A Revolução Iraniana: O que significa e para onde vai?

Todas as condições objetivas assinaladas por Lênin para a revolução amadureceram no Irã. Os acontecimentos dos últimos dias marcam o principio da revolução iraniana, que se desenvolverá durante todo um período.

Isto se deve à ausência de um partido revolucionário de massas capaz de dirigir as massas hoje. Porém as condições para construir esta força também estão maduras. Os trabalhadores e jovens do Irã buscarão as genuínas idéias do socialismo revolucionário, do marxismo.

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Ontem (15/06) escrevi que A Revolução Iraniana Começou. Em que sentido isso é verdade? Lênin explicava as condições para uma situação revolucionária: primeiro que a classe dominante deve estar dividida e incapaz de governar com os mesmos métodos que antes governava – esta condição está claramente presente no Irã. Em segundo lugar, a classe média deve estar vacilante entre a revolução e a contra-revolução – esse é o caso agora no Irã, onde setores decisivos da classe média têm se posicionado ao lado da revolução e estão se manifestando nas ruas. Em terceiro, os trabalhadores devem estar preparados para lutar – no Irã uma crescente onda de greves tem aumentado, inclusive antes das eleições.

Somente está ausente a última condição: a presença de um partido e direção revolucionários, como o Partido Bolchevique em 1917. A presença deste partido daria ao movimento de massas a direção e organização que necessita para o êxito. Significaria uma vitória rápida e relativamente pacífica. Na ausência de tal partido, a revolução se desenvolverá por todo um período mais prolongado, de meses, provavelmente anos, com altos e baixos.

Uma revolução não é o único ato de um drama. Em 1917 a revolução se desenvolveu durante um período de 9 meses. Durante este período houve momentos de tremendo impulso, como em Fevereiro, porém também houve períodos de cansaço, derrotas e inclusive reação, como no período que se seguiu às Jornadas de Julho. Desde Julho até final de Agosto houve um período de reação no qual os bolcheviques passaram para a clandestinidade, sua imprensa foi destruída, Trotsky estava na prisão e Lênin teve que fugir para a Finlândia.

A revolução espanhola, provavelmente o melhor indicador para entendermos o que ocorrerá no Irã, começou com a derrocada da monarquia (fruto das eleições municipais) em Abril de 1931. Isso abriu um período de revolução que perdurou por 7 anos, com altos e baixos, até a derrota dos trabalhadores nas Jornadas de Maio de 1937 em Barcelona. Nesse período de 7 anos tivemos o chamado Biênio Negro, que se seguiu à derrota da Comuna Asturiana de 1934 e durou até a eleição da Frente Popular em 1936.

Na ausência de um partido revolucionário de massas, a revolução iraniana, como a revolução espanhola, pode prolongar-se durante vários anos e se caracterizará por um caráter turbulento e convulsivo, com ascensão e queda de diferentes governos, líderes e partidos, antes de finalmente se colocar a questão do poder. Porém os acontecimentos que se desenvolverão diante de nossos olhos marcam uma mudança fundamental em toda a situação. O gênio saiu da garrafa onde estava fechado por 3 décadas. É impossível obrigar-lhe que entre de novo na prisão.

Muitos observadores têm expressado surpresa diante de um movimento que parece ter caído de um céu azul. Porém, na realidade esta explosão está há muito tempo se preparando. A fúria da população reflete todas as frustrações e raiva acumuladas durante as últimas 3 décadas. Também reflete a deterioração da situação econômica e a queda dos níveis de vida. A economia foi a questão central na campanha eleitoral e segue como ponto central das preocupações da maioria dos iranianos, depois de 4 anos de grandes aumentos da inflação e do desemprego.

Ainda que com Ahmadinejad os setores mais pobres da sociedade tenham se beneficiado com o dinheiro oriundo dos rendimentos com o petróleo do Irã, muitos outros se queixam de que com o aumento da liquidez os preços têm dobrado ou até triplicado. O parlamento bloqueou a redução de subsídios e isso alimentou a inflação que já está em aproximadamente 24%. Porém a crise econômica significa cortes e austeridade, Shamsoddin Hosseini, Ministro da Economia, disse ontem que a privatização das empresas estatais será o “alicerce” da próxima política econômica do Irã.

Isso explica em parte o caráter combativo do movimento de oposição furioso e decidido que encontrou um improvável símbolo em um homem de 68 anos de idade, Mir-Houssein Mousav, que anteriormente integrava o establishment iraniano e que segue integrando-o ainda hoje. Quando a população começa a perder o medo e está disposta a desafiar as armas da polícia em um país como o Irã, é o princípio do fim. Este maravilhoso movimento de massas é ainda mais incrível quando observa-se que está desorganizado e sem direção.

O heroísmo das massas

O fator decisivo tem sido a recente entrada em cena das massas. O tremendo heroísmo das massas pôde ser visto na manifestação de ontem, desafiando as advertências do regime que ameaçou responder com balas. Ao menos um milhão de manifestantes ignorou esta ameaça, as armas e o derramamento de sangue, para exigir liberdade no Irã. Ontem morreram oito pessoas, além de um número desconhecido que ficou ferido. Apesar disso o movimento continua sem diminuir.

Robert Fisk, um dos melhores jornalistas britânicos, presenciou o que qualifica como o dia do destino do Irã e enviou uma densa reportagem sobre o que ocorreu:

“Um milhão de pessoas marchou desde a Praça Engelob até a Praça Azadi, desde a Praça da Revolução até a Praça da Liberdade, diante dos olhos da brutal polícia anti-distúrbio de Teerã. A multidão cantava e gritava, ria e insultava seu ‘presidente’ chamando-o de poeira. Um estudante fazendo uma piada dizia: ‘Ahmadinejad nos chamou de poeira e nós lhe faremos uma tempestade de areia!’.

Desde a revolução Iraniana de 1979, as massas não tinham se reunido em tal número ou com tão envolvente popularidade nos bulevares desta tórrida e desesperada cidade. Davam investidas, empurravam e se amontoavam através das estreitas ruas até chegarem à avenida principal onde encontravam a polícia anti-distúrbios alinhada em cada lado com seus capacetes de aço e cassetetes. A população ignorou tudo. Os policiais superados numericamente por milhares de manifestantes, riam timidamente e para nosso assombro, diziam sim balançando a cabeça aos homens e mulheres que exigiam liberdade. Quem poderia crer que o governo havia proibido essa manifestação?”

Aqui vemos a verdadeira cara da revolução. As massas se encontram com a temida polícia anti-distúrbio e simplesmente a ignoraram. A polícia, encontrou-se a um massivo movimento, vacila e lhe dá passagem, “sorrindo timidamente” e dizendo que sim com a cabeça. Esse acontecimento é uma repetição quase exata do que Trotsky descreve em sua História da Revolução Russa:

“Depois da reunião pela manhã, os trabalhadores da fábrica Erickson, uma das mais avançadas do bairro Viborg, dirigiram-se em massa com um contingente de 2500 homens pela Avenida Sampsonievski; em uma rua estreita tropeçaram com os cossacos. Os primeiros a se encontrarem com a multidão foram os oficiais que abriram caminho com o peito dos cavalos. Atrás deles vinham os cossacos galopando, ocupando toda a largura da avenida. Momento decisivo! Os cavaleiros deslizaram com cautela com uma ampla coluna pela brecha aberta pelos oficiais. Alguns – recorda Jakurov – sorriam, e um deles piscou maliciosamente o olho aos operários. Aquela guinada dos cossacos teria um motivo. Os operários receberam valentemente os cossacos, ainda que sem hostilidade aos mesmos, e lhes contagiaram um pouco com sua valentia. Apesar das novas tentativas dos oficiais, os cossacos, sem transgredirem abertamente a disciplina, não dissolveram pela força a multidão e desistindo de dispersar os operários, colocaram os cavaleiros ocupando toda a largura da rua para impedir que os manifestantes passassem para o centro da cidade. Contudo isso para nada serviu. Os cossacos montavam a guarda em seus postos em cumprimento da lei, mas não impediam que os operários se infiltrassem por entre os cavalos. A revolução não escolhe arbitrariamente seus caminhos. Dava seus primeiros passos até a vitória sob as barrigas dos cavalos dos cossacos. Interessante episódio!”.

A valentia dos manifestantes iranianos foi mais impressionante porque muitos já haviam aprendido com os selvagens assassinatos de cinco iranianos no campus da Universidade de Teerã, fechado com a ponta das pistolas pelos milicianos Basiji. Fisk descreve a cena:

“Quando cheguei aos portões do colégio ontem pela manhã, muitos estudantes estavam chorando detrás da cerca de ferro do campus, gritando ‘massacre’ e lançando trapos negros através das grades. Isso foi quando a polícia anti-distúrbios regressou voltando à carga uma vez mais no terreno da universidade.”

E novamente Fisk:

“Em algumas ocasiões, a marcha pela vitória de Mousavi ameaçou cair envolvida em meio de paredes de homens e mulheres que cantavam. Afundavam-se nas galerias de esgoto, tropeçavam em árvores quebradas e tentavam manter a passagem de seu veículo, enormes serpentinas de linho verde em cadeia na frente do veículo de seu líder político. Cantavam em uníssono, uma e outra vez, as mesmas palavras: ‘tanques, armas, Basiji, agora não têm mais efeito!’. Quando os helicópteros do governo sobrevoaram a região, estes milhares olhavam para cima e uivavam debaixo do estrondo das hélices: ‘Onde está meu voto?’ É fácil ouvir frases feitas nesses dias titânicos, mas este é um momento verdadeiramente histórico.”

Aqueles cidadãos que não participavam na manifestação expressaram sua solidariedade desde as janelas, telhados, como descreve Fisk:

“Um homem caiu na estrada, seu rosto estava coberto de sangue. Porém a grande massa de pessoas movia-se ondeando suas bandeiras verdes, gritando de satisfação junto aos milhares de iranianos que estavam nos telhados. À direita, todos viram a casa de um ancião que saiu na direção do pátio, envelhecido e puído, parecia que estava recordando o reino do detestado Xá, quem sabe inclusive de seu arrepiante pai, Reza Khan. Uma mulher que devia ter uns 90 anos ondeava uma toalhinha verde e inclusive um velhote surgiu de um estreito balcão para agitar ao ar sua muleta. Em baixo, os milhares gritavam de alegria diante desse velhote.

Andando ao lado desta grande maré humana, parecia que se apossava de todos nós um estranho temor. Quem se atreve a atacar-nos agora? Que governo pode negar a um povo deste tamanho e determinação? Perguntas perigosas!”.

Fisk assinalava que os manifestantes não só eram pessoas da classe média e estudantes:

“Não eram jovens somente, haviam pessoas vestidas à moda, senhoras morenas do norte de Teerã. Ali estavam os pobres também, os trabalhadores vendedores de rua, mulheres de meia idade cobertas com seus xales. Uma porção de crianças em seus ombros e bebês de colo, falando-lhes de vez em quando, tentando explicar o significado destes acontecimentos a uma mente que não recordaria daqui a 20 anos onde estivera nesses dias de hoje”.

As manifestações de massas eram uma réplica exata das então vividas na revolução de 1979 que foi posteriormente usurpada pelo aiatolá Khomenei e seu bando reacionário. O Xá possuía um aparato de Estado colossal, porém quando as massas se enfrentaram a ele, foi derrubado como um castelo de areia. Tal qual quando a odiada Basiji atacou os estudantes. Pela tarde, os próprios Basiji enfrentaram centenas de manifestantes no oeste da cidade. Depois se escutaram disparos nos subúrbios. Aqueles que chegaram tarde demais para abandonar Azadi, foram pegos pelos disparos dos Basiji. Ao final estavam mortas oito pessoas e mais um número desconhecido de feridos.

O regime vacila

Este esplêndido movimento das massas mudou tudo em 24 horas. A arrogância do poder lançada por Mahmoud Ahmadinejad no dia anterior evaporou-se. Em seu lugar há sinais de pânico no regime. No Sábado e Domingo houve repressão, violência e derramamento de sangue, porém na Segunda-Feira tudo mudou. As autoridades devem ter sentido que tudo o que conseguiram em 1979 lhes escapava das mãos. Assim se deu com o Xá quando foi derrubado há 30 anos, com manifestações de massas e a possibilidade da greve geral.

Agora temem que possam irromper enfrentamentos violentos e inclusive guerra civil, que não estão seguros de ganhar. Quando a classe dominante teme que possa perder tudo, sempre está disposta a fazer concessões, oferecer algo. Agora as autoridades oferecem a recontagem de votos, porém não aceita novas eleições. A decisão de recuo procede do líder supremo, o poder real no Estado, que inicialmente havia confirmado o resultado eleitoral.

O aiatolá Ali Khamenei concordou em investigar os resultados eleitorais, talvez para revisar uma ou duas seções eleitorais. Porém as concessões são poucas e chegam muito tarde. Não pacificarão os manifestantes, muito pelo contrário. Cada passo atrás do regime será visto como um sinal de debilidade e lhes empurrará mais à ação. Mousavi pediu a anulação das eleições, entretanto o regime só oferece uma recontagem parcial.

A seriedade da crise está afetando a economia. A burguesia iraniana está “votando com os pés”. Há pânico na comunidade empresarial devido ao resultado eleitoral, hoje o The Financial Times publicava:

“A comunidade empresarial do Irã, ontem, mostrava-se inequívoca em sua reação diante da reeleição de Mahmoud Adhmadinejad como presidente. A bolsa de Teerã caiu abruptamente, enquanto que os influentes ‘bazaaries’ (lojas dos comerciantes) ameaçavam fechar ontem como sinal de protesto”.

O fato de que os bazares, que anteriormente eram seguidores sólidos do regime, agora ameaçam com a greve, é outra prova do alcance da revolução e que ela se estende constantemente. Certamente a ausência de uma direção séria significa que o resultado final retardará. O Jornal The Financial Times, que é o órgão mais astuto do capital internacional, escreve:

“A onda de raiva poderia diminuir em breve, particularmente se a repressão se tornar mais brutal. Os analistas estão esperando ver se isso provoca campanhas de desobediência civil de segmentos da sociedade que haviam apoiado Mousavi, incluídos aí os empresários dos bazares do Irã que hoje ameaçam com a greve, dos sindicatos e estudantes, ou protestos dos clérigos que também haviam apoiado sua candidatura. ‘Haverá a partir de agora muitas explosões esporádicas sobre diferentes questões, enquanto a população seguir pensando que não há nenhuma saída pacífica para conseguir as mudanças’ segundo explica um analista”.

Debilidade da direção

Esta perspectiva é similar à que coloquei em meu primeiro artigo. Inclusive as greves mais tormentosas e manifestações de rua não podem resolver a questão central: a questão do poder estatal. Não basta que alguns policiais sorriam aos manifestantes. A menos que a polícia e o exército passem para o lado da população, as armas da República Islâmica seguirão em mãos da administração de Ahmadinejad e seus protetores clericais. A questão da direção ainda é primordial.

Em 1999, o regime reprimiu uma onda de descontentamento estudantil em questão de dias, agora os manifestantes parecem mais fortes e determinados. As tentativas de repressão tiveram o efeito contrário do que se pretendia. Depois do ataque brutal dos bandos armados de Ahmadinejad existe um perigoso fermento na Universidade de Teerã. Alguns dizem que membros da milícia religiosa atacaram seus dormitórios. “Golpearam nossos amigos e levaram pelo menos 100 estudantes. Não temos notícias de seus paradeiros”, diziam que uns 120 professores universitários se demitiram em sinal de protesto.

Porém a valentia dos manifestantes não é uma característica dos dirigentes. Homens como Mirhossein Mousavi não são dirigentes, estão na cabeça das manifestações por um acidente histórico. Kerensky e o padre Gapon pertencem à mesma categoria filosófica. Estes indivíduos surgem rapidamente na superfície, impulsionados pela maré dos grandes acontecimentos históricos, conseguem uma fama emprestada em pouco tempo e depois desaparecem sem deixar rastro, varridos como a espuma em uma onda do mar, afundados por outras correntes mais poderosas. Primeiro-Ministro nos anos 80 havia desaparecido da opinião pública e dedicado seu tempo a seu passatempo favorito: a pintura abstrata. Agora a história parece que lhe colheu pelo pescoço e o empurrou para a primeira fila, de onde vê um espetáculo nada cômodo.

Apesar de seus ataques contra a política interior e exterior do regime, Mousavi nunca foi um oponente da República Islâmica. Na realidade se apresentou como candidato a presidente como um “principista” que busca o retorno aos verdadeiros valores e princípios da revolução islâmica de 1979. Porém sua mensagem havia coincidido com as reivindicações de mais liberdade democrática e uma gestão pragmática da economia.

Sua candidatura, além disso, foi quase acidental. Era reticente a se candidatar à presidência, porém isso lhe foi pedido uma e outra vez por, Mohammad Katamí, o anterior presidente reformista. Uma vez decidido, recebeu rapidamente o apoio de Akbar Hashemi Rafsanjani, uma figura política destacada do campo conservador que está à frente agora do Conselho de Conveniência, um organismo antigo que desenha a política macro, e da Assembléia de Sábios, que nomeia o próximo líder supremo.

Ainda que dele se esperasse que fosse um centrista, pouco a pouco a campanha de Mousavi adotou as mesmas bandeiras dos reformistas, inclusive com mais vigor. Reorientou suas mensagens durante os comícios eleitorais para apelar à classe média urbana educada, criticando o extremismo do presidente e ridicularizando sua política econômica populista.

Porém, enquanto jovens reformistas – muitos dos quais tomaram as ruas de Teerã novamente ontem em manifestações pacíficas que terminaram em violência – buscam através de Mousavi mudanças profundas, ele tem outras idéias. Fisk escreve o seguinte sobre a manifestação:

“Mirhossein Mousavi estava entre eles, montado em um automóvel no meio do calor e da fumaça, sem rir, assombrado e inconsciente de que esta épica manifestação poderia florescer em meio ao desespero com derramamento de sangue pós-eleições no Irã. Pode ser que oficialmente tenha perdido as eleições de Sexta-Feira, porém ontem foi seu desfile eleitoral da vitória pelas ruas de sua capital. Terminou, inevitavelmente, em tiroteio e sangue”.

O olho perspicaz de Fisk dá um retrato psicológico acertado e penetrante do líder reformista: “sem rir, assombrado e inconsciente” dos imensos poderes que tem reunido e que, como o aprendiz de bruxo, é incapaz de controlar. As vacilações de Mousavi foram destacadas na imprensa burguesa. O Jornal The Financial Times disse:

“Tem aparecido dividido entre os pedidos de que continuem os protestos e os que os detenham para evitar a violência e as perdas de vidas como as presenciadas na noite passada. (…) Mousavi inicialmente desconvocou o protesto de Sexta-Feira pelo temor da violência, porém depois se uniu aos manifestantes nas ruas. O dilema ao qual está confrontado é que as manifestações marcam o maior protesto público desde a revolução islâmica de 1979.”

Segundo seu porta-voz, Mousavi tem pedido aos seus apoiadores para que não participem das manifestações marcadas para hoje na capital. “Mousavi… pediu aos seus seguidores que não participem das manifestações de hoje para proteger suas vidas. A manifestação dos moderados foi cancelada”, segundo disse seu porta-voz. Porém no momento de escrever estas linhas a rádio informava que uma grande multidão estava de novo reunida nas ruas de Teerã. As notícias dizem que as manifestações ainda são maiores do que as de ontem!

A possibilidade de um enfrentamento sangrento sempre está presente. Isto é o que comenta um jornalista:

“A raiva e o ódio nos olhos de ambas as partes, independentemente do resultado, enfurecerá a alguns (…) A polícia tenta manter-se a mais civilizada possível, porém nem todos escutam os comandantes da polícia (…) Não é fácil pedir-lhes calma. O que sucederá quando se romper a cadeia de comando, quando ambas as partes passarem ao enfrentamento e não escutarem a seus comandantes? Esta é uma situação muito perigosa.”

Sem dúvida, dado o nível de raiva popular, o efeito desta situação não será a que se pretendia. Um só enfrentamento sangrento e toda a situação explodirá. A idéia de uma greve geral está colocada. Um ato em grande escala de terrorismo de estado se encontrará com uma onda de greves e protestos que rapidamente poderiam transformar-se em uma insurreição tal como ocorreu em 1979. Mousavi está desesperado para evitar esta situação. Segundo ele: “Quando encontro alguém que gosta da polícia, eu recomendo evitar duras reações diante das ações motivadas por elas e que não permitam que a confiança da população nesse valioso órgão seja deteriorada”.

Nós previmos isso

Os atuais protestos foram já prognosticados pelos marxistas. Há quase 10 anos dizíamos que as grandes manifestações estudantis eram “os primeiros disparos da revolução iraniana”. Poucas pessoas prestaram atenção nesse prognóstico. Porém o Irã continuou na primeira linha das perspectivas da CMI. No discurso no Congresso Mundial da CMI em Agosto/2008, eu disse o seguinte:

“O Irã está maduro para a revolução. Ali encontramos todas as condições enumeradas por Lênin para a revolução: divisões nas cúpulas, fermento entre a classe média, uma poderosa classe operária com tradições revolucionárias, ondas importantes de greves, etc. O único fator ausente é o fator subjetivo, o partido revolucionário. O trabalho de nossos companheiros iranianos é de grande importância para a CMI. Devemos ajudar-lhes.

A situação no Irã é muito semelhante à da Rússia antes de 1905. Uma vez que as massas iranianas comecem a se mover, tenham cuidado! A revolução pode tomar diferentes caminhos, porém de uma coisa podemos estar seguros: não será uma insurreição fundamentalista! Depois de 28 anos de mulás no poder, eles estão totalmente desacreditados entre as massas e a juventude. A maioria da população é jovem e fresca, estarão abertas às idéias revolucionárias e ao marxismo. A revolução iraniana mudará toda a situação no Oriente Médio, mostrando que o genuíno anti-imperialismo não necessita ser fundamentalista. Terá um impacto em toda a região!”

Estas palavras foram totalmente verificadas pelos recentes acontecimentos. A revolução iraniana levou muito tempo para amadurecer, porém ressurgiu com muita força. As anteriores insurreições dos heróicos estudantes iranianos foram silenciadas pela sangrenta repressão e prisão de seus dirigentes. Porém, como prognosticamos na época, estes revezes seriam somente por certo tempo:

“Devido à falta da direção, a repressão pode ter o efeito de adiar o movimento temporariamente, porém somente ao custo de provocar mais tarde explosões mais violentas e incontroláveis.” (Os primeiros disparos da revolução iraniana – 17 de Julho de 1999).

Este prognóstico foi totalmente confirmado pelos acontecimentos. A luta continuará, com inevitáveis altas e baixas, até que chegue a um resultado decisivo.

Sobre as tarefas urgentes do movimento revolucionário escrevi naquela ocasião:

“Os trabalhadores e jovens do Irã têm demonstrado repetidamente um grande potencial revolucionário. O que faz falta é dar ao movimento uma forma organizada, um programa e perspectivas claras. Pelo caminho da colaboração de classes não há saída possível. A condição prévia para o êxito é o movimento independente da classe operária, junto com seus aliados naturais, e uma ruptura decisiva com a burguesia liberal. É necessário criar os comitês de ação para organizar e coordenar o movimento a nível local, regional e nacional. É necessário preparar-se para a autodefesa contra os bandos reacionários, enquanto se faz um chamado à base do exército para que passe para o lado da população.

Sobretudo, é necessário elaborar um programa concreto para vincular a luta pelos direitos democráticos às demandas programáticas para resolver os problemas mais gritantes da classe operária, do campesinato, dos desempregados, das mulheres e da juventude. Este programa necessariamente implicará uma ruptura radical com o capitalismo e colocará na ordem do dia a luta pelo poder operário e um movimento em direção ao socialismo no Irã. A condição prévia para o êxito desta luta é a participação ativa da classe operária, particularmente do setor decisivo dos trabalhadores petroleiros. Uma vez que a classe operária do Irã tenha o poder em suas mãos, podem começar um movimento que se estenda como uma bola de fogo por toda a região. Teria um efeito maior que a revolução Russa de 1917, especialmente se for dirigido por um partido marxista revolucionário consciente. A criação deste partido é a tarefa mais urgente para a vanguarda dos trabalhadores e estudantes iranianos. Armados com as idéias, programa e estratégia corretas, a classe operária iraniana será invencível”.

Não há muito o que acrescentar a isto. Não estamos discutindo perspectivas abstratas, mas fatos. O maravilhoso movimento dos trabalhadores e estudantes do Irã é a resposta final a todos os céticos e covardes que duvidam da capacidade da classe operária para mudar a sociedade. A revolução no Irã começou e está destinada a passar por toda uma série de etapas antes que finalmente empreenda seu rumo. Porém, ao final, estamos seguros de que triunfará. Quando chegar esse momento terá repercussões explosivas em todo o Oriente Médio, Ásia e restante do mundo.

Fazemos um chamado a todos os trabalhadores do mundo para que ajudem a nossos irmãos e irmãs iranianos.

Viva a revolução iraniana!
Não à repressão e à tirania!
Trabalhadores do mundo: uni-vos!

Londres, 16 de Junho de 2009.

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