Na Grecia, milhões entram em greve contra os planos de austeridade do governo. Um governo da Social Democracia ganhou as eleições e aplica os planos da direita.
Hoje a Grécia é considerada o calcanhar de Aquiles da zona do Euro. A resistência da classe trabalhadora desse país pode ser um exemplo para seus irmãos europeus. Um verdadeiro presente de grego para o capitalismo em crise.
No dia 24 de fevereiro uma greve geral paralisou a Grécia em resposta às medidas de austeridade propostas pelo governo. Na capital Atenas, mais de 50 mil trabalhadores participaram das manifestações. Uma faixa carregada pelos manifestantes expressava corretamente a situação: “Chega de ilusões! Ou é o Capital ou são os trabalhadores!”.
Mas a grande imprensa, a serviço do Capital, prefere manter todos às sombras. Ao invés das imagens em grande angular das multidões, optou pelos closes sensacionalistas de jovens desafiando a polícia. Mais tarde a mídia vai “confirmar” essas impressões da greve com o resultado de uma pesquisa de opinião pública, onde 57,6% dos cidadãos gregos concordam que as medidas de rigor são necessárias, e que os grevistas são minorias (OESP, 28/02/10). Será?
Como a maioria dos países do mundo, a economia grega se encontrava em crescimento, puxada pela expansão do crédito e, particularmente, pelos investimentos recebidos por conta dos Jogos Olímpicos de Atenas. Mas a crise mundial mudou tudo isso. As perdas do setor privado foram absorvidas pelos governos e jogadas nas costas da classe trabalhadora. Os sete países mais industrializados do mundo somam hoje uma preocupante dívida pública de mais US$ 30 trilhões. Só que a corrente começa a estourar pelos elos mais fracos. Na zona do euro, os elos são Portugal, Espanha, Irlanda e Grécia.
Hoje, a Grécia amarga uma dívida pública que passa dos 300 bilhões de euros e um PIB em queda de 1,6%. A burguesia acusa os gastos públicos descontrolados como os responsáveis pela situação. Só não explica os motivos desses gastos, como os generosos subsídios governamentais cedidos aos capitalistas (como os pacotes de ajuda aos bancos), a evasão fiscal das grandes empresas, os gastos públicos com a defesa, as privatizações de empresas públicas (que eram fontes de receita para o Estado) e muita corrupção. Como podemos observar as pensões e salários dos trabalhadores não são problemas e não são eles que provocam a crise. O problema tem nome e se chama capitalismo.
Pouco a pouco, os trabalhadores gregos estão percebendo essa situação e dando seus passos. Nas últimas eleições parlamentares em outubro, a crise levou à derrota da Nova Democracia, principal partido da burguesia na Grécia. Já os três principais partidos da classe trabalhadora – PASOK, KKE (Partido Comunista) e o SYRIZA somaram 56% da preferência do eleitorado. Não é preciso uma pesquisa de opinião para entender que a classe trabalhadora marcha para a esquerda.
A princípio, o governo do primeiro-ministro Papandreou, do PASOK, procurou desenvolver uma política de conciliação de classes. Só que as agências financeiras mostraram que, na crise, uma política reformista é trabalho de Sísifo. O grau de investimento da Grécia foi rebaixado para B, o que aumentou as dificuldades do governo em rolar suas dívidas. Sem espaço para medidas reformistas, o governo de Papandreou cedeu às pressões do grande capital e abriu a caixa de Pandora: os trabalhadores estão ameaçados de perder seu salário extra de férias, o funcionalismo pode ter seus salários diminuídos e a idade da aposentadoria pode ser aumentada. Sem contar a ameaça do desemprego, que já atinge 10,6% da população ativa da Grécia.
Os dirigentes sindicais ligados ao PASOK tentaram segurar suas fileiras. Mas as greves começaram a despontar, e sob a pressão das bases, esses dirigentes foram forçados a abandonar a mesa de diálogo e convocar a greve geral do dia 24. Todos os estaleiros, refinarias e portos amanheceram fechados. A participação da indústria e das principais empresas estatais foi de 70%. Um bom começo. E dia 16 de março os trabalhadores voltarão às ruas com o entusiasmo redobrado pela entrada em cena dos trabalhadores de Portugal.
Logicamente, não podemos esquecer que foram esses mesmo trabalhadores que elegeram o governo de Papandreou. Mas a cada dia que passa, os limites de sua política ficam mais evidentes e camadas importantes da classe vão perdendo suas ilusões no governo. Outra pesquisa de opinião revelou que 46% dos gregos têm uma opinião positiva sobre o socialismo.