O assassinato social do proletariado brasileiro na pandemia

O revolucionário Friedrich Engels classifica como “assassinato social” as mortes causadas pelas condições de vida do proletariado sob o capitalismo. Desemprego, ausência de moradia, inexistência de saneamento básico, incapacidade de atendimento nos serviços públicos de saúde, violência policial, entre outros, são alguns fatores que exemplificam as formas como a classe trabalhadora é cotidianamente assassinada nesta sociedade.

Todos os dias, a burguesia tenta naturalizar essas mortes, individualizando suas causas: seria sempre a culpa do indivíduo e não um efeito intrínseco à sociedade de classes. Ocorre que, durante a pandemia, normalizar mais de 450 mil mortes só no Brasil tem sido mais difícil do que geralmente é para a classe dominante.

Em tempos “normais” um brasileiro de regiões menos desenvolvidas economicamente tem o dobro de chances a mais de morrer do que um morador de bairros com maior poder aquisitivo por doenças de qualquer tipo. Isso considerando as estimativas mais generosas do ponto de vista da classe dominante. Contudo, em tempos de pandemia isso se multiplica. Um paulistano de São Miguel Paulista, por exemplo, tem 3,5 vezes mais chances de morrer pela Covid-19 do que um morador do Jardim Paulista, bairro nobre da capital econômica brasileira.

Os efeitos da desigualdade social, inerente à sociedade capitalista, são percebidos de modo estarrecedor. No Brasil, 150 milhões de pessoas (71%) da população depende exclusivamente do SUS para tratamento de saúde de qualquer natureza. Isso implicaria ao SUS ter incrementado seu orçamento de modo significativo em uma crise sanitária como a que vivemos. Porém, nesta sociedade o lema é: lucro acima de tudo, capitalismo acima de todos.

Lucro x defesa da vida

O reflexo da prioridade ao lucro, junto às políticas obscurantistas por parte da presidência da República, resulta em dados alarmantes: pesquisa de março de 2021 indica que a taxa de mortalidade de um paciente com Covid-19 que entra em uma UTI no Brasil é de assombrosos 62,4 %. Para se ter uma ideia, na Grã-Bretanha essa taxa é 33%, nos EUA de 29% e na França de 15%.  As principais causas apontadas para explicar o alto índice de mortalidade são as filas para entrada na UTI e a tardia introdução de ventilação mecânica para tratamento. Essa taxa é ainda maior junto aos pacientes intubados na UTI, em que a cada 10 pacientes brasileiros nessa condição, somente 2 saem vivos.

Durante a pandemia, de fato, leitos de UTI foram criados, mas longe do necessário. Dados de janeiro de 2021 revelam que hoje no Brasil temos 66.497 leitos de UTI, sendo 31.331 para o SUS (47% do total, quando 71% da população brasileira depende do SUS). Desse total, 21.751 (SUS e privado) são destinados especificamente a paciente acometidos pela Covid-19.

A própria lógica de criação de leitos seguiu na linha de priorização dos lucros e de repasse de dinheiro público à iniciativa privada. No segundo mês de pandemia a prefeitura municipal de SP já anunciava a contratação de leitos na rede privada a R$ 2.100,00 por dia de uso. Quantos leitos e mesmo hospitais públicos poderiam ser criados com esse valor transferido à rede privada de saúde? Isso demonstra de modo transparente que a lógica de saque do dinheiro público e priorização do setor privado não só se manteve, como se intensificou durante a pandemia em todas as esferas governamentais. Os resultados, como é de conhecimento comum, são trágicos à classe trabalhadora.

Como as políticas estatais estão assassinando a classe trabalhadora?

Apesar do número de leitos de UTI ter aumentado relativamente em território nacional, isso não significa uma melhora permanente na infraestrutura e nem sequer de uma capacidade significativamente maior do SUS em atender os mais de 70% da população que dele dependem. A principal razão para essa afirmação é que a maioria dos leitos criados o foram em hospitais de campanha, ou junto à iniciativa privada, com um mínimo de investimento ao SUS e na capacidade de assistência sanitária pública e gratuita. E ao primeiro sinal de que a pandemia aparenta retroceder os governos não hesitam em diminuir drasticamente a capacidade de assistência sanitária à população.

O exemplo do período entre a primeira e segunda onda é ilustrativo: no Brasil foram desativados 3 mil leitos de UTI do SUS no segundo semestre de 2020, criados entre fevereiro e julho em função da 1ª onda. Só o estado do Rio de Janeiro desativou 87% dos leitos criados nesse período. No estado do Amazonas 58 pessoas estavam na fila pelo atendimento, que poderiam ter sido atendidas prontamente se sua administração estatal não tivesse desativado 117 leitos criados no ano anterior. Muitas delas morreram literalmente asfixiadas dentro dos hospitais, em consequência direta dessa política.

A desativação de leitos tem relação direta com o governo federal, que reduziu em 70% o financiamento de leitos de UTI de julho de 2020 até o começo de 2021.  Isso tornou o país ainda menos preparado para lidar com a segunda onda da Covid-19 que se mostrou muito mais letal que a primeira. Como vemos, o que fez o Brasil alcançar a assombrosa marca de mais de 450 mil mortos pela Covid-19 foram as políticas assassinas dos governos federal, estadual e municipal.

Racismo e pandemia

Os dados são ilustrativos: no Brasil, depois do fator etária, é a cor de pele que tem se demonstrado base para parte considerável das mortes. Pesquisas indicam que ser negro e morar na Região Norte do país são fatores que aumentam consideravelmente a possibilidade de morte em função da Covid-19 no Brasil. Isso é demonstração cristalina do racismo nesta sociedade, que é inerente ao capitalismo.

No Brasil e sob o capitalismo é a população negra pobre e proletária que detém as piores condições socioeconômicas. É minoria em cargos gerenciais, ao mesmo tempo que encabeça a lista de trabalhadores do setor informal e mais precarizado. É o setor da população com menor grau de instrução formal, piores salários e, consequentemente, renda inferior a outros setores da sociedade. É o setor da população mais numeroso considerando pessoas abaixo da linha da pobreza.

Dados recentes apontam que 66% dos mortos pela covid-19 na grande São Paulo são pessoas com renda de até três salários-mínimos. Parte significativa, senão majoritária, desse montante populacional é composto por trabalhadores e trabalhadoras negras. É a camada da população que mais necessita de assistência médica gratuita e que a que morre nas filas dos hospitais públicos, causadas pelos fechamentos de leitos de UTI durante a pandemia, pela não vacinação, pela falta de oxigênio e de insumos básicos para o tratamento contra a Covid-19.

Como vemos, não é apenas a Covid-19 que vem matando o proletariado, mas sim o capitalismo e sua lógica perversa, que é intrinsicamente racista e desigual.

Nossas tarefas

Frente à tragédia que acomete o proletariado brasileiro, fruto direto das políticas pró capital de manutenção dos lucros em detrimento da vida; diante do obscurantismo Bolsonarista que ceifa vidas diariamente, em especial dos setores mais precarizados da população é inadmissível o imobilismo sindical das centrais, em especial a CUT.

É preciso construir a greve geral da classe trabalhadora em defesa da vida e derrubar o governo Bolsonaro. É por isso que a Esquerda Marxista constrói o Encontro Nacional de Luta Abaixo Bolsonaro, convocado por mais de mil ativistas de 23 estados brasileiros.

Somente a ação organizada da classe trabalhadora poderá apresentar alternativa real frente à tragédia capitalista durante a pandemia e defender as vidas proletárias ainda não ceifadas em nome da manutenção do capital.

Inscreva-se no link abaixo e seja parte dessa luta!