Rob Sewell verifica as condenações brutais que ninguém menos que os próprios capitalistas estão lançando contra o sistema. Examinando os alertas sinistros emitidos pelo Financial Times – um dos principais porta-vozes da burguesia – Rob explica que mesmo os capitalistas enxergam os sinais do desastre iminente…
O Financial Times, órgão oficial das grandes empresas, tenciona contar toda a verdade a seus leitores. Ele procura oferecer conselhos sobre como defender melhor os interesses do capitalismo e, ao fazer isso, precisa manter o controle sobre os capitães da indústria. Dessa forma, eles estabeleceram o FT City Network – uma mesa-redonda com 50 dos mais importantes capitalistas financeiros e de negócios.
Recentemente, em 22 de outubro, o jornal publicou os pontos de vista desses 50 chefões sobre o atual estado do capitalismo. É uma leitura muito interessante para os socialistas.
Eles estão muito preocupados, alarmados até, com a maneira como as coisas estão evoluindo e já vislumbram os perigos que os rondam.
Algumas dessas figuras fizeram, portanto, críticas ácidas ao capitalismo atual, mencionando a ganância corporativa, a evasão fiscal e a visão de curto prazo. Em outras palavras, esses importantes capitalistas estão condenando o capitalismo com as suas próprias palavras.
“A promessa silenciosa das economias capitalistas ocidentais – que uma maré alta faz subir todos os barcos – foi quebrada”, disse a baronesa Shriti Vadera, ex-ministra que agora comanda o Santander da Grã-Bretanha. “Um modelo melhor” agora é necessário, completou. Mas ela não oferece qualquer alternativa ou modelo “melhor”. Ela deseja um capitalismo sem riscos. Mas isso não existe.
Robert Swannell, até pouco tempo presidente da Marks & Spencer, adicionou que o capitalismo “perdeu o seu rumo”. “Nos últimos 50 anos o equilíbrio pendeu demasiadamente [para o imediatismo]” ele disse.
Essa opinião é compartilhada pelo presidente da Barclay’s, John McFarlane, e pelo ex-presidente da Lloyds, Sir Win Bischoff.
A crise terminal do capitalismo
No entanto, eles são impotentes para realmente fazer algo. O capitalismo não “perdeu o seu rumo”. Ele simplesmente está em estado de crise terminal. O “imediatismo” do capitalismo britânico surge da sua necessidade de produzir lucros rápidos. Os capitalistas são guiados por suas tentativas de maximizar lucros e isso significa apertar e tirar o máximo possível do presente. A ganância é que os guia. Eles só estão interessados em conseguir uns trocados rapidamente.
Carolyn Fairbairn, diretora-geral da CBI que criticou a agenda de Corbyn por ser de nenhuma ajuda e antinegócios, é agora forçada a admitir que o capitalismo tomou diversas “direções erradas”. E que “direções” são essas?
“A crise financeira, a fixação nos valores das ações às custas do propósito e os problemas tóxicos (…) do pagamento de impostos e dos salários dos executivos estão no caminho da redenção.”
Não se trata apenas de “direções” tomadas, mas caminhos que surgem da própria lógica interna do capitalismo. A crise é inerente ao sistema, bem como a exploração e a ganância. O capitalismo, como o escorpião da fábula, não consegue conter seus próprios instintos.
Sir Nigel Rudd, um dos antigos maiorais da City que agora comanda a empresa de engenharia aeroespacial Meggitt, disse que o capitalismo foi “sabotado pela classe gerencial”, com as tradicionais recompensas destinadas aos empresários-empreendedores agora sendo concedidas a meros gerentes.
“Nas últimas duas décadas ou mais, tornou-se possível ficar realmente rico sem assumir nenhum risco financeiro”, adicionou. Os marxistas vêm repetindo isso há anos. Os capitalistas não correm “riscos”, mas simplesmente embolsam os lucros, que vêm do trabalho não pago da classe trabalhadora.
O medo da revolta
Outros, é verdade, chegaram a conclusões diferentes. De acordo com a coluna LEX do Financial Times, “se o capitalismo perdeu o rumo, seu defeito é certamente que ele se tornou muito mole, não muito rude… Se o capitalismo não está funcionando, é hora de uma nova geração de capitalistas ter a sua vez”. (FT, 24/10/17)
Para eles o capitalismo tem de ser ainda mais bruto e impiedoso para sobreviver. Existe uma certa lógica nessa confusão, mas ela pode ser muito perigosa. Claramente Sir Nigel está muito alarmado com o caminho que isso tudo está tomando. “O público em geral instintivamente se ressente disso [e] irá se vingar de um sistema que considera injusto”.
Outros capitalistas concordam. Anne Richards, executiva-chefe da gerenciadora de fundos M&G, disse: “Na era atual, melhor descrita como ‘a era da ansiedade’, veremos o capitalismo ser rejeitado a menos que se encontre um jeito de lidar fundamentalmente com essa ansiedade”.
Então é isso. O capitalismo está criando uma repercussão massiva contra ele mesmo e contra todo o sistema. Ele está sendo desgastado a todo instante e cada vez mais rejeitado pela massa da população. Eles temem que as massas se vinguem do capitalismo e eles estão corretos. O capitalismo permanece condenado pelas palavras de seus próprios representantes.
Artigo publicado em de novembro de 2017, no site da Corrente Marxista Internacional (CMI), sob o título “Capitalists alarmed about capitalism“.
Tradução Fabiano Leite.