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O 24J e a necessidade de um governo dos trabalhadores

Neste sábado, dia 24 de julho, os trabalhadores e a juventude voltarão às ruas de todo o país, dando continuidade à luta para derrubar imediatamente o governo Bolsonaro. As grandes mobilizações de rua que vêm ocorrendo desde maio deixam explícito que a população não aguenta mais este governo. Nos últimos dias o Brasil ultrapassou 540 mil pessoas mortas pela Covid-19 e soma quase 20 milhões de casos confirmados. Embora em queda nas últimas semanas, a média móvel ainda é superior a 1.200 mortes diárias. Os números de vacinação seguem baixos, com 42,51% da população tendo recebido a primeira dose e apenas 16,22% da população imunizada com segunda dose ou vacina em dose única. Essa situação se dá dentro de um cenário mundial no qual uma parcela ínfima da população foi vacinada (menos de um terço recebeu a primeira dose), diante dos interesses do imperialismo e dos grandes laboratórios, explicitando a urgência da necessidade de destruição do sistema capitalista.

Esse cenário é completado pelo aumento do desemprego, que, segundo os dados oficiais, está em 14,7% e atinge 14,8 milhões de pessoas; este quadro é provocado pelo fechamento de fábricas, pela quebra de pequenos comércios e pelo ataque a direitos dos trabalhadores. Soma-se a esses elementos o aumento na repressão contra greves e mobilizações de trabalhadores, inclusive com a tramitação no Congresso Nacional de projeto de lei que pode passar a enquadrar como atos terroristas as ações dos movimentos sociais. Deve-se considerar, também, o clima tenso entre o Executivo e os demais poderes, bem como o fato de o governo Bolsonaro ter atingido 51% de rejeição em pesquisa divulgada do começo deste mês.

Esses e outros elementos mostram que é urgente a derrubada imediata do governo. Os revolucionários têm alertado para essa necessidade desde os primeiros meses do governo Bolsonaro, diante de seu programa de ataques à classe e sua eleição fraudulenta, mas a maior parte da “esquerda” entendia que era preciso respeitar o mandato do presidente. Com a adesão de vários setores da sociedade ao “Fora Bolsonaro”, seja por parte da esquerda reformista ou mesmo de frações da burguesia, tem se mostrado necessário aprofundar o debate estratégico.

Na atual conjuntura, os setores majoritários da esquerda – PT, PCdoB e até mesmo a direção do PSOL – procuram atrelar os atos às disputas institucionais. Para eles isso significa desgastar o governo e construir uma “frente ampla” que venha a dar sustentação a um bloco eleitoral que derrote Bolsonaro nas eleições de 2022. Para esses setores, o “Fora Bolsonaro” se traduz na vitória de Lula ou de um candidato apoiado pelo ex-presidente, em aliança com setores da burguesia. Os atos pelo “Fora Bolsonaro”, neste caso, estariam servindo apenas de preparação do terreno e de articulação de base política para essa futura candidatura.

Outros setores da esquerda, em especial algumas das tendências do PSOL que possuem representação parlamentar, defendem a saída por dentro das instituições, apostando suas fichas no impeachment e na CPI da Pandemia. Parece que pretendem, com o acúmulo de denúncias, que diariamente chegam à mídia, reunir provas que mostrem perante todas as instituições do Estado que Bolsonaro não pode continuar no governo. Os atos de rua seriam uma forma de pressionar os parlamentares para que avancem no processo de impeachment, que, se de fato ocorresse, poderia ter o nosso apoio. Contudo, para que isso tivesse algum efeito, seria preciso organizar e mobilizar a classe trabalhadora e a juventude em todos os locais de trabalho e estudo, construindo e organizando pela base um amplo movimento de massas, o que não vem ocorrendo, diante do medo das direções reformistas em colocar em risco as instituições burguesas. Além disso, esses setores buscam construir alianças com parlamentares de direita que estão conjunturalmente críticos a Bolsonaro. Diante da possibilidade do impeachment, esses setores da “esquerda” estão apostando na recomposição do regime, de tal forma a não colocar em risco a democracia burguesia; ou seja, apostam na reconstrução das instituições burguesas, apenas substituindo a figura de Bolsonaro por outra mais aceitável.

Para a classe trabalhadora, o caminho não passa por esperar as eleições, ou pela recomposição do regime, e muito menos pela aliança com a burguesia. Os revolucionários precisam lutar pela frente única das organizações dos trabalhadores, que se expressa tanto nos atos de rua como nos espaços de articulação dessas mobilizações. Contudo, esses espaços precisam dar vazão aos anseios e às perspectivas políticas da classe, não podendo se tornar meros aparatos burocráticos a serviço de dirigentes que impõem sua política de conciliação de classes e de confiança nas instituições burguesas.

Esses espaços, enfim, precisam estar alinhados com trabalhadores e a juventude, com um programa que expresse suas necessidades mais sentidas, sem servir de sustentação para alianças eleitorais. Esse programa precisa estar articulado com uma perspectiva de superação da ordem burguesa, não podendo ser um mero apêndice de partidos e mandatos parlamentares. A derrubada de Bolsonaro deve ter como horizonte a construção de um governo dos trabalhadores, baseado em suas organizações, lutas e mobilizações, que expresse a independência de classe.

Por essa razão, a Esquerda Marxista tem levantado nos atos e em todos os lugares em que intervém a palavra-de-ordem “Abaixo Bolsonaro, por um governo dos trabalhadores, sem patrões nem generais”. Essa é a perspectiva que mobilizou mais de mil e setecentas pessoas em todo o Brasil na construção do Encontro Nacional de Luta, realizado no dia 10 de julho, e que anima a construção de comitês de ação por todo o país.

Como parte de um programa de transição, a palavra-de-ordem pela derrubada de Bolsonaro e de construção de um governo dos trabalhadores precisa estar conectada com a perspectiva estratégica de construção de uma nova sociedade, derrubando o Estado burguês e superando a sociedade capitalista. Não é possível confiar nas direções reformistas e muito menos na institucionalidade burguesa. Esse é o caminho da luta pelo socialismo.

No 24J, participe dos blocos da Esquerda Marxista e da Liberdade e Luta!

  • Abaixo Bolsonaro, por um governo dos trabalhadores, sem patrões nem generais!