Fruto da elaboração teórica da Comissão de Mulheres da Esquerda Marxista, o movimento Mulheres pelo Socialismo é lançado com a finalidade de colaborar na organização de mulheres trabalhadoras e jovens dispostas a lutar por suas reivindicações imediatas, mas também pela revolução, pelo socialismo.
Ancorado na tradição marxista de Engles, Trotsky, Lênin, Rosa Luxemburgo, Clara Zetkin, Aleksandra Kollontai, Marx e tantos outros que lutaram pelo socialismo, esse movimento parte do pressuposto que a emancipação da mulher só será plena com a abolição da ordem existente e a consequente emancipação do conjunto da classe trabalhadora. Por esse motivo “marchamos ombro a ombro” com os homens de nossa classe que também lutam contra o sistema de exploração capitalista.
Março de 2018 começou com a inspiradora e vitoriosa greve das professoras e professores nos EUA. A greve do magistério na Virgínia Ocidental, que foi composta majoritariamente por mulheres, iniciou no final de fevereiro e terminou no início de março, com uma expressiva vitória das grevistas. A movimentação, que durou nove dias, forçou o governo estadual a conceder 5% de reajuste salarial e manter direitos dos planos de saúde. O mais significativo deste movimento está no fato de que as professoras e professores enfrentaram a legislação do estado que não reconhece o direito de greve do magistério. Além disso, o movimento foi acolhido pelos demais trabalhadores que se solidarizaram ativamente com o movimento e a luta das profissionais da educação.
Outro movimento extraordinário e inspirador foi a mobilização grevista na Espanha durante o 8 de março, que o jornal burguês El Periódico de Barcelona descreveu como “mais de que uma greve, quase uma revolução”.
Que esses e outros exemplos nos inspirem a organizar, a partir das reivindicações mais sentidas das mulheres jovens e trabalhadoras, a luta contra o sistema de exploração capitalista.
Os setores burgueses mais atentos percebem o potencial reivindicatório e de luta das mulheres trabalhadoras e por isso querem absorvê-las, cooptando-as para os limites seguros da institucionalidade burguesa. Um exemplo de movimentação neste sentido foi o evento promovido pela Folha de São Paulo em 13/03, chamado “Encontro Folha Mulheres no Poder”. O anúncio do evento traz a seguinte questão: “que diferença faz uma presença maior de mulheres no Judiciário?”, trazendo como palestrante a ministra Cármen Lúcia, do STF. Nós devolvemos a pergunta: “que diferença faz uma presença maior de mulheres neste Judiciário? Neste Estado?”. Que diferença para a vida das mulheres trabalhadoras tem feito a presença de Cármen Lúcia e tantas outras mulheres que defendem a sua classe? Certamente uma maior participação das mulheres nas estruturas de dominação burguesa não garantem ampliação de direitos ao conjunto das trabalhadoras.
São perguntas como essa que nos movem. As buscas das respostas deve nos guiar rumo à construção de uma outra sociedade, ao socialismo.
As cidades de São Paulo e Joinville já realizaram atividades de lançamento, nos dias 03 e 08 de março, respectivamente. Em Joinville, as camaradas Mayara, Maritania e Bruna foram responsáveis pelo informe. Foram relembradas as origens operárias do 8 de março e os aspectos históricos ligados à opressão das mulheres que, como apresenta Engels em A origem da família, da propriedade privada e do Estado, têm relação com o estabelecimento da propriedade privada. A Plataforma política de luta pela emancipação da mulher trabalhadora também foi apresentada, trazendo a importância da luta de classes como instrumento de emancipação da mulher trabalhadora.
Na capital paulista, as camaradas Lucy e Kathleen dirigiram a atividade. O informe abordou os aspectos que levam as mulheres a receberem menos do que os homens na mesma função, pautado nas contribuições de Engels em seu livro A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra. A contraditória entrada das mulheres no sistema de produção capitalista – fato que possibilitou emergir a questão da mulher – também foi discutido, considerando a manutenção, até os dias de hoje, da dupla ou tripla jornada das mulheres. A questão da socialização das tarefas domésticas e educação dos filhos também foi um dos pontos debatidos durante a atividade.
Ao longo do mês de março serão realizadas atividades em Florianópolis, Rio de Janeiro, Curitiba, Campinas (24/3) e Bauru (25/03) entre outras cidades. Acompanhe os eventos através da nossa página do Facebook e junte-se ao Mulheres pelo Socialismo.
O 8 de março no Brasil de no mundo
Assim como em 2017, esse 8 de março reuniu milhares de mulheres em todo o mundo.
Na Espanha, o 8 de março foi grandioso, apesar das direções dos principais sindicatos e centrais, que tentaram evitar o caráter de classe e a massiva presença das mulheres e dos homens trabalhadores. Na Espanha, assim como na maioria dos países, as mulheres ganham menos que os homens e trabalham em condições piores.
As exigências dos diversos atos realizados por todo o país foram amplas: desde o pagamento de salários iguais para homens e mulheres, a rejeição da violência contra a mulher até chamar atenção ao papel que as mulheres desempenham no trabalho doméstico. Um dos slogans mais populares do dia foi “sem mulheres não há revolução”. De fato várias pessoas compararam o clima do dia com um clima de revolução.
No Brasil, diversas cidades realizaram atos, com grande participação das organizações tradicionais da classe trabalhadora, como sindicatos e centrais sindicais, retomando alguns traços de classe, atualmente esquecidos dentro das manifestações de mulheres. Contudo, ainda assim carecem de uma relação forte com a classe trabalhadora e suas reivindicações históricas.
A defesa da democracia, pauta apresentada em diversos atos no Brasil, só reforça a manutenção dessa democracia, que sabemos bem, é burguesa. Essa forma de Estado não nos interessa, pois não é capaz de garantir direitos ou melhores condições de vida.
É necessário compreender que os atuais ataques às conquistas trabalhistas e previdenciárias, por exemplo, são reflexos das políticas que buscam a manutenção da estrutura social, do sistema capitalista. Portanto, essa importante luta pela defesa de direitos historicamente conquistados deve nos levar ao enfrentamento do atual sistema e à construção de uma sociedade socialista.
Na Inglaterra, por exemplo, a primeira ministra Theresa May escreveu no Twitter: “No Dia Internacional da Mulher, estou orgulhosa por ser a segunda Primeiro Ministro britânica, juntamente com tantas mulheres em posições públicas vitais”. Será que sua presença no governo britânico, assim como a política desenvolvida por ela e por Margaret Thatcher, nos anos de 1980, são voltadas às reivindicações da classe trabalhadora? A história nos mostra que não.
Devemos superar a ilusão de que existe empoderamento dentro da sociedade capitalista. Superar o movimento feminista burguês, que como já nos alertava Aleksandra Kollontai, busca a “igualdade de direitos das mulheres em relação aos homens da sua própria classe”. Nesse sentido, Kollontai ainda questiona “Mas será que essa reforma [política], ainda que tão radical (…) libertará a proletária do abismo de sofrimentos e males que a perseguem tanto como mulher como vendedora da própria força de trabalho?” Segue a camarada: “Obviamente, isso não significa que os partidários do socialismo científico ‘adiem’ a solução do tema da igualdade de direitos das mulheres até o surgimento do socialismo, (…) não significa que eles não querem lutar pela emancipação da mulher dentro do que é possível nos moldes do mundo burguês contemporâneo.” (A mulher trabalhadora na sociedade contemporânea).
O exemplo da greve organizada na Espanha, bem como os massivos atos realizados na Argentina, Turquia e Índia, provam a importância de retomar os métodos de luta da classe trabalhadora, com greves, piquetes e atos de rua. É necessário superar o pessimismo e as direções reformistas, potencializando a disposição das massas de mulheres que estão indo às ruas em todo o mundo.
Com as palavras de Rosa Luxemburgo, convocamos todas as mulheres a permanecerem nas ruas: “Proletária, a mais pobre dos pobres, a mais injustiçada dos injustiçados, vá a luta pela libertação do gênero das mulheres e do gênero humano do horror da dominação do capital. Corra para o front, para a trincheira!”