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A Nigéria nas últimas décadas (Parte 1)

Artigo publicado no jornal Foice&Martelo Especial nº 14, de 3 de setembro de 2020. CONFIRA A EDIÇÃO COMPLETA.

A Nigéria é um país localizado na África Ocidental com aproximadamente 206 milhões de habitantes. Esteve sob regimes militares, subordinados ao imperialismo norte-americano, entre 1966 e 1979 e novamente entre 1983 a 1998. Em regime civil desde 1999, hoje enfrenta uma situação profundamente violenta e instável, radicalizando cada vez mais na população um sentimento de ódio ao sistema.

Apesar de suas grandes reservas minerais, importantes reservas de petróleo e uma considerável exportação de produtos agrícolas, como o cacau, a Nigéria é uma das referências mundiais nos níveis de miséria, violência, mortalidade infantil e outros indicadores sociais que escancaram a podridão do sistema capitalista e acionam um perigoso alerta para uma iminente catástrofe frente à pandemia de coronavírus.

A Nigéria nos últimos anos

Em vários países onde regimes militares se esgotaram e caíram, foi comum observar a própria burguesia propondo regimes mais “democráticos”, cedendo alguns direitos para evitar ondas de protestos ou mesmo situações revolucionárias. Uma postura comum de “dar os anéis pra não perder os dedos”. Assim aconteceu na Nigéria, encerrando em 1999 o último período de 15 anos de Ditadura Militar. Desde então a burguesia tem lançado alternativas que se dividem entre os dois principais partidos — o Congresso de Todos os Progressistas (APC) e o Partido Democrático Popular (PDP), ambos profundamente corruptos e fiéis aos interesses da burguesia —, passando por Obasanjo, Yar’Adua, Jonathan e Buhari (APC), atual presidente reeleito em 2019. Buhari é general da reserva e já havia governado o país entre 1984 a 1985, após um golpe militar. Ou seja, embora mude o tabuleiro, algumas peças continuam em uso no que tange à subserviência aos interesses das elites.

Nessa democracia burguesa, houve grande e ininterrupta pressão da burguesia pela privatização de serviços centrais, como o de fornecimento de energia, cujo processo foi iniciado em 2013 sob o governo Jonathan (PDP). Da mesma forma, a burguesia ainda pressiona e lança tentáculos em vários outros serviços e recursos. Por exemplo, apesar de 90% da economia nigeriana ser movimentada pela exportação de petróleo, 80% dessa receita ficam restritos a apenas 1% da população (a burguesia que detém a propriedade privada destes meios de produção). A sobra destes recursos é absorvida pela profunda corrupção dos governos em suas pastas de direitos sociais, independentemente do partido.

O resultado disso é que praticamente nada desses recursos é revertido para infraestrutura, serviços essenciais ou direitos sociais básicos da classe trabalhadora, fazendo com que a Nigéria apresente índices gritantes de miséria (60,9% da população em 2010, quando calculava-se 158,5 milhões de habitantes), concentrados principalmente na região norte do país. Um cenário característico de países subjugados pelo parasitismo da classe dominante e domesticado pelo imperialismo norte-americano. Não à toa, os trabalhadores nigerianos têm se lançado a grandes enfrentamentos contra essas medidas há muito tempo.

Protestos iniciados em 2012 contra o corte de subsídios nos preços do combustível chegaram a reivindicar a revogação dos aumentos, além de outras reivindicações, como Fora Jonathan (então presidente), aumento salarial, melhorias no sistema saúde, educação pública gratuita e para todos, sistema de aposentadorias, nacionalização do sistema de refinaria sob controle operário, etc. Tais reivindicações radicais incomodaram as direções da burocracia sindical, que fizeram de tudo para desmobilizar o caráter revolucionário destes protestos.

Leia mais no artigo dos camaradas nigeriano da CMI.