“Cría Cuervos…” não é só o título de um belo filme dirigido pelos espanhol Carlos Saura em 1976, premiado no Festival de Cannnes e um dos grandes momentos da atriz Geraldine Chaplin, filha do conhecido Charles Chaplin. É também um ditado popular espanhol que diz “cria cuervos y ellos te sacaran los ojos” (crie corvos que eles te arrancarão os olhos). Este ditado é o que melhor ilustra o impasse e as contradições do governo de coalizão de classes do PT
“Cría Cuervos…” não é só o título de um belo filme dirigido pelos espanhol Carlos Saura em 1976, premiado no Festival de Cannnes e um dos grandes momentos da atriz Geraldine Chaplin, filha do conhecido Charles Chaplin. É também um ditado popular espanhol que diz “cria cuervos y ellos te sacaran los ojos” (crie corvos que eles te arrancarão os olhos). Este ditado é o que melhor ilustra o impasse e as contradições do governo de coalizão de classes do PT, que se distanciou dos interesses históricos da classe trabalhadora, que é a luta pela sua emancipação e pelo socialismo, para atender e beneficiar a acumulação capitalista e o lucro privado às custas de uma brutal exploração da força de trabalho do proletariado.
Os corvos criados pelo governo Lula ameaçam comer os olhos do governo Dilma. Agora, na Copa do Mundo organizada pela corrupta FIFA o governo é refém desta, como demonstramos em nosso artigo sobre a mentirar da Copa do Mundo. Da mesma forma que é refém da burguesia e dos capitalistas. Refém da contra revolução que está tentando criminalizar e reprimir com o terrorismo de Estado as greves e manifestações e os direitos de liberdade de expressão dos trabalhadores.
O mundo inteiro assistiu na inauguração da Copa do Mundo, no estádio do “Itaquerão” em São Paulo, a presidente Dilma ser xingada por um público de ricos e endinheirados. Tinha de tudo: apoiadores do drogado-bêbado Aécio Neves, adoradores do candidato a ditador Joaquim Barbosa, VIPs, gente metida a socialite, emergentes, saudosistas da ditadura militar, parasitas da Rede Globo e muita gente cuspindo no prato que comeu. Era uma matilha de cães raivosos mandando a presidente tomar naquele lugar. O xingamento de mandar tomar naquele lugar, por si só, já expressa um comportamento reacionário contra a sexualidade alheia e um ódio homofóbico fascista. Mas a matilha latiu até não poder mais.
O resultado apareceu no dia seguinte. A pesquisa do IBOPE, que vinha indicando queda da popularidade da presidente Dilma para a sucessão presidencial, apontou uma subida de 30% para 40%. Os apoiadores do drogado-bêbado Aécio Neves e do ditador Joaquim Barbosa se tornaram os melhores cabos eleitorais da Dilma.
Enquanto a presidente Dilma era xingada no estádio pelos verdeiros vândalos que existe na nossa sociedade capitalista, nas ruas das principais cidades, como São Paulo, Rio, Belo Horizonte, as manifestações contra a Copa foram reprimidas com um terrorismo de Estado sem precedentes. A Lei Geral da Copa passou por cima das liberdades democráticas garantidas na Constituição Brasileira e montou Tribunais de Exceção para reprimir, prender, processar e julgar manifestantes.
Espancamentos, torturas, uso de agressões sexuais contra mulheres presas criaram um ambiente de terror que aos poucos estamos conhecendo por relatos de testemunhas, depoimentos de pessoas presas, videos, fotos, que estão sendo divulgados nas redes sociais da Internet e que a mídia burguesa está fazendo de tudo para esconder. Exatamente como nos tempos da ditadura militar. A Lei Geral da Copa é o ensaio geral da Lei Antiterrorismo que está por ser submetida a votação no Senado e no Congresso Nacional.
Por que a matilha está latindo?
Crie corvos que eles te arrancarão os olhos. O governo Dilma, de colaboração de classes com a burguesia, através da coalizão governamental, está chocando o ovo da serpente da contra revolução. A matilha raivosa, que vive das migalhas que caem da mesa dos grandes monopólios capitalistas, está latindo. Aplaude o chicote da contra revolução. A matilha está com medo. A recessão econômica é um fato. Ameaça fazer rolar ladeira abaixo os estratos médios e pequenos da burguesia. Daí a gritaria contra a “ameaça vermelha” do PT.
As greves crescem. O Dieese (Departamento intersindical de estatísticas) aponta que desde 2003 as greves vem se ampliando sistematicamente. Foram 340 neste ano e chegaram a um valor expressivo de 873 em 2012. O aumento das greves é a demonstração clara e inequívoca da exacerbação da luta de classes na atual conjuntura politica.
O jornal conservador O Estado de São Paulo, um dos grandes porta-vozes do pensamento da burguesia paulistana publicou uma matéria assinada pelo professor Ricardo Antunes, titular de Sociologia do Trabalho da Unicamp onde começa perguntando “Por que só os trabalhadores são vândalos e proibidos de lutar por suas causas quando o mundo todo está olhando para o Brasil”. E continua:
“E, se em 2013 tudo indica que esses números avançaram ainda mais, neste ano, a tomar pelo que estamos vivenciando, haverá um crescimento exponencial das paralisações. Para bem compreender essa explosão recente, temos que olhar com atenção para o Brasil desde junho de 2013.
De um modo breve, desde aqueles levantes de junho que o País mudou de qualidade. Ocorreu algo excepcional em nossa história, dado pela intersecção entre três movimentos que caminhavam em paralelo e se entrecruzaram, produzindo um choque social e político profundo. Primeiro, desde 2008 as lutas globais vêm se ampliando em todas as partes do mundo. No Oriente Médio, na Ásia, na Europa, até atingir o coração do Império, os EUA, para ficar nesses exemplos. E essa onda foi vista por todos os brasileiros. Sua lição basilar: para se conquistar algo é preciso tomar as praças públicas, pois os organismos de representação (com os Parlamentos à frente) estão completamente na berlinda.
Segundo, esse movimento mais global encontrou uma situação especial no Brasil: o governo do PT comemorava dez anos de um “novo ciclo” quando as rebeliões de junho de 2013 roubaram o bolo de Lula e esparramaram seus farelos pelas praças de todo o País. Ruiu o mito da “nova classe média”, em plena festa do seu primeiro decênio. Os assalariados que encontram empregos recebem, em sua grande maioria, até um salário mínimo e meio; trabalham para estudar e estudam para melhorar no trabalho. O canudo da faculdade privada lhes faz derrapar ainda mais nos empregos voláteis. Pagam essas faculdades e encontram empregos com altas taxas de rotatividade, ainda mais terceirizados, mais adoecidos, mais precarizados, sofrendo assédio moral, etc. Em suma: muito mais privação do que realização. E, para trabalhar, dependem do transporte público, quase todo privatizado e degradado; se adoecem, oscilam entre a tragédia dos hospitais públicos e os engôdos dos convênios privados. Uma hora a situação iria fazer água, e isso ocorreu em junho do ano passado. (Aqui vale um parênteses: o mito tucano, esse não ruiu porque simplesmente nunca existiu, uma vez que seu projeto é majoritariamente sustentado pelo voto conservador que não se assusta com o aumento da segregação social no País.)
O terceiro foi um espetacular elemento contingente. A celebração tríplice das Copas (das Confederações, da Fifa e das Olimpíadas), imaginada por Lula e pelos grandes capitais como coroamento de um ciclo virtuoso, fez desabrochar seu exato inverso e o descontentamento explodiu”.
Essa analise – que poderia ter sido escrita por qualquer marxista – foi publicada por um dos maiores jornais conservadores da burguesia. É um indicador do fato que os setores mais inteligentes da burguesia tem uma clara compreensão do que se passa no país depois dos acontecimentos de junho do ano passado. Sabem do perigo que representa o aumento da luta de classe do proletariado. A expansão do capitalismo levada a cabo pelos governos Lula-Dilma contém a sua própria negação: o crescimento do antagonismo entre o proletariado com burguesia.
O editorial do jornal Foice e Martelo, da Esquerda Marxista, no seu n° 48, diz o seguinte:
“Um ano após as jornadas de junho de 2013, inúmeras greves eclodem e trazem características novas após vários anos de lutas econômicas com cada uma no seu canto. Além do início de um processo de surgimento de greves de massas, o que significa um início de consciência política mais elevada nas mobilizações, começamos a ver as bases transbordando as direções que tentam frear as lutas e agora com a greve dos metroviários de SP estamos vendo uma radicalização, uma determinação e um sentimento de unidade novo nesta situação política. Só nas grandes greves dos anos 70 e 80 vimos isso. Do ABC à greve de Volta Redonda e muitas outras. É o anúncio de que o jogo está virando.
O aprofundamento da crise internacional, da crise no Brasil onde após festa e propaganda governamental jurarem que “agora vai!”, “o PIB vai deslanchar”, temos o anúncio de que o deus dos atuais governantes, o “Mercado”, prevê um PIBinho de 1,44% para 2014.
O fato é que o sentimento de que “lutando se pode conquistar” invadiu a classe trabalhadora novamente. E é por isso que uma Santa Aliança repressora, desesperada e sem limites, se conforma no Brasil, na esteira do que se passa no mundo”.
Mas e do outro lado da barricada?
As organizações Globo, pertencente ao clã Marinho, uma das famílias que detêm a maior fortuna do Brasil, está em descarada campanha para eleger o bêbado-drogado Aécio Neves, do PSDB. Chega ao cumulo de no seu telejornal mais assistido pela população brasileira, o Jornal Nacional, a distorcer mentirosamente as pesquisas da CNI/IBOPE. Mas aonde estão dos verdadeiros “donos” do poder, a classe dominante, a burguesia?
Eles não são vistos andando por aí, raramente falam com a imprensa, não frequentam estádios de futebol, não vão a camarotes em festas VIPs e nem fazem check-in em aeroportos. É mais fácil encontra-los em Wall Street ou em reuniões na City londrina. São todos sócios menores dos grandes monopólios capitalistas internacionais.
A revista americana Forbes publicou antes do início da Copa do Mundo um relatório sobre as maiores fortunas do Brasil. Segundo a revista Carta Capital “no topo da lista da Forbes está o clã Marinho, dono das Organizações Globo, que aparece com uma fortuna acumulada de 64 bilhões de reais”. Mas continuando a matéria sobre o relatório da revista Forbes temos:
“O patrimônio das 15 famílias mais ricas do Brasil, segundo lista divulgada pela revista Forbes, é dez vezes maior que a renda de 14 milhões de grupos familiares atendidos pelo programa Bolsa Família. De acordo com a publicação americana, os 15 clãs mais abastados do Brasil concentram uma fortuna de 270 bilhões de reais, cerca de 5% do PIB do País. O Bolsa Família, por sua vez, atendeu 14 milhões de famílias em 2013 com um orçamento de 24 bilhões de reais, equivalentes a 0,5% do PIB.
Lidera a lista da Forbes a família Marinho, dona das Organizações Globo. Os irmãos Roberto Irineu Marinho, João Roberto Marinho, José Roberto Marinho possuem uma fortuna de 64 bilhões de reais. Outra empresa de mídia que aparece na lista é o Grupo Abril, do clã Civita, com patrimônio de 7,3 bilhões de reais.
O setor bancário se destaca na origem das fortunas das famílias mais ricas do Brasil, representado pelos clãs Safra (Banco Safra), Moreira Salles (Itau/Unibanco), Villela (holding Itaúsa), Aguiar (Bradesco) e Setubal (Itaú).
Eram três os bilionários do Brasil em 1987, quando a Forbes produziu a primeira lista: Sebastião Camargo (Grupo Camargo Correa), Antônio Ermírio de Moraes (Grupo Votorantim) e Roberto Marinho (Organizações Globo). Hoje são 65, 25 deles parentes, o que leva a revista americana a constatar que para se tornar um bilionário no Brasil, o mais importante é ser um herdeiro.
Segue a lista das famílias mais ricas do Brasil:
1) Marinho, Organizações Globo, US$ 28,9 bilhões
2) Safra, Banco Safra, US$ 20,1 bilhões
3) Ermírio de Moraes, Grupo Votorantim, US$ 15,4 bilhões
4) Moreira Salles, Itaú/Unibanco, US$ 12,4 bilhões
5) Camargo, Grupo Camargo Corrêa, US$ 8 bilhões
6) Villela, holding Itaúsa, US$ 5 bilhões
7) Maggi, Soja, US$ 4,9 bilhões
8) Aguiar, Bradesco, US$ 4,5 bilhões
9) Batista, JBS, US$ 4,3 bilhões
10) Odebrecht, Organização Odebrecht US$ 3,9 bilhões
11) Civita, Grupo Abril, US$ 3,3 bilhões
12) Setubal, Itaú, US$ 3,3 bilhões
13) Igel, Grupo Ultra, US$ 3,2 bilhões
14) Marcondes Penido, CCR, US$ 2,8 bilhões
15) Feffer, Grupo Suzano, US$ 2,3 bilhões”
A reportagem é de Samantha Maia, publicada na Carta Capital. Os capitalistas nunca tiveram tantas facilidades para acumular capital como as que ofereceram os governos Lula-Dilma.
Em primeiro lugar estão os grandes monopólios capitalistas multinacionais que aumentaram os seus lucros, aumentando a exploração da mais valia (o trabalho não pago produzido pelo trabalhador) do proletariado e se beneficiando de desonerações fiscais e de isenção de impostos. Vemos no site da CUT a seguinte informação:
“Aumento brutal das remessas de lucros para fora do país: as remessas totais, cuja maior parte é constituída pelos ganhos, no Brasil, das filiais de multinacionais que são enviados às suas matrizes, passaram de US$ 25,198 bilhões (2004) para US$ 85,271 bilhões (2011), um aumento de 238,40% (o total de 2012 ainda não foi divulgado pelo Banco Central).
Se consideradas apenas as remessas para o exterior declaradas oficialmente como “lucros e dividendos”, o valor em dólares mais do que quintuplicou (foi multiplicado por 5,5) no mesmo período.
Ao todo, de 2004 a 2011, pari passu com a desnacionalização de 1.296 empresas brasileiras, esse aumento vertiginoso nas remessas para o exterior significou o envio para fora do Brasil do equivalente a 152,84% do saldo comercial que o país obteve no mesmo período. Exatamente, as remessas totais para o exterior montaram a US$ 404,878 bilhões, enquanto o saldo comercial atingiu US$ 264,911 bilhões”.
A burguesia brasileira, financeira, industrial, comercial e do agro-negócio, sócia menor do capital estrangeiro se beneficiou fartamente das vantagens e garantias dos seus negócios oferecidos pelo governo do PT coligado com partidos burgueses. Como Lula disse recentemente “fizemos mais e melhor que o governo do PSDB”.
(continua na Parte II)