Satnam Singh, um jovem trabalhador indiano morreu na semana passada (19/06), na Itália, após ter seu braço decepado por uma máquina. Seu patrão, em vez de chamar uma ambulância, jogou o corpo do trabalhador na beira da estrada como um saco de verduras, com o braço enfiado numa caixa de frutas, e teve a ousadia de insinuar que o acidente foi um ato de preguiça “que custou caro a todos”.
A morte de Satnam trouxe à tona a discussão sobre as condições de vida e a exploração dos trabalhadores sazonais, em sua maioria migrantes, que vivem muitas vezes em condições de semiescravidão, em moradias precárias sem acesso ao saneamento básico. Homens e mulheres forçados a trabalhar de 12 a 14 horas todos os dias, em sua maioria sem contrato, por sua condição de migrante ilegal no país.
Gurmukh Singh, chefe da comunidade indiana na região do Lácio, na qual o acidente ocorreu, declarou indignado à AFP que Satnam “foi abandonado como um cachorro. Há exploração, sofremos com isso todos os dias, isso deve parar”. E completou: “Viemos aqui para trabalhar, não para morrer”.
Na terça-feira (25/06), milhares foram às ruas na comuna de Latina para exigir justiça para Satnam e o fim da escravidão. Mas a mobilização desses trabalhadores, que começaram a migrar desde a década de 80 para esta região a 60 quilômetros ao sul de Roma, já iniciou em 2010, quando uma tentativa de lutar por melhores condições de trabalho foi barrada pelos patrões que, como forma de punição, demitiram aqueles que se mobilizaram.
Mas, esse movimento, mesmo diante da repressão, foi seguido de uma onda de sindicalização entre os trabalhadores indianos e, finalmente, em 2016, aconteceu um ponto de virada histórico: pela primeira vez, os sikhs, organizados pela Federação dos Trabalhadores da Agroindústria da Confederação Geral Italiana do Trabalho (FLAI-CGIL), levantaram a cabeça e entraram em greve.
Esse foi um passo importante, mas novamente os patrões reagiram rapidamente substituindo uma parte dos trabalhadores indianos por migrantes africanos e bengalis, não organizados, além de mulheres italianas que “retornavam” ao campo porque suas aposentadorias não eram suficientes para chegar ao final do mês. Assim, buscava-se dividir os trabalhadores em uma base étnica. Novos movimentos explodiram em 2019 e mesmo diante da pandemia em 2020.
Essas mobilizações não aconteceram por acaso. Na Itália, há cerca de 400 mil trabalhadores sazonais agrícolas, italianos e estrangeiros, forçados a trabalhar no campo em condições de superexploração econômica. A CGIL estima que até 230 mil, mais da metade desses trabalhadores, não têm contrato. Só em 2024, cerca de 268 pessoas morreram trabalhando, totalizando 10,8 mil mortes desde 2008.
Os sindicatos, apesar de organizarem combates pontuais, seguem desviando as lutas para as vias institucionais, barrando mobilizações mais radicalizadas. Mas a experiência tem mostrado a esses trabalhadores que só por meio da luta eles podem conquistar algo! Somente a luta, sob o controle dos próprios trabalhadores, pode impor condições decentes de trabalho e impedir que vidas como a de Satnam Singh sejam perdidas pela exploração capitalista.
Hoje, a humanidade produz o suficiente para alimentar 13 bilhões de pessoas. Mas 783 milhões de pessoas passam fome e um terço da população global está em situação de insegurança alimentar. Temos os recursos, a tecnologia e as capacidades, poderíamos planejar harmoniosamente a produção com controle democrático e no interesse da maioria, daqueles que trabalham, respeitando o meio-ambiente e a vida humana. Para fazer isso, para pôr fim à barbárie do capitalismo, há apenas um caminho: sua derrubada revolucionária!