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Paz entre nós, guerra aos senhores! A inserção do Brasil na máquina de guerra imperialista

Estamos diante de um aumento acentuado do militarismo nos países imperialistas. Há mais de 30 guerras localizadas no mundo. São bilhões, até mesmo trilhões de dólares investidos anualmente na máquina de guerra, isto é, numa indústria que tem por objetivo a destruição das condições e da própria vida de jovens e trabalhadores ao redor do mundo.

O orçamento de “defesa” dos países imperialistas aumenta e isso tem provocado a ira de uma massa de pessoas que sofrem com os serviços públicos em pedaços enquanto seus governantes e Estados enviam enormes recursos para massacrar pessoas fora das fronteiras. Com base nisso, a Internacional Comunista Revolucionária lançou a campanha “Lute contra o imperialismo e a guerra! Trabalhadores do mundo, uni-vos!”.

O fato é que nos países dominados pelo imperialismo, a coisa se expressa de outra maneira. A inserção de países como o Brasil na indústria mundial da guerra imperialista se dá, principalmente, pela compra de armamentos – armas, munições, caças, tanques, munições, sistemas de vigilância e segurança etc.

São bilhões de dólares usados para a importação de produtos bélicos. O aumento do militarismo nos países imperialistas precisa encontrar um mercado para fazer girar a indústria bélica, como motor auxiliar da economia capitalista em crise. O destino das bombas, armas e munições são as guerras localizadas, mas também o aumento da violência e do aparato repressivo nos países dominados, que se dá pelo aumento brutal da compra de produtos bélicos.

Para efeitos de comparação, as vendas militares estrangeiras dos Estados Unidos da América foram de US$ 66,2 bilhões em 2023, enquanto as exportações do Brasil representam cerca de US$ 1,06 bilhões no mesmo período. Já as importações de revólveres e pistolas por aqui saltaram de US$ 2,2 milhões para US$ 40,7 milhões em 2023, tendo tido o maior salto em 2022 quando foram importados US$ 86,5 milhões em revolveres e pistolas, estimulados pelos decretos de Bolsonaro.

Por meio da compra desses produtos bélicos, o país se endivida. Vejamos a relação entre o militarismo e o endividamento no caso do Brasil.

A compra de revólveres e pistolas é, na verdade, uma parte muito pequena das importações. O mais importante são os contratos celebrados pelo governo federal e governos estaduais com empresas privadas e estatais de outros países para a importação de produtos bélicos e o que chamam de “transferência de tecnologia”.

Em 2014, sob o governo Dilma Roussef (PT), 36 caças de combate F-39E Gripen foram comprados da empresa sueca Saab. O valor do contrato foi de US$ 4,5 bilhões, incluídos custos logísticos, armas e simuladores e transferência de tecnologia. O financiamento duraria 25 anos e o último caça seria entregue à Força Aérea Brasileira (FAB) em 2026. Em 2023, o governo Lula-Alckmin (PT) anunciou que estuda ampliar a encomenda de caças Gripen com a Saab.

Outro exemplo que vai na mesma direção é o acordo com a estatal francesa Naval Group, estabelecido em 2008, por Lula, para a construção de submarinos brasileiros com propulsão nuclear. O primeiro submarino desse tipo foi lançado em março deste ano por Lula e Macron, aqui no Brasil. É um acordo que também prevê a “transferência de tecnologia” e custou US$ 10 bilhões.

Temos aqui um caso clássico da dominação imperialista. O excedente de capital sueco ou francês encontra destino no país dominado, que assume uma dívida bilionária para obter a “transferência de tecnologia”, “o conhecimento”, e passar a produzir e desenvolver esses produtos bélicos aqui,  comprados por nós mesmos. Chamam de “transferência de tecnologia”, no caso dos Gripen suecos – “treinamento teórico e prático de especialistas brasileiros nos países imperialistas para envolver os brasileiros nas áreas técnicas ligadas ao desenvolvimento, teste, produção e manutenção, por exemplo, a montagem de aeronaves, integração de sistemas, ao lado de especialistas suecos. Essa “transferência de tecnologia”, obviamente não pode entregar a galinha de ovos de ouro aos brasileiros, portanto, trata-se de tecnologia ultrapassada que passa a ser incorporada pelo país dominado. Algumas dessas tecnologias são inéditas por aqui, mas já ultrapassadas no país imperialista.

Recentemente, em meio ao massacre dos palestinos, Lula escandalosamente sancionou a compra de 36 tanques blindados da empresa israelense Elbit Systems. A compra para as Forças Armadas custou R$ 1 bilhão. Isso é só a ponta do problema. O Exército Brasileiro fechou contrato com essa empresa no valor de R$ 6,3 bilhões para a compra de mais tanques nos próximos anos. A Elbit é uma empresa acusada de construir drones que mataram 164 crianças palestinas em Gaza em 2014. Diante da pressão, o governo decidiu adiar o contrato, mas o Ministério da Defesa continua pressionando para a manutenção do acordo.

Aliás, sobre contratos com o sionismo, Brasil e Israel mantém acordos não apenas no fornecimento de armas e tanques, mas também para segurança e o policiamento. São contratos de sistemas de vigilância e treinamento de segurança privada e pública. Por exemplo, o contrato com a empresa AEL (do grupo Elbit Systems), no valor de US$ 2,4 milhões, para o fornecimento de optrônicos (sistemas eletrônicos que fornecem, detectam e controlam a luz) do Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (Sisfron).

No caso dos governos estaduais, temos em São Paulo a Rondas Ostensivas Tobias Aguiar (Rota) – um batalhão especial criado na década de 1970 pela Ditadura Militar para perseguir militantes de esquerda. Em 2020, sob o governo de João Doria (PSDB na época), a Rota foi equipada com fuzis e metralhadoras israelenses, fornecidos pela empresa Israel Weapon Industries Ltda. As metralhadoras compradas para equipar o “esquadrão da morte” de São Paulo são verdadeiras armas de guerra, disparam 600 a 750 balas por minuto. Custaram, na época em que foram compradas, R$ 526.332,90 aos cofres públicos.

Ao estabelecer tais contratos, o Estado brasileiro assume dívidas bilionárias enquanto alimenta a economia em crise dos países de quem importa e a submissão ao imperialismo através do sistema da dívida interna e externa.

De maneira simplificada, funciona mais ou menos assim. A classe operária brasileira produz mais-valia, tal como os operários de outros países. Essa mais-valia é apropriada uma vez pelo capitalista quando as mercadorias são vendidas. Uma parte dessa mais-valia é paga em impostos, seja pelos trabalhadores, seja pelos burgueses. Uma parte dessa arrecadação de impostos é utilizada para financiar as Reservas Internacionais, que em julho de 2024 somaram US$ 363,282 bilhões.

Todo Estado é obrigado a acumular algum nível de reservas internacionais, para fins de exportação e importação e para outras finalidades, como conter ataques especulativos. As reservas internacionais são um estoque de moedas estrangeiras (dólar, euro, libras, iene, dólar canadense e australiano). Contudo, estas reservas são principalmente compostas por títulos da dívida norte-americana. O Estado brasileiro compra títulos da dívida dos Estados Unidos.

Através dessa compra, recebe títulos no valor. O Estado brasileiro compra tais títulos a uma taxa de juros de 5,25% ao ano (dado de ago/24). Ao mesmo tempo, para arrecadar reais, de modo a permitir que o Estado tenha condições de comprar os títulos dos EUA, aqui no Brasil, o Estado vende seus títulos e, portanto, se endivida, a uma taxa básica de 9,5% ao ano (ago/24). Recebemos juros muito menores do que pagamos e, assim, nos endividamos sem ter exatamente contraído uma dívida, apenas para manter as reservas internacionais.   

Uma parte dos US$ 363,282 bilhões que entregamos ao Estado norte-americano em troca de seus títulos transforma-se em capital, através do sistema financeiro e de crédito norte-americano. Quando os capitalistas investem produtivamente, para extrair mais mais-valia, ou especulando, com a compra de nossos títulos a uma taxa muito maior do que eles próprios venderam os seus.

Assim, a dívida é sempre mantida. Uma permanente alienação do Estado. Como isso aparece em nossa vida prática e na imprensa?

Vejamos. Em 2023, a Dívida Bruta do Governo Geral (DGBB) – BCB alcançou a soma de R$ 8,1 trilhões, o que equivale a 74,4% do PIB. É um verdadeiro assalto às riquezas produzidas pelos trabalhadores. O Estado brasileiro, submisso ao imperialismo, paga religiosamente essa dívida ao custo do corte, desmonte e privatização dos serviços públicos.

Ainda em 2023, do Orçamento Federal Executado (orçamento pago) R$ 1,89 trilhões (43,23%) foram usados para pagar os juros e amortizações da dívida interna e externa, enquanto apenas 2,97% para a educação, 3,69% para a saúde, 2,19% para o trabalho, 1,81% para a defesa. Cultura, indústria, habitação, lazer etc. não somam nem 1% do orçamento executado no ano passado.

São trilhões dedicados ao pagamento da dívida, drenando recursos valiosos da educação, da saúde, assistência social e das demais áreas sociais. É o compromisso com o pagamento dos juros e amortizações da dívida que explica o Arcabouço Fiscal de Lula e seu governo.

Enquanto nos principais países imperialistas, o militarismo crescente está diretamente relacionado com a “falta” de recursos para os serviços públicos. No caso do Brasil, esses recursos “faltam” exatamente pelo compromisso assumido pelo Estado de continuar pagando a dívida interna e externa. A luta contra a dominação imperialista, desde um país como o Brasil, assume a perspectiva da denúncia do sistema fraudulento da dívida interna e externa, da exigência do fim do pagamento dessa dívida, o que só pode ser obra de um governo revolucionário e da própria revolução proletária.

Como explicamos na introdução, o aumento do militarismo e da exportação de produtos bélicos precisa encontrar um destino, as guerras localizadas como também o aumento da violência e do aparato de repressão nos países dominados.

O governo Lula aprovou no Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) um total de R$ 53 bilhões destinados ao equipar o país com tecnologias de ponta e aumentar a capacidade da “defesa nacional”, fortalecendo a Base Industrial de Defesa (BID) – um conjunto de empresas estatais e privadas que participam de etapas de pesquisa, desenvolvimento, produção, distribuição e manutenção de produtos estratégicos de defesa (bens e serviços).

O BID possui 290 empresas cadastradas e o portifólio brasileiro é composto por 1365 produtos de defesa como aeronaves, embarcações, soluções cibernéticas para proteção de dados e redes, radares, sistemas de seguros de comunicação e armamentos etc.

Quem se beneficia dessas ampliações de recursos para o setor de “defesa” são as grandes empresas privadas, que estão na área de armamentos e munições. São recursos públicos financiando empresas privadas.   

Além do financiamento através do novo PAC, que deve se dar pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o governo Lula estuda ainda ampliar os recursos destinados à indústria bélica através da criação de um fundo para o setor de defesa, assim as empresas estatais da área poderiam obter recursos fora do orçamento federal.

Essas iniciativas do governo vão no sentido da fala do ministro da Defesa, José Múcio Monteiro Filho, em setembro de 2023, sobre aumentar o orçamento da pasta de 1,3% para 2% do PIB. Na Lei Orçamentária Anual (LOA) para 2024, foram destinados R$ 126.065,60 milhões para a “Defesa”, correspondente a 2,3% do total previsto orçamento para o ano. O orçamento ainda é menor que os gastos com educação e saúde, mas é maior que o orçamento do meio ambiente, cultura e transportes, por exemplo.

Para ampliar para 2% do PIB com a Defesa no Brasil, seria necessário um aumento de cerca de R$ 67.881,4 milhões apenas para esta pasta, mais do que todo o orçamento nacional para a pasta de transportes, por exemplo.

Ao passo que Lula toma medidas para ampliar o orçamento da defesa e da segurança pública, como abordaremos a seguir, um de seus primeiros movimentos como presidente foi reduzir o armamento da população, com medidas restritivas para a importação de armas de fogo e munição.

Obviamente que Bolsonaro incentivou o armamento de uma pequena burguesia por razões reacionárias e em benefício dos lucros das empresas de armamento, mas esse suposto pacifismo de Lula é completamente hipócrita.

Ele demagogicamente fala em “desarmar a população” – que de fato não está armada massivamente – enquanto fecha contratos bilionários para compra de tanques, submarino, caças, armas e munições. Realiza e amplia investimentos, via BNDES, em empresas privadas que apenas lucram. Também aumenta os recursos destinados para a “Segurança Pública”, isto é, para as polícias da União, estados e municípios.

 Outra especificidade brasileira são os gastos com efetivos e munições para a segurança pública, as polícias municipais, estaduais e da União, que são as forças de repressão cotidiana contra os trabalhadores e a juventude.

Em 2023 o país atingiu um recorde em despesas empenhadas com segurança pública, totalizando R$ 137,9 bilhões. A justificativa oficial é de que a crescente violência pressiona pelo aumento dos gastos com o setor. Em vários estados brasileiros, os gastos com segurança pública são maiores que os com as áreas da educação, saúde, saneamento, como é o caso do Rio de Janeiro.

Segundo o 18º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, publicado em 2024, “no ano de 2023, em todas as unidades da federação, as despesas com o direito à segurança pública foram maiores que as despesas com os direitos à habitação, meio ambiente, agricultura, assistência social, ciência e tecnologia, cultura e cidadania”.

Muito distante de combater efetivamente a violência, esse investimento tem servido para equipar as forças de repressão contra os trabalhadores e jovens, principalmente o proletariado negro nos bairros proletários. A chamada guerra às drogas, em que as forças de repressão são pretensamente utilizadas para combater o crime organizado, não passa de um grande circo e uma forma de alimentar a indústria de armas e munições.

O crime organizado é, de fato, uma ala da burguesia que atua em áreas “ilícitas”. No entanto, o Estado não tem nenhuma pretensão séria de combatê-lo. O resultado do aumento dos investimentos na “segurança pública” são as chacinas nos bairros proletários em vários estados do país, como a que ocorreu na baixada santista em São Paulo recentemente.

A finalidade principal das polícias é a defesa da propriedade privada. A polícia é racista e mata jovens e trabalhadores negros todos os dias nos bairros proletários e favelas. Não confiamos nas forças de repressão. A alternativa comunista para lidar com a violência crescente é confiar apenas em nossas forças, é nossa auto-organização. Somente os trabalhadores e jovens, conscientes e organizados, podem dar fim à violência do tráfico, das polícias e das milícias.

A população brasileira não foi realmente armada por Bolsonaro. Houve um aumento expressivo da importação de armas durante seu governo, mas essas armas e revólveres foram parar nas mãos de uma pequena burguesia que podia pagar por elas. O armamento do povo que Bolsonaro prometeu jamais aconteceu para que os proletários negros pudessem se defender da opressão cotidiana contra a polícia e o crime organizado, por exemplo.

Fomos contra o Estatuto do Desarmamento de 2003, a lei 10.826/2003, que Lula sancionou em seu primeiro mandato. Naquela época, o governo promoveu um referendo popular para saber se a população concordaria com o artigo 35 do Estatuto, que tratava da proibição da venda de arma de fogo e munição em todo o território nacional. O artigo foi rejeitado por 63,94% dos votos válidos. Os trabalhadores querem se defender, seja da violência policial, do crime organizado, das milícias e da violência urbana em geral.

Do ponto de vista internacional e da luta de classes, conforme se desenvolve a crise do capitalismo, a tendência militarista aumenta e, portanto, a agressão imperialista nas colônias e semicolônias. Como Lênin explicou, os comunistas defendem o direito de autodefesa dos trabalhadores contra essas agressões.

É por isso que o programa comunista contra a guerra e a violência imperialista é contra o desarmamento e a favor do armamento geral do povo. Tal armamento se realiza através dos comitês operários de autodefesa, isto é, dos operários conscientes e organizados, em defesa da insurreição proletária, como Lênin ensinou:

“Agora a militarização penetra toda a vida social. O imperialismo é uma luta encarniçada das grandes potências pela partilha e redistribuição do mundo, por isso deve conduzir inevitavelmente ao reforço da militarização em todos os países, mesmo nos neutros e nos pequenos. Que farão contra isso as mulheres proletárias? Apenas maldizer toda a guerra e tudo o que é militar, apenas reivindicar o desarmamento? Nunca as mulheres duma classe oprimida, que é efetivamente revolucionária, se conformarão com um papel tão vergonhoso. Elas dirão aos seus filhos: ‘Em breve serás grande. Dar-te-ão uma espingarda. Toma-a e aprende bem a manejar as armas. Esta ciência é indispensável para os proletários — não para atirar contra os teus irmãos, os operários de outros países, como se faz na atual guerra e como os traidores do socialismo te aconselham a fazer — mas para lutar contra a burguesia do teu próprio país, para pôr fim à exploração, à miséria e às guerras não por meio de votos piedosos, mas por meio da vitória sobre a burguesia e do seu desarmamento’”. (O programa militar da revolução proletária, Lênin)

É certo que os diferentes modos de produção em seus diferentes estágios produziram guerras. Mas, o que diferencia a guerra imperialista das demais? Marx, em “O Capital”, revelou as principais leis de funcionamento do sistema capitalista, entre elas a produção da mais-valia, um excedente de trabalho não pago e a contradição entre o desenvolvimento das forças produtivas e os limites do Estado nacional. 

É orgânico do capital que seu próprio funcionamento engendre crises de superprodução periódicas. O movimento é mais ou menos o seguinte: a produção desgovernada que é própria do capital produz muito mais do que as massas, com seus salários cada vez mais achatados, são capazes de consumir. O mercado tem limites evidentes. Uma vez que as mercadorias não são absorvidas, compradas, a mais-valia não se realiza e, portanto, a crise de superprodução toma lugar.

Para resolver as crises, Marx explicou no Manifesto Comunista, que a burguesia tem que destruir forças produtivas, conquistar novos mercados ou ampliar a exploração dos mercados existentes. A indústria armamentista serve perfeitamente à resolução da crise de superprodução, porque destrói forças produtivas e movimenta uma indústria que tem como única finalidade a destruição.

Para resolver as crises, Marx explicou no Manifesto Comunista, que a burguesia tem que destruir forças produtivas / Imagem: Ministério da Defesa da Ucrânia, Wikimedia Commons

O capital monopolista, tendo já se expandido ao máximo em seu próprio mercado interno, precisa encontrar um mercado estrangeiro para vender e investir seu capital excedente. Desenvolveram-se forças produtivas para além do que o mercado interno é capaz de absorver. É preciso avançar para outros territórios.  O fato é que o capitalismo monopolista se desenvolve sobre um mundo já dividido que, só pode ser redividido sob a base de crises e, sobretudo, das guerras. Ocorre, portanto, uma intensificação da política colonial, seja subjugando os países atrasados completa ou parcialmente.

O que caracteriza as guerras imperialistas é a sua tendência expandir o território econômico e o território em geral, por meio da intensificação do uso da violência e da reação, em busca do controle das principais fontes de matéria-prima, mercados, colônias, campos de influência e esferas de investimento para seu capital excedente

Isso é evidente no caso da guerra na Ucrânia e das mais de 30 guerras localizadas no mundo. Em 2022, os analistas burgueses norte-americanos previam uma nova recessão na economia norte-americana. Mas, o PIB do país avançou 4,9%. Por quê? Houve um impulso de incentivos e subsídios à indústria e, em particular, à indústria bélica. Eles afirmam que a indústria bélica dos EUA está vendendo como nunca e que o ambiente internacional está favorável para o país.

Em todo o mundo, um total de R$ 11 trilhões foram empregados em gastos militares em 2022. É o maior volume de gastos desde a Segunda Guerra Mundial. Para efeitos de comparação, esse montante ultrapassou o Produto Interno Bruto do Brasil (soma de todos os bens e serviços produzidos no país) em 2022, que foi de R$ 9,9 trilhões. O PIB de um ano inteiro, de toda uma nação, empregado no esforço de guerra. 

As 100 maiores empresas de armas venderam R$ 3 trilhões em 2020, isto é, cerca de um terço de tudo que foi produzido no Brasil como lucros das 100 maiores empresas de armamentos. Dessas 100, 41 têm sede nos EUA e venderam 54% do total de armas (R$ 1,6 trilhão). A Europa tem 26 empresas de armamentos no top 100 que, juntas, venderam R$ 626 bilhões. As empresas da China, juntas, venderam cerca de R$ 383 bilhões.

Por aqui, a produção é, por um lado, destinada ao mercado interno (alimentando a repressão) e, por outro lado, são exportadas para outros países. Essa exportação é, naturalmente, muito menor do que é a realizada pelos EUA, líder global da exportação de armas, com 42% de toda a exportação de armas do mundo.

Ao mesmo tempo, existe uma certa estrutura para a indústria bélica montada no Brasil para a exportação de armas e munições.

A Taurus Armas, empresa brasileira de capital aberto, sediada em São Leopoldo (RS), teve um lucro de R$ 118,1 milhões em 2023. Essa empresa exporta três quartos da sua produção para cerca de 70 países. Seu principal cliente é os EUA, que adquiriram 5,4 milhões de armas de 2012 a 2023. Em 2023, a lista de maiores compradores das armas da Taurus foram, nessa ordem: Estados Unidos, Filipinas, África do Sul, Australia, Equador, Burkina, Alemanha, Argentina, Chile e Arábia Saudita.

A CBC munições, líder mundial em munições, faz parte de uma holding de empresas ativas no setor de munições: CBC Brasil, Magtech Ammunition, MEN Alemanha e Sellier & Bellot República Tcheca. No Brasil, detém o monopólio da venda de munições militares e para “segurança interna”. Com duas fábricas aqui, exporta 70% da sua produção para 40 países.

Embraer, empresa brasileira de capital aberto, sediada em São José dos Campos (SP), que além de veículos civis, produz caças a sistemas de monitoramento, teve um lucro de R$ 924,7 milhões em 2023. Recentemente, vendeu cargueiros C-390, jato militar multimissão, para Áustria e Holanda. 

A Imbel, empresa estatal que produz materiais bélicos ligada ao Ministério da Defesa, teve lucro de R$ 42,4 milhões em 2023. Produz fuzis, pistolas e carabinas; munições de artilharia, de morteiros e de carros de combate; pólvora, explosivos e acessórios; equipamentos de comunicações e eletrônica.

São estruturas e capital investido para a indústria bélica que servem apenas para destruir as condições e a própria vida de jovens e trabalhadores, seja no tráfico de drogas, ou pelas mãos das milícias e polícias em chacinas nos bairros proletários. Seja em atentados violentos nas escolas, ou em conflitos militares e massacres em outros países. Estruturas como essas poderiam ser reorganizadas para servir a propósitos úteis ao conjunto da humanidade, para promover melhorias no bem-estar e não para o lucro da indústria bélica.

O movimento antiguerra tem sido criminalizado no mundo inteiro. Somos acusados de terroristas quando conclamamos a palavra de ordem “Intifada até a vitória” contra o massacre palestino. Os berços da democracia burguesa ferem as liberdades democráticas, de expressão, manifestações e organização.

Mas Lênin já havia explicado que a democracia burguesa é, na verdade, a ditadura da burguesia sobre o proletariado e que não há verdadeira liberdade sob o regime da propriedade privada dos grandes meios de produção. Qual é a liberdade dos proletários de se reunir, de se expressar e se organizar frente a um Estado que detém o monopólio da violência e todas as instituições a serviço da sua ideologia? Não há liberdade real, a não ser a através da luta pela construção do partido revolucionário marxista, com influência de massas.

No Brasil, é verdade que não há uma perseguição ou criminalização direta dos movimentos pró-Palestina, por exemplo. Mas, por outro lado, frente aos atos golpistas de 8 de janeiro, organizados e financiados por setores do bolsonarismo, o Judiciário tomou medidas que excedem seus poderes e que podem se voltar contra os movimentos sociais e partidos políticos de esquerda.

Qualquer greve considerada inconstitucional tem seus dirigentes perseguidos e multas estratosféricas.  Qualquer manifestação, de estudantes e professores, nas assembleias legislativas contra projetos de privatização, por exemplo, é reprimida com bombas de gás lacrimogênio, balas de borracha e cacetadas.

A esquerda oficial, em coro com o governo, levanta a defesa da democracia, de maneira abstrata, contra um suposto perigo fascista. Com isso, caem no canto da unidade nacional e não apresentam nenhuma perspectiva de auto-organização para jovens e trabalhadores que querem lutar. Essa tarefa cabe aos comunistas.

A defesa das liberdades democráticas é fundamental e segue como uma pauta necessária e atual, parte integrante da luta comunista nos países de democracia bastarda, como o Brasil, como também nos países imperialistas, cuja máscara hipócrita da democracia começa a cair frente aos olhos de todos.

Outro aspecto comunista da luta contra a guerra é a solidariedade internacional, tanto ao movimento antiguerra que inspira jovens e trabalhadores a protestar, quanto às vítimas das guerras imperialistas, dos massacres e da repressão brutal contra o movimento revolucionário da juventude e da classe trabalhadora. Os comunistas no Brasil e em todo o mundo têm o dever de prestar solidariedade internacional aos milhões aos trabalhadores mortos nas guerras imperialistas, aos milhões de refugiados, aos milhões que perderam suas casas e foram forçados a se deslocarem devido a guerras, àqueles que perderam entes queridos e que vivem sob bombas e tiros.

Toda a conversa sobre guerras defensivas ou orçamentos para a “defesa” e “segurança pública” são nada mais nada menos que hipocrisias para a defesa da propriedade privada dos grandes meios de produção e dos capitalistas manterem sua exploração e seus lucros. Denunciamos o caráter de rapina das guerras imperialistas. Denunciamos a sede de sangue das indústrias bélicas. Denunciamos a hipocrisia dos governantes imperialistas que, ao mesmo tempo sugam recursos das semicolônias, através das dívidas, e, por outro, despejam rios de investimentos em suas próprias indústrias bélicas, enquanto os hospitais e escolas caem aos pedaços. Denunciamos os governos submissos ao imperialismo, que continuam alimentando o sistema da dívida e realizando contratos com empresas bélicas enquanto as necessidades básicas da população não são atendidas. Denunciamos aqueles que dizem que os trabalhadores não têm o direito de se defenderem da agressão imperialista e pregam o seu desarmamento.

É em decorrência do funcionamento do capitalismo, de sua tendência a concentração e centralização do capital, que as guerras se tornam inevitáveis. Os capitalistas não têm outra opção, diante do caráter encarniçado que adquire a disputa por mercados, que tomar a força os mercados de seus concorrentes e essa disputa engendra guerras locais e regionais.

A guerra na Ucrânia e o massacre na Palestina se arrastam por meses e não têm uma perspectiva de resolução no curto prazo. Interessa para Netanyahu, Putin, Zelensky, EUA e Otan que esses conflitos se desenvolvam no tempo, para continuarem lucrando e servindo aos seus interesses políticos particulares.

Há mais de 30 conflitos localizados acontecendo nesse momento em todo o mundo. O capitalismo em sua fase imperialista destrói uma massa de forças produtivas através dessas guerras localizadas. Indústrias armamentistas promovem o giro que a economia capitalista em crise necessita. Produzem bombas, drones, tanques, armas, misseis, munições que servem apenas para destruir as condições de vida e a própria vida da classe trabalhadora e da juventude. Aliás, essa é a única perspectiva que podem nos oferecer: guerras, repressão e miséria crescente.

Defendemos o direito dos proletários e da humanidade de viver em paz. Mas a paz que queremos não é a paz burguesa, que, na verdade, é a preparação para outras guerras mais sangrentas. A paz justa, democrática e duradoura só pode existir verdadeiramente sob a bandeira do comunismo e pela insurreição proletária.

Contra o militarismo crescente, contra a violência e a repressão, hasteamos a bandeira do comunismo como perspectiva revolucionária. O programa do comunismo é o único que pode realmente promover a paz verdadeira, justa, duradoura e democrática. É sob essa bandeira que todos os que querem lutar para pôr fim às guerras imperialistas devem marchar, como soldados do exército mundial do proletariado!

  • Nenhum centavo para a indústria bélica e de guerra! Todo dinheiro para a educação, saúde e assistência!
  • Anulação dos contratos de importação e compra de equipamentos e tecnologia militar!
  • Lula, rompa imediatamente todas as relações com o Estado sionista de Israel! Nenhum centavo para suas armas e tanques!
  • Fim das polícias! Abaixo à repressão contra a classe trabalhadora e a juventude!
  • Nacionalização das empresas de armas e munições sob controle dos trabalhadores! Que sua estrutura sirva aos interesses da humanidade e não da carnificina da guerra e da violência burguesa!
  • Fim do pagamento da dívida interna e externa! Que os capitalistas paguem pela crise! 
  • Pelo direito de livre manifestação, organização e expressão! Pelo direito de lutar contra o capitalismo e o imperialismo!
  • Solidariedade internacional aos refugiados e às vítimas da guerra imperialista!
  • Abaixo o imperialismo e suas guerras!  Pelo desmantelamento da Otan!
  • Viva o internacionalismo de classe! Paz entre os povos, guerra contra os bilionários!  Trabalhadores do mundo, uni-vos!