Relato da camarada Francis Madlener, que esteve presente ontem no brutal ataque da polícia contra os professores do Paraná, ao lado dos demais camaradas da Esquerda Marxista e de membros do comitê da campanha Público, Gratuito e Para todos: Transporte, Saúde, Educação! Abaixo a Repressão!
O ano de 2015 já entrou para a história dos trabalhadores em educação do Paraná. Depois de uma greve de 29 dias entre fevereiro e março, duas ocupações da Assembleia Legislativa e a retirada do Projeto que alterava a Previdência dos Servidores, a categoria retornou à luta no dia 25 de abril.
A greve foi retomada depois da concretização daquilo que já era esperado: o não cumprimento das pautas da greve pelo Governador e o retorno do Projeto da Previdência. Após um debate com o Fórum de Servidores do Paraná sobre as alterações previstas no projeto de lei, a pauta voltou à ALEP sem acordo entre as partes. Mesmo assim, o Governador afirmava que houve “amplo debate” entre os envolvidos.
Durante o período entre greves, tanto o Governador quanto o Secretário de Segurança do Paraná, Fernando Francischini fizeram a lição de casa. Desde a deflagração da greve no dia 25 de abril, o Governo conseguiu na Justiça uma liminar impedindo o acesso dos trabalhadores à ALEP e deslocou um efetivo policial jamais visto na cidade. Dois cordões de homens em frente à ALEP, tropa de choque dentro do prédio público, grades, cães, carros de combate em todo entorno da região do Centro Cívico.
O clima estava tenso desde o início da ação policial: os sindicatos do funcionalismo público do Paraná foram proibidos de montar acampamento na Praça Nossa Senhora de Salete, em frente à ALEP. Depois da caminhada do dia 27 de abril até o local, conseguiram instalar algumas barracas e o acampamento foi crescendo. Nessa mesma noite, a polícia avançou sobre os acampados, levando consigo mais grades para dificultar o acesso à ALEP. Caminhões de som tiveram os pneus furados e foram guinchados pela PM, foram momentos de tensão.
Na manhã do dia 28, mais confronto: os sindicatos e Centrais tentavam trazer outro caminhão de som para organizar o movimento e foram impedidos pela polícia. Após muita discussão, alguns grevistas se organizaram e retiraram carros da PM que impediam o acesso à rua, fazendo assim com que o caminhão de som conseguisse entrar.
Após as demonstrações de truculência, o grande show de horror estava por vir. O projeto de lei que permitiria ao Governador utilizar o dinheiro da Previdência para outros fins seria votado na tarde do dia 29. Com a liberação apenas dos dirigentes sindicais para acompanhar a sessão, decidiu-se que ninguém entraria na ALEP. A tensão crescia na praça juntamente com o aumento da presença da polícia, do choque, cães, helicópteros rasantes e caminhões da cavalaria. Um clima de 30 de agosto 1988 estava no ar (data em que Alvaro Dias, então governador, jogou cavalos e bombas nos professores).
Com a movimentação de alguns grevistas na linha de frente, começou a repressão da PM e o que se seguiu foram cenas de guerra. Tiros de bala de borracha e bombas começaram a ser lançadas em direção aos grevistas pelo Choque e de helicópteros que sobrevoavam o local! Houve muita correria, pessoas caindo e choro por conta do gás e do medo. Crianças de uma creche próxima tiveram de ser retiradas em pânico (ver o vídeo). A experiência de alguns ajudava com panos e vinagre. A dor nos olhos era insuportável!
Após o momento inicial de fuga, os grupos começavam a retornar à praça, tentando se aproximar novamente da ALEP, as bombas continuaram por mais de uma hora. Alguns seguiam na linha de frente, tentando retornar para sua posição inicial, mas a tropa de choque avançou juntamente com o caminhão jogando água nos grevistas. Mais de 200 pessoas ficaram feridas, 8 em estado grave. O prédio da prefeitura municipal, próximo à ALEP, foi evacuado e transformado em hospital. As bombas só cessaram após a recuada de todos os grevistas. Via-se medo e revolta no rosto de todos os presentes.
Por volta das 17 horas, o som das bombas já não mais era ouvido e a votação dentro da ALEP seguia normalmente. Por fim, a despeito do suor, lágrimas e sangue dos trabalhadores ali presentes, a votação foi concluída e as alterações pretendidas por Beto Richa foram aprovadas por cerca de 30 deputados.
Usar argumentos de uma “greve política” ou que “haviam black blocs e infiltrados” no movimento são sintomas de uma falta de argumento ou de um cinismo bizarro do nosso Governador. Naquela praça estavam professores, servidores, estudantes, militantes e até vendedores de picolé. O equipamento e violência policiais utilizados são injustificáveis. Alguns resistiram com bandeiras, escudos de tampa de panela e pedras. Outros gritavam palavras de ordem e socorriam os feridos. Nada justifica a ação realizada.
Na tarde de ontem os trabalhadores ali presentes sentiram na pele a ação do Estado pela mão da PM. A necessidade de usurpar o dinheiro da Previdência dos servidores para honrar dívidas que não foram feitas por nós demonstra que o Estado burguês é capaz de tudo para manter a “ordem”.
Os militantes da Esquerda Marxista e membros do Comitê da Campanha Público, Gratuito e Para Todos estiveram presentes em todos os momentos da Greve. Desde a organização das ações, acampamentos, assembleias locais e na linha de frente dos combates.