“A Semente do Fruto Sagrado”: drama político narra o levante das mulheres no Irã

Em cartaz desde janeiro deste ano, o filme “A Semente do Fruto Sagrado” é um drama político que narra as manifestações no Irã em setembro de 2022, desencadeadas pela morte de Mahsa Amini, jovem de 22 anos covardemente assassinada após ser presa pela polícia moral por uso incorreto do véu.

A maior parte do filme se passa em Teerã e é apresentada com as tensões familiares de um agente da repressão. Trata-se de um filme de denúncia do regime autoritário, teocrático e altamente repressor. Uma das melhores coisas do filme é que ele foi montado combinando cenas fictícias com imagens reais dos protestos espontâneos e de massas de mulheres e jovens. O filme deixa claras as palavras de ordem em defesa das mulheres e da liberdade, bem como o ódio da juventude, que gritava “Morte ao ditador” nas ruas e instituições de ensino.

A repressão no Irã é brutal. A Organização das Nações Unidas (ONU) denuncia que, até dezembro de 2022, pelo menos 476 pessoas foram mortas pelas forças de segurança durante os protestos em todo o país. E, até janeiro de 2023, mais de 19 mil iranianos foram presos em pelo menos 134 cidades e 132 universidades. Segundo a Reuters, em 2024, o Irã executou, por pena de morte, 901 pessoas, um aumento em relação às 853 do ano anterior, sendo o número mais alto desde 2015. Entre os executados estavam 31 mulheres, muitas acusadas de assassinato em contextos de violência doméstica ou casamento forçado.

Foram semanas de insurreição em centenas de cidades, com greves estudantis e mobilizações de sindicatos de professores e trabalhadores do petróleo. Cabe lembrar das nossas posições da Internacional Comunista Revolucionária (ICR), que, naquele momento, criticou os liberais do Movimento Verde de 2009, que buscaram conciliação com o regime, e denunciou a tentativa de Reza Pahlavi, herdeiro da antiga monarquia, de se apresentar como alternativa democrática, com apoio dos países imperialistas do Ocidente e da Arábia Saudita. A classe dominante iraniana e os imperialistas não representam uma saída para os trabalhadores. Enfatizamos como era importante tentar impedir que os monarquistas capturassem a revolta para restaurar um regime igualmente opressor. É necessário que os trabalhadores e jovens organizem eles próprios o seu movimento político.

Nós, da ICR, defendemos, na época, um programa revolucionário que combinasse demandas democráticas com exigências econômicas radicais, como a dissolução das forças repressivas, a nacionalização da economia sob controle operário e um plano econômico planejado democraticamente.

Segundo o jornal El País, o filme foi censurado no Irã. O diretor Rasoulof foi condenado à prisão pelo Estado iraniano devido ao teor crítico de suas obras. Ele conseguiu fugir para a Alemanha e compareceu ao Festival de Cannes. Seu filme recebeu um prêmio especial do júri, uma ovação de pé de 15 minutos e foi indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.