Lutar contra o Racismo e pela igualdade!

Neste Sábado, 16 de Maio, faremos um ato público no centro de São Paulo contra o racismo e o racialismo, por direitos iguais para todos. Participe! Chame seus colegas, amigos e familiares!

Há 121 anos, no dia 13 de Maio, era assinada a lei para abolir a escravidão no Brasil. Porém, hoje, com a perpetuação da divisão de classes e o sistema capitalista, milhões de homens e mulheres trabalhadores levam uma “vida de escravo”, recebendo em troca de seu trabalho um salário muitas vezes insuficiente para suas necessidades básicas: paga-se apenas o suficiente para que o trabalhador volte a ser explorado no dia seguinte. E dentre os trabalhadores e o povo mais pobre deste país, os mais explorados são os negros, descendentes dos escravos de outrora.

Não queremos que haja direitos diferentes de acordo com a cor da pele de cada um! Queremos direitos iguais para todos! Empregos e salários iguais para brancos, negros e de qualquer outra tonalidade da cor da pele!

Por isso combatemos o capitalismo que nega direitos iguais de fato! E também combatemos os projetos de leis raciais que pretendem impor ao povo brasileiro a obrigatoriedade de documentos de identidade classificatórios por “raças” – que, sabemos, não existem! Querem fazer isso para nos dividir e assim continuar nos explorando!

No próximo Sábado, 16 de Maio, às 9:30 da manhã, diremos não ao racismo e às leis raciais! Contamos com o seu apoio, independente da cor da sua pele!

Ato Público
Quando? Sábado, 16 de Maio, às 9h30m
Onde? Em frente ao Teatro Municipal de São Paulo – Praça Ramos (metrô Anhangabaú)

Abaixo publicamos entrevista com José Carlos Miranda, da Coordenação Nacional do MNS, para ajudar a desmistificar algumas questões nessa polêmica discussão sobre as leis raciais:

MNS: Por que ser contra o sistema de cotas raciais nas universidades públicas?

Miranda: Segundo pesquisa do IPEA, somente 30% dos estudantes que entram no sistema de educação concluem o ensino fundamental (antigo segundo grau), devido às condições das escolas públicas arruinadas, principalmente nas periferias do Brasil – onde a maioria da população é negra. Assim começa o vestibular para as universidades públicas. O sistema de cotas mantém o funil do vestibular, pois as “cotas” que serão disputadas e os que serão aprovados serão os que tiveram melhor educação, os mais preparados, ou seja, elas não geram novas vagas, e ainda promovem uma distorção de direitos principalmente entre os filhos de trabalhadores.

Como explicar para uma criança que seu amigo que senta ao lado de sua carteira escolar é de outra “raça” e que por isso terá um privilégio negado a ele.

E quando essa discussão for em relação ao emprego – portanto, à sobrevivência – onde iremos parar? Em uma situação de aprofundamento do racismo que já existe – e com certeza os mais prejudicados serão os mais pobres e entre eles os negros – é como apagar incêndio com gasolina.

A única maneira de aumentar o acesso à universidade pública dos mais pobres e dos negros é dando vagas para todos, através de um plano de investimentos massivos na educação e nos serviços públicos. A solução da equação é simples: é necessário mais recursos e eles existem.

As cotas raciais não resolvem o problema de acesso dos negros pobres na universidade pública. Só pode servir àqueles que desistiram da luta pela igualdade e contra o enorme abismo que existe entre as classes sociais, da qual o racismo é fruto.

MNS: O nosso movimento tem sido atacado por ativistas defensores das cotas. Os militantes do movimento negro contrários às cotas estão em minoria na sociedade?

Miranda: Lutamos pela igualdade de todos os homens e mulheres, da humanidade. Pesquisas nos apóiam e condenam os racistas que insistem em dividir o povo brasileiro. Uma pesquisa realizada no Rio de Janeiro pelo Instituto Brasileiro de Pesquisa Social (IBPS), encomendada pelo Centro Brasileiro de Informação e Documentação do Artista Negro (CIDAM), revelou que 63% dos entrevistados declaram-se contra as cotas raciais. E isso não depende da cor: entre os auto-declarados “brancos”, 63,7% rejeitam essa política; entre os auto-declarados “pardos”, 64%; entre os auto-declarados “pretos”, 62,2%.

Para nós, do Movimento Negro Socialista, não deve haver cota alguma! A única “cota” é vaga para todos, saúde para todos, educação pública e gratuita de qualidade para todos.

MNS: Por outro lado, os defensores das cotas afirmam que o Brasil está pagando uma dívida histórica com índios, negros e pobres em geral ao criar as cotas. Qual a sua opinião?

Miranda: Essa afirmação dos defensores das leis raciais (Estatuto da Igualdade Racial e Cotas Raciais) é uma falácia.

A “dívida histórica” é falta de ciência e distorção da história. A escravidão entre os séculos XVI a XIX foi fruto do desenvolvimento de um período histórico e não uma questão moral. Por isso existiam negros donos de escravos e até mercadores de escravos negros – aliás o tráfico só existiu pois haviam elites na África que realizavam a prisão e a venda de seres humanos. O acúmulo de capital pela super-exploração e pilhagem nas Américas, África e Ásia foi uma das bases para a evolução de uma classe social: a burguesia; e de um novo modo de produção: o capitalismo.

Foi neste contexto que aconteceu a escravidão. A partir da abolição – que,diga-se de passagem, foi a primeira grande luta nacional do povo brasileiro, pois, precedida por revoltas em todo o país, se estendeu dos jangadeiros do Ceará, aos ferroviários, tipógrafos, abolicionistas brancos e alforriados negros – se constitui outra classe social: o proletariado urbano.

Hoje, séculos depois, afirmar seriamente que os trabalhadores brancos têm uma dívida com os trabalhadores negros é no mínimo desprezar a história da formação do povo brasileiro. A pesquisa do Geneticista Sérgio Danilo Pena apresenta resultados que 87% da população brasileira têm ancestralidade africana. Então de quem temos que cobrar a dívida? Se podemos falar de “dívida” ela só pode ser cobrada dos governos, sejam eles quais forem,com maiores investimentos nos serviços públicos de qualidade para todos.

Nós continuamos a nos dirigir aos senadores e deputados que reivindicam a democracia e a igualdade e lhes dizemos: “Está em suas mãos evitar o pior. Está em suas mãos recusar este pretenso “Estatuto da Igualdade Racial” e o projeto de lei das cotas raciais, que podem lançar nossos filhos e netos, vossos filhos e vossos netos, uns contra os outros trazendo um rio de dor a um país onde homens e mulheres se orgulham de ser o produto de nossa história e de serem brasileiros, filhos e filhas da raça humana.

A luta contra o racismo e o racialismo serão a pauta de nosso ato público que se realizará no próximo Sábado, dia 16 de Maio, a partir das 9:30, no Teatro Municipal de São Paulo. Logo depois, às 14h, terá lugar a 4ª Reunião Nacional do MNS. Já temos a confirmação de delegações de vários estados do Brasil e municípios do interior de São Paulo.

Temos convicção na célebre frase “Racismo e capitalismo são faces da mesma moeda”. A luta continua!

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