O ano de 2021 começou e trouxe consigo as mesmas táticas perversas já conhecidas: o número de mortos pela polícia nas favelas do estado do Rio de Janeiro não para de crescer. A maioria dos mortos são negros, o que deixa evidente o racismo e a brutal repressão da classe trabalhadora realizada pelo Estado por meio de seu braço armado. Nesses locais, o Estado se faz presente pela repressão. Ele entra quando a polícia entra. Os demais serviços são negados ou mal prestados.
A pesquisa feita pela Rede de Observatório de Segurança Pública1 mostrou que 86% dos 1.814 assassinatos cometidos pela polícia no estado do Rio eram negros. Devemos atentar para os casos de “auto de resistência” que sequer são feitos e os corpos nem aparecem, provavelmente estejam em “cemitérios” clandestinos. Ou seja, esse número está subnotificado e muito aquém da realidade.
O estado do Rio de Janeiro atingiu o recorde em 30 anos no número de mortes por policiais. Para conter a luta de classes e a explosão da classe trabalhadora que dorme e acorda sob rajadas de tiros e veem vizinhos, conhecidos, filhos morrerem, o Supremo Tribunal Federal (STF) proibiu as operações policiais durante a pandemia. Nada mudou. Letra morta. E em outubro, foi constatado o aumento de 415% de mortes nas favelas1.
Esses fatos não são histórias sem rosto. São vidas tratadas como secundárias e que poderiam ser descartadas pelo sistema capitalista. No primeiro dia útil do ano, em 4 de janeiro, o trabalhador de marmoraria Marcelo Guimarães2 se dirigia ao trabalho, após deixar o filho na escola de futebol, quando foi morto em sua moto por um tiro de fuzil disparado pela Polícia Militar (PM) na Cidade de Deus. Os moradores contestaram a versão da PM de que haveria confronto no momento da morte e protestaram, interditando uma importante via, a Linha Amarela, pedindo justiça para Marcelo. A filha de Marcelo fez a seguinte publicação numa rede social:
“Te mataram pai, na crueldade. O senhor era trabalhador, estava indo trabalhar e te mataram.”
O trabalhador da Comlurb Marcelo Almeida da Silva, em 31 de janeiro3, foi morto com tiro nas costas na Vila Cruzeiro a caminho do sei trabalho. Familiares do gari disseram que não encontraram os documentos nem a mochila com o uniforme da Comlurb. Tinham apenas a blusa com o furo do tiro. As operações policiais têm se multiplicado e as mortes motivadas pelo racismo também. A tática é: matar primeiro, “perguntar” depois.
Em oito favelas, no dia 3 de fevereiro, sob a justificativa de pacificação, foi feita operação que resultou em dez mortes4. Os moradores vivem assustados, sendo acordados por tiros e tendo seu direito de ir e vir impedido: não podem ir trabalhar ou a qualquer outro compromisso. Sobre isso, disse um morador:
“Hoje eu acordei debaixo de tiro já. Estava deitado ainda ouvindo os tiros.”
Nem as crianças são poupadas: as primas Emylli e Rebecca, negras, no final de 2020, foram mortas por balas perdidas enquanto brincavam na porta de casa5. Ou diremos balas achadas? Pois são corpos negros que são encontrados.
Recentemente, em 3 de fevereiro, houve mais uma morte de uma criança de 5 anos, Ana Clara6, morta logo após acordar, enquanto segurava sua boneca preferida. Sua mãe diz o seguinte:
“Estava com ela, é o sangue dela. Minha filha tinha acabado de acordar. Ela acordou, chegou na porta, assim que ela viu a luz do dia, ela tomou um tiro. Só deu tempo de ela dormir à noite e acordar… só deu para ela acordar e dormiu agora eternamente.
“Ela morreu no meu colo, dentro da viatura. Quando ela chegou no hospital, ela já estava em parada cardíaca, o coração não batia mais. Porque o policial ficou pensando se ia pegar ela ou não. Minha filha caída, baleada no chão, eu gritava ‘Pega minha filha, salva minha filha!’, e ele não sabia o que fazer, narrou a mãe.
“Teve uma hora que ele pegou ela e saiu, com ela pendurada, pra não encostar na farda dele, pra não sujar a farda dele de sangue”
Mais uma vez, moradores contestam a versão da polícia e negam que havia confronto quando da morte. A ONG Rio de Paz divulgou dados de pesquisa que revelou que 80 crianças foram mortas baleadas entre os anos de 2007 e 2021. Crianças… a maioria negra6.
Está cada vez mais latente o aumento da opressão que a classe trabalhadora vive, e mais ainda a opressão pela cor. Negros e negras são mortos e tratados como “carne de segunda categoria”. O sistema capitalista que criou a noção de raça para dividir os trabalhadores. Precisamos ter claro quem é nosso adversário e nos unir contra ele: o sistema capitalista.
A maior arma da classe trabalhadora está em sua organização, como disse Lenin. Organize-se!
- Vidas negras importam!
- Lutamos por igualdade!
- Abaixo o racismo!
- Abaixo o capitalismo!
Referências: