Vários economistas, jornalistas e articulistas vem a público dizer que tudo o que necessitamos é “mais” regulamentação bancária. Mas, isso é possível? Este artigo propõe-se a responder esta questão.
Escrito por Mick Brooks, quarta-feira, 27 de janeiro, 2010
Os bancos estão pagando enormes bônus para os mesmos especuladores que foram os primeiros responsáveis pela crise de crédito. Ser um desses grandes banqueiros é continuar a ser um “ocidental financeiro selvagem”. Se quisermos um sistema financeiro que trabalhe pelo interesse do povo, precisamos nos livrar de todo o sistema capitalista.
Os banqueiros estão comemorando suas orgias. Os bancos de Wall Street estão decididos a desembolsar US$ 65 bilhões em bônus para os especuladores que se sujaram de modo espetacular e trouxeram a crise de crédito sobre as nossas cabeças. Algumas dessas benesses vão cair no colo de especuladores da cidade de Londres e Canary Wharf. A Goldman Sachs, sozinha, gastará mais de US$ 20 bilhões e a JP Morgan, Morgan Stanley, Citigroup e Bank of America vão desembolsar mais US $ 65 bilhões.
O presidente Obama, instigado pela fúria de milhões de americanos com essas ações dos bancos, desperdiçando dinheiro dos contribuintes, decidiu finalmente tomar medidas contra os bônus obscenos que atualmente estão sendo pagos. Ele propôs uma “Taxa de Responsabilidade da Crise Financeira”, na verdade uma taxa enorme de imposto sobre os bancos que pretende reduzir o dinheiro disponível para ser pago como bônus. Finalmente uma ação firme do Obama?
É um argumento que parece bastante razoável. Como resultado da crise bancária que eclodiu em 2007, o governo dos EUA foi forçado a intervir com um Programa de Recuperação de Ativos Problemáticos (Tarp). Contribuintes pagaram mais de US$ 90 bilhões para salvar os bancos da sua própria irresponsabilidade na compra de ativos tóxicos que os bancos compraram e armazenaram em equivalente financeiro de um despejo de resíduos. Agora, a crise se estabilizou, e o povo americano tem o direito de reaver o dinheiro. Com efeito, o Tio Sam agiu como uma seguradora implícita ao sistema financeiro. Embora os bancos estejam previsivelmente esperneando em um ultraje falso, o Financial Times vê a medida como justa e sensata. Será que vai funcionar?
Não é verdade que a única dor infligida aos americanos comuns era ter que desembolsar através dos impostos para pagar a compra de ativos tóxicos dos bancos, os gênios, que agora estão exigindo vários milhões de dólares em bônus. Milhões de americanos perderam suas casas e seus empregos em conseqüência da crise. A economia sofreu um baque enorme. O governo perdeu receitas fiscais e teve de desembolsar grandes somas para tentar estimular a economia. O Tesouro americano acumulou uma enorme dívida pública, que terá de ser atendida (paga) ao longo de décadas, sem dúvida, a expensas dos serviços públicos. Simon Johnson, professor no MIT e ex-economista chefe do Fundo Monetário Internacional, pondera: “Se a avaliação reflete o dano causado, o número certo seria muito maior”. As imposições do Obama não levam em conta estes custos reais.
Da mesma forma, Obama aparece com uma verdadeira cruzada anticapitalista em comparação com o chanceler britânico Alistair Darling. Darling confirmou que ele não vai seguir o exemplo com uma imposição. Isto apesar do fato de sua tática favorita de sobretaxar os bônus resultar numa frustração completa. O Financial Times (8/1/2010) observa que “os banqueiros sofrerão pouco ou nenhum impacto com a sobretaxa imposta pelos bônus do governo no mês passado”. Em vez disso, os bancos vão entrar de cabeça nos dividendos dos seus próprios acionistas e vão pagar os impostos extras, em vez de reduzir o grupo de bônus para os especuladores.
Por que os bancos estão tão ansiosos em manter estes “mestres do universo” e não vão fazer nada em vez de reduzir o bônus? Blankfein, chefe da Goldman Sachs declara: “Sabemos pela história econômica que a inovação implica em assumir riscos”. Ele recebeu uma resposta devastadora de Paul Volcker, ex-presidente do Fed (banco central dos EUA), que respondeu que, “a inovação financeira é inútil”. Ele continuou, “eu não quero que vocês parem de inovar, mas façam isto dentro de uma estrutura que não coloque toda a economia mundial em risco”. É óbvio que a questão toda é: quando a economia mundial vai para baixo, os grandes bancos sabem que os governos capitalistas sempre irão ajudá-los a sair desta situação. Não são eles que correm risco – quem corre risco somos nós.
A taxa do Obama terá alguns resultados perversos. A RBS, de propriedade britânica, provavelmente terá de pagá-la. Mas a RBS é agora, em grande parte, propriedade do Estado, desde que entrou em colapso na crise. Por isso é o contribuinte britânico quem na verdade vai pagar a imposição do Obama para a RBS. E esta imposição deixará menos dinheiro disponível para que os bancos possam reconstruir os seus ativos e para emprestar aos cidadãos americanos. As pessoas que não têm muito dinheiro e estão tentando a duras penas manter suas casas ou pequenos negócios, podem “quebrar” pelo efeito das taxas sobre os bônus.
Tudo isso acontece porque você não pode controlar o que os bancos fazem, quando você não é o dono deles. Sob o capitalismo nós não conseguimos ganhar e os bancos não conseguem perder. Isso torna o caso da nacionalização socialista muito mais importante.
Porém, o Obama tem ido mais longe. Ele ameaça reduzir o tamanho dos bancos para que eles não sejam tão grandes a ponto de não poderem vir a falir. Foi assim que eles nos chantagearam em 2008 – “se nós cairmos vocês todos vão cair também”. O Financial Times (22/1/2010) apresentou o plano do Obama como “uma declaração de guerra contra Wall Street.” O mesmo editorial já está orientando os bancos como se esquivar e se defender contra a regulação estatal. Gillian Tett, no mesmo jornal, diz que está consciente de que nada vai mudar logo, ou pode ser que nem mude nunca. “Pode até ser que vejamos esta luta continuar por muito mais tempo, até 2012”, ela comenta.
Nada vai acontecer com os bancos, exceto que as regras serão impostas. Que terrível! Bancos cujos ativos são segurados pelo governo dos EUA não poderão apostar em fundos de proteção desonestos, de capital privado de risco, ou o que é chamado de “negociação de propriedade”. (Isto é chamado de “A regra Volcker”) Antigamente os bancos emprestavam o dinheiro das pessoas que queriam economizar para pessoas que precisavam pedir um empréstimo bancário. Isso era tão antiquado e enfadonho. Por outro lado, negociação de propriedade é quando os bancos jogam “com o seu próprio” dinheiro (com o dinheiro dos seus depositantes) no mercado financeiro. Em outras palavras, eles não conseguirão colocar todo o dinheiro que não possuem no vermelho em Monte Carlo. Que invasão monstruosa da liberdade individual!