Imagem: U.S. Northern Command, Wikimedia Commons

Protestos se espalham por todos os Estados Unidos após envio de fuzileiros navais por Trump

Uma semana se passou desde que Trump intensificou seu regime de terror contra trabalhadores imigrantes e suas famílias. As batidas do Serviço de Imigração e Alfândega (ICE) em locais de trabalho, escolas e hospitais se intensificaram, com a Casa Branca triplicando a cota diária de prisões do ICE de mil para 3 mil.

Sob intensa pressão para cumprir as metas do governo, o ICE começou a usar um aplicativo de mapeamento, originalmente chamado de “Alien Tracker”, que utiliza dados federais de diversas agências para rastrear o status e a localização de mais de 700 mil pessoas. O frenesi das batidas resultou em um grande número de trabalhadores em “prisões colaterais” — simplesmente por estarem por perto durante uma apreensão direcionada.

Em resposta a essa campanha brutal, manifestações eclodiram em todo o país. Polícias locais, de Seattle a Nova York, estão reprimindo manifestantes. O governador do Texas, Greg Abbott, mobilizou 5 mil soldados da Guarda Nacional, além de mais de 2 mil policiais estaduais, para as ruas.

O epicentro continua sendo o centro de Los Angeles, onde a prefeita democrata Karen Bass declarou “emergência local” na terça-feira, impondo um toque de recolher às 20h para impedir que trabalhadores e jovens exerçam seu direito democrático de se reunir e protestar.

Os protestos contra o ICE ainda não atingiram o nível dos levantes de George Floyd em 2020. Mas o terreno está sendo preparado para uma grande revolta, e uma faísca pode se transformar em uma conflagração em massa. Todos os sinais apontam para gigantescas lutas de classes pela frente. Os Comunistas Revolucionários da América (RCA, na sigla em inglês) têm estado nas ruas de Leste a Oeste participando do movimento e explicando a necessidade de construir um partido comunista de massas que possa pôr um fim ao ICE e ao sistema capitalista de uma vez por todas.

Os protestos aumentaram no último fim de semana, reunindo pelo menos 10 mil pessoas no centro de Los Angeles. Desde então, a presença de policiais diminuiu, mas a de militares e da Guarda Nacional aumentou. Em muitos dos confrontos esparsos desta semana, o Departamento de Polícia de Los Angeles (LAPD), a Patrulha Rodoviária da Califórnia (CHP) e as forças da Guarda Nacional superaram numericamente os manifestantes. Isso deve mudar neste fim de semana1, já que as manifestações contra Trump devem atrair multidões significativas em todo o país.

Trump incendiou ainda mais a situação ao federalizar mais 2 mil soldados da Guarda Nacional, além dos 2 mil já mobilizados em Los Angeles. Cumprindo ameaças anteriores, o secretário de Defesa, Pete Hegseth, enviou um batalhão de 700 fuzileiros navais para reforçar o ICE e a Guarda Nacional na cidade. Estima-se que a ativação desses fuzileiros navais e guardas custará aos contribuintes cerca de US$ 134 milhões. As tropas estão mal equipadas e mal abastecidas — muitas foram forçadas a dormir no chão de concreto de porões de prédios federais ou ao ar livre, em camas dobráveis, devido à falta de espaço.

Organizações de defesa que apoiam famílias de soldados da ativa e veteranos relatam baixo moral entre os guardas e fuzileiros navais federalizados em Los Angeles. “A sensação é de que os fuzileiros estão sendo usados como peões políticos” e “o sentimento geral agora é que o envio de força militar contra nossas próprias comunidades não é o tipo de segurança nacional que desejamos.”

Um veterano, que serviu por 21 anos no Corpo de Fuzileiros Navais, disse ao The Communist: “Trump é um babaca. Ele está fazendo isso para distrair a atenção dos roubos que está cometendo.” Perguntamos como ele se comportaria se fosse enviado para Los Angeles: “Eu iria porque preciso, mas não atiraria. Não atiraria em ninguém lá. Eu diria: ‘Desculpe, o carregador está emperrado!’”

Após o envio dos fuzileiros navais a Los Angeles, um veterano em uniforme completo, durante um protesto em Dallas, declarou:

“Não somos peões da agenda de Donald Trump… Portanto, estou apelando à consciência dos militares que serviram antes e agora. Temos consciência. Temos uma mente. E temos o dever e a obrigação moral de dizer ‘não’ e resistir.”

Relatos em conversas online indicam que os batalhões da Guarda Nacional destacados são compostos em grande parte por nativos de Los Angeles e do sul da Califórnia, que se sentem extremamente desconfortáveis diante de seus próprios vizinhos e colegas de trabalho. Trump tenta posar de durão, mas as tropas poderiam, sob as circunstâncias certas, cruzar para o outro lado das barricadas.

Neste momento, as forças repressivas mais confiáveis da classe dominante não são as tropas de Trump, mas sim a polícia local e estadual — a maioria das quais age sob ordens dos democratas. A mobilização militar domina as manchetes, mas, em cidades por todo o país, é a polícia quem tem assumido a linha de frente na tentativa de reprimir os protestos. Grande parte da violência em Los Angeles foi perpetrada pelos odiados LAPD e CHP, que intimidaram, espancaram, lançaram gás lacrimogêneo contra milhares de pessoas e prenderam centenas desde 6 de junho.

O governador da Califórnia, Gavin Newsom, a prefeita Bass e um coro de democratas proeminentes e comentaristas liberais se opuseram ao envio da Guarda Nacional e dos fuzileiros navais. Não porque se oponham à deportação de imigrantes, mas porque preferem lidar com a situação por conta própria. Para se apresentar como um homem forte, mais duro que Trump, Newsom se gabou, em uma entrevista recente, de que tem “autoridade para coordenar e colaborar com o ICE” — autoridade essa que exerceu “mais de 10.500 vezes” para caçar e deportar trabalhadores migrantes.

Enquanto isso, outros democratas adotam posturas hipócritas em apoio ao movimento contra o ICE. A congressista da Califórnia, Maxine Waters, foi ao centro da cidade para acossar a Guarda Nacional — sem sucesso. O senador Alex Padilla foi algemado e retirado por agentes de segurança ao confrontar a secretária de Segurança Interna, Kristi Noem, durante uma coletiva de imprensa onde ela prometeu “libertar” Los Angeles.

Tudo isso não passa de uma farsa. Não faz nada para deter o terror anti-imigrante. Os democratas e seus lacaios da mídia estão explorando cinicamente a situação como uma oportunidade para encenar truques e marcar pontos na guerra cultural contra seus colegas republicanos.

Pesquisas apontam para uma crescente indignação entre os trabalhadores norte-americanos diante da demonstração provocativa de força de Trump em Los Angeles. De acordo com uma pesquisa, 47% da população nacional desaprova a repressão de Trump, enquanto apenas 34% a aprovam. Uma pesquisa entre californianos revelou uma taxa de desaprovação de até 58%. Nesse mesmo período, os índices de aprovação de Trump caíram de cerca de 50% para 38% desde 6 de junho.

Em algumas ocasiões, manifestantes conseguiram libertar trabalhadores detidos pelo ICE. Apesar das ações ousadas e heroicas de jovens e trabalhadores em Los Angeles, a maioria dos confrontos com o ICE e a polícia tem sido pontual e improdutiva. Moradores tomam conhecimento de uma batida ou descobrem onde o ICE deteve trabalhadores imigrantes e aparecem para enfrentá-los. Canais de ativistas online divulgam informações sobre mobilizações planejadas, mas como não são amplamente divulgadas, continuam pequenas e ineficazes.

Na ausência de um partido revolucionário com um programa político claro, muitos trabalhadores e jovens enfurecidos não veem outra alternativa senão se envolver em pequenos confrontos de rua. Mas somente mobilizações em massa da classe trabalhadora podem deter a repressão.

O movimento operário precisa se erguer e defender os trabalhadores não apenas com palavras, mas com ações concretas. O SEIU e outros sindicatos devem lançar uma campanha para organizar todos os trabalhadores não sindicalizados — imigrantes e nativos. Conselhos operários e comitês de defesa de bairro devem ser organizados em toda a região de Los Angeles, para que, quando houver indícios de uma batida policial, milhares de trabalhadores possam se mobilizar, ocupar os prédios e expulsar o ICE.

  • Uma ofensa a um é uma ofensa a todos! O movimento sindical deve entrar na luta!
  • Não confiar nos Democratas! Abaixo os dois partidos da classe dominante!
  • Estabelecer comitês de autodefesa dos trabalhadores em todos os locais de trabalho e bairros-alvo do ICE!
  • Anistia imediata e plenos direitos para trabalhadores indocumentados e suas famílias!
  • Construa um partido que possa destruir o ICE e o sistema capitalista de uma vez por todas!

TRADUÇÃO DE FABIANO LEITE.

  1. O artigo foi publicado originalmente no dia 13/6, no site www.communistusa.org ↩︎