“O fogo na sua cruz é apagado na escopeta” – O caso do 9º Batalhão

“Sangrou seu modelo Mississipi de 60, o fogo na sua cruz é apagado na escopeta. Lá o negro era enforcado e tinha blues na igreja, aqui fecham o Vectra do juiz e dão dois tiros na cabeça.” (Facção Central)

O 9º Batalhão de Operações Especiais de São José do Rio Preto e região, São Paulo, publicou um vídeo com cerca de 10 policiais fazendo juramentos ao redor de uma cruz em chamas, mesmo símbolo usado pelos supremacistas brancos da Ku Klux Klan nos EUA. Não é de hoje que a polícia, no Brasil inteiro, escancara, sem vergonha alguma, seu caráter racista.

Apenas uma semana antes, a PM-SP assassinou o senegalês Ngange Mbaye, vendedor ambulante do Brás que defendia suas mercadorias frente ao confisco da prefeitura — mostrando que, se o Brasil não assina políticas anti-migração como o governo Trump ou governos europeus, a PM assina essas políticas na bala.

Que triste ironia do destino: Ngange foi morto na Rua Joaquim Nabuco, um dos maiores nomes do abolicionismo brasileiro, e mais, assassinado na altura em que a rua é perpendicular à Avenida Rangel Pestana, onde morou Luiz Gama, maior nome do abolicionismo brasileiro e que, quando residente nesta exata rua, defendeu o moçambicano Joaquim Antonio contra a prisão arbitrária da polícia, entre outros casos de violência policial no século XIX.

No que concerne à questão racial, entre o século do abolicionismo, o XIX, e o nosso, há mais semelhanças do que parecem. O 9º Batalhão de Operações Especiais de São José do Rio Preto está aí para mostrar isso: expõe, através de um órgão oficial e sem nenhum constrangimento, o símbolo odioso da cruz em chamas — quase que como um aviso: é isso mesmo, não pararemos!

Mas nós também não podemos parar — nem nos contentar com as migalhas das políticas afirmativas. Se o capitalismo não foi capaz de destruir o racismo — na verdade, se beneficiou e continua se beneficiando dele —, e em sua crise atual desvela mais e mais seu caráter racista, reprimindo e marginalizando ainda mais a população negra, é preciso pôr abaixo esse sistema. É necessário construir o comunismo!

Contra a violência, os trabalhadores se levantam em revoltas espontâneas e isoladas — mas é preciso mais: é preciso a revolta organizada e radical. Quando George Floyd foi assassinado pela polícia norte-americana, a resposta foi um levante de massas da classe trabalhadora, em especial sua parcela negra, nos EUA e no mundo. Precisamos construir as bases para um levante do mesmo tipo, exigindo o fim da polícia militar — não apenas sua desmilitarização.

Contra a sangria da população negra, pelo fim da polícia militar e pela construção de uma sociedade comunista: conheça o Movimento Negro Socialista e a Organização Comunista Internacionalista e integre nossas fileiras!