No dia 31/07 (sábado), depois de meses de uma “greve” em que a direção do sindicato fazia seus “atos de representação” e a categoria ficava em suas casas, trabalhando sem parar, a assembleia da categoria decidiu pelo encerramento da famigerada “greve pela vida”.
É preciso refletir sobre os fatos, compreendê-los e buscar superar a profunda crise que assola, não apenas os educadores do Paraná, mas o conjunto da classe trabalhadora. Ao fazermos isso, é impossível não concluir o quanto essa crise está profundamente ligada a uma crise das direções dos trabalhadores e de suas constantes e sistemáticas traições ou vacilações.
Breve retrospectiva da luta dos educadores do Paraná desde o início da pandemia
Assim que essa teve início, Ratinho buscou “passar a boiada”, intensificando dia após dia, mês após mês, seus ataques contra o conjunto dos servidores, em especial os educadores, eleitos como um de seus principais “inimigos políticos”.
O primeiro ataque de Ratinho Jr e de seu secretário de educação, Renato Feder, assim que teve início a pandemia, foi a terceirização dos agentes nas escolas estaduais. Logo em seguida, como uma avalanche, o governo inicia a militarização de centenas de escolas no Paraná, através de um processo fraudulento de consulta à comunidade escolar, realizado no prazo de “2 dias”, desrespeitando inclusive os critérios presentes em decreto do próprio governo, que proibia a militarização de escolas que possuíam o ensino noturno. Junto a esse processo, mais ataques ocorreram sem cessar, como a redução do número de aulas das disciplinas das áreas de humanas (filosofia, sociologia, arte, entre outras), a precarização ainda maior dos contratos PSS´s, sendo esses profissionais submetidos a uma prova desnecessária e em plena pandemia. Tudo isso para favorecer o lucro de empresas privadas com o serviço público e aprofundar a superexploração dos trabalhadores em educação, especialmente os que possuem contrato precário.
Em 2020, o governo fechou o ano com seus ataques, descartando reajustes, avanços e progressões dos educadores da LDO de 2021, rasgando inclusive o acordo rebaixado feito entre Governo e Sindicato na greve de 2019 de reajuste de 5% (de uma perda salarial de 20%) em 4 anos. Reajuste esse do qual a direção da APP viria a abrir mão, na Assembleia de deflagração da “greve” no início deste ano, em nome de uma “Greve pela vida”.
Frente a todos esses ataques, o que fez a direção da APP?
A direção da APP, buscando manter a “coerência” de seu discurso e de suas ações, insistiu em uma “conciliação com o governo” e buscou ao máximo não convocar os educadores para uma Greve Geral da categoria ou para as ruas, pois a pandemia, segundo eles, exigia “novos métodos de luta”; uma “greve diferente”, dizia a direção. Assim, procurou substituir a luta do conjunto da categoria – com paralisação total das atividades, com piquetes em frente às escolas, atos de rua – por “atos de representação”, que além de buscar promover os dirigentes sindicais para as eleições no ano seguinte (no caso, este ano), buscavam, ao mesmo tempo, convencer Ratinho Jr e Feder a recebê-los em seus gabinetes para uma conversa sobre a pauta dos educadores. Entretanto, nem mesmo uma humilhante greve de fome, encabeçada pela direção do sindicato em frente ao palácio, foi capaz de sensibilizar Ratinho Jr e Feder a receber os “representantes legais” da categoria dos educadores. A direção da APP evitou a greve durante todo ano de 2020, quando inúmeros ataques ocorriam e o conjunto da categoria demonstrava potencial tendência de reação, empurrando-a para o ano seguinte, de forma desidratada, com pauta esvaziada e desprovida dos métodos tradicionais de luta da classe trabalhadora.
Em pleno recesso, e em meio ao que ficou conhecida como a “2ª onda” da COVID durante março deste ano, sem dar trégua a seus inimigos ideológicos e de classe, Ratinho Jr. decreta o retorno das aulas presenciais no Estado, iniciando por algumas regiões, entre elas Cascavel, em que o governo Estadual e Municipal em uma “uníssona harmonia bolsonarista” articularam o retorno de várias escolas estaduais e municipais ao mesmo tempo na cidade. Os resultados dessas medidas tomadas na cidade de Cascavel, estendidas em seguida para outras escolas e cidades do Estado, podem ser vistos hoje, nos dados e notícias sobre a 2ª Onda na região e as suas consequências. Ratinho e Beto Preto (secretário de saúde), apesar do verniz e do discurso de “defensores da vacina”, aplicam uma política irresponsável, negacionista e bolsonarista no Estado do Paraná.
Seja como for, o fato é que durante a assembleia de deflagração da greve, a direção da APP esforçou-se para excluir pontos essenciais da pauta da categoria como condição para deflagração e saída da greve. Com isso, a “pauta cheia” (contra as terceirizações, a militarização das escolas, por concurso público, contra a precarização dos PSS´s, e pelos justos e merecidos reajustes e avanços) deu lugar à “greve pela vida”, esvaziando a pauta da categoria, condicionando a greve a uma “luta sanitária” e apenas pela vacina. Luta essa que infelizmente, como sempre e como vimos, acabou sendo suspensa, não sendo levada até o fim.
Depois de aprovar a proposta de “greve pela vida”, que na verdade transformou-se em um mecanismo legal para a manutenção do trabalho remoto, a direção da APP pouco ou nada fez para a construção da greve e para mobilizar a categoria. Pelo contrário. Uma reunião do coletivo de trabalhadores PSS´s da região de Cascavel, organizada pela base para debater e convencer mais educadores a aderirem à greve das atividades presenciais, foi desmobilizada e deslegitimada pela direção regional da APP-sindicato. Dispararam pelos grupos de WhatsApp, publicando também em sua página oficial no Facebook (e depois excluindo), que o encontro do coletivo de PSS´s que buscava se organizar para discutir e construir a greve, era “FAKE”, e que nenhum grupo ou coletivo teria “autoridade” ou “legitimidade” para convocar qualquer reunião ou “assembleia” para discutir sobre a greve, a não ser a direção da APP.
Em Cascavel, cidade onde supostamente houve a maior adesão à “greve”, como se não bastasse não ter chamado qualquer reunião a véspera do retorno das aulas presenciais para organizar a luta; mas ter ao mesmo tempo em velocidade ímpar agido para desmobilizar PSS´s que buscavam se reunir, discutir e se organizar para a “greve”, a direção regional da APP de Cascavel se opôs nos comandos de greve à realização de piquetes em frente às escolas. A proposta, que partiu da oposição sindical e visava, com um grupo reduzido de pessoas, com todos os cuidados que a situação exigia, denunciar os casos de COVID nas escolas estaduais da cidade e encorajar educadores que voltavam coagidos e com medo para as salas de aula a aderirem a greve, infelizmente encontrou resistência da direção que alegou que “os piquetes descaracterizariam a greve”, e que precisávamos ser “coerentes”, evitar “aglomerações”, mesmo que de “uma dúzia de manifestantes” fazendo piquete. Em contrapartida a direção propôs um ato simbólico e, novamente, de “representação” em frente ao NRE (Núcleo Regional de Educação).
O resultado das medidas propostas pela direção regional de Cascavel para a “mobilização” da greve foi o de iniciar o movimento com 100 grevistas fazendo-a cair para 30. Em nível estadual a situação era mesma.
Incapaz de uma autocrítica, como sempre, a direção da APP joga no ombro da categoria a culpa pela greve não ter se desenvolvido como deveria. O que se poderia esperar de uma greve ao qual nem mesmo o conjunto dos dirigentes sindicais aderiu?! O problema, na verdade, não se limita apenas à direção da APP. A CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação), durante todo o período da pandemia, não convocou sequer um dia de paralisação “em defesa da vida”, contra o retorno das aulas presenciais. A única coisa que se viu foram notas no site lamentando a morte dos trabalhadores em educação.
Quanto à participação da direção da APP nos atos pelo Fora Bolsonaro nesse período da greve, limitou-se a vistas e expectativas positivas para 2022. Nos comandos de greve a orientação proposta pela direção era a de “não misturar os atos Fora Bolsonaro com a greve da categoria”.
Mas, se a direção da APP encaminhou a “greve” em Assembleia, porque ao invés de trabalhar pela mobilização e construção da greve, trabalhou por sua desmobilização desde o início? O que explica tal atitude? Como a direção pode dizer que “houve mobilização” se no início da greve a adesão era baixa e ao término mais baixa ainda? Como? Essas são as perguntas que a categoria faz, em um cenário de intermináveis ataques à direção.
Quem há tempos acompanha o que acontece dentro da APP, sempre observa perplexo esse tipo de prática por parte da direção. Mas a resposta é simples: a atual/antiga direção da APP sindicato (situação) possui uma linha política de conciliação com governos (sejam eles de direita ou de esquerda) e por trabalhar incansavelmente pela derrota sistemática dos “setores mais radicalizados” dentro do sindicato. Como grupo burocrático-parasitário, a direção da APP luta para manter, a todo custo, o domínio sobre o aparelho sindical e submetê-lo a “calendários eleitorais” impostos pelo PT, PCdoB, MDB e suas correntes sindicais dentro da APP. Por isso a maioria esmagadora das lutas dos trabalhadores e educadores acaba sempre pela metade ou não é feita quando é preciso. Uma vez explorado o potencial eleitoral de suas lutas, as direções sindicais encerram suas greves e vendem a ilusão das “eleições burguesas” como “única solução” para os problemas dos trabalhadores. Acontece que as pautas e as necessidades da classe trabalhadora e, em nosso caso, dos educadores, não podem ser submetidas a “agendas eleitorais”, assim como, as “eleições” dominadas pelo poderio econômico capitalista não representam a “única saída” possível para os trabalhadores.
Cansada das “práticas tradicionais” do “sindicalismo de conciliação” e de uma política burocrática-eleitoral exercida pela direção da APP, a esmagadora maioria da categoria se afasta do sindicato, tornando-se descrente na luta por vias sindicais, o que, em termos práticos, é terrível para o movimento de luta e resistência da classe trabalhadora. Nenhuma outra greve que seja convocada pela APP conseguirá se desenvolver e conquistar a força que já teve no passado, enquanto a atual direção mantiver a sua linha política e o poder sobre o aparato sindical.
O acúmulo de derrotas sofridas pela categoria nos últimos anos, a política eleitoreira e a incapacidade da atual direção da APP neste período em apresentar uma resistência e mobilização efetiva contra os ataques do governo, têm feito com que a categoria dos educadores acabe tendo mais insegurança em relação à direção do sindicato – e por isso, pelo próprio sindicato, pois ambos geralmente acabam sendo confundidos pela categoria como sendo “a mesma coisa” – do que insegurança em relação à pandemia e o retorno às aulas presenciais, mesmo sem imunização e segurança. Esta é a trágica verdade!
Na última assembleia do dia 31/07, apesar de mostrar-se “dividida” em relação à continuidade ou suspensão do movimento, em conjunto e de forma uníssona, a direção trabalhou durante todo o período da “greve” para “garantir legalmente o trabalho remoto”, e nada mais que isso. Todo o trabalho feito pela direção foi para que não houvesse uma greve de fato. E, mais uma vez, ela conseguiu. Com isso, Ratinho Jr. sai mais uma vez fortalecido, rindo dos educadores, enquanto a direção da APP, apesar dos autoelogios do “heroísmo” e bravura de sua direção, sai mais uma vez desmoralizada, jogando nas costas da categoria a “culpa pelo fracasso da greve”, ou quando acusa pelos bastidores de “negacionista”, “gado”, “que não sabe votar” e que “não luta quando tem que lutar”.
Neste sentido, nós, militantes da Esquerda Marxista, convidamos todos os educadores que atuam na base da categoria e que concordam de modo integral ou mesmo parcial com nossas análises e balanços, a se organizarem conosco para construir uma oposição séria e efetiva POR DENTRO DA APP SINDICATO! Até quando vamos esperar para arrancar a casta burocrática que controla a direção da APP há décadas e devolver o sindicato novamente à categoria dos educadores? Até quando os educadores paranaenses irão suportar os ataques do Governo Ratinho e assistir perplexos à ruína de nosso sindicato e de nossos direitos? Organize-se e venha lutar com a gente!
Fora Ratinho!
Fora Bolsonaro já!
Por Um Governo dos Trabalhadores Sem Patrões Nem Generais!
Educação Pública Gratuita e Para Todos!