A Revolução Russa foi um processo único, permanente, de uma revolução que, abolindo a autocracia russa, não se deteve em criar uma república parlamentar burguesa e foi muito além, ultrapassando as classes dominantes russas, associadas aos grandes capitais europeus – e cada vez mais incapazes de governar – estabelecendo um Estado dos Trabalhadores nos mesmos moldes que os comunards tentaram fazer na Comuna de Paris de 1871.
Apresentação
Este artigo foi escrito em maio de 2012 com o objetivo de fazer uma reportagem sobre a Revolução de Fevereiro de 1917 na Rússia. Mas como a Revolução de Fevereiro teve seu desfecho em outubro, com a constituição de uma República Socialista dos Conselhos, achei necessário reescrever. A Revolução Russa foi, na realidade, um processo único, permanente, de uma revolução que, abolindo a autocracia russa, não se deteve em criar uma república parlamentar burguesa e foi muito além, ultrapassando as classes dominantes russas, associadas aos grandes capitais europeus – e cada vez mais incapazes de governar – estabelecendo um Estado dos Trabalhadores nos mesmos moldes que os comunards tentaram fazer na Comuna de Paris de 1871.
Posso dizer que agora este texto está completo.
Andreas Maia, 23 de outubro de 2015.
A revolução permanente na Rússia
A Revolução de Fevereiro foi eclipsada pela Revolução de Outubro. Não podia ser diferente. A combalida “república democrático-burguesa” dos mencheviques, dos socialistas revolucionários e dos burgueses liberais nasceu morta. Não resolveu os problemas da Rússia, não acabou com a guerra, não deu pão aos operários e nem terra aos camponeses. Foi engolida por um duplo poder emergente resultante de “uma intervenção direta das massas no processo histórico”, segundo as palavras de um dos principais dirigentes do processo revolucionário e presidente do Soviet de Petrogrado, Leon Trotsky. A Revolução de Fevereiro preparou a Revolução Socialista de Outubro.
Muitos historiadores e alguns “teóricos” ditos marxistas gostam de lembrar a Revolução de Fevereiro com uma verdadeira revolução, democrática e plural, enquanto o regime saído do levante de outubro como um “golpe de Estado” promovido por um partido de índole totalitária, o Partido Bolchevique. Por outro lado, a historiografia stalinista, durante décadas, fez disseminar a ideia de que a Revolução de Fevereiro foi uma etapa “democrático-burguesa” da revolução e que outubro foi a etapa “socialista”. Com esses argumentos, os dirigentes da ex-União Soviética e os Partidos Comunistas do mundo inteiro tentaram legitimar a política reformista de colaboração de classes e as coalizões governamentais com os partidos burgueses, como nas Frentes Populares nos anos 30 do século passado. No caso brasileiro, isso se aplicou no apoio, por parte do PCB, a Getulio Vargas e depois ao governo João Goulart, deposto pelo golpe militar em 1964.
A Revolução de Fevereiro não foi uma coisa nem outra. Vejamos por que.
A Rússia pré-revolucionária
Lênin costumava dizer que a Rússia era o “elo mais fraco” do capitalismo europeu. Chegou a essa conclusão estudando a formação social russa e o desenvolvimento do capitalismo no império dos Czares. Previu que a expansão do moderno capitalismo na oligárquica e atrasada Rússia era uma bomba relógio de efeito retardado. O desenvolvimento das forças produtivas provocadas pela crescente economia burguesa estava contido dentro da concha absolutista da monarquia secular. Por mais que o czar Nicolau II tentasse modernizar a sociedade russa, abrindo as portas do império ao capital estrangeiro, a fragilidade e o subdesenvolvimento da burguesia, o denso resíduo do feudalismo, a rigidez autocrática, o sistema arcaico de governo e a forte dependência da Rússia às potências ociedentais, fariam explodir, mais cedo ou mais tarde, a incipiente sociedade burguesa russa.
O moderno capitalismo europeu, penetrando no império russo com suas gigantescas indústrias siderúrgicas, químicas e petrolíferas, estradas de ferro e portos, trazia em suas entranhas os elementos de sua destruição: a moderna luta de classe do proletariado. Nas grandes cidades do império russo, Petrogrado (São Petersburgo), Moscou, Kiev, Odessa, aglomeravam-se cerca de 3 milhões de operários, vivendo em condições insalubres e trabalhando de 12 a 14 horas por dia nas fábricas de propriedade de capitalistas europeus, franceses, ingleses e alemães.
Leon Trotsky chegara também às mesmas conclusões de Lênin sobre o futuro que estava reservado ao capitalismo na Rússia. No reinado de Nicolau II – o último da dinastia dos Romanovs – o império era meio reinado meio colônia. Acionistas ocidentais detinham 90% das minas russas, 50% de sua indústria química, mais de 40% das indústrias metalúrgicas e 42% das ações dos bancos. O capital doméstico era escasso, a renda nacional era ínfima e o mercado interno era inexistente em função das necessidades modernas. Mais da metade provinha da agricultura que era essencialmente retrógrada com milhões de camponeses vivendo no limite da servidão. A Rússia rural pouco contribuía para a acumulação de capital. Dentro dos limites, o Estado forneceu, com o dinheiro dos impostos, os nervos da industrialização. O capital estrangeiro relutava em investir, por causa do atraso e por receio da agitação social que vinha desde a segunda metade do século XIX, com o movimento dos narodniks e dos populistas russos.
Nestas condições, Trotsky formulou o conceito de “lei do desenvolvimento desigual e combinado” do capitalismo na Rússia. A moderna indústria ocidental estava lado a lado com o atraso da secular aldeia dos mujiques na vastidão da estepe russa. A Rússia só poderia iniciar sua arrancada industrial amparada nos recursos de sua agricultura e graças aos esforços extraordinários de seus próprios trabalhadores. Nenhum desses requisitos poderia ser preenchido sob o regime monárquico ou pela débil burguesia nacional através de uma república parlamentar de tipo ocidental. O desenvolvimento desigual e combinado do capitalismo na Rússia dava à situação política, no início do século XX, um caráter de revolução e à revolução um caráter de permanência.
Em sua obra sobre a revolução de 1905, Trotsky afirmava:
“Num país economicamente atrasado, o proletariado pode chegar ao poder antes que num país capitalista adiantado (…). A Revolução Russa cria (…) condições as quais o poder pode passar (com a vitória da revolução deve passar) ao proletariado antes que a política do liberalismo burguês tenha possibilidade de soltar seu gênio estadista (…). O destino dos interesses revolucionários mais elementares dos camponeses (…) está fortemente ligado ao destido de toda a revolução, ao destino do proletariado. Uma vez chegado ao poder, o proletariado aparecerá aos camponeses como libertador de sua classe. O proletariado entra no governo como representante revolucionário da nação, como condutor reconhecido do povo na luta contra o absolutismo e a barbárie da servidão (…). O regime proletário deverá desde o princípio pronunciar-se sobre a questão agrária, que está ligada à sorte do avanço popular na Rússia” (1905, Balanço e Perspectivas).
As guerras do inicio do século XX colocaram em evidência todas as contradições da formação social russa e fizeram aflorar o germe da revolução.
A força motriz da Revolução Russa: o proletariado
O fracasso da campanha militar do czar no extremo oriente, na guerra com o Japão pela disputa de territórios da Manchúria e da Coréia, em 1905, desencadeou uma tempestade revolucionária, um verdadeiro tremor de terra na Rússia. Eclodiram revoltas militares contra a autocracia, como no famoso caso do Encouraçado Potenkin no Mar Negro. A revolta se espalhou pelos camponeses. Nas cidades, as greves de massas se generalizam. Em São Petersburgo (Petrogrado), uma manifestação pacífica liderada por um padre monarquista, reunindo milhares de pessoas com o objetivo de entregar no Palácio do Inverno uma lista de reivindicações, é recebida a tiros pelas tropas do governo. Foi o famoso Domingo Sangrento. Os operários e trabalhadores em greve organizaram conselhos operários (soviet) que passam a dirigir o movimento de massas. O revolucionário marxista Leon Trotsky foi eleito presidente do soviet de São Petersburgo. Mas a repressão do governo fez refluir o movimento, prendendo os líderes do Soviet.
A revolução de 1905 foi o ensaio geral da revolução de 1917. Colocou em evidência a força de um proletariado jovem que passara a confiar em suas próprias forças.
A lei do desenvolvimento desigual e combinado fez com que, na vastidão de um gigantesco país atrasado, a classe operária, agrupada nas modernas concentrações industriais em São Petersburgo e em Moscou, encontrasse nas formas mais avançadas de luta do proletariado europeu a consciência e os métodos necessários para a defesa de seus direitos. Desde os primórdios da industrialização na Rússia e inspirada no modelo dos partidos socialistas da Europa Ocidental, onde os marxistas russos viviam exilados, a classe operária se organizou como classe “para si”. Na virada do século XX, a organização dos círculos de operários sociais-democratas se espalhou pelas regiões industriais. Esse movimento, claramente inspirado no marxismo e nas concepções socialistas, inaugurou uma nova fase do processo revolucionário, ultrapassando o predomínio do antigo populismo russo dos narodniks e dos camponeses, dos quais o Partido Socialista Revolucionário foi o continuador e também a força limitadora. O papel do marxismo e da classe operária na Rússia desloca para um segundo plano a influência exercida pelos anarquistas na classe operária, pelos adeptos das teorias de Bakunin e Kropotikine, que tiravam sua força do meio rural predominante. O marxismo atuou na Rússia como “expressão consciente de um processo social inconsciente”, conforme palavras de Trotsky. No seu texto “Nossas Tarefas Políticas”, escrito em 1904, destaca que:
“O marxismo ensina que os interesses do proletariado são definidos pelas condições objetivas de sua existência. Se esses interesses são poderosos e inevitáveis eles vão conduzir finalmente o proletariado a transferí-los para o domínio de sua própria consciência, quer dizer, a transformar o sucesso de seus interesses objetivos em seus interesses subjetivos”.
Em 1898, foi fundado em Minsk o Partido Operário Social Democrata Russo (POSDR) baseado nas teorias de Marx e Engels. No final do primeiro congresso, em março de 1898, todos os nove delegados foram presos pela polícia czarista. O POSDR foi criado para fazer oposição aos narodniks, que com seu populismo revolucionário privilegiava o campesinato. O programa do POSDR era baseado no marxismo e defendia que, apesar da natureza agrária da sociedade russa, a verdeira força motriz e o potencial da revolução passavam pela luta de classes do proletariado.
Em 1902, os líderes do partido – Lênin, Martov, Plekhanov, Potressov e Axelrod – dividiram-se. O jovem intelectual marxista Vladmir Ilitch Ulianov, conhecido pelo pseudonimo de Lênin, defendeu no seu texto “Que Fazer?” a luta contra o economicismo e os métodos diletantes do trabalho do partido na Rússia. Lênin propoz um periódico, um organizador coletivo, para o partido. Também sugeriu um partido centralizado democráticamente, orgânico, onde seus membros não só concordassem com o programa, mas contribuíssem ativamente. A opinião tradicional, expressa por Martov, defendia que os membros do partido eram os todos que concordassem com seu programa e rejeitava as ideias de Lênin. A acirrada polêmica envolveu todos os socialistas russos e muitos membros dos partidos socialistas europeus. No segundo congresso, em 1903, realizado na Bélgica, os adeptos de Lênin ficaram em maioria, tornando-se também maior número no corpo editorial do jornal Iskra. A partir daí essa divisão foi ireconciliável e ficou caracterizada pelas duas frações que se formam no partido: a da maioria (bolchevique) e a da minoria (menchevique). Na verdade, os mencheviques tinham maioria no partido e foram durante muito tempo a fração mais numerosa, embora sem muita consistência organizativa. Já a fração bolchevique, passou a se organizar como um partido de combate da classe operária, construindo-se no coração das regiões industriais da Rússia. Esse tipo de organização fez a diferença anos mais tarde, quando os bolcheviques passaram a ser, eles próprios, um dos fatores da situação objetiva que transformou a Rússia em 1917.
Leon Trotsky, na realidade, tentou aproximar as duas frações, buscando uma unidade do partido. Formalmente, ficou com os mencheviques, mas, de fato, distanciava-se das duas alas. Sua teoria da “revolução permanente”, baseada nos escritos de Marx sobre a revolução na Europa, assim como seu internacionalismo decorrente dessa teoria, não eram bem vistos pelos líderes mencheviques. Os bolcheviques também não viam com bons olhos uma teoria que colocava na ordem do dia a ditadura do proletariado na Rússia. Embora concordassem que a burguesia russa não tinha nenhum papel revolucionário, e que, portanto, estava descartada qualquer aliança com ela, ainda acreditavam que os camponeses iriam compor um futuro governo revolucionário, em igualdade de condições com a classe operária. Mais tarde, Lênin viu que o campesinato não tinha qualquer independência política e, da mesma forma que Trotsky, concluí que – pelo papel reacionário desempenhado pelo Partido Socialista Revolucionário, que dizia representar os camponeses – ou os camponses seguiriam a direção do proletariado ou seriam domesticados pelo poderío da burguesia.
Assim, o movimento operário organizado na Rússia dividiu-se em duas frações, que embora nominalmente fizessem parte do POSDR, na prática eram dois partidos distintos.
A polêmica evoluiu para a natureza do processo revolucionário que estava começando a eclodir na Rússia e do qual a revolta de 1905 foi o primeiro ato. Os mencheviques – Martov, Axelrod, Martynov, Vera Zassoulitch, entre outros – estavam aferrados à concepção clássica da social democracia, que o velho Plekhanov (o introdutor do marxismo na Rússia) sempre defendera, a de que a Rússia não estava madura para a Revolução Socialista. Eles não só defendiam a concepção de um partido operário amplo, sem a organizicidade de Lênin, mas também achavam que a Rússia necessitava de uma república democrático-burguesa, nos moldes ocidentais, onde as forças produtivas pudessem se desenolver plenamente até atingir os moldes das modernas sociedades industriais. Conferiam à classe operária o papel de ala esquerda de um amplo processo democrático que retiraria a Rússia do atraso secular. Por isso, davam importância a uma aliança com a burguesia liberal. Os bolcheviques, com Lênin à frente, rejeitavam essas concepções. Insistiam no papel organizador do partido operário na medida em que cabia à classe operária a liderança do processo revolucionário e que, para isso, precisariam combater a burguesia liberal e retirar sua influência sobre as grandes massas, especialmente os camponeses. Não admitiam nenhum governo com a burguesia e proclamavam a necessidade de um governo baseado na “ditadura democrática dos operários e camponeses”, uma fórmula de transição concebida por Lênin, levando em conta que o componente “democrático” seria dado pelo peso dos camponeses nesse governo em igualdade de condições com o proletariado industrial. Assim, essa forma de aliança operário-camponesa teria o objetivo de preparar o terreno para a ditadura do proletariado quando chegasse a hora do regime czarista. Mas a posição de Trotsky embaralhava as cartas novamente. Mesmo sendo uma posição minoritária, a defesa que o ex-presidente do soviet de São Petersburgo fazia da “revolução permanente” causava impacto pela sua ousadia. Mais tarde ela iria se revelar correta. Em uma forma resumida, Trotsky dizia o seguinte:
“Em relação às tarefas imediatas, a Revolução Russa é uma revolução burguesa. Sem embargo, a burguesia russa é anti-revolucionária. Por conseguinte, a vitória da revolução só é possível como vitória do proletariado. O proletariado vitorioso não se deterá no programa da democracia burguesa e passará imediatamente ao programa do socialismo. A Revolução Russa será a primeira etapa da Revolução Socialista mundial” (1905, Balanço e Perspectivas).
Assim, a fórmula de Trotsky preconizava uma “ditadura do proletariado” apoiada pelos camponeses. A experiência da Revolução de 1905, na qual ele fora um dos líderes mais importantes, tinha provado a correção de suas teses. Mas esse debate programático marcou as lutas fracionais do POSDR dentro do proletariado russo, que, acossado pela repressão da política do czar, nos próximos anos cavou sua obra subterrânea, como uma topeira, até chegar o momento em que chegou à superfície como uma erupção. A Primeira Guerra Mundial, em 1914, mudou a situação política do mundo e da própria Rússia.
Começa a Revolução de Fevereiro de 1917
A eclosão da Primeira Guerra Mundial, em 1º de agosto de 1914, e as suas trágicas consequências para o proletariado europeu, com milhões de mortos nas frentes de batalha, eclodiu uma situação revolucionária por toda a Europa. A social democracia europeia, há muito adaptada aos parlamentos burgueses, passou apoiar seus respectivos países beligerantes. Em setembro de 1915 e em maio de 1916, os socialistas contrarios à guerra reuniram-se nos congressos de Zimmerwald (Suíça) e Kienthal. Foi a crise da II Internacional. Os partidos sociais-democratas enfrentam crises internas e rupturas eclodiram por todos os lados. A “esquerda de Zimmerwald” – os bolcheviques Lênin e Zinoviev, o independente Trotsky, os poloneses Karl Radek e Rosa Luxemburgo, o sindicalista francês Pierre Monatte, entre outros – formava o bloco internacionalista no congresso e clamava por uma ação do proletariado contra a guerra. Apesar das divergências dentro desse bloco, onde, por exemplo, Trotsky defendeu a palavra de ordem de “Estados Unidos Socialistas da Europa” com as reticências de Lênin, todos têm em comum que a falência da II Internacional coloca na ordem do dia a formação de uma nova internacional.
O Congresso de Zimmerwald deu um novo alento à agitação dentro do proletariado russo contra a guerra e ela cresceu em toda a Rússia. O czar foi advertido pela Duma, o parlamento russo tolerado pela monarquia, que um desastre se abateria sobre a Rússia caso não fosse instituido um governo constitucional. O czar Nicolau II ignorou o aviso. Os deputados bolcheviques da Duma foram presos em 1915 e deportados para a Sibéria.
A situação da Rússia piorou drasticamente em 1915, quando a Alemanha passou à ofensiva no front ou à iniciativa contra as forças russas. As forças alemãs, muito melhor armadas com metralhadoras e artilharia pesada, foram terrivelmente eficazes contra as forças mal-equipadas da Rússia. Ao final de 1916, a Rússia havia perdido entre 1,6 e 1,8 milhões de soldados em batalha, com um adicional de 2 milhões de soldados feitos prisioneiros e 1 milhão de desaparecidos. Isso teve um efeito devastador sobre o moral do exército. Motins começaram a ocorrer, e em 1916 surgiram informações sobre confraternizações com o inimigo. Os soldados estavam famintos e careciam de sapatos, munições e até mesmo de armas.
Na primeira metade de fevereiro de 1917, a escassez de alimentos gerou disturbios na capital Petrogrado (São Petersburgo). A usina Putlov, a principal fábrica de Petrogrado, anunciou uma greve em 18 de fevereiro. Operários foram demitidos. A agitação cresceu em todas as empresas da cidade. No dia 23 de fevereiro (8 de março), Dia Internacional da Mulher, as trabalhadoras têxteis saíram às ruas em passeata, conclamando aos operários de todas as fábricas a aderirem. “Abaixo a fome! Pão para os trabalhadores!”, gritavam as grevistas. Os bondes foram virados e houve saques no comércio. A greve se extendeu por toda Petrogrado. Um fato novo: a polícia não reprimiu e os cossacos, símbolos do terror czarista, retiram-se das ruas.
Nos dias que se seguiram, a agitação aumentou e a greve foi generalizada. Cada vez mais as tropas enviadas pelo governo czarista recusaram-se a atacar os manifestantes. Os operários lincharam oficiais e policiais que ordenavam a seus soldados atirar na multidão. O Czar Nicolau II e a sua família continuavam ignorando todos os telegramas informando que a situação política se deteriorava.
Em 31 de fevereiro, à uma hora da tarde, uma maré humana composta de operários, trabalhadores e soldados, portando bandeiras e faixas vermelhas, invadiu o Palácio Tauride, um luxuoso palácio czarista, onde a Duma reunia-se. O advogado socialista-revolucionário Kerensky, deputado da Duma, recebeu os manifestantes. Em dois salões diferentes do palácio, durante a tarde, formaram-se dois comitês provisórios. Um era formado pelos deputados moderados da Duma e tornaria-se o Governo Provisório. No outro salão, constituía-se o Soviet de Petrogrado, o mesmo que se havia formado na Revolução de 1905. O soviet elegeu um comitê executivo permanente formado pelos representantes dos partidos socialistas, ou seja, os socialistas revolucionários, os mencheviques e os bolcheviques, além de outras organizações menores. O POSDR já tinha se dividido em dois partidos irreconciliáveis, os mencheviques e os bolcheviques. Os socialistas revolucionários eram a maioria e junto com os mencheviques formam um bloco dos socialistas moderados. Na esquerda, estava o Partido Bolchevique, minoria na executiva do Soviet. Eles tinham, nessa época, apenas dois membros em um total de 14. No entanto, mesmo os socialistas moderados estavam divididos em diversas frações, uma de direita, que era majoritária, uma centrista e uma de esquerda. Isso significou dentro do soviet um quadro de disputa política intensa. O soviet de Petrogrado decidiu publicar seu próprio jornal diário, Izvestia.
Nesse mesmo dia, o czar Nicolau II recebeu um telegrama informando que apenas uma pequena parte de suas tropas permanecia leal à monarquia. O estado de sítio foi proclamado, mas sem sentido algum, pois não havia tropas dispostas a colocá-lo em prática. Temendo uma reação do czar, operários e soldados acamparam no Palácio Tauride. No Palácio de Inverno, o Grão Duque Mikhail ordenou que as tropas leais ao czar fossem retiradas para evitar um choque delas com a população, como ocorreu em 1905, no massacre do Domingo Sangrento.
Porém, desde o dia 28 de fevereiro, terça-feira, a cidade de Petrogrado estava nas mãos dos operários e soldados. O czar Nicolau II estava embarcado em um trem em direção do Palácio Alexandre, a 25 quilômetros da capital, quando recebeu a notícia de que todas as estações em direção a Petrogrado estavam ocupadas pelos rebeldes. O trem parou na estação de Pskov, onde, em 2 de março, o czar Nicolau II assinou sua abdicação. Os ministros do czar foram presos e o próprio czar foi encarcerado dias depois, em Moghiliev.
O saldo de mortes das poucas horas de combate, segundo a contagem oficial, foi de 1.224. Os tiros ainda eram disparados nas cercanias da capital quando toda a Rússia ficou sabendo que agora havia uma república e dois governos paralelos. De um lado, o governo provisório, dominado pela burguesia liberal e pela classe média, com o apoio de alguns socialistas – todos favoráveis à continuação da Rússia na guerra. De outro, o soviet de deputados operários e soldados, que queria acabar com a guerra, instituir a jornada de oito horas, dar terras aos camponeses, democratizar o exército e separar a Igreja do Estado.
Em menos de três meses, esse duplo poder chegou a um impasse. No contexto de uma revolução de baixo para cima, é impossível um regime de moderação, como desejavam os socialistas-revolucionários e os mencheviques. Em pouco tempo o governo provisório foi vítima dos mesmos problemas sociais e militares que haviam derrubado a autocracia e o antigo regime. O confronto desigual entre a moderação oficial e o radicalismo popular transformaram os socialistas moderados partidários do governo em defensores da lei e da ordem, isolando-os de sua turbulenta base de apoio.
Mas o elemento que estava faltando para apontar uma saída política na situação revolucionária aberta com o levante popular de fevereiro estava germinando nas entranhas da classe operária russa. Era a fração bolchevique do antigo POSDR, um partido operário, minoritário no soviet, mas implantado nos centros industriais e nas grandes fábricas. Foi ele um dos fatores decisivos da situação objetiva, por sua própria existência e pela correlação de forças que modificou.
O duplo poder: o soviet de deputados operários e soldados
A classe operária russa foi uma das maravilhas da história. O historiador Isaac Deutscher descreve com exatidão o comportamento dela em fevereiro de 1917:
“A Revolução Socialista foi apoiada sinceramente pela classe trabalhadora urbana. Mas esta constituía uma pequena minoria da nação. Totalizava um sexto da população que vivia nas cidades, vinte milhões em números redondos; e destas, só metade poderia ser descrita como proletária. O núcleo da classe trabalhadora consistia, no máximo, em cerca de três milhões de homens e mulheres empregados nas indústrias modernas. Os marxistas calcularam que os trabalhadores industriais seriam a força mais dinâmica da sociedade capitalista, os principais agentes da Revolução Socialista. Os trabalhadores russos justificaram de sobra essa esperança. Nenhuma classe da sociedade russa e nenhuma classe trabalhadora, em qualquer parte do mundo, atuou com a energia, a inteligência política, a capacidade de organização e o heroísmo com que os operários russos agiram em 1917 e, depois, durante a guerra civil. A circunstância da indústria russa moderna consistir num pequeno número de fábricas gigantescas, concentradas principalmente em Petrogrado e Moscou, deu aos trabalhadores concentrados nas duas capitais um extraordinário poder de ataque nos próprios centros nevrálgicos do antigo regime. Duas décadas de intensiva propaganda marxista, a recordação ainda fresca das lutas de 1905, 1912 e 1914, a tradição de um século de esforços revolucionários e a coerência singular de propósitos dos bolcheviques, prepararam os trabalhadores para o seu papel. Tomaram como ponto assente a finalidade socialista da Revolução. Não se contentavam com algo que não acarretasse, no mínimo, a abolição da exploração capitalista, a socialização da indústria e dos bancos, o controle operário da produção e o governo dos soviets. Voltaram as costas aos mencheviques, a quem seguiam no princípio, porque os mencheviques lhes diziam que a Rússia ainda não estava ‘madura para uma Revolução Socialista’. A ação operária, tal como a camponesa, tinha a sua própria força espontânea: o controle da produção foi estabelecido, no nível da fábrica, muito antes das insurreição de outubro” (Rússia 1917-1967, A Revolução Inacabada).
Durante o período aberto, após 28 de fevereiro, a classe operária russa manteve uma intensa capacidade de iniciativa política. O soviet de Petrogrado foi formado espontaneamente pelos operários, soldados e marinheiros. Em Moscou, assim como em toda a Rússia, são formados soviets. Os operários se identificaram, em um primeiro momento, com as organizações que consideraram representativas de sua classe. Nesse caso, delegaram poderes ao Partido Socialista-revolucionário e aos mencheviques. A maior delegação no soviet era dos socialistas-revolucionários, que contavam com mais de 400 delegados sob a disciplina partidária e cerca de 600 simpatizantes, controlando assim as deliberações do soviet. Em geral, existia uma aliança entre os socialistas-revolucionários e os mencheviques, o que garantia uma larga margem de votos no soviet a favor do socialismo moderado. Apesar de alguns desacordos pontuais entre esses dois partidos, eles formaram um bloco de apoio ao governo provisório em formação. A delegação socialista-revolucionária, defensora de um socialismo populista, era mais notável pelo seu tamanho e extensão do que pela sua capacidade de direção, via de regra medíocre. As principais figuras desse partido participaram no soviet de maneira secundária. O controle efetivo ficou nas mãos dos dirigentes mencheviques, tais como Fiodor Dan, Irakli Tsereteli e Nicolai Chkheidze, o primeiro presidente do soviet. No entanto, os partidos moderados do socialismo sofreram rupturas pela esquerda: o grupo menchevique internacionalista, liderado por Martov, antigo dirigente do POSDR, formava um partido a parte; a ala esquerda dos socialistas-revolucionários também separou-se do partido. Os colaboradores do grupo independente de Trotsky (que tal como Lênin, o líder dos bolcheviques, ainda estava no exílio) agruparam-se em grande número no exterior, por meio dos periódicos Pravda, em Viena, e Nashe Slovo, em Paris. Eles formavam a organização “inter-burgos”, os Mezhrayontzi, que contava com cerca de 4 mil militantes e se aproximava dos bolcheviques.
Em 1º de março, o soviet publicou a “Ordem nº 1”, de importância crucial para o destino da revolução. Ela estipulava que a autoridade sobre as tropas revolucionárias era do soviet e não do governo provisório, que as tropas possuíam liberdades políticas e que não poderiam ser transferidas para o front, na guerra contra a Alemanha. O soviet passou, assim, a ter o controle da força armada da república. Em 14 de março, o soviet de Petrogrado fez uma declaração “ao povo do mundo inteiro” pela paz sem anexações ou indenizações. Em 20 de março, realizou-se a conferência de todos os soviets russos, onde os partidos socialistas moderados confirmam o apoio ao governo provisório, mas sem participar diretamente dele ainda, o que só foi acontecer mais tarde.
O primeiro governo provisório formou-se após a derrubada do czar, comandado pelo Príncipe Georgy Lvov, um latifundiário. Teve como Ministro do Exterior Miliukov, membro do Partido Democrata Constitucionalista, partido da burguesia liberal (cadetes), e o socialista-revolucionário Alexander Kerensky como Ministro da Guerra. Era um governo de caráter liberal burguês, comprometido com a manutenção da propriedade privada e interessado em manter a Rússia na guerra imperialista. Paralelamente, o soviet de Petrogrado ordenava ao exército que lhe obedecesse; queria dar terra aos camponeses e retirar a Rússia da guerra, objetivos muito mais populares entre os operários e soldados do que os pretendidos pelo governo provisório.
Com o fim do antigo regime, a desagregação do Estado russo acelerou, pois o duplo poder existente não resolvia a situação. A comida era escassa, a inflação bateu a casa dos 1000%, as tropas desertavam do front matando seus oficiais, propriedades na nobreza fundiária eram saqueadas e queimadas. Nas cidades, conselhos operários foram criados na maioria das empresas impondo o controle operário da produção. E a Rússia continuava na guerra.
O poder estava nas mãos do soviet. Os dirigentes socialistas-revolucionários e os mencheviques, que detinham a maioria, não queriam esse poder e desejavam entregá-lo ao governo provisório, que deveria convocar uma Assembleia Constituinte, mas que não dispunha de qualquer poder. Estava criado um impasse e, no caldeirão que fervia por toda a Rússia, ele não tinha como durar muito tempo.
O Partido Bolchevique
A fração bolchevique do POSDR já havia deixado para trás, desde a ruptura de agosto de 1912, qualquer ilusão de unificar o partido com a fração menchevique. Em 1917, a organização já havia mudado muito desde a Revolução de 1905, em que teve um comportamento sectário e ultimatista em relação à classe operária. Isso alimentou, na época, as desconfianças de marxistas como Trotsky e Rosa Luxemburgo. Lênin sempre teve razão nas polêmicas que dividiram os marxistas russos sobre a organização do POSDR em 1902/1903. Na Alemanha, tomando como o melhor exemplo, a esquerda marxista, Rosa Luxemburgo, Karl Liebnecht, Franz Mehring, tinha que se constituir como fração dentro de um gigantesco partido social-democrata com milhares de membros, extremamente centralizado, verticalizado e burocratizado. As questões da democracia interna tinham para a tendência que formaria a Liga Spartacus um peso relevante. Mas na Rússia, o marxismo não podia deitar raízes e realizar sua agitação e propaganda nos mesmos moldes de seus camaradas alemães. A autocracia czarista, as constantes purgas policiais, as prisões e exílio, impediam a formação de um partido operário socialista estável. O movimento operário vivia em estado de suspensão e agrupado em círculos dispersos por toda a Rússia. A proposta de Lênin, no seu famoso texto “Que Fazer?”, considerava a necessidade de uma organização centralizada, organizada em torno de um centro dirigente e de seus jornais e periódicos. Para ele, essa era a única possibilidade de fazer frente à autocracia, dar uma perspectiva de unidade e de evolução para a classe operária. Conforme explica o historiador Jean Jacques Marie:
“A rigidez centralista do ‘Que Fazer?’ está ligada às características próprias do proletariado russo, isto é, de um proletariado nascente, retirado de um campo quase medieval, inculto, esmagado por condições de existência que o aparentam com o proletariado inglês ou francês no auge do século XIX. Em 1902 a distância parece enorme entre os interesses objetivos do proletariado russo e a consciência subjetiva de suas tarefas históricas” (Introdução à edição francesa do “Que Fazer?”, 1966).
Lênin considerava a espontaneidade da luta da classe operária como embrionária do movimento organizado. Insistiu que a sua proposta de organização do partido visava estimular o movimento operário de massa e não o contrário. Mas o excesso de centralismo causou estragos durante a Revolução de 1905, alijando os bolcheviques do movimento de massa. No exílio, Lênin percebeu claramente os sinais anunciadores da crise revolucionária de 1905. Pressentindo a iminência de erupção das massas russas na cena política, tentou adaptar o sistema de organização da fração bolchevique do POSDR às novas condições que se anunciam. Na realização, esse projeto se chocou com a resistência dos “comitards” (comitês) bolcheviques, firmemente aferrados às fórmulas de 1902. Lênin diz: “O partido não existe para o comitê, mas, sim, o comitê do partido para o partido”.
No decorrer desse período, Lênin se esforçou em rearmar sua fração no sentido de uma maior confiança no movimento operário de massa, condição prévia para a abertura do partido em direção à conquista das massas.
Foi no III Congresso, realizado pela fração bolchevique do POSDR, em Londres, na data de 25 de abril de 1905, que Lênin consagrou sua energia em extirpar – com alguma impaciência – o espírito “comitard” da fração bolchevique. Nesse congresso, Lênin propôs a modificação dos estatutos, no sentido de uma abertura para o movimento espontâneo de massas e para a instauração da democracia interna. A autonomia relativa dos comitês locais foi assegurada, o comitê central perdeu o direito de modificar sua composição, foi amplamente instituído o princípio eletivo para os postos responsáveis, foi garantido o direito de se opor ao comitê central e de combatê-lo, as tendências minoritárias foram protegidas e puderam fazer públicas suas posições, o aparato clandestino do partido passou a ser obrigado a difundir seus textos caso solicitado pelos comitês do partido. Essas medidas criaram um sistema de organização que passou a se denominar “centralismo democrático”.
Assim, antes de 1917, o bolchevismo russo abrigou escolas intelectuais rivais e tendências políticas próprias. O centralismo democrático, por si, só era um paradoxo, uma contradição, em termos, mas se mostrou eficiente mais tarde. Isso porque ao lado da ação unitária da fração bolchevique, de cerrar fileiras em torno de uma posição majoritária aprovada após uma discussão, havia uma correspondente liberdade de crítica, uma variedade de tendências e frações. Isso contrariava o mito do “monolitismo” que anos mais tarde Stalin e o seu aparato burocrático impuseram a todo o Partido Bolchevique.
Foi no contexto de intensas disputas internas e externas com outras forças do movimento operário que o bolchevismo se constituiu a fração mais avançada da classe operária russa.
Em fevereiro de 1917, a revolução surgiu espontaneamente. O historiador Pierre Broué descreve a situação na qual os bolcheviques viram-se confrontados:
“A Revolução de Fevereiro de 1917, a chamada ‘insurreição anônima’, foi um levantamento espontâneo das massas, surpreendendo a todos os socialistas, inclusive os bolcheviques, cujo papel, como organização, foi nulo durante os acontecimentos, apesar de que seus militantes desempenham um importante trabalho individualmente nas fábricas e nas ruas como agitadores e organizadores. Em 26 de fevereiro, o birô russo, encabeçado por Shliapnikov, recomendava ainda aos operários atuar com prudência: sem dúvida, alguns dias depois se cria de fato uma situação de duplo poder. De um lado, encontra-se o governo provisório, integrado por parlamentares representantes da burguesia, cujo empenho é reparar os danos sofridos pelo aparato de estado czarista, enquanto se esforçam em construir um novo e enquadrar a revolução; frente a eles se acham os soviets, autênticos parlamentos de deputados operários que foram eleitos nas fábricas e nos bairros das cidades, depositários da vontade dos trabalhadores que os nomeiam e renovam seus cargos. Entre estes dois órgãos de poder se enfrentam duas concepções de democracia, a representativa e a direta, e por trás delas duas classes, a burguesia e o proletariado, que a queda do czarismo deixava frente a frente.
Sem dúvida, o choque ainda vai tardar em se produzir. Os mencheviques e os SR ostentam a maioria nos primeiros soviets e no primeiro congresso panrusso. De acordo com sua análise, não tentam lutar pelo poder. Em sua opinião, só um poder burguês pode ocupar o lugar do czarismo, convocar eleições para uma Assembleia Constituinte e negociar uma paz democrática sem anexações. A seu ver, os soviets foram o instrumento operário da revolução democráticoburguesa e, na república burguesa, devem seguir constituindo posições da classe operária. Sem dúvida, não pensam em absoluto na possibilidade de exigir um poder que a classe operária ainda não está capacitada para exercer e que, segundo eles, deverá exigir posteriormente para si, conforme a exigência de uma revolução espontânea que os socialistas devem se abster de ‘forçar’. Lênin resumirá agudamente tal atitude ao afirmar que equivale de fato a uma entrega voluntária do poder de Estado à burguesia e a seu governo provisório” (O Partido Bolchevique).
Uma virada na situação política
As primeiras tomadas de posição dos bolcheviques foram muito indecisas. O primeiro manifesto bolchevique, datado de 26 de fevereiro, redigido por Shliapnikov, Molotov e Zalustky, da mesma forma que as edições do Pravda, jornal oficial dos bolcheviques, seguiu a linha da conquista da “república democrática”. Denunciou o governo provisório constituído por capitalistas e latifundiários e exigiu uma Assembleia Constituinte, eleita por sufrágio universal, cuja missão seria assentar as bases de um governo revolucionário democrático, composto por todos os partidos socialistas.
No dia 13 de março, chegaram a Petrogrado diversos dirigentes bolcheviques que estavam detidos e que foram libertados pela anistia decretada pelo governo provisório, tais como Muranov, Stalin, Rikov e Kamanev. Stalin assumiu a redação do Pravda e mudou radicalmente a linha do jornal. Os bolcheviques adotaram a orientação menchevique de prosseguir na guerra para preservar as recentes conquistas democráticas. Kamanev, também adotando a política defensivista em relação à guerra, diz: “um povo livre responde às balas com balas”. No fim de março, uma conferência bolchevique adotou a linha defendida por Stalin e apoiada por Kamanev e Rikov, que consistia em dizer que a função dos soviets é apoiar o governo provisório enquanto ele satisfizer as reivindicações operárias. É a linha do “apoio crítico” ao governo provisório. Conforme o próprio Stalin disse: “é o momento de consolidar as conquistas democrático-burguesas”. O que só pode ser feito por um governo democrático-burguês, apoiado pelo proletariado e pelos camponeses.
Lênin chegou em 3 de abril, acompanhado de outros bolcheviques que estavam na Suíça. É a história do famoso “vagão blindado” resultante de um acordo com o Estado maior alemão no sentido de um salvo conduto pelo front, através das linhas alemãs. O objetivo de Lênin era chegar à Rússia e prometeu, em troca, a libertação de prisioneiros de guerra alemães. O governo provisório acusou Lênin de ser agente alemão. O discurso de chegada de Lênin na Estação da Finlândia para uma imensa plateia bolchevique que foi recepcioná-lo foi incisivo. Colocou na ordem do dia a tomada de poder pelos soviets e exigiu o rompimento do governo provisório com os capitalistas e latifundiários.
O choque com a política até então adotada pela direção bolchevique foi intensa. Acusam Lênin de fazer causa comum com as posições de Trotsky, que, todavia, ainda não tinha chegado do exílio. Lênin elabora as famosas “Teses de Abril”, que, adotando tacitamente a tese da revolução permanente, afirma:
“O traço mais característico da situação atual na Rússia consiste na transição da primeira etapa da revolução, que entregou o poder à burguesia, dada a insuficiência tanto da organização como da consciência proletária, até sua segunda etapa, que há de pôr o poder nas mãos do proletariado e dos setores mais pobres do campesinato”.
As teses de abril provocam uma virada política:
“Qualifica de ‘inepta’ e de ‘evidente irrisão’ as exigências da Pravda que pede a um governo capitalista que renuncie às anexações, quando é ‘impossível terminar a guerra com uma paz democrática verdadeiramente se antes não se vence o capitalismo’. O objetivo do Partido Bolchevique, minoritário no seio da classe operária e dos soviets, deve ser explicar às massas que ‘o soviet de deputados operários é a única forma possível de governo revolucionário’ e que o objetivo de sua luta é construir ‘não uma república parlamentar, mas uma república de soviets de operários e de camponeses pobres, de todo o país, da base até a cúpula’. Os bolcheviques não ganharão as massas, afirma, senão ‘pacientemente explicando, com perseverança, sistematicamente’ sua política: ‘Não queremos que as massas não acreditem em nós sem outra garantia que nossa palavra. Não somos charlatões, queremos que seja a experiência que consiga que as massas saiam de seu erro’. A missão dos bolcheviques é ‘estimular de forma real tanto a consciência das massas como sua iniciativa local, audaz e decidida, – estimular a realização espontânea, o desenvolvimento e consolidação das liberdades democráticas, do princípio de posse de todas as terras por todo o povo’. Desta iniciativa revolucionária surgirá a experiência que dará aos bolcheviques a maioria nos soviets: então terá chegado o momento em que os soviets poderão tomar o poder e aplicar as primeiras medidas recomendadas pelo programa bolchevique, nacionalização da terra e dos bancos, controle soviético da produção e da distribuição. A última das teses de Lênin se refere ao partido cujo nome e programa propõe mudar, ‘já é tempo de se livrar da camisa suja’, afirma ao sugerir mudar a etiqueta de ‘socialdemocrata’ pela de ‘comunista’, já que, segundo ele, no momento presente se trata de ‘criar um partido comunista proletário cujas bases já foram assentadas pelos melhores elementos do bolchevismo’ (Pierre Broué, O Partido Bolchevique)”.
Em 24 de abril, apesar das resistências de muitos dirigentes bolcheviques, as teses de Lênin foram aprovadas. Ele desenvolve então seus argumentos contra os “velhos bolcheviques”, afirmando que a “revolução burguesa se concluiu na Rússia e a burguesia conserva o poder em suas mãos”, mas a luta pela terra, o pão e a paz não poderá ser levada a cabo mais que com o acesso dos soviets ao poder, estes saberão “muito melhor, de forma mais prática e mais segura como se encaminhar até o socialismo”. A ditadura democrática do proletariado e do campesinato é uma antiga fórmula que os “velhos bolcheviques” “aprenderam ineptamente no lugar de analisar a originalidade da nova e apaixonante realidade”.
Assim, Lênin consagra todas as suas forças em convencer seus partidários que a ditadura do proletariado, como transição ao socialismo, está na ordem do dia sob a fórmula de “Todo poder aos soviets!”.
Em 4 de maio, Trotsky chega da América apoiando a política de Lênin. Logo se integra ao soviet de Petrogrado, sendo eleito presidente em pouco tempo. Começam as negociações entre o grupo de Trotsky e o Partido Bolchevique visando uma unificação. No VI Congresso do Partido Bolchevique, agora denominado Partido Comunista, ocorre a fusão com os Mezhrayontzi, o grupo de Trotsky, e com outros grupos de mencheviques internacionalistas. Trotsky é eleito para o Comitê Central e muitos dos seus camaradas assumem postos importantes na direção do partido.
O papel do partido revolucionário
O marxismo considera que toda revolução, todo período revolucionário, decorre das bases materiais da sociedade, resultante da contradição entre o desenvolvimento das forças produtivas da sociedade que estão travadas nos marcos estreitos da apropriação privada das relações sociais de produção e dos limites dos Estados Nacionais. Em outras palavras, trata-se de pôr abaixo o edifício construído pelo capitalismo – e que ameaça desmoronar toda sociedade junto com ele, com suas guerras e crises catastróficas – e abolir a ordem existente, o Estado capitalista e toda superestrutura jurídico-política da sociedade burguesa.
Mas em condições socialmente determinadas, o período revolucionário revela-se com a intervenção direta das massas nos acontecimentos. Os de cima não conseguem mais governar e os de baixo não aceitam viver como antes. Se o proletariado e as grandes massas populares querem viver o capitalismo, têm que morrer. Essa situação cria as condições favoráveis para a intervenção do partido revolucionário, que, pela sua própria existência, passa a ser um componente objetivo da situação política. O Partido Bolchevique – fração de esquerda do antigo Partido Operário Social-Democrata Russo (POSDR) – ocupou esse espaço exigido pela necessidade da história.
Os bolcheviques foram os únicos a perceber os rumos da revolução aberta em fevereiro. O partido teve uma espantosa ascensão e, por volta de setembro, já dispunha de mais força que os socialistas revolucionários e os mencheviques nos principais soviets de Petrogrado e Moscou. O partido, que em fevereiro contava com 24 mil membros e tinha pouca influência, tornou-se uma organização de massas com 200 mil filiados e, em outubro, governava a Rússia. Foi favorecido pela indecisão e pelas limitações dos seus adversários, pela determinação de Lênin e pela liderança pública de Trotsky junto aos soviets. Eles foram capazes de levar o partido a uma atitude militante e foram os únicos a cumprir a promessa de “Pão, Paz e Terra”.
Depois das jornadas de julho, em que quase houve uma insurreição contra o Governo Provisório onde os bolcheviques foram colocados “fora da lei” pelo governo Kerensky, em setembro a situação econômica da Rússia se deteriora por conta da guerra. Lênin e os bolcheviques apresentaram um “programa de emergência” publicado na brochura “A catástrofe que nos ameaça e como combatê-la”, onde defendem a nacionalização dos bancos, a nacionalização dos grandes consórcios e trusts capitalistas e a abolição do segredo comercial. É um programa de controle operário sobre a produção.
Um mês antes, em agosto, ainda perseguido como “agente alemão” pelo Governo Provisório, Lênin publicou um dos seus textos mais importantes e um dos mais valiosos do seu pensamento: “O Estado e a Revolução”. O texto-programa que consagra a República dos Conselhos, a destruição do Estado Capitalista e a criação de um semiestado, um estado comuna que vai desaparecendo na medida em que o socialismo vai se consagrando como acontecimento mundial.
Desde a publicação das Teses de Abril – que, por meio da atuação de Lênin, vindo do exílio, enfrenta a maioria do Comitê Central bolchevique que estava na linha do “apoio crítico” ao Governo Provisório de colaboração de classes – o Partido Bolchevique começa a adquirir um passaporte político próprio e passa a ser um elemento decisivo da situação. John Reed, o jornalista socialista norte-americano, e sua mulher, Louise Bryan, contam que nas ruas de Petrogrado, nos bondes, nos bares e cafés, as pessoas perguntavam “o que os bolcheviques vão fazer?”. Segundo estes relatos, era visível a expectativa da tomada do poder por um partido que, dentre todos os outros, era o único a ter clareza daquele momento e a ter a coragem e a ousadia (como Rosa Luxemburgo muito bem reconheceu no seu texto sobre a Revolução Russa) de propor uma alternativa revolucionária de abolição daquela ordem social que estava apodrecendo pela guerra e pela falência de um governo fraco de colaboração com a burguesia.
Assim, depois que o Congresso Pan Russo dos soviets aprovou o programa bolchevique, expresso nas palavras de ordem de “Paz, Pão e Terra” e “Todo poder aos soviets”, o Comitê Militar Revolucionário – criado pelo soviet de Petrogrado sobre a presidência de Leon Trotsky e formado por tropas bolcheviques, socialistas revolucionários de esquerda e anarquistas, junto com milícias operárias armadas da Guarda Vermelha – tomou de assalto o último bastião da fracassada República burguesa. O Outubro Vermelho estava começando.
Os acontecimentos de fevereiro a outubro
Na “História da Revolução Russa”, de Leon Trotsky, publicado pela primeira vez em 1932, os editores prepararam uma sequência detalhada dos acontecimentos desde fevereiro até o desfecho na Revolução de Outubro de 1917. As datas são do antigo Calendário Juliano, com diferença de 13 dias para o calendário que agora é internacional.
9 de Janeiro – Meetings de rua e uma greve de tipógrafos celebram o aniversário do “Domingo Sangrento” de 1905.
14 de Fevereiro – A última Duma (parlamento) do Estado monárquico se reúne.
23 de Fevereiro – A comemoração do Dia Internacional das Mulheres começa a Revolução.
24 de Fevereiro – 200 mil trabalhadores em greve na cidade de Petrogrado.
25 de Fevereiro – Greve geral em Petrogrado. Tiroteios e prisões de revolucionários.
26 de Fevereiro – A Duma é dissolvida pelo czar. Os deputados se dispersam, mas decidem não deixar a cidade. Dezenas de milhares de trabalhadores nas ruas.
27 de Fevereiro – Motim dos regimentos da guarda. Invasão do Palácio Tauride por operários e soldados. Formação do soviet de deputados e trabalhadores. Constituição do Comitê Provisório da Duma.
28 de Fevereiro – Prisão dos ministros do czar. Captura da prisão de Schusselberg. Primeira edição do Izvestia (“As Notícias” do soviet).
1º de Março – A “Ordem nº 1” é editada para os soldados. As tropas ficam sob o comando do soviet. Primeira sessão do soviet de Moscou.
2 de Março – O czar abdica em favor do Grão-duque Mikhail. O Governo Provisório é formado pelo Comitê Provisório da Duma, com o apoio do soviet e com Kerensky como Ministro da Justiça.
3 de Março – O Grão-duque Mikhail abdica. O Governo Provisório anuncia a Revolução ao mundo pela rádio.
5 de Março – A primeira edição do Pravda, órgão central do Partido Bolchevique.
6 de Março – O Governo Provisório declara anistia aos prisioneiros políticos.
8 de Março – O czar é preso em Moghiliev.
14 de Março – Mensagem do soviet “ao povo do mundo inteiro”, declarando-se pela paz sem anexações ou indenizações.
23 de Março – Funeral dos mártires da Revolução.
29 de Março – Conferência de todos os soviets russos.
3 de Abril – Lênin, Zinoviev e outros bolcheviques chegam da Suíça.
4 de Abril – “Teses de Abril”, de Lênin, esboçando a sua política de revolução proletária.
18 de Abril – Comemoração do feriado socialista internacional de 1º de Maio. O Ministro do Exterior Miliukov envia uma nota aos aliados prometendo guerra para a vitória nos velhos termos.
20 de Abril – Demonstrações armadas de protesto contra a nota de Miliukov – as “Jornadas de Abril”.
24 de Abril – Início de uma conferência nacional do Partido Bolchevique.
1º de Maio – O soviet de Petrogrado vota por um governo de coalizão.
3 de Maio – Miliukov renuncia.
4 de Maio – Trotsky chega da América, apoiando a política de Lênin. Abre-se em Petrogrado um Congresso Nacional de Deputados Camponeses.
5 de Maio – Governo de coalizão é organizado com Kerensky como Ministro da Guerra.
17 de Maio – O soviet de Kronstadt declara-se o único poder governante na base naval.
25 de Maio – Congresso Nacional do Partido Social Revolucionário.
30 de Maio – Abre-se a primeira conferência em Petrogrado de comitês de fábricas e lojas.
3 de Junho – Primeiro Congresso Nacional dos soviets.
16 de Junho – Kerensky ordena que os exércitos russos tomem a ofensiva no front contra a Alemanha.
18 de Junho – Uma demonstração convocada pelos mencheviques e social-revolucionários acaba numa demonstração bolchevique.
19 de Junho – Demonstração patriótica na Perspectiva Nevsky, conduzindo retratos de Kerensky.
3-5 de Julho – “Jornadas de Julho” – semi-insurreição, liderada por operários, soldados e marinheiros de Krostadt, seguida por uma tentativa de estabelecimento dos bolcheviques em Petrogrado. Repressão contra os bolcheviques. Lênin é acusado de ser “agente alemão”.
6 de Julho – A ofensiva de Kerensky desanima quando os alemães rebentam as linhas russas em Tarnopol, na frente sul.
7 de Julho – Governo Socialista de Salvação é formado com Kerensky como Presidente.
12 de Julho – Restauração da pena de morte no exército.
16 de Julho – Kornilov substitui Brussilov como comandante-chefe do Exército.
23 de Julho – Trotsky e Lunacharsky aprisionados; Lênin na clandestinidade.
24 de julho – Novo governo de coalizão com os cadetes, substituindo o governo de Salvação da Revolução.
26 de Julho – Sexto Congresso do Partido Bolchevique: fusão com os Mezhrayontzi; eleito Comitê Central que vai liderar o partido através da Revolução de Outubro.
12 de Agosto – Conferência de Estado em Moscou provoca greve geral dos trabalhadores de Moscou. Conferência saúda Kornilov, que secretamente prepara a insurreição contrarrevolucionária de 27 de agosto.
18-21 de Agosto – Alemães rompem a frente do norte, tomam Riga, ameaçam Petrogrado.
26 de Agosto – Governo dobra preço do trigo. Ministros renunciam para dar mão livre a Kerensky.
27 de Agosto – Kerensky tenta remover Kornilov, que ignora suas ordens e começa a marchar sobre Petrogrado. Formação pelo soviet de Comitê para a luta contra a contrarrevolução.
28-29-30 de Agosto – Golpe de Kornilov fracassa quando os trabalhadores sabotam os trens por onde avançam suas tropas. As tropas de Kornilov desertam.
1º de Setembro – Kornilov é preso no quartel general em Moghilev. Resolução bolchevique conduz o soviet de Petrogrado pela primeira vez.
4 de Setembro – Trotsky é liberado sob fiança pelo Governo Provisório.
5 de Setembro – Resolução bolchevique conduz o soviet de Moscou.
9 de Setembro – Maioria bolchevique do soviet de Petrogrado ratificada formalmente. Renúncia dos “comprometidos” do comitê.
14 de Setembro – Conferência democrática abre-se em Petrogrado.
21 de Setembro – Conferência democrática termina depois da eleição de um Conselho da República, ou Pré-parlamento. Soviet de Petrogrado envia uma convocação para um Congresso Nacional dos soviets em 20 de Outubro.
24 de Setembro – Formado o último governo de coalizão com Kerensky como Presidente.
7 de Outubro – Retirada dos bolcheviques do Conselho da República.
9 de Outubro – Soviet de Petrogrado vota para formar o Comitê de Defesa Revolucionária.
10 de Outubro – Comitê Central bolchevique adota resolução de Lênin sobre insurreição armada como uma tarefa imediata.
13 de Outubro – Soviet dos soldados de Petrogrado vota para transferir a autoridade militar do Quartel General para o Comitê Militar Revolucionário. Congresso dos soviets regionais do Norte endossa o próximo Congresso Nacional e se declara pelo poder do soviet.
15 de Outubro – O soviet de Kiev se declara pelo poder do soviet.
16 de Outubro – Congresso dos soviets regionais do Sudoeste se declara pelo poder do soviet. Meeting do Comitê Central bolchevique reafirma a resolução de Lênin sobre a insurreição. Oposição pública de Zinoviev e Kamanev.
17 de Outubro – Divulgado, levante bolchevique deixa de se materializar. Zinoviev e Kamanev atacam a política insurrecionalista do Comitê Central na imprensa. Comitê Executivo Central de todos os soviets russos adia o seu congresso nacional de 20 de outubro para 25 de outubro.
19 de Outubro – Congresso dos soviets do Ural declara-se pelo poder do soviet.
20 de Outubro – Comitê de Defesa Revolucionária, conhecido como Comitê Militar Revolucionário, presidido por Leon Trotsky, começa as preparações ativas para a insurreição.
22 de Outubro – Enormes meetings através de Petrogrado quando as forças do soviet são mobilizadas para revista.
23 de Outubro – Fortaleza de Pedro e Paulo, o último obstáculo militar de alguma importância em Petrogrado, passa para os soviets.
24 de Outubro – Governo Provisório emite ordens para tomar medidas legais contra o Comitê Militar Revolucionário, para suprimir os jornais bolcheviques e para trazer as tropas leais para a capital; ordens que nunca foram executadas. Kerensky faz seu último discurso para o Conselho da República. Sociais-revolucionários de esquerda indicam disposição de participar no Comitê Militar Revolucionário.
25 de Outubro – Insurreição começa às 2 horas da madrugada. Conselho da República fechado pelas tropas ao meio-dia. Lênin faz sua primeira aparição pública numa sessão do soviet de Petrogrado às 3 horas da tarde. Operações contra o estabelecimento do Governo Provisório no Palácio de Inverno começam às 9 horas da noite. O Segundo Congresso Nacional dos soviets abre-se no Instituto Smolny às 11 horas da noite.
26 de Outubro – Palácio do Inverno cai nas mãos dos insurretos. O Governo Provisório é preso às 2 horas da madrugada.
26-27 de Outubro – Segundo Congresso Nacional dos soviets decreta sobre a paz e território. É eleito o novo governo do Conselho dos Comissários do Povo com a presidência de Lênin.