A declaração política da Esquerda Marxista, publicada em 20 de maio, avaliava:
Na tentativa de dar uma resposta às manifestações do dia 15, os apoiadores de Bolsonaro foram convocados para atos no próximo dia 26. Na chamada está o impeachment de Gilmar Mendes e Dias Toffoli, do STF, apoio à aprovação do projeto de lei anticrime de Moro, apoio à “Nova Previdência” e, é claro, apoio ao Jair. Entretanto, os apoiadores de Bolsonaro se dividiram sobre esse dia, o que tende, de um lado, a aumentar o caráter messiânico dos atos e, de outro, a esvaziá-los. Janaina Paschoal e Joice Hasselmann se colocam contra os atos. O MBL também “desconvocou” o ato. A divisão nas fileiras do bolsonarismo se torna evidente.
Estas manifestações podem reunir alguns milhares, mas não têm o mesmo potencial dos atos que reuniram uma massa pequeno-burguesa em 2015 e 2016, pelo impeachment de Dilma, que tinham a vantagem de ser convocados com apoio da Rede Globo e contra um governo que estava à frente do país em meio à recessão. Também devem ser menores do que os atos em apoio a Bolsonaro durante as eleições do ano passado, diante da perda de apoio do governo. Obviamente, alguns milhões ainda apoiam Bolsonaro, mas outra coisa são os que estão dispostos a ir à rua defender o governo. O certo é que serão quantitativamente e qualitativamente menores do que os atos de 15 de maio.
As manifestações ocorridas neste domingo (26/5) foram muito menores do que as de 15 de maio. Segundo o portal G1, ocorreram manifestações da direita em 156 cidades. Já os protestos contra o governo ocorreram em 252 cidades (O Estado de SP). Mas apenas esse dado é insuficiente. Para uma avaliação real, é preciso analisar a quantidade de manifestantes e quem eles eram.
Nas duas principais cidades do país, São Paulo e Rio de Janeiro, as imagens aéreas do dia 26 revelavam a dispersão das aglomerações na Avenida Paulista e na orla de Copacabana, respectivamente. Curiosamente, em nenhum dos dois casos a PM apresentou estimativas de participantes, nem os organizadores no caso do Rio de Janeiro. No Whatsapp, circulava mais uma fakenews que mostrava uma foto com mais de 100 mil pessoas. Depois foi descoberto que era uma foto da visita do Papa Francisco ao Rio em 2013. Na verdade, não havia mais do que 10 mil pessoas no Rio neste domingo. Já em São Paulo, grupos que convocaram o ato estimaram o número absurdo de 500 mil manifestantes. Nas imagens aéreas percorrendo a Avenida Paulista, menos de 10 mil pessoas podem ser vistas também. Lembrando que, segundo a CNTE, no dia 15, 250 mil jovens e trabalhadores foram às ruas de São Paulo e 400 mil do Rio de Janeiro. Estes números não são um exagero.
Além da quantidade, a qualidade. Os que foram arrastados para defender o governo em um passeio de domingo eram setores da pequena burguesia decadente, assombrada pelo ânimo de combate da massa de jovens e trabalhadores contra o governo que elegeram. Cantaram várias vezes o hino nacional e se dispersaram rapidamente. Já no dia 15, expressou-se um ânimo de combate, principalmente da juventude, que gritava “Fora Bolsonaro”, mesmo que nos caminhões de som essa consigna fosse evitada. Em São Paulo, por exemplo, diante da enrolação da fala de dirigentes sindicais e partidários no caminhão de som, depois de duas horas de concentração, a base gritava palavras de ordem para o ato sair em passeata, obrigando o início da caminhada antes do horário previsto.
A Rede Globo, apesar dos conflitos com o presidente, buscou enfatizar as pautas de interesse da burguesia em sua cobertura do dia 26, com inserções durante a programação. Foram seus temas a Reforma da Previdência e o reforço a Sergio Moro, com o seu pacote anticrime, apresentando como minoritárias as manifestações contra o Congresso e o STF. As imagens e fotos dos atos publicadas pela grande imprensa também buscaram ângulos para dar a impressão de grande quantidade de participantes.
Mas a análise, ao final, não é positiva. O jornal Folha de SP, em seu editorial desta segunda-feira avalia: “O presidente incita o conflito político, como mais uma vez ficou claro com suas declarações em redes sociais, por meio das quais, sem dúvida, associou seu prestígio aos atos de diversas cidades. Nesse aspecto, o saldo da passeata governista ficou entre neutro e negativo.”
Já o jornal O Estado de SP, em sua matéria sobre os atos, incluiu a análise do cientista político Carlos Melo, que avalia: “Não vejo o governo saindo mais forte das manifestações de hoje (ontem). O que foi feito foi demarcar que o governo não está sozinho, mas também mostrou que não está protegido pelas massas”.
A intenção da convocação dos atos foi dar uma resposta às manifestações de 15 de maio. Bolsonaro perdeu nesse embate. Foi também uma tentativa do presidente de apelar diretamente ao povo – passando por cima das instituições burguesas (Parlamento e Judiciário) – e assim reforçar o poder do Executivo e o caráter bonapartista do governo, mas também não conseguiu avançar nesse sentido.
Bolsonaro, no domingo à noite, diante da fraqueza das manifestações, declarou em entrevista: “eu não quero brigar com o parlamento, e acho que nem o parlamento comigo” e que “Eu, Alcolumbre [presidente do Senado], Maia [presidente da Câmara] e o Dias Toffoli (presidente do Supremo Tribunal Federal), estamos em harmonia. Não estamos em litígio”. Também sobre a declaração de que os manifestantes do dia 15 eram “idiotas úteis” teve que amenizar: “Eu exagerei, concordo, exagerei. O certo são inocentes úteis. São garotos inocentes, nem sabiam o que estavam fazendo lá”. Se as manifestações a seu favor tivessem sido um sucesso, poderíamos esperar outro tipo de declaração. Mas não, foram um fracasso, apesar dos governistas dizerem o contrário.
Como já prevíamos, alguns milhares foram às ruas do país de verde e amarelo defender o governo. Afinal, um presidente com menos de 5 meses à frente do país tem algum capital político. Mas o que deve ser ressaltado é a velocidade do desgaste desse governo: pesquisa realizada após os atos do dia 15 mostrava o aumento da desaprovação (36,2%) e a queda da aprovação (28,6%), uma queda de 10,1% desde fevereiro. Além disso, o “Fora Bolsonaro” já tinha o apoio de 38,1%.
A crise segue e o conflito entre os poderes pode, na verdade, aprofundar-se após as manifestações. O parlamento tenta ganhar um protagonismo. Ideias sobre a implantação de um regime parlamentarista no país começam a ser ventiladas, assim como a busca por aprovar uma Reforma da Previdência com a marca do Congresso. Isso provocou a reação do Ministro da Economia, Paulo Guedes, em dizer que se for aprovada uma “reforminha”, “Pego um avião e vou morar lá fora. Já tenho idade para me aposentar“. É a segunda vez que Guedes, um dos pilares de legitimidade do governo Bolsonaro, dá a entender que não tem apego ao cargo e pode abandoná-lo. Sergio Moro, outro pilar de sustentação, sofreu uma derrota em votação na Câmara na semana passada e teve retirado de sua pasta o COAF (Conselho de Controle de Atividades Financeiras). Militares e “olavistas” já trocaram farpas publicamente. Grupos de direita como MBL e Vem Pra Rua foram contra os atos, assim como parlamentares do partido do presidente (PSL), além do oportunista governador de SP, João Doria, que se elegeu com o slogan “Bolsodoria”.
Este é um momento de enfraquecimento do governo Bolsonaro. A palavra de ordem “Fora Bolsonaro” lançada pela Esquerda Marxista, que já foi adotada em várias manifestações no dia 15, tem o apoio de 38,1% da população e vai continuar crescendo. Este governo não pode atender as necessidades da maioria da população, pois está a serviço da burguesia e do imperialismo. Continuará se desmoralizando, assim como o regime que sustenta, o capitalismo.
Que as manifestações e provocações feitas pela direita no dia 26, como a retirada da faixa em defesa da educação da fachada do UFPR, sirvam para impulsionar as próximas mobilizações populares. É preciso dar uma nova resposta, com manifestações massivas em 30 de maio e uma grande greve geral no dia 14 de junho. A Esquerda Marxista estará lá, levantando o “Fora Bolsonaro”! É possível vencer, é possível barrar a Reforma da Previdência, reverter os cortes na educação, derrubar este governo e avançar na direção de um verdadeiro governo dos trabalhadores!