Os recentes ataques a instituições de ensino em São Paulo (SP) e Blumenau (SC) chocaram o país. Novas ameaças de “massacres” em escolas têm se multiplicado nas redes sociais, alastrando o medo entre professores, estudantes e pais.
Desde 2011 são contabilizados 11 atentados em unidades de ensino no Brasil, sendo que 5 ocorreram apenas nos últimos 7 meses. É um fenômeno que cresce, não só no Brasil.
Esses trágicos episódios são a expressão de uma época, a época da decadência do capitalismo. Não por acaso, o país que lidera o fenômeno de ataques a escolas é os Estados Unidos, o coração do sistema, símbolo maior de seu estágio imperialista, que concentra, de forma aguda, suas contradições.
Socialismo ou barbárie, esta é a encruzilhada em que se encontra a humanidade. Se o capitalismo não for enterrado, os elementos de barbárie se alastrarão cada vez mais. Jovens que entram armados em escolas, ferindo e matando crianças indefesas e professores, em alguns casos se suicidando ao final do ato. Esse é um claro sintoma de uma sociedade mundial doente que, no Brasil, ainda encontra uma expressão mais aguda devido ao sucateamento da educação pública, com professores mal remunerados, salas superlotadas e um ambiente escolar onde cada criança e adolescente está sujeito a uma série de violências cotidianamente e muitas delas já vítimas de violência doméstica.
O incentivo do bolsonarismo ao armamento e à violência individual, assim como seu desprezo à escola, jogam um papel na escalada dos casos de ataques às instituições de ensino. Ao mesmo tempo, o próprio bolsonarismo e o crescimento de formações de extrema-direita ao redor do mundo, utilizando demagógicos discursos antissistema, são uma expressão da falência da democracia burguesa, de suas apodrecidas instituições políticas.
Em atentados e ameaças são descobertas ligações dos agressores com grupelhos neonazistas. É preciso combater, por todos os meios, a disseminação e ações desses grupos. Assim a Esquerda Marxista e a Liberdade e Luta agiram na campanha em defesa da vida da professora Mara, educadora ameaçada de morte por estudantes que faziam menções, em um grupo de WhatsApp, a Hitler, a campos de concentração e ao nazismo. Ao mesmo tempo, é preciso constatar que o nazismo não tem um apelo de massas, segue sendo uma ideologia de grupos ultraminoritários na sociedade.
Combater os ataques e ameaças
A questão que se coloca são as medidas práticas a serem defendidas no enfrentamento aos ataques e ameaças às escolas, ou seja, em defesa da vida de trabalhadores da educação e estudantes. Para essa formulação, é preciso levar em consideração a situação concreta, em particular, o atual grau de consciência e organização da classe trabalhadora e da juventude.
De fato, nas últimas décadas, houve um retrocesso no nível de consciência e organização do proletariado, e isso tem relação direta com as traições do Partido dos Trabalhadores (PT) e sua política de colaboração de classes.
Diferentes governos têm dado como resposta o aumento do policiamento nas escolas. Compreendemos que esta medida dialoga com o pânico presente entre educadores, estudantes e pais. Sem organizações próprias, capazes de garantir a defesa e a segurança diante destes ataques, o jovem e o trabalhador isolado veem no aparato estatal a única arma para se defender. Os professores que já fizeram greve lembram-se muito bem que é essa mesma polícia que os reprime, assim como os estudantes e pais de estudantes das periferias das grandes cidades sabem muito bem que é essa mesma polícia que entra atirando nas comunidades mais pobres e mata todos os dias jovens Brasil adentro, principalmente jovens negros.
Diante da situação extrema de multiplicação de ameaças de atentados às escolas, os revolucionários dialogam com esse sentimento presente na base. Sem deixar de lado a caracterização do que é a polícia e a bandeira por seu fim. Não nos opomos aos pais, educadores e estudantes que reivindicam pelo aumento da ronda policial para a defesa da escola diante desta situação particular. Levantamos, ao mesmo tempo, os limites e problemas de medidas adotadas por diferentes governos nesse sentido.
Em primeiro lugar, somos contra a presença de policiais armados no interior da escola. A presença de policiais dentro de instituições de ensino só eleva o ambiente de terror e opressão em seu interior. Nós defendemos a abertura de concursos públicos para servidores que atuem como vigias e seguranças treinados para a atuação no ambiente escolar. Não os policiais militares, responsáveis pela violência e mortes nas periferias, em particular, de jovens negros.
A polícia deve ficar do portão da escola para fora. E o estado deve garantir os equipamentos necessários para a resposta rápida em caso de ataques.
Somos contra ações como a adotada pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), com a contratação de segurança privada para as escolas. Além de representar a destinação de recursos públicos para empresas privadas de segurança, é introduzir no ambiente escolar grupos que não têm nenhuma relação com a escola, e com duvidosa formação para atuação nesse ambiente.
Somos pela abertura de concursos públicos para a contratação de psicólogos e assistentes sociais para todas as escolas. Os estudantes com dificuldades, se acolhidos e cuidados pela escola, em vez de oprimidos e rejeitados, terão menos chances de recorrer a atitudes violentas desesperadas.
Defendemos o limite máximo de 25 alunos por sala de aula. Salas de aula superlotadas inviabilizam uma educação de qualidade, assim como o diálogo e acompanhamento dos alunos por parte dos professores. Também deveria haver sempre dois professores por sala de aula – todas as experiências neste sentido demonstram uma melhora significativa do processo de aprendizagem.
Defendemos a valorização dos educadores, com o aumento do piso nacional da educação de acordo com o salário mínimo calculado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
A melhoria geral da educação, o investimento em estrutura e contratação de servidores, torna a escola um ambiente de prazer e aprendizado coletivo para os jovens, não uma prisão que oprime e exclui. Por isso, somos contra o Novo Ensino Médio e lutamos por sua revogação, pois essa reforma piora ainda mais a já precária educação pública do país e abre o caminho para sua privatização.
Para que as verbas necessárias sejam destinadas para a educação, garantindo a educação pública e gratuita para todos, não é possível prosseguir o pagamento da fraudulenta dívida interna e externa para o capital financeiro internacional. Somos pelo fim do pagamento da dívida, e que todo dinheiro seja revertido para educação, saúde, moradia etc.
Incentivamos ainda a realização de assembleias em cada escola, com a participação conjunta dos trabalhadores da educação, estudantes e pais, para discutir a atual situação de ameaças e as medidas que podem ser adotadas para a defesa da vida de jovens e trabalhadores.
O verdadeiro responsável, a única saída
Ao mesmo tempo que levantamos essas demandas, não deixamos de apontar o real responsável por essa situação: o capitalismo. Um sistema moribundo que só gera, em todo o mundo, crises, desemprego, miséria, mais de 70 guerras localizadas, destruição do meio-ambiente, aumento da violência contra mulheres, negros, crianças, idosos. Um sistema que não apresenta uma perspectiva de futuro para a juventude. Que foi incapaz de lidar com uma pandemia, sendo responsável direto por milhões de mortes evitáveis. Que incapacita jovens e trabalhadores com a proliferação de diferentes transtornos mentais.
O capitalismo, há muito tempo, deixou de jogar um papel progressista no desenvolvimento da humanidade. Tornou-se um bloqueio que destrói as forças produtivas. A verdadeira solução é o fim do capitalismo, a superação desse sistema. Uma revolução socialista que coloque o poder nas mãos de quem, de fato, produz toda a riqueza nessa sociedade, a classe trabalhadora, abrindo caminho para uma sociedade comunista, de plena liberdade, felicidade e desenvolvimento humano. Por isso lutam os revolucionários comunistas, por isso construímos a Esquerda Marxista, seção brasileira da Corrente Marxista Internacional.