Os governos e as derrotas eleitorais da “esquerda”
As eleições na Suécia, realizadas no dia 9 de setembro, mostraram um recuo da socialdemocracia e um avanço da extrema direita. Se olharmos bem o mapa europeu, isso aconteceu em quase todos os países. Nos únicos lugares em que houve uma reação maior, foi aonde uma ‘nova’ esquerda se colocou.
Na França, com o agrupamento da França Insubmissa, dirigida por um ex-trotskista (Melanchon) e na Inglaterra, aonde a antiga direção do Partido Trabalhista perdeu a direção do partido para um deputado ‘à esquerda’, Jeremy Corbyn.
Mas, em nenhum destes dois lugares, apesar dos avanços, a esquerda conseguiu chegar ao poder. E, aonde conseguiu (na Grécia), acabou cedendo à burguesia e aplicou os planos de pagamento da dívida feitos pelo FMI, pela União Europeia e pelo Banco Centro Europeu, a famosa Troika.
Em outros termos, foi o que aconteceu também no Brasil e na Venezuela. Fruto de uma derrota eleitoral da burguesia, o primeiro governo Lula fez questão, logo de cara, de aplicar tudo o que a burguesia queria, com uma pitada ‘social’ – fez uma reforma da previdência, garantiu o financiamento que ajudou o crescimento do chamado agronegócio e manteve as isenções fiscais para as grandes multinacionais. E, de socialismo, nem em dias de festa.
Na Venezuela, uma revolução que estala após a primeira tentativa de golpe contra Chavez, teve um comandante com muita disposição, mas com pouca iniciativa real de romper até o fim com a burguesia. Após a sua morte, Maduro, seu sucessor, aprofunda a cada dia o enterro da revolução. O seu último pacote econômico vai diretamente contra as massas que sustentaram a revolução até hoje e, por isso, os EUA deixaram vazar as ‘conversas’ sobre um golpe contra Maduro e desistiram desta tentativa. Eles veem onde Maduro quer chegar.
Como chegamos a isso?
Depois da crise de 2008, a burguesia jogou a conta no colo dos trabalhadores do mundo inteiro. No mundo inteiro, os direitos trabalhistas e os direitos previdenciários são questionados. As guerras ‘locais’ varrem praticamente todo o planeta, e aonde não há guerra, a ‘guerra as drogas’ abre caminho para uma violência sem precedentes. E neste mundo, aqueles que antes abriam o caminho para a burguesia ‘com suavidade’, a socialdemocracia e todos os reformistas começaram a ser varridos pela impaciência (justa!) das massas.
O problema é que os ‘novos partidos’ à esquerda não responderam de forma muito diferente do que fez a socialdemocracia. Syriza, Podemos e outros perdem o apoio popular e criam desesperança. E uma nova vanguarda revolucionária ainda não nasceu capaz de dar respostas a esta situação.
E, tal qual na física, a política tem horror ao vazio. Os espaços abertos pela queda da Social Democracia são ocupados. Onde pode, a burguesia cria seus elementos ‘populistas’, que ocupam este lugar. Com formatos diferentes, mas prometendo resolver a crise e criar empregos, Trump nos EUA, Macron na França e Macri na Argentina chegam ao poder. E crescem as organizações populistas de direita, como o partido de Le Pen, Bolsonaro, Cinco Estrelas e Liga na Itália, etc.
No Brasil atual
O PSOL cresceu durante todo o governo Dilma. Mas, a sua política dúbia com relação a lava-jato (vários setores defendendo esta política do imperialismo de ‘limpar’ a política) e agora com a candidatura de Boulos, repetindo o que o PT sempre fez, o PSOL consegue se afundar cada vez mais.
Até os setores ditos ‘à esquerda’ entram de roldão nesta política. Tarcísio Mota, candidato a governador do Rio, dá uma entrevista no RJ1 (telejornal local da Rede Globo) na qual declara que vai manter as operações policiais nas favelas, mas sem utilizar helicópteros e com um protocolo de operações discutido com o conjunto da sociedade*. Tudo o que a burguesia queria ouvir.
O resultado disso é que a operação do PT de substituir Lula por Haddad anda a pleno vapor sem que nenhum setor ‘à esquerda’ possa impedir esta nova maracutaia eleitoral. Afinal, Haddad se apresenta com um discurso ‘à esquerda’, do partido e de Lula sofrendo nas mãos da justiça e se prepara, caso eleito, a fazer a reforma da previdência ‘para poder governar’.
O caminho da revolução é duro e difícil. A revolta das massas se expressa hoje no ódio a Bolsonaro e na sua rejeição (mais de 40% em qualquer pesquisa de opinião). Mas elas vão se manifestar daqui a pouco em greves e manifestações. As manifestações por ocasião da morte de Marielle e da queima do Museu Nacional são uma pálida prévia do próximo período.
A Esquerda Marxista mantém erguidas as suas bandeiras durante a campanha eleitoral: Contra Sistema, Pela revolução Socialista. Junte-se a nós para ajudar a preparar o partido revolucionário que a classe operária necessita.
Editorial do jornal Foice&Martelo 124, de 14 de setembro de 2018. Confira a edição atual aqui.