A produção volta a crescer no Brasil. Então, tudo bem? Tudo bem para os patrões, já que o aumento da produtividade e do lucro se baseia na maior exploração dos trabalhadores.
Muitas notícias vêm sendo divulgadas afirmando que depois do “susto” da crise, as grandes empresas industriais, em especial em São Paulo, voltaram a investir.
O ministro da Fazenda Guido Mantega declara: “Portanto, não há nenhuma dificuldade para a indústria atender à demanda”. (01/03)
Já o Presidente da FIESP, e possível candidato a governador do estado de São Paulo pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB), Paulo Skaf, usou números para mostrar os investimentos da indústria paulista na capacidade produtiva. De acordo com ele, além do aumento de 10% da capacidade determinado pelos investimentos de 2009, os empresários calculam ampliar o limite produtivo em até 15% com novas aplicações neste ano. (01/03)
Para os representantes do governo e dos donos das indústrias paulistas, portanto, a tendência é de aumento na produção em decorrência dos investimentos que vêm sendo realizados.
Nesse contexto, de acordo com o que boa parte dos economistas costuma dizer, era de se esperar uma forte criação de novos empregos industriais e mesmo uma tendência no aumento de salários, dado que os novos investimentos deveriam aumentar a procura pela mão de obra dos operários na indústria.
Entretanto, alguns dados referentes ao Estado de São Paulo – principal centro econômico do Brasil – são suficientes para mostrar que este prognóstico está muito longe da verdade…
Se analisarmos os dados do DIEESE sobre emprego ao longo de 2009 na Grande São Paulo, mostram uma diminuição do número de ocupados em 5,9% no setor industrial, além de uma queda de 1% no rendimento nos trabalhadores de carteira assinada do setor privado (que engloba outros setores além da indústria).
Dados mais recentes divulgados pela própria FIESP e divulgados no jornal Valor Econômico mostram que no Estado de São Paulo como um todo houve uma queda 6,5% no salário médio de janeiro para dezembro passado. Mesmo considerando o mês de dezembro um mês mais “aquecido” em função do fim de ano, os dados mostram que a festejada retomada não tem revertido em melhoras para os trabalhadores da indústria.
Se de fato as pesquisas mostram crescimento do emprego em setores como serviços e construção civil, na indústria paulista notamos quedas de salário e aumento do número dos que perdem emprego.
Por que tudo isso ocorre? Alguns exemplos localizados em duas grandes empresas ajudam a explicar. A Honda, apesar de alegar estar investindo US$ 200 milhões este ano no país, demitiu desde julho passado 180 operários na fábrica de Sumaré-SP e colocou em seu lugar 25 robôs.
A Philips anuncia fechamento de fábrica em Mauá-SP com demissão de 425 trabalhadores ao mesmo tempo em que anuncia investimentos no país da ordem de US$ 300 milhões. O “curioso” é a alegação que a empresa dá para o fechamento da fábrica: “… a Philips (…) acelerando o processo de mudança tecnológica (…) e oferecendo produtos (…) voltados à saúde e bem estar de nossos consumidores e as demandas relacionadas ao meio ambiente”. Ou seja, buscam justificar os mais de 400 trabalhadores na rua com a “defesa do meio ambiente”…! Como se fossem os trabalhadores e não as grandes empresas os responsáveis pela degradação da natureza!
Karl Marx afirmava desde o século 19 que o Capital tem uma tendência a substituir mão de obra por máquinas e tecnologias mais modernas. E isso tende a reduzir o número de operários efetivamente empregados na indústria. Nas palavras de Marx, o capital substitui “trabalho vivo” por “trabalho morto”.
Por que isso ocorre? Os capitalistas, ao mesmo tempo em que precisam explorar os trabalhadores para que esses produzam a mais-valia, concorrem a todo o momento entre si. Com uma inovação tecnológica os capitalistas muitas vezes conseguem fazer com que em um dia de trabalho o operário produza muito mais aumentando seus lucros. Além disso, através dessas inovações é possível jogar no mercado um produto com um preço menor ou então um produto de melhor qualidade, fazendo com que o capitalista em questão roube mercado de seus concorrentes, ou mesmo leve à falência as empresas que não inovaram.
Ou seja, a concorrência entre os capitalistas tende a criar novas tecnologias que empregam menos mão de obra, ao mesmo tempo em que há uma tendência de concentração do capital, pois as empresas mais frágeis tendem a falir ou então são obrigadas a se associarem a empresas maiores para poderem sobreviver.
É importante perceber que a própria crise econômica estimulou essas inovações tecnológicas. As grandes empresas que têm maiores possibilidades de financiamento, tecnologia e poder se aproveitam do momento de instabilidade e de indefinição para realizar seus investimentos mais modernos e se firmarem ainda mais no mercado, afastando concorrentes menos poderosos.
Em resumo, a ideia de que a volta do investimento da indústria será boa todos, tanto para os capitalistas como para os trabalhadores, é falsa. Mesmo se os prognósticos mais otimistas se confirmarem isso pode não significar uma melhor condição da classe operária. Pode significar, inclusive, uma piora, como os números e os exemplos que trouxemos mostraram.