Em Brasília, deputados e senadores aumentaram seus próprios salários, com o voto do PT. O aumento repercutirá em todos os deputados estaduais e vereadores. Leia o texto do vereador Adilson Mariano.
O parlamento: ontem e hoje
“Enquanto não tiverdes força para dissolver o parlamento burguês e quaisquer instituições reacionárias de outro tipo, tendes a obrigação de trabalhar dentro delas precisamente porque ainda há nelas operários enganados pelo clero e pela vida em aldeias perdidas do campo, de outro modo correis o risco de vos converterdes em simples charlatães”. (Lênin)
Em Joinville, no último dia 15 de dezembro de 2010, ocasião em que a Câmara de Vereadores elegeu a sua nova mesa diretora, três parlamentares do PT, em nome da governabilidade, votaram no DEM para presidir o Legislativo Joinvilense no biênio 2011/2012.
Na oportunidade me apresentei como candidato a presidente da casa, como já havia discutido no interior do partido. Levei meu próprio voto e mais um de uma vereadora do PSL, descontente com o rompimento de uma composição que havia sido realizada na véspera.
Na última vez que Lula veio a Joinville em 13 de setembro, em comício que antecedeu o primeiro turno das eleições deste ano de 2010, Luiz Inácio afirmou que ‘Precisamos extirpar o DEM da política brasileira’.
Noventa dias após o comício mencionado três dos quatro joinvilenses do PT votam exatamente em sentido contrário. Este é um exemplo para o que serve o parlamento. Em nome da ‘governabilidade’, como se isto fosse possível, vota-se nos inimigos, como se estes venham a permitir que um novo e melhor rumo ao governo do PT de Joinville possa ser impresso.
O prefeito municipal Carlito Merss foi um dos mentores do acordo que levou o DEM à presidência do Legislativo Joinvilense, um equívoco de conseqüências políticas graves, que somente o futuro nos dirá da sua magnitude.
Contudo, saindo da paróquia para a República Brasileira é preciso verificar que em 15 de dezembro passado o Congresso Nacional aplicou um aumento de 61,8% nos salários de deputados, senadores, ministros, vice-presidente e presidente da República.
Os salários de 16 mil reais saltaram para 27 mil reais por mês, enquanto o salário mínimo atual de um operário é de R$ 510,00. Um deputado ou um senador, no salário que sai na folha de pagamento, ganha mais do que 50 pais de família de salário mínimo.
Isto sem falar no efeito cascata que isto proporcionará pelo país afora, na medida em que este reajuste desproporcional se refletirá nos salários de deputados estaduais e vereadores.
Enquanto isso o salário mínimo do DIEESE seria de cerca de R$ 2.500,00.
Mesmo para o sistema republicano estas diferenças e desproporções estelares são inadmissíveis.
Os deputados e senadores, mais uma vez, deram prova concreta de que não se encontram em seus postos para defender os anseios do povo trabalhador e da juventude, mas os seus próprios e daqueles que os financiam. Enfim, são defensores da continuidade do estado de coisas que aí se encontra.
No discurso de apresentação de minha candidatura à presidência da Câmara de Vereadores de Joinville, tive a oportunidade de afirmar que ‘Em minha opinião, para que essa Casa seja do povo precisa ter um presidente que se coloque nessa missão, de pagar as dívidas que essa Casa tem com o povo e de colocá-la a serviço da população.’
Continuo vereador de Joinville pelo PT, mesmo que meus três companheiros tenham votado no DEM. Eles votaram no DEM. Eu votei no PT.
Nos próximos dois anos saberemos para onde terá ido o parlamento de Joinville, presidido pelo DEM, com o aval de três vereadores do PT.
Fatos lamentáveis como estes acontecem. Mas ocorrem porque a perspectiva do socialismo não faz mais parte do futuro dessa gente. Para eles é ‘mais capitalismo e mais felicidade’, enquanto para nós somente o socialismo poderá salvar o mundo e a humanidade da barbárie, que já apresenta seus inquestionáveis sinais.
Estamos às vésperas de 2011. Que venha o novo ano. Muita saúde e muita luta.
Adilson Mariano é vereador do PT de Joinville – SC, membro da Esquerda Marxista.