Onda massiva de desempregos pelo mundo faz ir por água abaixo discurso de economistas e governos de que a crise era passageira.
Muito se falou da redução da taxa de juros pelo Banco Central, dos mais R$ 100 bilhões do BNDES em linhas de crédito ou da criação do polêmico Fundo Soberano do Brasil (que levantará R$ 14,2 bilhões através do endividamento estatal – títulos da dívida mobiliária federal). Muito se falou da continuidade dos investimentos públicos e das obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), mas será que essas medidas podem reverter a crise?
Os trabalhadores imaginam que Lula está fazendo o possível para evitar o pior, mas todo esse pacote visa estimular a demanda (a produção industrial e o consumo), através da injeção de recursos públicos ou concessão de crédito e desoneração fiscal para o setor privado e são medidas muito parecidas com as que estão sendo usadas pelos principais governos do mundo e que não estão surtindo o efeito esperado.
Mas, por que tantos bilhões de reais e trilhões de dólares gastos até agora não serviram para reaquecer a economia mundial ou não evitaram a onda de demissões no Brasil? Simples: porque não se trata de uma crise de crédito, portanto, não pode ser resolvida com mais crédito! Diagnóstico errado, remédio pior! Os Estados burgueses usaram dinheiro público para tentar salvar o capitalismo de uma derrocada, comprometendo os gastos sociais em educação, saúde e previdência.
No início da crise, economistas e governantes pensavam que era uma queda do sistema financeiro – devido ao volume de capital especulativo – e que isso teria um efeito sobre a “economia real”, mas depois de alguns trilhões e alguns ajustes (contra a classe trabalhadora), tudo voltaria ao “normal”. Por isso, Lula falou que a crise no Brasil seria apenas uma “marolinha”. Mas não se trata disso.
Trata-se de uma crise de superprodução capitalista
A crise financeira foi o primeiro anúncio de uma crise ainda maior, a de superprodução capitalista. Em poucas linhas, isso significa que o capital acumulado durante anos, fruto da exploração da classe trabalhadora e que beneficiou apenas uma ínfima minoria de banqueiros, empresários e latifundiários, não tem mais como, nem onde se valorizar.
Houve uma superprodução de capital, portanto, de mercadorias e riquezas, que não têm para onde ir. Pode parecer um paradoxo, mas é assim que é o capitalismo: bilhões de pessoas passando dificuldades, enquanto trilhões de dólares se perdem.
Durante o último período de crescimento econômico, os banqueiros, empresários e latifundiários do agronegócio ganharam muito dinheiro, exigindo sacrifícios da classe trabalhadora. Agora, não adianta investir, pois não se conseguirá vender. A tendência é a taxa de lucro cair. Assim, a economia começa a retroceder e ameaça arrastar a humanidade para trás. E, pior, os que enriqueceram anteriormente, agora querem manter o capital de suas companhias a todo custo e, por isso, buscam transferir a conta da crise para os trabalhadores.
Medidas econômicas e sociais para sairmos da crise
Nessa crise, os trabalhadores estão preocupados com seus empregos, com os salários e direitos, com o nível de produção e o clima da empresa onde trabalham. E desejam, sinceramente, que a crise seja só uma “marolinha”, mas não é.
Por isso, para defender os interesses dos trabalhadores é preciso garantir estabilidade no emprego: nenhuma demissão! Que as empresas mostrem o lucro acumulado dos últimos anos para que os trabalhadores decidam os rumos da companhia e façam os patrões pagarem pela crise!
Todas as empresas que se recusarem a mostrar as contas, que demitirem ou reduzirem salários e direitos, devem ser ocupadas e estatizadas sob controle dos trabalhadores! Os bancos e instituições financeiras, responsáveis pela farra da especulação nas bolsas de valores, devem pagar pela crise: devem ser expropriados e colocados a serviço de um plano econômico, elaborado pelos trabalhadores da indústria, da construção civil, do comércio, os servidores públicos e professores, camponeses e estudantes!
As privatizações devem ser revertidas para que, enfim, todos os principais setores da economia sejam nacionalizados e integrados a um plano econômico-social. Além disso, a reforma agrária deve ser implantada, para que todos que querem terra possam trabalhar e reorganizar a agricultura para atender os interesses do povo.
No entanto, essas medidas são impossíveis de serem aplicadas, sem que o governo Lula enfrente os responsáveis pela crise: os capitalistas! É impossível governar para os trabalhadores, aliado com burgueses nos ministérios, no Banco Central, no Congresso, enfim, no comando político. É preciso tirá-los da frente para avançar, rumo ao socialismo!
Desemprego nos EUA, recessão na Europa e Japão, desaceleração da China
Desde julho de 2008, as agências de notícias contabilizaram 300 mil demissões somente nas principais companhias internacionais, sendo que 70 mil foram anunciadas apenas no dia 26/01: a segunda-feira do terror para os trabalhadores!
Nos EUA, 2,6 milhões de trabalhadores perderam seus empregos em 2008. É o maior número de desempregados desde a 2ª Guerra Mundial. E os pedidos de seguro-desemprego não param de crescer, semana a semana. A taxa de desemprego está em 7,2%, a maior desde 1993.
Oficialmente, a União Européia também está numa pior. O Reino Unido (que inclui Inglaterra, Irlanda e outros países), fechou 2008 com crescimento medíocre do PIB (0,7%), mas já faz dois trimestres que os índices estão negativos, ou seja, tecnicamente em recessão. A primeira desde 1991. A libra esterlina, moeda da Inglaterra, desvalorizou-se 10% em relação ao dólar, mostrando a desconfiança geral na economia inglesa. Já a Alemanha estima queda no PIB em 2,5% para 2009. Na Espanha, a taxa de desemprego subiu para 14%.
Já a França anunciou mais uma injeção bilionária de euros nos bancos, mas o próprio Centro de Economia da Universidade de Sorbonne questionou: “o fato de que a concessão de crédito desabou não significa que os bancos não estejam dispostos a emprestar, mas que a demanda da indústria e das famílias está paralisada”.
A China, que para muitos economistas vulgares, salvaria o mundo da recessão, pisou no freio bruscamente. Ano passado, o crescimento do PIB ficou em 6,8%, a metade do alcançado em 2007. As importações recuaram 8,8% entre outubro e dezembro. As exportações brasileiras para lá, por exemplo, caíram 30% em novembro, afetando o setor de minérios, soja e outras matérias-primas.
Em Dezembro a OIT (Organização Internacional do Trabalho) – ligada à ONU – publicou um relatório que previa a destruição de 20 milhões de postos de trabalho em 2009 no mundo todo. Agora, em Janeiro, acaba de publicar novo relatório aumentando esta previsão para 51 milhões de postos de trabalho destruídos em 2009. O que virá no próximo relatório?!
A crise se desenvolve no Brasil e os trabalhadores lutam em defesa do emprego
O presidente Lula havia afirmado que a crise no Brasil seria só uma ‘marolinha’, mas dados do próprio Ministério do Trabalho confirmam uma grande onda de demissões. Pesquisas oficiais também mostram queda na produção industrial e nas exportações.
Como ninguém mais se atreve a tapar o sol com a peneira, os capitalistas agora tentam jogar a crise nas costas dos trabalhadores. Porém, já há sinais de resistência, como a paralisação geral da cidade de Itabira (MG) em defesa dos empregos na Companhia Vale do Rio Doce (ver artigo aqui) ou a ocupação espontânea de uma fábrica em SP.
Recentemente, cerca de 120 metalúrgicos da Tyco Dinaço receberam por telegrama o comunicado das demissões e, no dia seguinte, quando foram buscar explicações, encontraram os portões fechados. Foi a gota d´água! Os trabalhadores ocuparam a fábrica! Porém, o arquipelêgo Sindicato dos Metalúrgicos de SP, ligado à Força Sindical, negociou as demissões com a empresa, desviando a luta pelos empregos em troca de migalhas. No entanto, isso mostra a disposição de resistir contra os patrões e a pressão da base sobre as próprias direções sindicais.
A CUT, por exemplo, lançou uma campanha contra a crise e convocou mobilizações pelo país. No ABC, cerca de 15 mil metalúrgicos marcharam para defender os empregos. Os dirigentes da CUT radicalizaram, no discurso, é claro. Enquanto falavam, corretamente, que é preciso defender o emprego, não aceitar retirada de direitos e redução de salários e que é preciso olhar o caixa das empresas que demitem para todos verem o lucro acumulado no último período, por outro, na prática, apenas pressionaram o Banco Central para abaixar os juros, como se isso fosse resolver alguma coisa para os trabalhadores. Mas, ninguém pode negar que os operários foram mobilizados com palavras de ordem justas e, ao fazer isso, a CUT pode despertar uma força para além do que os dirigentes desejam (ver mais na matéria sobre a CUT).
Mais de 654 mil demitidos em um mês!
A classe trabalhadora e o povo brasileiro já começam a sentir na pele a crise econômica mundial gerada pelo sistema capitalista: em todas as grandes e médias cidades, em todos os polos industriais do país houve demissões. Milhares de trabalhadores perderam a única fonte de renda que dispunham: seus salários.
No total, 654.946 postos de trabalho foram eliminados em dezembro de 2008, segundo o CAGED (órgão ligado ao Ministério do Trabalho). No Sudeste foram 405 mil demissões (285 mil só em SP, 88 mil em MG). No Sul, ocorreram 105 mil (50 mil só no Paraná), no Nordeste foram 50 mil (15 mil na Bahia, mais de 8 mil em Pernambuco e quase 6 mil no Ceará) e no Norte, ocorreram 33 mil (sendo 13 mil no Amazonas e 11 mil no Pará).
Já por atividade econômica, o maior número de demissões foi registrado na indústria, com mais de 270 mil desligamentos, seguido por agricultura (134 mil) e serviços (117 mil). E quando o impacto dessas demissões na indústria se abater ainda mais sobre o restante da cadeia produtiva, o comércio e a arrecadação pública, o problema se multiplicará.
É verdade que em comparação com 2007, o ano de 2008 teve mais contratações do que demissões, o que ainda expressa o ciclo de crescimento econômico do período anterior. Porém, se a crise não for interrompida, a tímida recuperação de empregos dos últimos anos será perdida em pouco tempo. Afinal, a velocidade da crise é vertiginosa.
Em dezembro, a indústria paulista fechou 130 mil postos de trabalho. Os setores que mais demitiram foram os de máquinas para escritório e equipamentos de informática (29,5%), refino de petróleo, combustíveis nucleares e álcool (24,9%).
Deve-se levar em conta também o fato de que a taxa de desemprego no país sempre se manteve alta, mesmo com a geração de postos de trabalho de uns anos pra cá. No ano passado foi registrada a menor taxa de desemprego desde 2002, 7,9%, que representa, no entanto, quase dois milhões de trabalhadores desempregados. Isso de acordo com o IBGE, que não conta em suas estatísticas o desemprego oculto, ou seja, os trabalhadores que deixaram de procurar emprego fixo por fazerem ‘bico’ ou outro trabalho informal.
Produção industrial leva um tombo
Outro dado que confirma o desenvolvimento da crise no Brasil é a queda na produção industrial. Em novembro de 2008, considerando todas as regiões do país, a produção caiu 5,2%, a pior queda mensal desde 1995, “levando o patamar de produção a retornar ao nível próximo ao de maio de 2007”, informa o IBGE.
“A produção de novembro de 2008 ficou 6,2% abaixo da registrada em novembro de 2007, quebrando a sequência de 28 meses de crescimento nessa base de comparação, o que evidencia um aprofundamento do ritmo de queda da atividade e um alargamento do conjunto de segmentos com decréscimo de produção.
Esse resultado refletiu o comportamento negativo de 21 dos 27 ramos pesquisados e atingiu todas as categorias de uso. O desempenho da indústria de veículos automotores, com queda de 22,6%, foi o principal impacto no resultado global, seguido por máquinas e equipamentos (-11,9%), edição e impressão (-14,8%), indústrias extrativas (-10,9%) e metalurgia básica (-10,2%)”.
Além disso, os indicadores da Fundação Getúlio Vargas (FGV) já apontam nova queda de novembro para dezembro na produção da indústria paulista, de 13,5%! Um tombo!
Outro dado importante: as exportações em dezembro caíram quase 3% em relação ao mesmo período de 2007. E o cenário é sombrio. A recessão nos EUA, União Europeia e Japão e a desaceleração na China diminuem a demanda por produtos brasileiros, basicamente commodities (minérios, soja, laranja, álcool e outras mercadorias semimanufaturadas).
Esses números mostram o que todos já sabem: quando os EUA espirram, o Brasil pega uma gripe. No entanto, a crise mundial não é só um resfriado, portanto, o contágio pode ter efeitos terríveis sobre os trabalhadores. E não se cura um câncer com comprimido para dor de cabeça, por isso mesmo, a solução é o socialismo!
A burguesia, ao se apropriar da riqueza gerada pelos trabalhadores, ergueu uma montanha de capital, que não tem mais como, nem onde se valorizar, levando o mundo à crise. E essa classe de parasitas não consegue apresentar nenhuma saída, que não seja mais exploração e sofrimento.
Por isso, a humanidade deve ser governada pela classe trabalhadora: para expropriarmos os responsáveis pela crise e reorganizarmos a economia no interesse do povo, acabando de vez com o capitalismo.
Empresários provocam crise e agora querem reduzir nosso salário!
É incrível a cara de pau dos patrões! Paulo Skaf, presidente da FIESP (entidade patronal das indústrias de SP), apareceu nos canais de televisão propondo a redução da jornada de trabalho e dos salários para diminuir o número de demissões que, “inevitavelmente”, acontecem…
Os empresários ganharam rios de dinheiro nos últimos anos, exigindo horas-extras e intensificando o ritmo de trabalho para bater recordes de faturamento e, agora que não conseguem mais valorizar o capital acumulado, demitem e vêm com essa história de reduzir os salários? Que eles paguem a conta da crise!
Já o presidente da Companhia Vale do Rio Doce, Roger Agnelli, após demitir 1.300 trabalhadores e colocar 5.500 em férias coletivas; após fechar minas e diminuir a produção em suas unidades, quer reduzir o salário de todo mundo pela metade, “garantindo” o emprego até 31 de maio. Quer dizer, o trabalhador ficaria em casa, recebendo metade do salário até 31 de maio e depois, ninguém sabe o que pode acontecer! Na certa, haverá demissões e dificilmente o salário voltará ao normal!
É muita cara de pau para quem ganhou uma fortuna, após receber a empresa praticamente de graça com a privatização! É hora de re-estatizar a Vale, sob controle dos trabalhadores, para utilizarmos todo seu potencial em benefício do povo!