Qual a posição dos marxistas diante da visita de Ahmadinejad ao Brasil em meio a protestos e tensão na imprensa burguesa?
A passagem do presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad pelo Brasil no último dia 23 foi acompanhada por protestos em algumas capitais do país. O que chamava a atenção era a diversidade dos manifestantes, com grupos de defesa dos direitos humanos, militantes GLBTs, sionistas e outros grupos religiosos. A imprensa deu destaque ao evento e aos críticos do atual regime iraniano.
A revista britânica The Economist, em matéria do dia 26/11/2009, resumiu bem as preocupações do imperialismo com o tour de Ahmadinejad pela América Latina. O presidente iraniano estaria promovendo sua imagem em países como Venezuela, Equador e Bolívia no momento em que “ele não é bem-vindo em muitos países e enfrenta pressão em casa por conta de sua disputada reeleição”. A revista aproveita e manda um recado:
“a receptividade ao ‘polêmico’ líder iraniano põe em risco as pretensões do Brasil em ocupar um espaço mais destacado na política mundial, ao legitimar um governo que desrespeita os direitos humanos e prende políticos da oposição”.
A hipocrisia da grande mídia não encontra limites. De fato, há sérias suspeitas de fraude na última eleição presidencial do Irã. Os protestos foram duramente reprimidos, com um saldo de 72 mortes e mais de 4 mil manifestantes presos. Mas os números do presidente de Israel, Shimon Peres, que visitou o Brasil duas semanas antes, são bem mais impressionantes. Em 2008, os ataques à Faixa de Gaza custaram a vida de 1400 palestinos, entre os quais, 300 crianças.
Só que nenhum grande meio de comunicação lembrou-se de tratar o presidente israelense como “assassino”. O que dizer então do presidente Obama, que ganhou o Nobel da Paz por enviar ainda mais soldados para o Afeganistão?
Os conflitos com o imperialismo estadunidense fazem com que partidos e militantes de esquerda tenham uma postura condescendente ou de simpatia com o regime dos aiatolás. Evidentemente, como marxistas, devemos defender o Irã de um ataque imperialista. O que não significa considerar o governo desse país um aliado do movimento operário.
Ele é o contrário disso. A revolução iraniana de 1979 que derrubou a ditadura do Xá Reza Pahlavi foi um movimento de massas, com ocupação de fábricas e de terras, com greves gerais e formação de conselhos (as shuras) de operários, soldados e estudantes. Mas a ascensão do fundamentalismo islâmico, entre 79 e 83, se fez como uma reação às conquistas mais profundas da revolução. Cerca de 30 mil militantes de esquerda foram presos ou assassinados pelos fundamentalistas. 30 anos depois, a desigualdade social avança no Irã.
Não se pode imaginar que os milhões que saíram em protestos nas ruas de Teerã esse ano, nas maiores mobilizações de massas desde a Revolução de 79, façam parte de uma pequena burguesia iraniana pró-ocidente, influenciada pelas agências de inteligência imperialistas, como acusam os aiatolás. Esse ponto de vista subestima a ação independente da classe trabalhadora daquele país.
As massas em Teerã eram compostas por trabalhadores e jovens que, para além da questão da fraude eleitoral, saíram às ruas para lutar contra a opressão das minorias nacionais curdas e árabes, e das mulheres; pelo reconhecimento dos direitos sindicais de greve, de mobilização e de organização; e de pão, trabalho, saúde e educação para todos.
Obama, Ahmadinejad, Peres. Não importa se vestidos com ternos, batinas ou turbantes, aqueles que se dedicam a imolar a classe trabalhadora no altar do capitalismo serão sempre os nossos inimigos.