4° Congresso demonstra que é preciso Reorganizar o Sinsej

O 4° congresso do SINSEJ foi marcado pela falta de representatividade da categoria e por disputas oportunistas entre membros da própria direção.

Acabou no sábado, 09 de novembro, o 4° congresso do Sindicato dos Servidores Públicos do Município de Joinville, SINSEJ. O evento, importante instância da entidade, teve como destaque o pouco tempo para debate, a baixa participação da categoria, mas também um importante combate feito pelos comunistas.

A organização do 4° congresso

Os marxistas, para analisarem a realidade, se apegam ao materialismo histórico e dialético, uma importante ferramenta de interpretação que se baseia na análise da realidade material de como a sociedade produz e se reproduz na história. Todo marxista deve considerar, em suas análises, a luta de classes e a importância das ferramentas de luta como os sindicatos e suas instâncias de decisão para compreender o que de fato ocorre com a classe trabalhadora.

O congresso é uma dessas instâncias dentro dos sindicatos. É o momento em que os trabalhadores decidem a política que julgam mais assertiva para o próximo período. Um bom congresso tem a participação massiva de delegados eleitos nos locais de trabalho, o amplo debate entre os congressistas, o direito de voz e voto  e a aprovação de resoluções políticas acertadas. Porém,  não foi o que aconteceu no momento mais importante do ano para um dos maiores sindicatos de Santa Catarina.

Já antes  do congresso, em sua tímida organização, as reclamações eram recorrentes entre trabalhadores completamente abatidos pelo desânimo. No evento, não foram poucos os delegados que relataram a falta de motivação e ânimo dos outros servidores para participarem da vida sindical e do próprio congresso.

Todo esse desânimo para ocupar as trincheiras contra o governo mais privatista da história de Joinville tem um motivo que pretendemos aprofundar nesse texto.

A falência do 4° congresso não começou propriamente no congresso, vem de tempos. É resultado de como os servidores do município de Joinville são tratados pela atual direção desse sindicato, vinculados às correntes O Trabalho e Articulação Sindical do PT. Desde que o sindicato passou a ser dirigido pela atual direção, a entidade abandonou as ferramentas construídas a duras penas durante quase uma década pela direção da OCI, na época, Esquerda Marxista. A falta de trabalho de base com a visita aos locais de trabalho, de uma imprensa operária com uma política correta e o abandono do conselho de representantes por local de trabalho foram cruciais para a desmoralização política dos servidores de Joinville.

Foram inscritos no congresso, segundo informação da organização do evento,  110 delegados, uma marca pífia diante dos mais de 12 mil servidores que trabalham em todas as secretarias do serviço público de Joinville. Isso porque a direção do  SINSEJ não divulgou o congresso e se empenhou em convidar apenas seus contatos mais próximos.  Isso fica evidente nas redes sociais do sindicato, quando vemos que a direção passou nos locais de trabalho apenas com cartazes do sorteio dos chalés e do baile do servidor, desacreditando na educação política que o congresso sindical pode proporcionar aos trabalhadores e evidenciando o caminho a passos largos da entidade rumo a uma organização sindical apenas recreativa e assistencialista.

A aprovação do regimento e a tentativa de golpe sobre o estatuto dentro da direção

Um congresso de uma entidade que representa a classe trabalhadora não é um ambiente apenas para encontro e descontração. Em sua normalidade, o conflito entre ideias distintas deve ser a regra, mas alertamos, as ideias que interessam à classe trabalhadora.

O que presenciamos, já no começo do evento, foram membros da direção do sindicado com uma postura completamente oportunista, defendendo a inclusão, na pauta do congresso, sem nenhuma discussão com a base, a alteração do estatuto do sindicato. Estatuto esse que foi construído coletivamente em um momento em que a luta de classes era a regra entre os servidores de Joinville, quando a OCI dirigiu a entidade. 

Não demorou muito para que todos os delegados do congresso descobrissem o que os membros da Articulação queriam tanto esconder: o desejo em modificar o estatuto para acabar com a punição aos dirigentes que, uma vez eleitos, abandonam o sindicato sem justificativa plausível.  Uma inequívoca tentativa de manobra para se auto beneficiar.

O estatuto foi feito com o objetivo de combater o oportunismo e os traidores de nossa classe, que usam o aparelho sindical em benefício próprio ou em troca de favores dos patrões. O sindicato é uma escola política de grande valor, mas também pode ser a escola da corrupção, se não criarmos ferramentas para barrar.

O que os membros da direção levantam como um problema é a impossibilidade de se abandonar o barco. De não poder fugir do monstro que eles mesmos ajudam a criar. Uma atitude que só revela desrespeito pelos servidores que os elegeram e confiaram em seu compromisso com a luta até as últimas consequências. Porém, o que se viu foi a maniqueísta briga pelo aparelho sem nenhuma preocupação com os servidores que representam.

Na apresentação da sua tese, Sônia Borgert Foss  criticou a “falta de democracia” do estatuto, chegando a afirmar que “deve ter sido inspirado em algum regime ditatorial”. A única ditadura que pode ter inspirado o Estatuto do SINSEJ é a ditadura do proletariado, ou seja, a ditadura da maioria contra uma minoria parasitária que busca oprimir os trabalhadores, ou seja, os capitalistas e os burocratas que atendem seus interesses. Quem não está acostumado com a democracia é a própria corrente Articulação Sindical, já que é força política dominante no sindicalismo brasileiro e que há muito já abandonou os trabalhadores. É responsável corriqueiramente por golpes antidemocráticos em todos os sindicatos que dirige.

No entanto, a democracia garantida pelo estatuto se expressa pelo próprio fato do grupo que rachou com a presidente ter autonomia para inscrever uma tese, apresentar sua posição política e abrir mão da liberação sindical, voltando para a base para discutir com a categoria suas divergências. 

Impressiona que a presidente do SINSEJ relate que a proposta de mudança de estatuto não tenha passado pela direção executiva da entidade, o que demonstra a falta completa de entrosamento entre os membros da mesma direção. Os interesses pessoais se sobressaem aqui.

O congresso

Após a primeira tentativa oportunista de golpe ao estatuto do SINSEJ, o congresso se desenvolveu com uma palestra de Júlio Turra (dirigente da corrente O Trabalho) na sexta-feira, 8, e com apresentação de teses e grupos de trabalho, no sábado, 9.

Na defesa da tese, denunciamos a falta de trabalho de base e o abandono da categoria nos últimos anos cometidos pela atual gestão, assim como o assistencialismo cada vez mais frequente no sindicato, a falta de luta e organização sindical nos momentos em que os trabalhadores mais precisaram.

Ainda foi ressaltado que a direção não faz boa gestão dos recursos do sindicato, optando por gastar R$ 6.000 reais em um coquetel para a posse da próxima diretoria, dinheiro que poderia ser destinado à propaganda contra o governo que massacra os servidores e a população joinvilense.

Outro momento que evidenciou a falta de disposição da direção em promover o debate entre os delegados foi a proposta de que, após a apresentação das teses, a votação na tese norteadora do trabalho nos GTs ocorresse sem debate. Isso foi combatido por todos os delegados presentes, inclusive aqueles que depois votaram com a direção, e foram permitidas seis inscrições (duas por tese). 

Consideramos todo o tempo de debate muito curto. O 2º Congresso do Sinsej, último organizado sob nossa direção, começou em uma 5ª feira à noite e terminou no sábado meio dia. Naquela época, a organização e mobilização permanente da categoria garantia a liberação dos servidores do seu local de trabalho para participar do congresso. Desde que o sindicato se desmoralizou, as liberações foram negadas pela prefeitura, e a solução encontrada pela direção foi a diminuição do tempo do congresso e a realização no fim de semana, o que compromete a participação da categoria.

A greve não é necessária?

Durante os debates, os delegados puderam verificar a diferença gritante das teses apresentadas, mas se revoltaram quando a representante da Tese “Humanizar para fortalecer”,  Sônia Foss, defendeu que a greve, como instrumento de luta, nem sempre é necessária, e que a participação nos conselhos municipais é de grande importância.

Quem estuda a teoria e está experimentado na luta sindical, sabe que as greves são ferramentas históricas construídas pela classe trabalhadora. O próprio PT nasceu a partir das grandes greves que começaram a acontecer em todo Brasil, a partir do final dos anos 1970, mas, após ser hegemônico como representante da classe trabalhadora brasileira, a abandonou à própria sorte. Como faz agora com os servidores públicos de Joinville.

A elevação da consciência política da classe trabalhadora, da qual duvidam os dirigentes do PT, só se atinge com o movimento grevista. O que as direções desse partido, que trai a classe há mais de 30 anos, defendem, é que tudo mude nos sindicatos para engordar ainda mais sua burocracia sindical.

O balanço e as perspectivas do próximo período

Os comunistas não fazem análises superficiais da realidade e nem têm como costume se impressionar com eventos próprios e característicos do capitalismo. Nesse sentido, não nos surpreende a burocratização dos sindicatos e nem a traição de sua direção frente a um dos maiores sindicatos de Santa Catarina, que já foi referência de luta para os trabalhadores do Brasil. A falência política desse sindicato é resultado de anos de covardia, sabotagens e traições da atual direção.

Porém, nem tudo é derrota para a classe trabalhadora de Joinville. O movimento  “Reorganiza SINSEJ” mostrou força dentro da categoria nas últimas semanas e engaja, com sua política, novos servidores a cada dia.

Ao final do congresso, os comunistas apresentaram uma política que representou 31 delegados na votação das teses, contra 44 da direção do sindicato. Apesar da direção sindical usar da força do aparelho ao seu favor, no congresso, a OCI polariza com a direção petista e tem força para construir uma alternativa revolucionária no SINSEJ.