Imagem: Jose Cruz, Agência Brasil

Inflação e a queda da popularidade do Governo Lula

As pesquisas de opinião indicam que a inflação dos alimentos é o principal motivo da queda de popularidade do Governo Lula. A inflação atinge duramente a classe trabalhadora, corroendo seus salários. O IPCA fechou 2024 em 4,83% e a inflação dos alimentos fechou o ano em 7,69%, com destaque para a carne bovina, que subiu 20,8% em 2024, o óleo de soja 29,2%, o café 39,6%, o leite longa vida 18,8%, e já, agora em 2025, o preço do ovo de galinha subiu mais de 20%. Nos últimos cinco anos, o preço da alimentação no domicílio subiu 55%, bem acima da inflação geral do período, que ficou em 33%, de acordo com dados do FGV IBRE.

A produção de alimentos no Brasil está concentrada nas mãos do agronegócio, que está ligado diretamente ao mercado internacional. Mais do que nunca, os preços dos alimentos são definidos pelo mercado mundial. O agronegócio não produz alimentos para a população, mas sim para maximizar seus lucros.

Um elemento importante, que não podemos deixar de citar, que pressiona cada vez mais os preços dos alimentos, são os eventos climáticos extremos. Esses fenômenos são cada vez mais comuns. Tanto grandes inundações quanto secas prolongadas afetam significativamente as colheitas, tendo impactos imediatos nos preços dos alimentos.

A inflação que enfrentamos hoje, porém, é um fenômeno internacional. A flexibilização monetária aplicada de 2008 até hoje tem levado a índices elevados de inflação em quase todos os países. O governo Lula, recentemente, adotou três medidas para controlar a inflação, mas que não terão grandes efeitos sobre os preços dos alimentos.

A primeira medida foi a de reduzir e até mesmo zerar impostos de importação. Como exemplo, o governo federal zerou os impostos da carne bovina, do açúcar, do café e do azeite, em 14 de março. Mas essa medida é quase irrelevante, pois não temos um problema de subprodução. Com exceção do azeite, o Brasil importa muito pouca carne, café e açúcar. No fim das contas, o Brasil é um grande exportador de alimentos.

Como segunda medida, pretende estimular ainda mais o abastecimento nacional dentro do Plano Safra, um amplo programa de financiamento para capitalistas do agro, priorizando a produção de itens da cesta básica e investindo na construção de silos e outros tipos de armazéns para estocagem de alimentos. Essa é uma medida que levará tempo para fazer algum efeito e depende da boa vontade dos capitalistas para de fato aumentar a capacidade de armazenamento e, assim, contrabalançarem alguma futura escassez de produtos agrícolas. A Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) foi desmontada e agora querem convencer os donos do agro a assumirem este papel.

Por fim, pretendem certificar empresas com o selo “Empresa amiga do consumidor”, ou seja, identificar os estabelecimentos que praticam preços menos abusivos. Já tivemos experiências anteriores e sabemos que essas práticas reguladoras não funcionam muito bem. Os distribuidores de alimentos sempre dão um jeito de burlar esses controles.

A principal ferramenta que aplicam para deter a inflação, e parece ser a única que o Ministério da Fazenda e o Banco Central conhecem, é a elevação da taxa de juros. Medida que desacelera a economia e aumenta a taxa de desemprego. A taxa Selic já é escandalosamente alta. Está claro que o novo presidente do Banco Central, indicado por Lula, segue a cartilha dos economistas burgueses. É uma medida que piora ainda mais as condições de vida da classe trabalhadora, que já enfrenta a inflação dos alimentos.

Se o Governo Lula realmente quisesse baratear os alimentos, deveria confrontar os interesses dos donos do agronegócio e passar a controlar a produção e a distribuição de alimentos. Enquanto não enfrentarmos os donos do capital, estaremos à mercê das flutuações do mercado.

A produção mundial de alimentos hoje já é suficiente para alimentar toda a população mundial, porém mais de 700 milhões de seres humanos passam fome no mundo. Isso porque os alimentos ainda são tratados como mercadorias. Colocar o agronegócio sob controle operário é uma das tarefas da revolução socialista.

Artigo publicado originalmente no jornal O Comunismo, edição 09, de abril de 2025. Adquira com um militante da OCI ou torne-se assinante.