No final da semana passada, a imprensa burguesa começou a especular sobre dois movimentos: um, capitaneado por Bernie Sanders e Yanis Varoufakis (ex-ministro da Economia da Grécia), lançando uma “Internacional Progressista”. Essa internacional seria lançada sem o velho “ranço” marxista e, no Brasil, conta com três nomes: Haddad e Celso Amorim do PT e Aurea Carolina, deputada do PSOL de MG.
Essa “Internacional Progressista” mostra claramente a sua face por seus integrantes e objetivos:
A Internacional Progressista tem o respaldo de um conselho formado por mais de 40 integrantes, entre os quais se destacam autores e ativistas como o norte-americano Noam Chomsky e a canadense Naomi Klein e políticos da ativa, como Yanis Varoufakis, deputado e ex-ministro de Finanças da Grécia, Katrín Jakobsdóttir, primeira-ministra da Islândia, e Elizabeth Gómez Alcorta, ministra argentina de Mulheres, Gênero e Diversidade. A eles se somam líderes latino-americanos como o ex-mandatário equatoriano Rafael Correa e o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, candidato derrotado do PT à presidência em 2018. Outros signatários conhecidos são o ex-chanceler brasileiro Celso Amorim, o ex-vice-presidente boliviano Álvaro García Linera, o ator mexicano Gael García Bernal, a escritora Arundhati Roy, o filósofo Srecko Horvat e a alemã Carola Rackete, capitã de embarcação e símbolo do resgate de migrantes no Mediterrâneo.
O projeto começa nesta segunda-feira com o lançamento de um site no qual qualquer pessoa ou organização poderá se cadastrar para ser membro da Internacional Progressista. A organização advoga um mundo democrático, igualitário, solidário, ambientalmente responsável, pacífico, pós-capitalista (de economia colaborativa), próspero e plural. (El Pais)
Sim, tudo o que se afaste do proletariado, dos trabalhadores, e que deixe de lado a vida miserável a que estão condenados bilhões neste mundo para uma utopia “pós capitalista” onde a luta de classes não venha interromper nossos sonhos e onde a revolução, essa velha toupeira, não estoure em vários lugares do mundo. Falta, é claro, combinar com as massas oprimidas, aquelas que tentam sacudir toda a podridão do mundo capitalista atual de seus ombros e que nenhuma pintura dourada vai mudar.
Ressalte-se que entre os seus principais integrantes está um ex-ministro da Grécia que, quando o Syriza ganhou as eleições, começou defendendo a ruptura dos acordos com a União Europeia e o não pagamento da dívida, mas, depois de um plebiscito que sancionou essa posição, traiu o povo e assinou o acordo de austeridade. Logo depois ele se demitiu do governo denunciando que não se podia resistir a tamanha pressão. Sim, grande figura de líder. O outro, Bernie Sanders, não contente de ser fraudado dentro do Partido Democrata quando tentou pela primeira vez disputar a presidência, insistiu em continuar nesse partido burguês e foi novamente fraudado na eleição interna deste ano. Nada de tomar uma iniciativa independente. Se os trabalhadores dependerem de líderes como esses, estão roubados.
E no Brasil…
Flávio Dino, governador do Maranhão, lançou um balão de ensaio pelos jornais sobre uma possível fusão entre o Partido Socialista Brasileiro (PSB) e o Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Lembramos, antes de tudo, que o PCdoB já especulou sobre tirar o nome “comunista” de sua sigla ou usar um nome “fantasia”, porque o termo “comunista” pode “atrapalhar” a legenda. É importante ressaltar que, apesar do nome, o termo já não condiz com a realidade do programa, que passou a admitir a propriedade privada dos meios de produção em sua 8ª Conferência Nacional.
Apesar de algumas figuras históricas do PCdoB se dizerem incomodadas com essa discussão, como Jandira Fengali, do Rio de Janeiro, é evidente que o partido, ao se institucionalizar e entranhar-se em toda a estrutura estatal, ao aceitar a propriedade privada dos meios de produção, já está preparado para a nova “mudança” que preconiza Flávio Dino: a construção de um “MDB de esquerda”. Ele tem conversado com outros políticos, como Marcelo Freixo (PSOL) e Haddad (PT). Tanto a direção do PSB como a direção nacional do PCdoB negam tal cenário, mas o fato é que para a eleição de 2020 a perspectiva de uma “sigla” nova com um carimbo “à esquerda”, mas que na realidade é uma nova sigla capitalista (como o “Partido Democrático” na Itália, que fundiu os restos da Democracia Cristã com o antigo Partido Comunista), é algo que eles desejam.
Toda essa movimentação, que é noticiada à vontade pela imprensa burguesa, é parte da tentativa da burguesia de construir algo “novo”, que não leve a um choque brutal com a classe operária, como estão fazendo Trump e Bolsonaro. Conseguirão? O problema é que a burguesia se encontra dividida entre suas necessidades: maximizar a taxa de lucro e retroagir a classe trabalhadora aos operários do século XIX (flexibilização nas normas de trabalho, novas “previdências”, “uberização” e outros nomes para retirada de direitos). Além disso, a resistência da classe a tem levado a revoluções pelo mundo inteiro.
A tarefa dos verdadeiros comunistas, dos marxistas, é construir um novo partido e uma nova internacional. É o que estamos fazendo com o trabalho da Esquerda Marxista e da Corrente Marxista Internacional.