Nos dias 13 e 14 de março os servidores municipais de Joinville elegeram a chapa Reorganiza Sinsej para a direção da sua entidade sindical, impulsionada pela OCI, com uma plataforma abertamente comunista. Agora, a assembleia de posse da nova direção será em 25 de abril, com um mandato de três anos. Este resultado nos convida a refletir e aprender sobre a força das ideias revolucionárias, sobre a organização prática da nossa intervenção nos métodos da classe operária e sobre a dimensão das tarefas dos comunistas nos sindicatos.
Em números e posicionamento político, o resultado das urnas foi:
749 votos para a Chapa 3, impulsionada pela OCI;
556 votos para a Chapa 2, racha da então direção do Sinsej, apoiada pela ex-vereadora Ana Lúcia Martins e pelo deputado federal Pedro Uczai, entre outros militantes do PT;
443 votos para a Chapa 1, liderada pela atual presidente do Sinsej e pela corrente O Trabalho do PT;
321 votos para a Chapa 4, racha da atual direção do Sinsej, apoiada pela atual vereadora Vanessa da Rosa e pela Articulação Sindical do PT.
Contando-se 39 servidores que votaram em branco ou nulo, no total foram 2.108 votantes. Esse foi um número baixo diante de um quadro de aproximadamente 4 mil sindicalizados e mais de 13 mil trabalhadores na base. Aqui, já fica evidente o desmonte a despolitização promovidos pelas últimas gestões do sindicato.
No entanto, esse resultado também mostra uma manifestação da disposição de luta de uma parcela importante da categoria, já que a Chapa 3 – Reorganiza Sinsej fez uma campanha abertamente comunista, com um programa de combate à burguesia.
Nos materiais divulgados, nossa plataforma de luta unia as reivindicações imediatas dos servidores municipais (como recuperação de perdas salariais e redução de jornada de trabalho sem redução de salários), com palavras de ordem avançadas do proletariado (como o não pagamento da dívida interna e externa, o fim da Polícia Militar e ao aborto público e gratuito para as mulheres trabalhadoras) e com as necessidades históricas do proletariado (como “Trabalhadores de todo o mundo, uni-vos. Viva o comunismo! Abaixo o capitalismo!”).
Não é coincidência que, da mesma forma que a campanha “Você é comunista? Então organize-se” tem resultado em um crescimento expressivo da OCI no Brasil e da ICR no mundo, uma campanha comunista tenha sido vitoriosa no Sinsej.
Durante a contagem, um dos nossos camaradas fez uma importante observação. Apenas nós tínhamos a juventude – seja na composição da chapa ou entre os militantes que desempenharam as mais variadas tarefas. Este é o poder das nossas ideias!
Também foi decisivo nesta vitória o elevado nível de organização que a OCI conseguiu imprimir na campanha. Com base na experiência de camaradas mais antigos e com o apoio entusiasmado de jovens militantes, foram listados apoiadores da chapa em cada local de trabalho. Também foram produzidos inúmeros materiais, sejam impressos ou digitais, que carregavam nossa firme política, e distribuídos pelos camaradas e membros da chapa em centenas de locais de trabalho.
Assim, quando se abriam as urnas, tínhamos listados mais de 500 votos declarados. E a categoria nos surpreendeu positivamente com aproximadamente mais 250 votos.
A concepção marxista do sindicato
Esse resultado nos convida a mergulhar nos ensinamentos sobre a concepção marxista dos sindicatos, um debate que não é novo, mas que precisa ser firmemente repassado às novas gerações do proletariado e da vanguarda dos trabalhadores.
No texto “Uma nota sobre o trabalho dos comunistas no sindicato”, escrito em 2019 pelos camaradas Luiz Bicalho e Serge Goulart, temos a seguinte síntese:
“[…] nossa tarefa é ter uma atuação que possa ao mesmo tempo ajudar os trabalhadores a usar inteligentemente a força dos sindicatos para vender melhor a força de trabalho e também ‘como alavanca para a emancipação final da classe trabalhadora’. Em outras palavras, temos que fazer de nossa intervenção sindical um local de permanente construção da consciência de classe e de construção da organização comunista.”
Também no texto “Comunismo e Sindicalismo”, de Leon Trotsky, podemos ler importantes considerações sobre a relação entre o Partido Comunista e os sindicatos:
“1 – O Partido Comunista é a ferramenta fundamental para a ação revolucionária do proletariado, a organização de combate de sua vanguarda que deve erigir-se em direção da classe operária em todos os âmbitos de sua luta, sem exceção, e, portanto, também no campo sindical.
2 – Aqueles que, em princípio, contrapõem a autonomia sindical à direção do Partido Comunista estão contrapondo – queiram ou não – o setor proletário mais atrasado com a vanguarda da classe operária; a luta pelas conquistas imediatas com a luta pela completa libertação dos trabalhadores; o reformismo com o comunismo; o oportunismo com o marxismo revolucionário.”
E, ainda sobre a ideia de independentismo nos sindicatos:
“17 – A ideologia da independência sindical não tem nada em comum com as ideias e sentimentos do proletariado como classe. Se o partido, por meio de sua direção, é capaz de garantir uma política correta, clara e firme nos sindicatos, não ocorrerá a nenhum operário rebelar-se contra a direção do partido. Prova disso é a experiência histórica dos bolcheviques. […] A bandeira da independência é, por suas próprias bases, uma bandeira burocrática e não de classe”.
Liberdade e independência sindical
Aqui, é preciso diferenciar um conceito que leva nomes parecidos. Os comunistas explicam que está errada a defesa de sindicados independentes do partido – porque compreendem que o Partido Comunista é a parte mais resoluta e avançada da classe operária, que procura lutar não apenas pelas reivindicações básicas dos trabalhadores dentro do capitalismo, mas derrubar o capitalismo, ajudando as massas a se organizarem em uma revolução socialista.
No entanto, os comunistas defendem com afinco a liberdade e a independência sindical frente aos patrões e ao Estado. Esta é uma palavra de ordem histórica do movimento operário brasileiro, que luta contra o chamado “sindicato CLT” de Vargas, inspirado no fascismo, que atrela política e financeiramente as entidades dos trabalhadores à anuência da burguesia.
Atualmente, essa palavra de ordem está praticamente esquecida pelo conjunto dos partidos que se dizem de esquerda e do movimento sindical no Brasil. Por isso, a sua defesa foi e continua sendo uma responsabilidade dos comunistas.
Mas, como, ela se traduz no trabalho no interior dos sindicatos que dirigimos? No texto “Retomar o Sinsej para a luta dos trabalhadores – uma necessidade de classe”, já foram destacadas algumas conquistas neste sentido, que a antiga direção do Sinsej impulsionada pela OCI, entre 2010 e 2019, havia obtido. Entre eles, estava a ampliação da democracia sindical, com a criação de um Conselho de Representantes por Local de Trabalho atuante; a instituição do Congresso do Sinsej; a unidade sindical, com ampliação da base para as cidades de Garuva e Itapoá; a realização de um seminário sobre Liberdade e Independência Sindical, em 2017; a refiliação do sindicato à CUT; a filiação massiva dos trabalhadores e a devolução do Imposto Sindical.
Durante a campanha, denunciamos que muitas dessas importantes conquistas foram destruídas nos últimos anos e explicamos que a atual gestão não organizava a necessária mobilização contra a destruição dos serviços públicos em Joinville. Foi assim, com o lema de reorganizar o Sinsej para a luta, que os trabalhadores nos devolveram a direção desta entidade.
Mas, para isso, será necessário um trabalho intenso de elevação do nível político de discussão entre a categoria. Em um cenário de desagregação internacional do capitalismo, crise financeira mundial, guerras e traição das direções do movimento operário, a luta em defesa do serviço público de Joinville não será uma tarefa fácil nem poderá ser isolada nos muros da categoria. Ela exigirá um combate muito além do âmbito sindical, um combate pela construção do partido e pela formação de comunistas em cada local de trabalho.
Refletir sobre isso, estudar e arregaçar as mangas nesta construção é a tarefa a qual cada comunista está chamado a contribuir.