Confira o artigo que ataca os marxistas e uma reflexão sobre as análises publicadas pelo órgão imperialista.
A Forbes é uma revista norte-americana do mundo da economia e negócios, fundada em 1917 e seu slogan é “A Ferramenta Capitalista“. Ficou famosa por publicar anualmente a lista das pessoas mais ricas do mundo. É o que se conhece como parte da mídia imperialista. E agora resolveu nos atacar.
Em sua edição de 12/06/2016 publicou um artigo de crítica às posições da CMI, escrito por um tal de Tim Worstall. Esse homem escreve para jornais e revistas da burguesia como The Wall Street Journal, The Times, Daily Telegraph, Express, Independent, Philadelphia Inquirer e publica na web nos sites Unidade de Assuntos Sociais, Spectator, The Guardian, The Register e Techcentralstation. Seu artigo está aqui http://www.forbes.com/sites/timworstall/2016/06/12/the-trotskyist-view-of-the-french-strikes/#194bff774dec.
Nós transcrevemos seu artigo abaixo porque é interessante constatar que os capitalistas e seus penas alugadas nos acompanham. A burguesia está preocupada em nos combater não só com repressão (prisão de nossos camaradas grevistas na Indonésia, perseguições e processos no Brasil e em outros países), mas também no domínio das ideias, da política e da teoria.
Interessante que ele tenta ironizar fazendo uma caricatura de nossas análises dizendo que vemos a revolução em cada esquina. Todos sabem que essa sempre foi a calúnia dos stalinistas e reformistas contra nós para esconder o que eles pensavam. Que a revolução não estava em lugar nenhum e em nenhum horizonte. Só o capitalismo é possível.
Não é preciso muito rebater essa bobagem. Todos nossos documentos explicam que o mundo vive uma situação convulsiva onde revolução e contrarrevolução se chocam todos os dias. Mas, em escala de cada país a abertura de uma situação revolucionária depende de muitas circunstâncias. E ainda de outras para que a revolução seja vitoriosa. Estas últimas condições ainda não estão presentes em nenhum país. Mas, mesmo os políticos mais lúcidos da burguesia estão conscientes de que a situação atual pode desembocar em revolução inesperadamente. Só um tolo não percebe o que se passa na França e seu significado de vulcão iniciando uma erupção e seu exemplo e incentivo para as lutas dos trabalhadores de toda a Europa, especialmente.
Grécia, Espanha, Portugal, Inglaterra, Escócia, Irlanda, que país não vive um vento revolucionário soprando nas orelhas dos governantes e dos capitalistas?
O tal Tim Worstall está preocupado com nossas análises sobre Estados Unidos e o significado do movimento de Bernie Sanders, assim como nossa defesa da revolução venezuelana. E ele vai fundo. Se preocupa com nossa batalha pela construção de uma organização revolucionária no coração do monstro e também com a questão programática fundamental na Venezuela que quando dizemos que para combater com sucesso a sabotagem é preciso ir fundo e expropriar a oligarquia por completo. Ele cita isso.
O ponto de vista deste burguês é de “uma economia fortemente capitalista com um estado fortemente livre”, ou seja, como sabemos, só há uma saída para a humanidade, continuar suportando um sistema onde existe, neste momento, 60 guerras localizadas com incontáveis mortos e feridos, 65 milhões de refugiados desesperados que perderam tudo, 657 bases militares dos EUA espalhadas pelo mundo, desemprego de 200 milhões de seres humanos, epidemias, miséria e sofrimento sem fim.
Continuamos preferindo lutar para varrer o podre sistema baseado na propriedade privada dos grandes meios de produção onde toda riqueza é produzida socialmente, mas apropriada privadamente por uma pequena minoria de privilegiados. Nosso objetivo é uma economia controlada coletivamente e planificada segundo os interesses e as necessidades da maioria da população. Vamos construir uma sociedade sem classes e sem opressão, sem exploração.
Pobre Tim Worstall que tem que defender o inferno, o indefensável!
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A visão trotskista das greves na França
Por Tim Worstall
É importante lembrar a nós mesmos de vez em quando que realmente existem pessoas que não perceberam o resultado da grande experiência econômica do século XX. Que os desmandos de Nicolas Maduro são claramente uma fonte de grande sofrimento para os venezuelanos e sua economia. Ainda há pessoas em toda e qualquer economia que não entenderam o que aconteceu. Esse negócio de planejamento estatal e controle operário nós já tentamos e não funcionou. Essa curiosa mistura de livre mercado e capitalismo que nós empregamos como sistema econômico, sim. Nas palavras de PJ O’Rourke:
“Nós vencemos e que ninguém se esqueça disso. Nós, as pessoas, os cidadãos democráticos livres e iguais; nós, os exemplares vivos dos direitos do homem, destroçamos mais um idiota do comunismo internacional. A muralha deles está quebrada. Suas entranhas estão presas. A putrefação de seu corpo político preenche as narinas da Terra com um odor glorioso… Os privilégios da liberdade e a santidade do indivíduo foram lá e lhes deram uma surra”.
E ainda assim há pessoas tentando analisar o mundo através de velhos chavões marxistas, como este agradabilíssimo exame das atuais greves na França:
“Ao mesmo tempo, a continuidade das greves [que é colocada em votação diária ou semanalmente] mostrou a enorme força da classe trabalhadora. Nenhuma engrenagem gira e nenhuma lâmpada se acende sem a gentil permissão dos trabalhadores (nesse caso literalmente, uma vez que as usinas nucleares, as refinarias de petróleo, as subestações elétricas, as estradas de transporte etc. estão todas em greve), até mesmo os jornais de circulação nacional precisam da permissão do sindicato de impressores para sair. De fato, se são os trabalhadores que tornam possíveis todas as atividades-chave da economia nacional, por que eles não poderiam ser os donos delas? Por que deixar a economia e o estado nas mãos de uma meia dúzia de gigantes parasitas – os patrões das grandes empresas e seus políticos de direita (ou de ‘esquerda’)?”.
Por que não? Bem, nós tentamos. Sério, nós tentamos. A história econômica do século XX é bem fácil de contar. O mundo dividido em três modelos econômicos, o Terceiro Mundo permanecendo em sua miséria camponesa simplesmente porque foi isso que eles fizeram, permaneceram em sua miséria camponesa. O Segundo Mundo dos estados comunistas que não se desenvolveram muito no fim das contas. E o Primeiro Mundo, que elevou os padrões de vida do homem comum em oito vezes naquele século. Como O’Rourke observa, um modelo foi lá e deu uma surra nos outros. Isso soa como uma boa recomendação para um sistema econômico, melhorar a vida do cara mediano.
Nosso analista marxista é, na verdade, um trotskista e o site é publicado por esses caras:
“A Corrente Marxista Internacional (CMI) é uma corrente trotskista internacional fundada por Ted Grant e seus seguidores a partir de sua dissidência do Comitê por uma Internacional dos Trabalhadores em 1990. Seu site, marxist.com, é editado por Alan Woods. O site é multilíngue e publica artigos sobre questões internacionais da atualidade a partir de uma perspectiva marxista, assim como um grande número de artigos históricos e teóricos. A CMI está presente em mais de 30 países em todo o mundo”.
Em março de 2016, a CMI afirmou que havia uma revolução no horizonte dos Estados Unidos e que “quando a revolução atinge o rompante, se os marxistas não estiverem presentes em números suficientes a enxurrada revolucionária acabará estancando. Isso deve nos imbuir de senso de urgência”.
A enxurrada revolucionária está sempre por perto para esses caras. Se eles toparem com o dedão na cama ao acordar de manhã é porque a revolução se aproxima. Esta, por exemplo, é a sua solução para os problemas de abastecimentos na Venezuela:
“Utilizando-se do velho e já testado mecanismo de organizar a sabotagem econômica a partir de dentro, a oligarquia venezuelana está deliberadamente manobrando para produzir “escassez alimentar”. O governo impôs controles de preços e está tentando implementar indústrias alimentícias públicas, mas para combater com sucesso a sabotagem é preciso ir fundo e expropriar a oligarquia por completo”
Sim, mais do que causou o problema vai resolver o problema, com certeza vai funcionar.
A lição para nossa própria política pública e econômica deveria estar clara. Realmente existem pessoas que não entenderam os resultados daquele experimento histórico. Economias planificadas não funcionam pela simples razão que Hayek apontou, que Mises apontou antes no debate sobre o cálculo socialista. É simplesmente impossível planejar uma economia complexa em cada detalhe. Nós não deveríamos tentar fazer isso.
O resultado final disto é que só há uma maneira de fazer as coisas: uma economia fortemente capitalista com um estado fortemente livre. Claro, já diferentes nuances nesta ideia. Nós podemos ter uma economia com maior peso de impostos e benefícios como os Nórdicos. Eles compensam isso sendo um mercado consideravelmente mais livre que os EUA. Ambos fornecem o mesmo padrão de vida médio para os 10% mais pobres e os EUA fornecem um padrão de vida bem melhor para os mais ricos. Tudo bem, faça sua escolha. Mas esta é a única que há para se fazer. Você pode ter a versão anglo-saxã de livre mercado e economia capitalista ou a versão nórdica e socialdemocrata de livre mercado e economia capitalista. Mas este é o espectro de modelos disponíveis para trabalharmos, nenhum dos outros que nós já tentamos funciona.
Lamentavelmente, alguns estão presos em suas fantasias adolescentes: um destes dois sistemas nós sabemos que não funciona.
Tradução de Felipe Libório.