Os recuos da liderança de SYRIZA não evitaram os ultimatos alemães. A solução se encontra nas políticas radicais e não na diplomacia. Denunciar a dívida – nacionalizar os bancos – expropriar a oligarquia!
Os recuos da liderança de SYRIZA não evitaram os ultimatos alemães. A solução se encontra nas políticas radicais e não na diplomacia. Denunciar a dívida – nacionalizar os bancos – expropriar a oligarquia!
[Declaração da Tendência Comunista de SYRIZA]
Lamentavelmente, hoje (4 de fevereiro), os acontecimentos confirmaram o que os Comunistas do SYRIZA estiveram advertindo à liderança do partido desde o início. Os “parceiros benevolentes” da Grécia revelaram totalmente sua feia cara, da mesma forma que os “parceiros malévolos”, provando assim a inexistência de “margens para negociação” que pudessem levar a algum benefício substancial para o povo grego.
Após o tratamento gelado e irônico que o Primeiro Ministro grego recebeu do suposto amigo da Grécia, o Primeiro Ministro italiano, Matteo Renzi, em reunião realizada ontem, o Primeiro Ministro grego experimentou mais duas decepções durante as “negociações”. O presidente francês, François Hollande, pediu a Alexis Tsipras que a Grécia “respeite as regras”, tornando clara a falta de vontade da França de desempenhar o papel de aliado da Grécia contra a Alemanha. Isto foi precedido pela declaração de ontem de outro “amigo” francês, o Ministro das Finanças Sapen, que pediu ao governo grego para não tentar lançar a França contra a Alemanha.
A segunda decepção veio do presidente da Comissão Europeia, Juncker, que em sua reunião de hoje com o primeiro ministro grego se limitou a banalidades diplomáticas para encorajar a Grécia a pedir uma prorrogação do atual programa, aplicando o que já tinha sido “acordado”.
Ainda mais decepcionante foi o resultado das negociações entre o ministro das finanças, G. Varoufakis, e o tecnocrata do Fundo Monetário Internacional (FMI), P. Thomsen – realizadas no sábado, mas reveladas hoje –, e com o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, realizada nesta manhã, 5 de fevereiro, em Frankfurt. O representante do FMI deixou clara sua falta de disposição para discutir qualquer das propostas de compromisso do governo grego sobre a dívida e, citando o mandato do FMI, insistiu no “estrito cumprimento” do programa.
Por seu lado, Draghi destacou a Varoufakis que o BCE não pode trocar os atuais bônus gregos emitidos ou garantidos por outros de longa duração sem o consentimento de Berlin, excluindo assim qualquer possibilidade para uma liquidez segura dos bancos gregos sem um pedido por parte da Grécia de uma ampliação do acordo existente com a “Troika” (isto é, a Comissão Europeia, o FMI e o BCE) depois de 28 de fevereiro de 2015, enquanto que Draghi se recusou a elevar o limite existente para a emissão de títulos/obrigações do Tesouro Grego para atender às demandas financeiras sufocantes sobre o Estado grego. No momento em que escrevemos o presente artigo, o BCE, mantendo a pressão sobre o governo grego, anunciou sua decisão de não aceitar títulos gregos emitidos ou garantidos como garantia para o financiamento dos bancos gregos.
E logo vem a “cereja” do bolo amargo que estas negociações constituem: o anúncio feito pelo ministro das finanças alemão de um documento contendo a posição do governo alemão, tendo em vista a reunião de cúpula da próxima semana. Este documento enfatiza a oposição da Alemanha a todas as solicitações do novo governo grego, incluindo o pedido puramente cosmético de uma reconfiguração da Troika. Movendo-se a uma posição de contra-ataque, o governo alemão, provocativamente, apela ao novo governo grego para abandonar todo o seu programa, cancelando assim seus compromissos de aumento do salário mínimo e das baixas pensões/aposentadorias, e a continuar com as privatizações e respeitar todos os prazos, salientando dessa forma que a Grécia perderá toda a liquidez financiada pela Troika se não cumprir com tudo o que foi exigido depois de 28 de fevereiro de 2015.
Todos estes desagradáveis desenvolvimentos durante as últimas horas das negociações entre o governo grego e os vários representantes da Troika – que, aliás, se espera que culminem amanhã (5 de fevereiro) com um resultado similar à da reunião entre Varoufakis e o ministro alemão das finanças, Schäuble – tornam inaceitável qualquer recuo, cada vez mais prejudicial, por parte do governo grego depois de sua digna postura anterior na provocativa reunião com Daiselblum na última sexta-feira. É claro que renunciar à demanda do cancelamento da maior parte da dívida, a reafirmação do compromisso de alcançar um superávit primário, a reconciliação com o atual sistema de supervisão por parte de um punhado de especuladores, a indireta, embora clara, rejeição da renacionalização das empresas de propriedade do estado privatizadas anteriormente e a imposição de critérios para a restauração do salário mínimo, não fortalecem a posição do governo grego, pelo contrário, a enfraquecem, uma vez que estas medida é o que “encoraja” a Troika e seu verdadeiro patrão, a Alemanha!
Além do recuo ante os compromissos fundamentais e de qualquer “cacife” de negociação que o governo grego acredita possuir, sua tentativa de criar uma frente com governos burgueses para isolar a Alemanha fracassou inteiramente. Nem um só “amigo” da Grécia no campo burguês europeu e internacional gostaria de entrar em conflito com a poderosa Alemanha capitalista, ou gostaria de apoiar de forma significativa um governo grego de Esquerda, cuja possibilidade de êxito poderia se tornar um exemplo que ameaçaria a dominação capitalista internacional.
Tudo isto mostra que o conflito com a Troika é inevitável, e que não podem ser encontrados aliados onde atualmente os procura o novo governo, isto é, dentro dos governos nacionais burgueses. O compromisso claro de romper com a austeridade e a rigorosa implementação do programa de Tessalônica, junto à forte posição do governo grego durante seus dias iniciais no poder, devem ser um guia claro para nossos próximos passos e de como vamos nos conduzir no período seguinte. Os recuos recentes, contudo, só conseguiram “empanar” a esperança do povo e semear confusão e preocupação no seio da classe trabalhadora e das camadas mais pobres da sociedade.
Ao governo grego e aos nossos camaradas na liderança do partido, afirmamos o seguinte:
- Ignorem todos os ultimatos! Não recuem, pois isto incentiva nossos adversários de classe dentro e fora da Grécia! Permanecer fieis aos nossos compromissos! Não mais ilusões no poder das negociações! A solução somente pode ser encontrada em medidas radicais e na luta, não na diplomacia e em negociações! Nossos únicos parceiros e aliados são os trabalhadores de toda a Europa e do mundo!
- Estamos agora em estado de guerra com a Troika e o capital, e devemos desarmá-los! Devemos renegar a dívida e, dessa forma, desfazer qualquer possibilidade da Troika de nos chantagear! Nem mesmo por mais um dia devem ter os especuladores qualquer controle sobre os depósitos, moradias e dívidas do povo! Nacionalizar os bancos! Integrá-los em um único banco estatal que garantirá os depósitos e se tornará a ferramenta para o desenvolvimento destinado ao benefício da sociedade.
- Institucionalizar o controle operário sobre todas as empresas para revelar a fraude fiscal e todas as outras fraudes do capital!
- Tomar de volta todas as empresas de radiodifusão de todos os magnatas da Mídia e disponibilizá-las ao uso gratuito do povo e de suas estruturas democráticas!
- Nacionalizar sem indenização todas as empresas que foram privatizadas! Aplicar um programa de nacionalização de todas as grandes empresas que se recusarem a implementar as novas leis trabalhistas e que forem abandonadas por seus proprietários no contexto de sua guerra econômica contra o governo.
- Nenhuma confiança no aparato estatal de nepotismo, corrupção e autoritarismo! Mudança de ministros e de pessoas não é suficiente! Devemos evitar qualquer sabotagem interna do governo! Refundação, sobre bases democráticas, da polícia e do exército, removendo todos os fascistas, deixando a OTAN e passando todo o controle sobre as forças armadas para as organizações de massa do povo!
- Remover do governo todos os potenciais “elos fracos” que são propensos a recuar sob a pressão do capital! Remover dos postos governamentais os nacionalistas burgueses de Gregos Independentes (ANEL), bem como todos aqueles que apoiam acordos com a Troika e o Capital!
- SYRIZA deve apelar agora por um programa de ação de massas em escala europeia, começando com manifestações nas maiores cidades da Europa e da Grécia durante os dias das reuniões de cúpula da União Europeia e do Grupo Europeu! Devemos estabelecer “Comitês de Ação” contra a Troika e a oligarquia econômica grega em todos os locais de trabalho, em todos os bairros e em todas as escolas e universidade!
- Em vez de solicitar uma conferência da dívida europeia com governos burgueses, devemos celebrar diretamente da Grécia uma conferência internacional das organizações de massa da classe trabalhadora e da juventude contra o capitalismo!
- Nenhuma ilusão na União Europeia e na Zona do Euro dos capitalistas europeus aliados! Devemos lutar pelos Estados Unidos Socialistas da Europa!