Em 7 de novembro, quando comemoramos o 97º aniversário da grande Revolução Russa de Outubro, que foi, sem dúvidas, a maior façanha de toda a história do proletariado mundial (consequentemente marcou o século 20), lembramos este breve texto do jovem Trotsky (indicado pelo camarada Johannes Halter no 30º Congresso da Esquerda Marxista), escrito em 1901 (portanto ainda antes da Revolução de 1905).
Não podia ainda saber Trotsky que o século 20 acolheria as maiores tragédias da humanidade – afinal o que foram a 1ª e 2ª Guerras Mundiais, o Holocausto, o stalinismo, a capitulação e traição das direções revolucionárias do proletariado, com o consequente restabelecimento do capitalismo onde fora feita a revolução e a conseguinte perpetuação do capitalismo como sistema mundial, levando toda a humanidade a entrar no século 21 envolta numa espiral de guerras, repressão, exploração, opressão, epidemias, fome e sofrimento em escalas jamais vistas? – e que neste mesmo século 20 ele, Trotsky, depois de liderar ao lado de Lênin a tomada do poder na Rússia, depois de comandar o Exército Vermelho durante a brutal guerra civil e vencê-la contra todos os países imperialistas juntos, foi expulso, perseguido, caçado e assassinado pelos que se apropriaram do “poder soviético”, já sem sovietes. Ele, que viu seus filhos serem assassinados e a grande revolução – que também poderia ser comparada a uma filha – ser traída e desfigurada com os horríveis expurgos de Moscou pela máquina burocrática de Stalin. Ele que viu o proletariado alemão cair diante de Hitler em consequência direta da política stalinista. Ele nos manda uma mensagem, na inauguração do século 20, que atravessa mais de 100 anos e resiste a tudo isso, para chegar nos dias de hoje e nos dizer: o futuro é nosso!
Viva a Revolução Russa de Outubro! Viva as lições dos sovietes e do Partido Bolchevique de Lênin! A Revolução de Outubro foi o ensaio geral da Revolução Mundial! Estudar, organizar, lutar! Venceremos!
“Dum spiro spero! [Enquanto há vida, há esperança!] … Se eu fosse um dos corpos celestiais, eu olharia com completo desapego para esta bola miserável de sujeira e poeira … Eu brilharia indiferente entre o bem e o mal … Mas eu sou um homem. A história do mundo que para você, desapaixonado cálice de ciência, para você, guarda-livros da eternidade, parece apenas um momento insignificante no equilíbrio temporal, para mim é tudo! Enquanto eu respirar, eu lutarei pelo futuro, este radiante futuro no qual o homem, poderoso e belo, se tornará mestre do fluxo incerto da História e irá direcioná-lo para um horizonte sem fim de beleza, alegria e felicidade!
O século dezenove de muitas formas satisfez e de ainda mais formas enganou as esperanças do otimista … Ele o compeliu a transferir a maioria das suas esperanças para o século vinte. Sempre que o otimista se confrontava com um fato de atrocidade, ele exclamava: Como pode isso acontecer no limiar do século vinte! Quando ele imaginasse maravilhosamente desenhado um futuro harmonioso, ele o colocava no século vinte.
E agora este século chegou! O que trouxe com ele em sua inauguração?
Na França – o escarcéu venenoso do ódio racial na Áustria – disputa nacionalista…; na África do Sul – a agonia de um povo pequeno, que está sendo assassinado por um colosso na própria “ilha da liberdade” – o canto triunfante da vitoriosa avareza de agiotas chauvinistas; dramáticas “complicações” no leste; rebeliões de massas populares famintas na Itália, Bulgária, Romênia … ódio e morte, fome e sangue …
Parece até que o novo século, este gigante recém-chegado, está determinado mesmo no momento do seu surgimento a levar o otimista ao absoluto pessimismo e a um nirvana cívico.
– Morte à Utopia! Morte à fé! Morte ao amor! Morte à esperança! Esbraveja o século vinte em salvas de fogo e ao retumbar das armas.
– Renda-se seu patético sonhador. Aqui estou eu, o seu tão esperado século vinte, o seu “futuro”.
– Não, responde o inabalado otimista: Você, você é apenas o presente.” (Leon Trotsky, 1901)