Os poderosos se embriagam de seu próprio poder e crêem que podem enganar todo mundo o tempo todo.
Mas, a luta de classes é mais forte do que os mais fortes aparatos ou todas as conspirações, como mostra o artigo que reproduzimos mais abaixo, após uma ánalise desta conferência imperialista, e intitulado “Os palestinos querem voltar ao seu lar”, escrito por um palestino-brasileiro lutador de toda sua vida pela causa palestina e socialista.
A Conferência promovida por Bush, em Annapolis, EUA, com a presença de Mahmoud Abbas e do primeiro-ministro israelense, Ehud Olmert e mais 40 países, entre eles o Brasil, tem o objetivo de fachada de “… nos engajarmos em negociações vigorosas e contínuas e faremos todo esforço para concluir um acordo antes do fim de 2008″, segundo Bush. O chefe da invasão do Afeganistão, do Iraque, do Haiti, etc., afirma que “as negociações devem se concentrar na criação de um Estado Palestino independente em coexistência pacífica com Israel”.
Não era exatamente a mesma cantoria de Bill Clinton, Isaac Rabin e Yasser Arafat quando assinaram os Acordos de Oslo, em 1993?!
O resultado de Oslo quatorze anos depois é doloroso. Milhões de palestinos continuam vivendo em campos de refugiados, o povo palestino vive agora cercado de “check-points” e de muros de oito metros de altura que dividem cidades e isolam famílias, em verdadeiros bantustões sul-africano. Mais de 60% da população vive na miséria total e são constantemente aterrorizados e assassinados pelas tropas de Israel.
Estes Acordos criaram a dita “Autoridade Palestina”, que só tem autoridade quando Israel consente, para controlar as massas palestinas e liquidar a Intifada que se iniciara em 1987. Seu resultado mais direto é hoje a guerra civil palestina iniciada pelo Hammas após as provocações de Mahmoud Abbas, do Fatah. O que Israel e o imperialismo nunca conseguiram fazer desde 1948 que era lançar um setor palestino contra outro, os Acordos de Oslo fizeram.
Quando as massas palestinas votaram majoritariamente no Hammas estavam se pronunciando contra os Acordos de Bill Clinton, Isaac Rabin e Yasser Arafat. Agora temos a farsa repetida por Bush, Olmert e Mahmoud Abbas. Só que desta vez tem um agravante. Mahmoud Abbas perdeu as eleições e não representa o povo palestino, mas apenas seu partido, o Fatah. E o próprio Fatah está muito dividido. Em 2006, setores leais a Mahmoud Abbas enfrentaram nas ruas com armas na mão os setores do Fatah, em boa parte jovens, ligados a Marwan Barguti, o líder da Intifada de 1987 e preso por Israel desde 2002. Ou seja, não há liderança palestina capaz de fazer valer os Acordos, quaisquer que sejam, que saiam destas conversações e, portanto, é claro que eles só servem para preparar um avanço da destruição da Palestina e da diáspora de seu povo, tentar sufocar a revolta das massas árabes da região e reafirmar Israel como instrumento sionista do imperialismo na região. É o que Bush explica quando diz que “os regimes árabes devem demonstrar em palavras e ações que Israel tem um lugar permanente no Oriente Médio”.
Qualquer pessoa sensata sabe ser impossível a construção e convivência de um estado palestino ao lado de Israel. Os palestinos nunca aceitaram terem sido expulsos como animais de suas casas e terras. Existem 5 milhões de palestinos vivendo nos campos de refugiados do Oriente Médio desde 1948. O retorno destes refugiados e seu encontro com os 3,7 milhões que vivem em Cisjordânia e Gazza e com os 1,2 milhões de palestinos que vivem oficialmente em Israel, criaria uma bomba relógio de 10 milhões de combatentes irredutíveis.
Os sionistas são fascistas, racistas, mas não imbecis. E jamais permitirão que um estado palestino de verdade se constitua ao seu lado. O objetivo último de Israel é constituir o “Grande Israel” do Tigre ao Eufrates para sua própria proteção e isto exige a liquidação de toda resistência palestina.
E Mahmoud Abbas, como todos eles, sabem muito bem disso. Como estes Acordos só podem ser assinados pisando na resistência palestina e abriundo mão de todos os seus direitos Mahmoud Abbas começa exatamente por abandonar a reivindicação que é o coração da luta palestina, o Direito de Retorno dos 5 milhões de palestinos dos campos de refugiados.
Após o pronunciamento de Bush, Mahmoud Abbas disse que as negociações devem trazer “uma paz completa e justa que resulte no fim da ocupação israelense e as atividades de assentamentos, na libertação de prisioneiros e que ajude os palestinos a estabelecer a força da lei”. Ele disse que “os palestinos olham para um futuro sem pontos de checagem, prisões e muros e com Jerusalém como capital”.
E sobre o Direito de Retorno para milhões de expulsados de seus lares, nem uma palavra. Isto é muito significativo dos tempos ainda mais difíceis que vão viver os palestinos. Além das traições de seus principais dirigentes agora uma coalizão liderada pelo “democrático” imperialismo EUA vai se dedicar a puxar a corda em torno da luta palestina. Mal no Iraque, mal no Afeganistão, mal em casa, odiado pelas massas do mundo inteiro, o imperialismo EUA precisa de ajuda para correr o nó no pescoço palestino. E o governo Lula, como bom servo do capital internacional, entra nisto com tudo.
Segundo Celso Amorim, o chanceler brasileiro “Na fase atual, a participação por parte das nações emergentes representa mais ”um apoio moral”, ao processo de legitimação da conferência”. ”Não temos ilusões de que as idéias que apresentarmos serão absorvidas de uma hora para a outra, mas o convite significa o desejo de obter mais legitimidade”. Todos sabem do que se trata, portanto. Mas o povo palestino vai recompor suas energias, suas organizações e suas lideranças.
A revolução socialista em toda a Palestina e no Oriente Médio é a única verdadeira solução para o sofrimento deste povo extraordinário assim como a única solução para que os judeus oprimidos e explorados de Israel possam se salvar da verdadeira catástrofe que as cúpulas sionistas e o imperialismo lhes reservam. Em determinados momentos estas cúpulas sionistas, racistas e sanguinárias, não hesitarão em massacrar ou deixar massacrar os próprios judeus, se isto for de seu interesse de classe e do imperialismo. Foi o que fizeram durante a década de 30, na Alemanha, concretizando acordos com o nazismo contra os próprios judeus, porque isso alimentava seu delírio de constituir um estado sionista na Palestina. Mas, o vento revolucionário que varre o planeta também embala a resistência na Palestina. E um dia a revolução socialista no Oriente Médio abrirá um caminho de paz e de felicidade nesta terra árida banhada de sangue.
Serge Goulart
Os palestinos querem voltar ao seu lar
“Um beduíno sozinho não vence a imensidão do deserto, é preciso ir em caravana”
O governo brasileiro concordou em receber 117 refugiados palestinos que estão acampados há quatro anos no campo jordaniano de Ruweished, a 60 quilômetros da fronteira do Iraque. O acampamento, que fica bem no meio do deserto, não tem qualquer condição de manter com dignidade as vidas humanas, estando, inclusive, coalhado de escorpiões. Estes palestinos haviam buscado abrigo no Iraque, desde que foram expulsos de suas terras pelas tropas de Israel em 1967, e, agora, de novo tiveram de fugir, acossados pela invasão estadunidense.
Igual a estes que serão acolhidos no Brasil, vivem mais 1.450 outros palestinos, no mesmo lugar, na fronteira da Jordânia com o Iraque. Além disso, outros 13 mil palestinos ainda permanecem nas regiões do Iraque ocupadas pelos estadunidenses, sofrendo toda a sorte de violências. Refugiados no Iraque e, agora, duplamente perseguidos.
Por conta de todos esses horrores que vive o povo palestino, impedido de construir sua vida no seu país, a pergunta que fica é: será que o Brasil está escorregando para um caminho duvidoso, fazendo de boa-fé um serviço que os palestinos nunca esperariam que fizesse? Explico: ao oferecer asilo, não estaria prejudicando, repito, de boa-fé, o direito nacional dos próprios refugiados? Será que a solução para a causa palestina é essa mesmo? Acabar com o problema dos refugiados espalhando-os pelo mundo, anulando assim a resolução 194 da ONU, que garante o direito de retorno?
Para quem observa de longe, também desgarrado de sua terra, cabe esta reflexão. Compreendo o desejo do Brasil em desempenhar um humano papel de solidariedade e defesa da vida. Mas não seria muito mais justo se esse querido país, tão amado por todo mundo, empreendesse uma campanha firme para que fossem reconhecidos os direitos nacionais dessa gente, e que todos pudessem voltar para sua casas na Palestina?
Esperamos que as autoridades brasileiras entendam nossas preocupações porque, acreditamos, essa decisão certamente se deu baseada na vontade de ajudar os que vivem em condições indignas na fronteira do Iraque. Mas, para evitar que todos nós, os que lutam por um estado palestino, pensemos que o Brasil trama contra a luta do nosso povo, é de fundamental importância que seja esclarecida a posição brasileira diante dos horrores que vivem as populações palestinas, refugiadas em vários países vizinhos.
O povo palestino precisa, mais que a comiseração, a pena, ou o refúgio temporário, do direito de viver no seu próprio país. Esta é a luta que precisa ser empreendida. Oferecer ajuda, refúgio, acolhimento é sempre bom e necessário, mas, junto com isso, há que se posicionar claramente sobre os direitos dos palestinos de retornarem ao lar.
Palestina livre!
Por Khader Ottmann
Comitê Catarinense de Solidariedade ao Povo Palestino