Uma situação explosiva está mais uma vez se impondo no cinturão de platina em torno de Rustenburg, enquanto a greve de quatro meses por reivindicações salariais de 70 mil mineiros viu as tensões subirem dramaticamente nos últimos dias.
Uma situação explosiva está mais uma vez se impondo no cinturão de platina em torno de Rustenburg, enquanto a greve de quatro meses por reivindicações salariais de 70 mil mineiros viu as tensões subirem dramaticamente nos últimos dias. Nas últimas horas o estado enviou o exército para apoiar o já enorme contingente policial numa tentativa desesperada de quebrar o movimento grevista.
Isto vem de mãos dadas com uma campanha maliciosa de intimidação dos três maiores produtores de platina do mundo, Impala Platinum, Lonmin PLC e Anglo American Platinum, contra os trabalhadores. Essas tentativas por sua vez desencadearam protestos massivos dos trabalhadores mineiros. A situação é muito tensa e pode levar a um confronto em algum momento.
As 16 semanas de greve, que é agora a mais longa da história da África do Sul, é a continuação das lutas dos trabalhadores que terminaram no massacre de 34 mineiros em Marikana em 16 de agosto de 2012 pela polícia. Membros da Associação de Mineiros e do Sindicato da Construção (AMCU) abandonaram as ferramentas em 23 de janeiro, exigindo que seu salário básico seja duplicado para R12.500. Esta demanda é a mesma colocada pelos trabalhadores da greve espontânea de agosto de 2012. Depois do massacre em 2012, um acordo insatisfatório foi alcançado que logo se desfez e que levou à greve legal atual que deteve 40% da produção mundial de platina.
Houve negociações para terminar a greve desde janeiro. No entanto, as negociações foram conduzidas de forma hostil e arrogante pelos donos das empresas. Isto levou a um endurecimento por parte do sindicato. No final, as negociações chegaram a um impasse e logo entraram completamente em colapso, deixando a greve sem um fim à vista. Os patrões de Impala, Lonmin e Anglo American Platinum têm-se utilizado da prolongada greve, desde então, para relatar prejuízos financeiros e para ameaçar uma reestruturação em grande escala que levará à perda de milhares de empregos.
Nos últimos dias as empresas têm procurado sabotar AMCU abordando diretamente os trabalhadores em greve sobre sua última oferta salarial – que já foi rejeitada pelos trabalhadores. Lonmin enviou milhares de mensagens aos mineiros e lhes deu um prazo que se encerrou ontem, 14 de maio, para voltar ao trabalho, ameaçando-os com a “reestruturação”, ou seja, com a demissão. Desenvolvimentos similares estão sendo planejados pelas outras duas empresas. Os patrões foram tão longe que puseram em marcha os fornos de fundição numa tentativa de colocar pressão sobre os trabalhadores. Isto coincidiu com a presença da polícia, supostamente para escoltar os mineiros que quisessem retornar ao trabalho nas minas e para evitar a violência. Na terça-feira, a polícia esteve presente em todo Marikana, mas concentrou suas principais forças em torno da mina de Lonmin em Marikana.
“A anarquia não será permitida, esteja disfarçada de ação industrial ou não”, alertou o ministro da polícia Nathi Mtethwa na quarta-feira. O comissário de polícia Riah Phiyega disse que a polícia pode permanecer na área de Marikana enquanto a situação justificar sua presença.
Esses desenvolvimentos, por sua vez, desencadearam protestos massivos dos mineiros. Na terça-feira, um dia antes do prazo, milhares de mineiros marcharam pelos assentamentos informais, bloqueando a rodovia principal que leva aos poços das minas com pedras e pneus em chamas. O ânimo dos mineiros era desafiante como explicou um trabalhador: “Vamos voltar ao [trabalho], mas necessitamos primeiro do dinheiro… Não queremos ser dividido em dois, isso é tudo”.
Na quarta-feira, milhares de trabalhadores se reuniram no estádio Wonderkop perto de Lonmin e claramente desafiaram o ultimato da empresa para retornar ao trabalho. Um trabalhador colocou o seguinte: “A única coisa que necessitamos é de R12.500. Aceitar a oferta atual significa que estivemos em greve durante quatro meses para receber somente R500. Não fizemos a greve por isto. Acho difícil que os empregadores não consigam entender nossa exigência, que é clara”.
É claro que as empresas estão em conluio com o estado para quebrar a greve por qualquer meio necessário. A situação piorou seriamente nos últimos dias e se encontra agora como uma panela de pressão – estranhamente parecida com os acontecimentos de agosto de 2012. Exatamente depois do massacre de 2012, o comitê central de NUMSA emitiu um comunicado onde corretamente afirmou que o único caminho à frente é a nacionalização das minas:
“NUMSA está convencido de que a menos que a riqueza mineral de nosso país retorne ao povo como um todo, a mineração continuará a se caracterizar pela violência contra a classe trabalhadora, seja através de condições de trabalho perigosas ou através das balas da polícia em defesa dos lucros dos empresários. Não vemos nenhuma solução à violência contra os trabalhadores nas minas além da nacionalização em defesa das vidas de todos os sul-africanos”.
Hoje, o Food and Allied Workers’ Union (FAWU), que é aliado do sindicato dos trabalhadores metalúrgicos, denunciou as ações dos empresários das minas:
“Fazemos um chamado aos empregadores para desistirem de empregar a tática de “dividir para reinar” com vistas a ganhar os mineiros, alguns deles desesperados por voltarem ao trabalho devido à alta taxa de pobreza, apesar de que isso apenas levará a colocar “mais lenha na fogueira” nas comunidades da classe trabalhadora ao redor das minas”.
Contudo, devemos declarar que a posição da liderança de COSATU, e particularmente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores Mineiros, tem sido deplorável. O NUM fez tudo ao seu alcance para socavar a liderança de AMCU e tem focado somente a campanha de filiação para recrutar de volta os trabalhadores que perderam para AMCU depois das greves de 2012.
A solidariedade é um dos princípios fundamentais do sindicalismo. O fato de que as lideranças de NUM e COSATU não terem expressado solidariedade com os mineiros em greve e suas lutas, porque pertencem a um sindicato que não é filiado a COSATU, é uma desgraça e equivale a um desprezível fura-greve. Aparentemente, o slogan de COSATU de “uma injúria a um é uma injúria a todos” foi esquecido pela liderança. Mais uma vez a atual liderança de COSATU tem se comportado como uma ferramenta da camarilha corrupta de direita em torno de Jacob Zuma.
Em um desenvolvimento dramático, as forças de segurança confirmaram que o exército tinha sido colocado em estado de alerta na base da polícia de ordem pública de Rustenburg. Este é um desenvolvimento novo da situação. O exército não tem sido utilizado contra protestos de ruas durante muitos anos e este é um movimento que lembra a era do Apartheid. No entanto, esta é agora a segunda vez em cinco dias que o exército foi estacionado nos municípios.
Na sexta-feira, dois dias depois das eleições, o exército foi enviado ao município de Alexandra depois dos distúrbios que ali estalaram por causa de acusações de fraude eleitoral em pequena escala. Hoje, está claro que o incidente de Alexandra foi um ensaio para a intervenção do exército em Marikana.
Agora, está óbvio que o presidente Zuma se sente encorajado depois da reeleição do ANC e está disposto a agir com mais decisão pelos interesses da burguesia. Essas ações “decisivas” podem incluir outro massacre dos trabalhadores. Isto mostra a natureza real do estado burguês que é essencialmente corpos de homens armados em defesa da propriedade privada e do domínio do capital.
Os últimos movimentos demonstram claramente que o governo de Zuma está mobilizando as forças armadas em coordenação com as empresas mineradoras que estão exigindo o domínio da lei e da ordem e o fim de greves intermináveis por assuntos “insignificantes” como salários e condições de trabalho. Esta intervenção, contudo, não está destinada apenas a quebrar os trabalhadores mineiros; destina-se a quebrar os trabalhadores mineiros como um primeiro passo para quebrar as costas do movimento dos trabalhadores sul-africanos como um todo. Mas este é um jogo perigoso. O estado de ânimo entre os trabalhadores está se movendo na direção do ponto de ebulição e o estacionamento do exército pode provocar um movimento impossível de deter que pode varrer todo o governo para o lado e abrir uma situação revolucionária na África do Sul.
É tarefa imediata de NUMSA e dos outros sindicatos progressistas preparar uma greve geral nacional se os ataques sobre os trabalhadores mineiros forem adiante. Durante mais de 150 anos essas empresas mineradoras saquearam o país e a classe trabalhadora e organizaram massacres após massacres. Os proprietários das empresas, que são as grandes empresas financeiras internacionais, não desempenham qualquer papel progressista. Elas são meramente parasitas nas costas dos trabalhadores sul-africanos. Não têm nenhum direito de possuir qualquer mina.
A greve não pode continuar como está com os mineiros passando fome. Para ganhar a luta ela deve ser elevada. Comitês de ação devem ser estabelecidos pelos trabalhadores em cada mina para preparar sua ocupação com o objetivo de nacionalizá-las e administrá-las sob o controle e administração dos trabalhadores. A mesma coisa deve ser preparada por NUMSA e outros sindicatos do país para as principais indústrias.
Esses acontecimentos estão ocorrendo somente alguns dias após terminarem as eleições nacionais. Está claro que a África do Sul entrou agora em um novo período de turbulências e instabilidade. Novos choques e convulsões estão na ordem do dia. A opção à frente da classe trabalhadora sul-africana é socialismo ou barbárie. Somente com a abolição do sistema capitalista os problemas dos trabalhadores podem ser resolvidos.
Traduzido por Fabiano Adalberto