As eleições de 2018 serão uma oportunidade para o PSOL crescer como uma alternativa de esquerda. O crescimento do partido, ao mesmo tempo, eleva as pressões para que se adapte ao sistema político e eleitoral vigente. Como temos dito, o PSOL precisa se aproximar de qualidades do PT na sua origem: o enraizamento na classe operária, a independência em relação à burguesia; e se afastar do que provocou a degeneração do PT: o reformismo, o pragmatismo eleitoral e a conciliação de classes.
A direção majoritária do PSOL, infelizmente, tem cedido a pressões da atual conjuntura que evidenciam as debilidades do partido. A adaptação política se traduz em medidas alheias à democracia operária.
Um exemplo disso ocorreu na Conferência Eleitoral de Santa Catarina. Lá a Esquerda Marxista inscreveu a pré-candidatura do camarada Serge Goulart ao governo do Estado. Reivindicamos com os companheiros do Amanhecer e da Revolução Brasileira, reunindo 220 assinaturas de filiados, a realização de prévias para a escolha das candidaturas. A reação da mesa, presidida pela Unidade Socialista, foi declarar que as prévias não seriam discutidas. Ao nosso pedido de ser apresentada e aprovada pelos delegados a pauta da Conferência, a resposta foi de que a pauta havia sido definida pela Executiva estadual e que a decisão da Executiva estaria acima da Conferência. (Ver relato do camarada Serge sobre o ocorrido).
Essa resistência em consultar a base do partido para a escolha do candidato, no fundo, reflete o medo da maioria da direção em perder o controle. Na própria Conferência estadual, praticamente metade dos delegados se retiraram em contraposição aos encaminhamentos da mesa.
O que se passou em Santa Catarina é um reflexo do quadro nacional. A escolha do candidato a presidente pelo PSOL se dará em uma Conferência Eleitoral amanhã (10 de março) em que tudo já está decidido. Os delegados nessa Conferência seguem a proporção das forças na Direção Nacional do partido, ou seja, não são delegados eleitos na base de acordo com o apoio angariado por cada pré-candidatura entre os filiados.
A pré-candidatura de Nildo Ouriques à presidência da República, com apoio da Esquerda Marxista, foi a única no Congresso do PSOL em dezembro que defendeu a realização de prévias para a escolha dos candidatos. Mas a maioria dos delegados optou por esta Conferência eleitoral.
Desta forma, o que a maioria da direção garante é o candidato de sua preferência, Guilherme Boulos, do MTST, para a disputa presidencial, que decidiu em meados de fevereiro que se lançaria como candidato e se filiou nesta semana (5 de março).
Obviamente, o problema não é a filiação de Boulos ao partido, muito menos a aproximação com o MTST. A questão é como ela se dá e com quais objetivos.
O próprio Boulos deixou claro que sua candidatura não seria “do PSOL”. Disse ele: “não sou ainda candidato a presidente do PSOL, não apenas porque existem outras pré-candidaturas, mas porque a pré-candidatura e a candidatura que queremos construir não é somente do PSOL, é de movimentos sociais, artistas, intelectuais, é de ativistas de vários movimentos, ela expressa uma aliança”.
A base política dessa aliança proposta por Boulos manifesta-se na plataforma “Vamos”, impulsionada pela Frente Povo Sem Medo com debates em que lideranças do PSOL e do PT compunham as mesas. As limitações reformistas dessa plataforma, de busca pela impossível regulação do capitalismo, ficam evidentes nos eixos que nortearam o documento: 1 – democratização dos territórios e do meio ambiente; 2 – democratização econômica; 3 – democratização do poder e da política; 4 – democratização da cultura e comunicação; 5 – democratização da saúde e educação; 6 – um programa negro, feminista e LGBT. Vale ressaltar também que as palavras “revolução” e “socialismo” estão ausentes no resultado final da plataforma.
Essa aproximação ao reformismo fica também evidente na decisão do PSOL de participar e assinar, através de sua fundação Lauro Campos, um manifesto “Unidade para Reconstruir o Brasil”, junto com PT, PCdoB e PDT, tendo participado do debate também o PSB. O manifesto defende, por exemplo, o “ciclo progressista de 2003-2016, dos governos Lula e Dilma, entre as quais o avanço dos indicadores sociais e a afirmação da soberania nacional” e coloca como tarefa imediata a “Restauração da democracia, do Estado Democrático de Direito, do equilíbrio entre os Poderes da República”.
No fundo, essa é a tentativa de estabelecer a base política para uma unidade em torno de uma possível candidatura petista no segundo turno das eleições. É um profundo erro o PSOL assinar um documento que vê belezas inexistentes nos governos de Lula e Dilma. Difícil falar que estes governos defenderam a “soberania nacional”, com a continuidade do pagamento das dívidas interna e externa, enchendo os cofres de bancos e investidores imperialistas. Já a defesa do Estado Democrático de Direito significa, concretamente, a defesa do Estado capitalista e suas instituições.
Um dos erros políticos do discurso de Boulos no debate entre os pré-candidatos do PSOL, realizado na quarta-feira (7/3), foi justamente defender que, mesmo com limitações, haveria um suposto legado progressista dos governos petistas. Essa dubiedade no discurso, uma base política reformista, torna possível o vídeo enviado por Lula saudando o lançamento da candidatura de Boulos na chamada Conferência Cidadã do dia 3/3.
Guilherme Boulos será o candidato a presidente e Sônia Guajajara a vice, este será o resultado da Conferência eleitoral de cartas marcadas. Representarão o partido nessas eleições decisivas e estaremos nessa campanha lutando por um programa revolucionário. No entanto, nós defendemos desde o início a primeira pré-candidatura a presidente apresentada ao partido, a do companheiro Nildo Ouriques, com uma clara plataforma revolucionária e socialista, contrária ao reformismo petista. Consideramos que essa pré-candidatura ajudaria o partido a se colocar como uma alternativa, conectando-o com amplos setores que estão fartos da velha política, com ódio dos políticos tradicionais e das instituições podres.
Grandes combates estão no horizonte e o PSOL, se quiser se credenciar como um partido de classe, instrumento da luta dos explorados e oprimidos por sua emancipação, necessita reverter urgentemente esse rumo em direção à adaptação ao quadro do sistema capitalista. Esse sistema não oferece nenhum futuro digno, apenas o aprofundamento da barbárie para a humanidade. A hora é de falar de revolução!