Em maio de 1968 se viu a conjunção de uma crise internacional que maturava a longo tempo. Os diversos imperialismos, alemão, francês, britânico e japonês, para não falar de seus rivais europeus de segunda categoria, se debatiam tentando manter suas posições, uns face aos outros, num quadro geral em que o imperialismo norte-americano, mesmo dominante, também sentia as dores de uma época revolucionária se aproximando. Esta luta interimperialista decorre na época de apodrecimento e decadência generalizada do imperialismo.
Em geral, na história, em cada país a luta que se desenvolve entre as classes aparece de uma forma particular, “nacional” por assim dizer, com as peculiaridades da história e outros elementos próprios de cada país ou região. É a forma nacional de uma luta de classes que tem conteúdo internacional. Em 1968, isto se expressou de uma maneira espetacular, como elemento de clarificação do que sempre explicaram os marxistas que é a unidade internacional da luta de classes.
Contra todos que trabalharam incessantemente para que os trabalhadores vissem a luta de classes como um fenômeno puramente nacional, desta vez a realidade fez saltar a mediocridade e provincianismo político apresentando ao mundo um planeta em chamas.
Em 1968, pela primeira vez, se apresenta ao mesmo tempo, e com uma intensidade explosiva e radiante, a crise conjunta do imperialismo e das burocracias contrarrevolucionárias controladas pelo Kremlin.
A revolução explode nos países capitalistas avançados e nos dominados. Da França ao México, dos Estados Unidos ao Brasil, da Itália ao Paquistão, etc. Mas, também nos países onde o capital havia sido expropriado, na Tchecoslováquia, na Polônia, na Hungria. A unidade mundial da luta de classes se expressa na revolução social contra o capital e na revolução política contra a burocracia stalinista, usurpadora das bandeiras do socialismo.
O terror de De Gaulle, na França, declarando, em maio de 68 que “em uma semana os comunistas estarão no poder”, só é comparável às declarações dos burocratas soviéticos que acusavam os revolucionários do Leste Europeu de “espiões capitalistas” e “elementos contrarrevolucionários”, e enviaram tanques com ordem de esmagar os revoltosos.
O paraíso prometido pelos capitalistas após a 2ª Guerra Mundial e os países “livres da luta de classes” e onde se “iniciou a construção do comunismo”, segundo a burocracia soviética, se esfumaram frente às mobilizações de milhões e milhões de trabalhadores e jovens que “nada tinham a perder, exceto seus grilhões”, tanto no Leste quanto no Oeste.
Décadas de “prosperidade” tinham conduzido os países capitalistas à exacerbação brutal da desigualdade. Mais uma vez triunfava Marx que explicara isto que se conhece como a “teoria da pauperização crescente”, no capitalismo. Mais uma vez triunfava Marx, desta vez contra burocratas medíocres, que teve a sorte de não conhecer, que explicara que o capitalismo é um sistema mundial e que a luta de classes é mundial: “Proletários de todo o mundo, uni-vos!”
Mas, desta vez também triunfava Leon Trotsky que décadas antes havia explicado que, por mais que a burocracia falasse em “socialismo num só país”, os países onde o capital fora expropriado estavam no contexto de um sistema mundial de produção e submetidos a sua pressão. Ou a revolução política expulsava a burocracia e fazia renascer os sovietes ou a burocracia restauraria o capitalismo.
Como sabemos, em 1968, a revolução política não venceu e os países onde o capital fora expropriado foram atirados para trás com a restauração capitalista. A revolução social também não venceu e a sobrevivência do sistema capitalista custou já milhões de mortos desde 1968, guerras e sofrimentos inacreditáveis. Mas, os comunistas celebram o ano de 1968, assim como Marx, Engels, Lenin e Trotsky celebraram a Comuna de Paris que não venceu, mas apontou o caminho que seria retomado pela grande Revolução Russa de 1917.
Esta é a importância de conhecer o ano revolucionário de 1968, que explodiu em maio no mundo todo. Publicaremos na próxima edição artigos sobre 1968 no Brasil, nos EUA, na Argentina e outros países. Esperamos assim ajudar a restabelecer a compreensão proletária da unidade mundial da luta de classes e da necessidade de uma verdadeira Internacional revolucionária para “mudar a vida”!
Agregamos a esta edição dois artigos sobre uma questão extrema atualidade que é a questão nacional e qual o método dos marxistas para responder a estes desafios da luta de classes na época imperialista. Um artigo de Trotsky sobre as consignas democráticas e a revolução, Espanha e autodeterminação da Catalunha. Outro, de Serge Goulart, sobre o Timor Leste e Indonésia, escrito em 1999, quando se massacraram 300 mil timorenses e quase toda a esquerda dita “revolucionária”, de joelhos pedia a intervenção da ONU, ou dos EUA, para “parar o massacre”! Os mandelistas, como sempre, na primeira fila.
Boa leitura.
Índice:
- Tchecoslováquia 1968: A Primavera dos povos
Alan Woods - México: O movimento estudantil de 1968
Ubaldo Oropeza - A revolução francesa de maio de 1968
Alan Woods - Paquistão: a revolução de 1968-69
Adam Pal - 1968: A ofensiva do Tet e o ponto de virada da guerra do Vietnã
Alan Woods - As palavras de ordem democráticas e questão nacional
Leon Trotsky - Timor Leste e Indonésia: História de um massacre
Serge Goulart