Esquerda Marxista
O vento revolucionário que se iniciou na Tunísia, atingindo logo depois o Egito, fez estremecer desde o final de janeiro deste ano toda a ordem estabelecida no Oriente Médio e no Magreb (norte da África). Este movimento, que ainda não teve seu desfecho, derrubando ditaduras e procurando uma via própria de combate, deu um vigoroso impulso ao levante popular na Líbia. Como em todos os países varridos por este colossal e tempestuoso levante revolucionário, foi na Líbia que se fez sentir de maneira mais imediata e aguda os problemas decorrentes da ausência de uma direção revolucionária.
O formidável levante popular líbio – chocando-se diretamente com a ditadura Kadafi, ao mesmo tempo carregou consigo todas as confusões e debilidades decorrentes da falta da direção e da organização revolucionária – foi sendo engolfado e encabeçado por uma camarilha que se auto declarou como o Conselho Nacional de Transição (CNT). Este é dirigido por homens que durante anos serviram a Kadafi e depois dele se livraram para continuar a garantir a exploração e dominação imperialista na região. O imperialismo ao perceber a inevitabilidade da queda de Kadafi, alimentou, orientou e instrumentalizou o CNT. Ao mesmo tempo iniciou suas operações militares por meio dos bombardeios e caças de Sarkozy e da OTAN.
Os governos da França, EUA e Inglaterra cinicamente dizem estar intervindo na Líbia porque ali havia uma ditadura militar e era necessário apoiar os insurretos para ajudá-los a derrubar a ditadura que entreanto, até ontem, apoiavam e dela usufruíam.
O Jornal norteamericano, The Wall Street Journal revelou que as empresas Bull, Boeing, Narus e Amesys, abasteceram o regime de Kadafi com equipamentos para que este eliminasse seus opositores. O serviço de inteligência de Kadafi trabalhava em colaboração com a CIA. Portanto, todos eles, Obama, Cameron e Sarkozy, de uma forma ou outra eram responsáveis pela manutenção da ditadura Kadafi.
Frente à insurreição popular na Líbia o imperialismo necessitava manobrar para manter seus interesses econômicos ajudando a erguer um novo governo a ele subordinado, em substituição a Kadafi. Esse é o papel que deve jogar o CNT.
Com a queda de Kadafi e a permanência do Conselho Nacional de Transição no poder, ou com um governo que o suceda ungido pelo imperialismo, os EUA, Inglaterra e França aprofundarão seus controles políticos e, portanto o controle das riquezas da Líbia.
O Conselho de Transição é uma instituição reacionária
Já no início do levante líbio, muitos dos antigos aliados de Kadafi o abandonaram e “se colocaram à cabeça” do movimento de massas. Personagens como Mustafá Abdel Jalil e Mahmoud Jibril eram braços direitos no governo de Kadafi. O primeiro era ministro da justiça do governo, portanto o comandante dos assassinatos e torturas cometidos pelo regime de seu antigo patrão contra a oposição. O segundo Mahmoud Jibril, que hoje preside o CNT, foi o chefe do escritório de Desenvolvimento Econômico Nacional, o homem que abriu a economia do país para as privatizações.
O Conselho Nacional de Transição é uma fração do antigo regime e dá continuidade aos interesses imperialistas controlando a maior parte das milícias hoje existentes no país. Mas estas não são politicamente homogêneas. Entre elas se encontram milhares de jovens e trabalhadores que lutaram heroicamente para derrubar a ditadura e certamente são contra o imperialismo. Contudo são minoritários. O futuro do movimento revolucionário ainda está por ser decidido e jogará papel importante nisso a continuidade das lutas no Egito, em Israel, na Europa e hoje no próprio EUA.
A Esquerda Marxista – que desde o inicio do levante líbio apoiou a luta contra Kadafi e que também denunciou imediatamente a intervenção imperialista através da OTAN – entende que a revolução árabe prosseguirá na Líbia, agora, na luta por um governo que seja constituído a partir da decisão soberana de seu povo, um governo de uma Assembleia Constituinte Soberana, independente e democrática, que deve varrer os restos da ditadura Kadafi e expulsar o imperialismo. É nesta luta que o povo líbio revolucionário se chocará inevitavelmente com o pró-imperialista governo do Conselho Nacional de Transição.
A Esquerda Marxista reitera seu apoio ao movimento revolucionário no Oriente Médio e norte da África. Ao mesmo tempo apela às organizações estudantis, dos trabalhadores brasileiros, para que repudiem a intervenção imperialista na Líbia e se solidarizem com o povo revolucionário.
Fora imperialismo da Líbia!
Assembleia Constituinte Soberana, independente e democrática!
Que o povo líbio possa decidir soberanamente por seu futuro!
Viva a luta dos trabalhadores de todo o mundo!
Viva a luta pelo socialismo!