Atentados em Manaus: quando o crime e a burguesia se desentendem

Após dois dias de atentados contra prédios e espaços públicos, Manaus amanheceu neste dia 07 de junho sem ônibus, com unidades de saúde, escolas e comércios fechados e pouquíssimas pessoas na rua.

Os ataques estariam acontecendo a mando do Comando Vermelho, facção criminosa que tomou conta da cidade há cerca de três anos e que teria perdido uma de suas lideranças assassinada pela polícia.

Um suposto comunicado dos criminosos faz uma série de acusações ao secretário de Segurança Pública do Amazonas, o coronel da PM Louismar Bonates. O estado teria feito um acordo com a facção, nos mesmos moldes que o governo de São Paulo fez com o Primeiro Comando da Capital (PCC) para reduzir o número de mortes, mas o trato teria sido quebrado após uma série de extorsões, roubo de drogas e execuções por parte da PM.

Não é possível saber se o comunicado é real e na verdade isso não faz diferença. O tráfico de drogas e a polícia não estão em trincheiras opostas na guerra às drogas. Essa é uma mentira que a burguesia e sua imprensa utilizam para justificar a extrema violência e repressão contra a classe trabalhadora, principalmente jovens negros.

O crime organizado também não é uma anomalia dentro do sistema capitalista, algo que possa ser de fato suprimido dentro dos limites do estado burguês. A verdade é que a polícia e todo o aparato de segurança pública são os verdadeiros gestores da criminalidade, decidindo quem, como e onde pode atuar. Nos bairros pobres e operários, o crime é tolerado e apenas de tempos em tempos a polícia realiza uma operação para demonstrar força, cujo saldo costuma ser de muitas vidas inocentes perdidas. Nos bairros ricos, um jovem negro pode ser detido por simplesmente caminhar na rua.

O Amazonas é o estado por onde passa a maior parte da logística do tráfico internacional que vem da Colômbia e é distribuído para o sul do país e para a Europa. Não é à toa que o controle das rotas é disputado com violência entre as diversas facções criminosas. Mas precisamos ter claro que é impossível realizar tamanha operação sem aliados no aparato do estado que façam vista grossa e acobertem irregularidades, assim como é impossível “lavar” uma quantidade gigantesca de dinheiro sem aliados na burguesia local.

O governador Wilson Lima (PSC) fez um pronunciamento alardeando as realizações de seu governo na segurança pública, prometendo mais polícia nas ruas e dizendo que não toleraria os atentados. Mas a verdade é que, para retomar a paz com o Comando Vermelho, o mais provável é que o estado faça um novo acordo com transferências de presos e algumas concessões a mais. Nem a PM do Amazonas, nem a Força Nacional requisitada por Wilson Lima, nem o Exército são capazes de garantir a lei e a ordem, como ficou provado na intervenção do Rio de Janeiro.

A inócua palavra de ordem pela descriminalização das drogas é igualmente incapaz de resolver o problema. Na verdade, ela expressa uma confiança no sistema e na capacidade de autorregulação do mercado que deveria fazer corar qualquer um que se diz socialista.

A única palavra de ordem capaz de nos tirar dessa lama é a que pede o fim da PM, sem quaisquer ilusões no aparato de repressão do estado e com total confiança na capacidade da classe trabalhadora de organizar sua autodefesa em milícias operárias.

Assustados, muitos nas redes sociais falaram sobre o “fim do mundo”. Mas o que sentimos são apenas os odores pútridos de um sistema em avançado estado de decomposição, uma crise profunda em que o crime, a violência, a doença e a morte se tornam parte de nosso dia a dia.

No entanto, é possível e necessário construir outro mundo. Um mundo sem forças de repressão, sem crime, sem opressões e sem classes. Para isso, nossa primeira tarefa é derrubar o governo Bolsonaro nas ruas, através de um movimento de massas da classe trabalhadora, e assim abrir caminho para que os jovens e trabalhadores possam tomar seu destino em suas próprias mãos e revolucionar a sociedade