Depois das extraordinárias demonstrações de luta dos trabalhadores e da juventude do país – expressas nas massivas manifestações de rua nos dias 15 e 31 de março – não há mais dúvidas de que a Greve Geral, antes perdida num horizonte incerto, agora é uma necessidade urgente, que precisa ser organizada desde a base, aproveitando o ímpeto de luta da classe. “O chicote da contrarrevolução impulsiona a revolução”, já nos ensinava Trotsky. A voracidade dos ataques do governo Temer aos direitos previdenciários e trabalhistas tem levado grandes parcelas de trabalhadores a darem saltos na sua consciência e se colocarem em luta contra essas medidas.
O grande empecilho para que a indignação que toma conta de milhões de brasileiros se transforme em luta organizada contra os ataques, contra o governo e contra o sistema capitalista são as direções sindicais – completamente adaptadas e atordoadas depois de anos de crença no reformismo e na conciliação de classes. A direção da CUT passou os últimos treze anos investindo no lobby nos gabinetes do Congresso e dos Ministérios – afinal, não se podia combater o “nosso programa”, o “nosso governo”.
Essa adaptação levou a uma paralisia da Central, que agora tem dificuldade de se conectar com o espírito de luta da classe. O clima da última reunião da Direção Nacional da CUT, em 29 de março, ainda é o vitimismo contra o “golpe”. E a saída lógica, o projeto “Lula 2018”. Sentimentos completamente desconexos do chão da fábrica e das ruas, onde o povo brada “Fora Temer e o Congresso Nacional” e quer fazer imediatamente a luta contra as “reformas”.
Diante da súplica das bases, a Direção da CUT marca, em conjunto com as outras Centrais sindicais, mais UM DIA de luta contra as reformas. Apesar de, internamente, chamar de “Greve Geral”, a orientação é a paralisação de apenas um dia de trabalho. Mais uma vez, a confusão da orientação. Estamos há mais de ano transitando entre “Dia de Luta”, “Dia de Mobilização”, “Dia de Paralisação” e agora “Dia de Greve”. Tática que cansa a massa, desorienta e deseduca. Não se pode banalizar dessa maneira os instrumentos históricos de luta dos trabalhadores. Greve é coisa séria. Tem dia pra começar, mas não se sabe quando termina. E qualquer trabalhador sabe que exige preparação, organização, construção desde os locais de trabalho.
Na contramão da classe, a direção burocrática “decreta” um dia de paralisação. Chama isso de Greve Geral. Assina documento com outras centrais em que o termo “Greve” é omitido, de modo a “buscar consenso com as outras centrais”. Mas, o pior, é que nega a construção séria desse movimento. Acostumados aos anos de lobby, a indicação é que os sindicalistas façam pressão sobre os deputados e senadores nos aeroportos. Isso derrotaria as reformas, sem a necessidade das massas tomarem as ruas. Marcha a Brasília, então, nem pensar. “Custa caro e não tem efeito”, dizem alguns dirigentes.
Os marxistas defendem no interior da CUT o chamado de um Encontro Nacional da Classe Trabalhadora – ENCLAT – com delegados eleitos nas bases dos sindicatos, do movimento estudantil e dos movimentos sociais, para unificar uma pauta de reivindicações e para organizar a luta contra a Reforma da Previdência, contra a Terceirização e contra a Reforma Trabalhista. Continuamos reclamando os velhos métodos de luta da classe. Acreditamos que somente a paralisação da produção, com uma greve geral unificada de norte a sul do país, combinada com manifestações de massa nas ruas, pode apresentar uma saída positiva para o momento que vivemos. De mais, é alimentar as ilusões de sempre, de que um “projeto popular” pode administrar melhor o Capitalismo que os próprios Capitalistas.