A volta às aulas presenciais após o período de ensino remoto, por conta da pandemia, está expondo cenários preocupantes sobre as condições de vida às quais os estudantes estão submetidos. Professores de diversos estados tem relatado a situação das crianças nas escolas públicas, que chegam sem ter feito refeição alguma em casa, o que reverbera para o espaço escolar em alteração do comportamento, queda do rendimento e até desmaio por conta da fome. O local que deveria ser de socialização do conhecimento acumulado pela humanidade, se configura como a única fonte de alimentação dos estudantes.
Em artigo da BBC Brasil (17/11), o relato do desmaio pela fome de uma estudante de 8 anos em sala de aula, em uma escola municipal do Rio de Janeiro, impacta por sua brutalidade. A reportagem também aponta para outros elementos ligados a experiência de privação de recursos, como a vergonha da própria situação, falta de condições para os estudos, como falta de concentração e motivação, além de comportamentos agressivos e irritadiços, o que configura um conjunto violento de vivências para crianças e adolescentes.
A situação de pobreza das famílias também impulsiona o abandono e a evasão escolar em prol de algum tipo de atividade remunerada para complementação de renda. O que amplia a falta de formação e a desqualificação profissional.
Não estamos falando de um problema novo, mas de algo que está se agravando. A relação da escola com a garantia de alimentação de qualidade e salvaguarda já se configurava antes da pandemia, motivo pelo qual houve mobilizações para assegurar recursos para alimentação dos estudantes, mesmo em regime remoto. E, passados quase dois anos desde o início das restrições de circulação, o cenário econômico-social se modificou – tendo piorado – e o retorno da circulação e a reabertura de serviços, sustentada pelo argumento do avanço da vacinação, não trará a recuperação econômica prometida e desejada.
O Brasil e o mundo passam por uma crise econômica, que foi aprofundada em razão da crise sanitária, causada pela própria lógica do capitalismo, na qual cabe aos trabalhadores arcar com o ônus, enquanto a burguesia protege seus lucros. É dessa forma que a situação atual se mostra agravada, diante da precarização das condições de trabalho, do aumento do desemprego, da inflação, da alta de alimentos e da suspensão de medidas que já eram insuficientes como o Bolsa Família, para a criação do Auxílio Brasil, um programa de “caráter transitório”. Estas dificuldades atingem o ambiente doméstico e a condição de crianças e jovens, isso quando não passaram pelo falecimento dos pais ou avós provedores, principalmente, em decorrência da Covid-19, ampliando a vulnerabilidade e o que tem sido nomeado como “insegurança alimentar grave”, isto é, a Fome.
A grande mídia “cumpre o seu papel” e disfarça os fatos, romantizando a pobreza. Ao mesmo tempo, setores da esquerda que fazem as denúncias tratam as críticas ao atual governo e as agendas de austeridade como problemas que serão resolvidos com a próxima eleição, isto é, daqui mais um ano.
A crise do sistema capitalista, seguido de cortes e ataques aos serviços e políticas públicas e às condições de trabalho está no cerne da precarização da vida dos trabalhadores e dos seus filhos. Está claro o quanto a burguesia e o capital condenam a população ao sofrimento e à privação. E esta barbárie está acontecendo agora em um mundo no qual podemos produzir mais que o suficiente para alimentar todo o planeta, como explicamos em “O mundo está morrendo de fome, mas há bastante comida para todos”:
“A quantidade de produção de cereais seria suficiente para alimentar todas as pessoas no mundo duas vezes, com o seu maior rendimento de 2,8 trilhões de toneladas (o equivalente a 1 kg por pessoa por dia). Temos uma rede de comércio mundial sem paralelo na história. 11 bilhões de toneladas de carga são transportadas pelos mares todos os anos”.
A correção desta equação demanda ações imediatas pautadas em reivindicações transitórias para modificar, desde já, esta sociedade. Exigimos o fim do pagamento da dívida pública, uma dívida que não foi o povo quem fez e serve à dominação das riquezas do país e para engordar os bolsos dos especuladores. Lutamos para que todo dinheiro necessário seja destinado à educação, ao transporte e à saúde, para a construção de serviços públicos, gratuitos e para todos. Convocamos ao combate pela anulação das reformas trabalhistas e previdenciárias, e contra às terceirizações, que rebaixam as condições de trabalho, por meio de uma greve geral por tempo indeterminado, mobilizada pela base.
Devemos romper com o reformismo e as políticas de conciliação por meio da organização dos trabalhadores e jovens na rua, nos locais de trabalho, nas escolas, pois elas legitimam a democracia burguesa e mantêm as relações de exploração e subserviência. Reivindicamos e combatemos pelo “Fora Bolsonaro Já! Por um governo dos trabalhadores sem patrões, nem generais!”.
É necessário apontar nossos esforços para uma perspectiva revolucionária, a fim de romper com esse sistema atual, para a construção de uma sociedade em que os trabalhadores possam controlar democraticamente a economia, atendendo verdadeiramente às necessidades de todos por assistência, educação, empregos, saúde, lazer, cultura. Esta é a principal tarefa, capaz de varrer esta realidade brutal de privações e abrir para a transformação por meio de uma revolução socialista.