Nos últimos anos, correntes e partidos que tradicionalmente faziam oposição à direção do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) gradativamente realizaram um movimento de adaptação a esta mesma direção, culminando em um salto de qualidade nas eleições sindicais de 2023. É o que estamos vendo acontecer com as maiores correntes do PSOL e o PCB.
Tal movimento não é um fato isolado, mas reflete uma adaptação que vem se acentuando nos últimos anos. Isso é expresso não somente nas eleições da Apeoesp. Também dentro do PSOL, há uma enorme pressão das correntes dirigentes para que o partido faça parte da base do governo Lula. E isso significa sua total perda de independência em relação a um governo de frente ampla, de coalizão com setores da burguesia.
Abaixo descrevemos alguns marcos de como essa adaptação de diferentes correntes e partidos se desenvolveu no último período.
A tese sobre o perigo fascista
A direção da Apeoesp está nas mãos da Articulação Sindical, corrente do Partido dos Trabalhadores (PT), há décadas, apoiada por outras correntes políticas do próprio PT e pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB). A maioria da oposição era formada por correntes do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL): Rosa Zumbi (que dirige o coletivo “Na escola e na Luta”), Resistência (racha do PSTU), TLS, Unidos Pra Lutar e outros; e pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB). Um setor minoritário da oposição era composto por PSTU, MRT, POR e outras tantas correntes políticas, incluídos nós, do Educadores pelo Socialismo.
Já durante as eleições de Bolsonaro, ecoou em praticamente todas as correntes a necessidade de combatermos o perigo “fascista”. O Educadores pelo Socialismo, como braço dos trabalhadores da educação da Esquerda Marxista, sempre combateu esse discurso. Afirmamos que Bolsonaro não tinha condições de impor uma ditadura fascista no Brasil e que seu governo seria um governo de crise do começo ao fim. E a história demonstrou que nossa análise estava correta.
De qualquer forma, ali se via uma “unidade” de análise conjuntural entre direção do sindicato e setores majoritários da oposição. Inclusive setores minoritários embarcavam em teses como a de movimento “fascistizante” mundial. Tal congruência entre setores de situação e oposição era reflexo da pressão política sofrida por todas as correntes para a adaptação da análise política em função da narrativa petista. Como já dissemos, o Educadores pelo Socialismo, como parte da Corrente Marxista Internacional, foi capaz de não ceder às pressões oriundas da conjuntura nacional sob o governo Bolsonaro. A análise conjuntural mundial a partir do método marxista nos permitiu não nos perdermos no terreno das aparências e analisar o conteúdo da situação política.
O bloqueio à palavra de ordem Fora Bolsonaro
Em 2019, novamente essa adaptação se expressou: praticamente todas as correntes políticas de situação e oposição foram contra levantar a palavra de ordem Fora Bolsonaro. Apenas um setor ultraminoritário levantou essa pauta na Apeoesp, puxado por nós. Em uma subsede da Apeoesp, dirigida pelo PCB e pela corrente Resistência do PSOL, em 7 de maio de 2019, eles foram os principais responsáveis por impedir que levantássemos a bandeira Fora Bolsonaro regionalmente. A análise deles era que um setor muito grande da classe trabalhadora estava com Bolsonaro e que a “fascistização” da sociedade não permitiria tal ousadia. No dia 15 de maio de 2019, três milhões de manifestantes tomaram as ruas e tantas essas direções da dita oposição quanto as correntes majoritárias do PT estavam gritando Fora Bolsonaro que acabou sendo a principal palavra de ordem daquela manifestação.
A operação para impedir o Fora Bolsonaro foi bem-sucedida até o começo de 2020, quando teve início oficial a pandemia. Em fevereiro daquele ano participamos do Congresso da Apeoesp, ali boa parte das correntes de oposição haviam se rendido à necessidade de chamar o Fora Bolsonaro. Porém, a direção do sindicato manteve sua política de que Bolsonaro tinha o direito de cumprir os quatro anos de mandato e que o Fora Bolsonaro deles seria somente o eleitoral. Em março daquele ano, cerca de um mês depois, se renderam parcialmente à pressão da base popular.
Entre 2020 e 2021 o que se viu foi uma luta entre a pressão pela base para derrubar o governo Bolsonaro e o bloqueio das direções sindicais, em especial da Central Única dos Trabalhadores (CUT). Tanto é que ao fim de 2021 as mobilizações pelo Fora Bolsonaro perderam força. A tática deles era promover um desgaste da figura de Bolsonaro, como o Partido Democrata fez com Trump, e derrotá-lo eleitoralmente.
Greve Sanitária de 2021
Outro exemplo dessa adaptação da maioria da oposição às táticas burocráticas da direção da Apeoesp foi a Greve Sanitária de 2021. Essa greve contou com adesão mínima, cerca de 2% da categoria. E como demonstramos na época a direção sindical utilizou de uma série de subterfúgios para dizer que uma greve estava acontecendo, quando na verdade não existia movimento grevista.
Alguns exemplos: votava-se a existência de uma greve. Ao mesmo tempo, afirmava-se tacitamente que os professores deveriam assinar o livro-ponto. Chamamos isso na época de Greve de Schrödinger da Apeoesp: a categoria estava e não estava em greve ao mesmo tempo. Uma manobra burocrática vulgar praticada com a conivência do setor majoritário da oposição.
Outra situação por nós denunciada: a direção da Apeoesp chamava a greve, porém, na base da categoria orientava seus conselheiros a desmobilizar a greve que ela própria chamava. Enquanto nós lutávamos pelo fundo e mesmo pelo direito de greve aos professores categoria, a direção da Apeoesp dizia a seus simpatizantes na base para não fazer a greve. Denunciamos isso e fomos chamados por militantes da dita oposição de “quinta coluna”, de infiltrados no movimento. Ou seja, a denúncia das práticas burocráticas e traidoras da direção da Apeoesp era vista como uma forma de traição ao movimento sindical. Agora, orientar os professores a furar greve era tido como “parte do jogo” por essa dita oposição. Aí vemos o grau de degeneração alcançado.
Manifesto em defesa da democracia em 2022
Assim como foi com o Fora Bolsonaro, praticamente todas as correntes que faziam oposição ao PT e às entidades que ele dirige, como a Apeoesp, se unificaram a eles e aos setores da burguesia, do capital financeiro em defesa desta democracia. Na época, publicamos texto sobre a questão.
Aqui é importante distinguir: os marxistas defendem as liberdades democráticas, como o direito ao livre pensar, à greve, à organização, à liberdade de ensino e aprendizagem etc. Ao mesmo tempo, jamais defenderemos essa democracia, que é uma democracia burguesia, orientada aos interesses da burguesia e fundamentada na exploração assalariada da maioria da população. Assim, o que vimos foi a adaptação em um nível avançado por parte dos ditos “revolucionários” a essa democracia dirigida e orientada aos interesses dos nossos inimigos.
Eleições da Apeoesp de 2023
Os eventos aqui narrados somente expressam as formas de adaptação mais recentes da dita oposição à direção da Apeoesp. De qualquer forma, em 2023 tal adaptação deu um salto de qualidade: as maiores correntes de oposição da Apeoesp se unificaram em uma chapa com a burocracia sindical petista.
O principal argumento deles é sobre a necessidade de termos um sindicato unido contra Tarcísio de Freitas (Republicanos). Esse argumento não se sustenta.
Nenhuma corrente sindical da Apeoesp seria contra atos e mobilizações contra as políticas do governo Tarcísio. Já estamos unidos, na linha da frente única, contra o governo estadual. Tal argumento somente se justificaria no caso da existência de uma chapa de direita, como da Força Sindical, com chances reais de ganhar as eleições da Apeoesp. Aí sim poderíamos discutir tal tática, como forma de não permitir que uma chapa diretamente ligada ao setor empresarial tomasse nosso aparato sindical. Contudo, Tarcísio e nenhum setor direto da burguesia está disputando as eleições da Apeoesp. Tal argumento é absolutamente falso.
A verdade é que as correntes majoritárias da oposição se adaptaram há muito às benesses concedidas pela direção sindical: como liberações, direito de fala garantido em assembleias, presença certa na mesa de debates em congressos e conferências. E isso foi se expressando concomitantemente em adaptações de análises e táticas políticas como as que narramos anteriormente. Agora temos um salto qualitativo, a absorção dessas correntes pela atual direção. E, evidentemente, isso será feito garantido e até ampliando tais benesses. Sua adaptação se evidencia como nunca frente ao oportunismo petista. De falsos críticos à burocracia, tornam-se parte evidentemente integrante dela.
Nossas tarefas
O coletivo Educadores pelo Socialismo faz parte da chapa da Oposição Unificada e Combativa nessas eleições da Apeoesp. Continuaremos denunciando as manobras burocráticas que tanto prejudicam nosso sindicato, o oportunismo dessas direções e de sua falsa oposição.
Estadual e regionalmente, seguimos na luta por uma Apeoesp construída e dirigida pela base dos professores, que seja capaz de superar as amarras burocráticas e fazer com que o sindicato defenda efetivamente os métodos e reivindicações dos trabalhadores da educação.
Participe das eleições da Apeoesp conosco, e seja parte dessa luta!