O dia 9 de Julho é feriado no Estado de São Paulo, mas nem sempre foi assim. A transformação da data de início da chamada “Revolução Constitucionalista” de 1932 em feriado estadual ocorreu em 1997, por decisão do então governador Mario Covas, do PSDB, em seu primeiro mandato.
A decisão do falecido ex-governador de homenagear um acontecimento histórico tão pífio é bastante reveladora da mediocridade de uma burguesia dominada. A elite paulistana, assim como qualquer outra, sofre de uma irresistível mania de grandeza, e se a elite brasileira como um todo não possuí qualquer conquista ou realização digna de nota, que dirá uma fração dela…
A chamada “revolução” de 1932 nada mais foi do que uma tentativa da elite paulista de recuperar o controle sobre o governo federal, perdido para uma aliança de diversas outras elites regionais na “revolução” de 1930. Inicialmente, São Paulo contava com o apoio dos poderosos de Minas Gerais, com quem compunha a “República do Café com Leite”, alcunha informal do período republicano anterior à 1930. A tão propalada “luta” não passou de algumas poucas escaramuças, quase todas vencidas facilmente pelas tropas federais, que esmagaram os “rebeldes” em menos de três meses.
Nas redes sociais e nas ruas, foram muitas as piadas sobre a “luta” que originou o feriado. E isso é muito bom e saudável! Os embates entre elites regionais não nos interessam. Queremos ver todas elas na mesma cova!
Contudo, o dia 9 de Julho merece ser lembrado como um dia histórico de luta da classe operária brasileira. Foi nesse dia que, no ano de 1917, os operários da fábrica de tecidos Mariângela, de propriedade da família Matarazzo, enfrentaram corajosamente uma tropa de cavalaria enviada para debelar o piquete que faziam no portão principal da tecelagem. No ataque, foi morto José Martinez, ativista anarquista espanhol.
Em resposta à morte de Martinez, os operários das indústrias Crespi, que já se preparavam antes para entrar em greve, o fizeram com ainda mais determinação. Três dias depois, mais de setenta mil trabalhadores da cidade de São Paulo estavam de braços cruzados. Começava assim a maravilhosa greve geral de 1917, que se estenderia a outras cidades brasileiras e só não ganharia mais repercussão internacional por conta da eclosão da Revolução de Outubro na Rússia.
A greve geral de 1917 significou a entrada definitiva do proletariado urbano no palco da luta de classes no Brasil. O legado dessa importante parte da história do movimento dos trabalhadores deve ser conhecido e lembrado como a verdadeira razão de se fazer uma homenagem no dia 9 de julho.