parlamentar, neste domingo sujo, nenhuma voz se levantou para atacar o capitalismo e defender o socialismo. No máximo se levantaram vozes contra os ataques que virão.
A legalidade rompida pela burguesia e defendida pelos “socialistas” reformistas
A ironia da história é terrível e saborosa. O aparato do PT e do PCdoB, as cúpulas da CUT, CTB, UNE e MST lançaram-se com tudo na arena política nos últimos meses com a linha farsesca do “não vai ter golpe”. Com esta linha, defendiam o governo e o respeito às instituições apresentando-se como mais realistas do que o rei. Afinal, se os burgueses não queriam mais respeitar a Constituição e a legalidade, eles os fariam respeitar a legalidade burguesa.
A burguesia passou o rodo nos “socialistas” e “comunistas” e mostrou, mais uma vez, que esta cantilena de legalidade, de respeito às instituições e à democracia (mesmo esta democracia bastarda) é só para quando se necessita dela para controlar seus escravos. Só os reformistas acreditam nisso.
Agora que toda “legalidade”, “democracia” e “respeito” foram rompidos e espezinhados, que o “Golpe!” aconteceu ou está acontecendo, como os reformistas sem reformas vão agir?
Afirmo, com todas as letras, que Lula e os dirigentes destas cúpulas corrompidas do PT e do PCdoB vão continuar clamando por legalidade e respeito às instituições, tentando combater um “golpe” por caminhos institucionais. Tentando convencer os golpistas de que não devem ser golpistas, convencer os macacos de que não devem comer banana.
Isso vai se traduzir em uma linha política de manobras diversionistas e manifestações inócuas, cujo objetivo será pressionar para chegar a um acordo com os golpistas. É a linha do discurso de Dilma, antes da votação, em que afirmava a vontade de fazer um governo de unidade nacional com os golpistas, e do pobre Lula, que pedia que o “companheiro Temer, ao final de tudo isso, peça desculpas”.
Ah, a dialética!
Lula e Dilma clamaram tanto contra um golpe, pensando estar salvando as instituições burguesas, que, consumado o “golpe”, as massas que não desejam e não aceitarão um governo Temer/Cunha/Aécio estão se sentindo liberadas para lutar e derrubar nas ruas de todo o Brasil o governo que se constituir. Uma coisa se transformou no seu contrário. O freio institucional se transformou numa alavanca de mobilização revolucionária.
A Frente Brasil Popular e a Frente Povo Sem Medo (da qual a Esquerda Marxista é um dos signatários) já declararam que não reconhecem nenhuma legitimidade num governo saído desse processo e conclamam à mobilização nas ruas para derrotar a direita, convocando uma Assembleia Nacional de Trabalhadores para o 1º de Maio. A Esquerda Marxista se lança a fundo pela vitória desta Assembleia Nacional de Trabalhadores. Aí deve começar um combate para pôr abaixo todas as instituições, para defender a classe trabalhadora e a juventude, abrindo caminho para expropriar os expropriadores.
Nesta luta os principais obstáculos vão ser outra vez Lula e seus seguidores reformistas. Só que agora sua política está ferida de morte. É hora de enterrar a linha de colaboração de classes levantando bem alto a bandeira da Frente Única pelos direitos e reivindicações imediatas e históricas dos explorados e oprimidos.
Daqui em diante, nenhum governo terá mais qualquer estabilidade, a crise deu um salto neste domingo e uma nova situação política se abriu no Brasil. Caminhamos aceleradamente em direção a uma crise revolucionária.
Nos próximos 15 dias ninguém mais governa. Após a decisão do Senado, em que provavelmente Dilma será afastada e assume Temer, um governo de ataque se instala. No entanto, é um governo de ataque completamente incapaz de governar sem provocar uma explosão revolucionária.
Eles não têm o apoio firme do capital internacional que, muito justamente, teme a explosão social com a aplicação de um choque contra os trabalhadores. A classe trabalhadora brasileira não se sente derrotada. Ela não apoiava mais o governo Dilma/PT e isso está claro. Ao mesmo tempo, estão fortes suas lutas e conquistas nas últimas décadas. A classe trabalhadora não quer e vai lutar contra o governo de direita e sua política de aumento da exploração e opressão.
O que vai decidir tudo no próximo período é a entrada em cena da classe trabalhadora e das massas, da juventude, se levantando contra o governo, o Congresso, o Judiciário e por suas próprias reivindicações. As manifestações se transformarão inteiramente. Não haverá espaço para o “Lulinha paz e amor”. Elas serão militantes e combativas, expressando a vontade de pôr abaixo as classes dominantes e seus representantes.
Nestes combates, os marxistas estarão com as bandeiras das reivindicações operárias e da juventude, estarão defendendo a revolução e o socialismo, defendendo não a volta a uma suposta legalidade democrática burguesa, mas a luta pelo socialismo, por uma Assembleia Popular Nacional Constituinte, por um governo dos trabalhadores, que varram o Congresso, o governo, o Judiciário e passem o país a limpo.
Para levantar a classe e derrubar os “golpistas”, bem como seus representantes políticos e econômicos, é preciso impulsionar as bandeiras e os métodos próprios de luta da classe trabalhadora. Não se trata, no Brasil de hoje, de nenhuma falsa luta entre “democracia” e “fascismo”, mas da luta entre revolução e contrarrevolução, entre capitalismo e revolução proletária, entre barbárie ou socialismo. Isso só se pode fazer com as armas proletárias e da revolução proletária.
Os representantes mais medíocres que a burguesia enviou ao parlamento provocaram uma crise política de dimensões ciclópicas no meio de uma formidável crise econômica e abriram uma nova situação política. A burguesia rasgou o papel onde se escrevia “legalidade” e liberou forças que Lula e o PT conseguiram conter por anos. O Brasil do progresso se sente liberado para derrubar nas ruas qualquer instituição deste país capitalista submetido ao imperialismo e governa do por lacaios e sócios mafiosos menores.
Mais uma vez é o chicote da contrarrevolução que empurra à frente a revolução.