O descontentamento e a fúria dos trabalhadores se expressaram no referendo que deu vitória ao voto pela saída do Reino Unido da União Europeia.
A decisão do Reino Unido de deixar a União Europeia é o maior choque que o continente sofreu desde a queda do Muro de Berlim. As repercussões desse ato serão sentidas tanto no Reino Unido quanto na Europa e no Ocidente.
“Este é, provavelmente, o evento mais significativo da história britânica desde a Segunda Guerra Mundial”, estas foram as palavras do Financial Times, a voz sóbria da classe dominante. Elas expressam o pânico e a crise que se abateu sobre todo o stablishment europeu em resposta ao Brexit. A saída do Reino Unido da EU é a última e mais grave expressão da profunda crise política e econômica do capitalismo britânico, europeu e mundial.
Cameron já tombou em batalha, pagando o preço pela jogada imprudente que levou adiante por causa de seus próprios interesses políticos. O país foi mergulhado em uma crise constitucional, com a Escócia provavelmente realizando um segundo referendo por sua independência e a ruptura do Reino Unido se apresentando como uma possibilidade real.
Este não foi simplesmente um voto “racista”, mas um grito de angústia – uma investida contra a elite rica e o stablishment que têm tratado as pessoas comuns com desprezo por décadas. Após anos de desemprego e profundos cortes contra direitos trabalhistas, os mais explorados setores da sociedade expressaram sua raiva votando contra o status quo de crise e da austeridade.
Na ausência de qualquer alternativa genuína e militante dos líderes do movimento trabalhista, este descontentamento e fúria encontram expressão através da campanha pela saída, liderada por reacionários, populistas de direita e xenófobos.
É importante agora, nas palavras do filósofo Spinoza, “Não rir nem chorar, mas compreender”. Nós devemos manter a cabeça fria e explicar que o resultado desse referendo não foi a causa de toda a crise que se instalou após o voto pelo Brexit, mas sim o contrário.
O sistema inteiro está quebrado e estagnado, incapaz de melhorar as condições de vida para os 99%. O descontentamento tem crescido há anos por toda a Europa e agora se manifesta com consequências violentas. Um período novo e ainda mais turbulento se inicia no Reino Unido e em todo o mundo.
Os blairistas já estão se colocando a postos para derrubar Corbyn, culpando ele por sua derrota. No entanto, líderes direitistas como Boris, Gove e Farage não serão derrotados pelo blairistas e seu programa de cortes, privatizações e “controle imigratório”.
O status quo falhou. A austeridade falhou. O blairismo falhou. A “posição de centro” falhou. Tentativas de reformar o sistema falharam. O Capitalismo falhou.
O único caminho à frente agora é que Corbyn e os líderes do movimento de trabalhadores lutem vigorosamente – que venham com firme e corajosamente com uma resposta socialista para os problemas do desemprego, dos salários, da moradia e dos serviços públicos.
O sistema está quebrado. Precisamos de uma revolução!
Artigo publicado originalmente em 24 de junho de 2016, no site da Socialist Appeal, seção britânica da Corrente Marxista Internacional (CMI), sob o título “Brexit plunges Europe into crisis: The status quo has failed“.
Tradução de Felipe Libório.