Os recuos de Bolsonaro desaceleraram a escalada do conflito entre a fração majoritária da burguesia e o governo. Porém, nada está resolvido. A instabilidade econômica e política segue seu curso e, em meio à crise, a divisão e a disputa nas cúpulas se acentua.
Os atos de 7 de setembro foram uma tentativa de demonstração de força de um governo cada vez mais impopular (63% de desaprovação, segundo pesquisa PoderData de 2/9) e acuado por denúncias de corrupção e investigações. Apesar de conservar uma base de apoio, é preciso considerar que estes atos pró-governo foram inflados pelo uso da máquina estatal e o apoio de empresários bolsonaristas. Foram expressivos fundamentalmente no DF, e nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. Os atos contra o governo realizados em junho, com manifestações massivas em mais cidades, seguramente contaram com uma participação global maior do que os atos de apoio ao governo do último dia 7.
O fracasso dos atos “Fora Bolsonaro” no mesmo dia, é responsabilidade direta das direções dos aparatos (CUT, PT, UNE, PCdoB, PSOL etc.) e sua linha de “Lula 2022”. O próprio Lula, mirando nas eleições, não convoca e nem participa dos atos. Já as direções, como de costume, convocam, mas não mobilizam. Ao contrário, ao disseminarem o medo do confronto com os bolsonaristas desmobilizaram a participação da base.
A raiz da situação é a crise econômica internacional. No Brasil, no 2º trimestre o PIB recuou 0,1% em relação ao trimestre anterior. A produção industrial caiu 1,3% em julho, voltando a ficar abaixo do patamar pré-pandemia. A inflação dispara e chega a 9,8% no acumulado dos últimos 12 meses. Como classificam os economistas burgueses, é um cenário de estagflação, estagnação econômica e inflação alta. A esperança burguesa de uma recuperação da economia, com o relaxamento das medidas de restrição da pandemia, parece ter um fôlego curto.
Nesse contexto, o discurso de Bolsonaro no dia 7, com ataques aos STF e ao processo eleitoral, só criou mais instabilidade, provocando queda nas bolsas e alta do dólar. A burguesia condenou fortemente os atos e os discursos de Bolsonaro. Apreço pela democracia? Não. Tentativa de conter as loucuras de um presidente que, na tentativa de se salvar, deslegitima ainda mais as desacreditadas instituições da República e joga gasolina na situação já convulsiva.
Mais grave ainda seria uma paralisação de caminhoneiros impulsionada por lideranças bolsonaristas e setores do agronegócio. Bolsonaro foi obrigado a desmontar a paralisação que tinha incentivado.
Em seguida, ressuscitando Temer, realiza um recuo ainda maior. Assina uma “declaração à nação”, hasteando a “bandeira branca” aos demais poderes.
Bolsonaro é ignorante, mas sabe que se encontra enfraquecido, sem condições de avançar em medidas bonapartistas. É obrigado a recuar, desapontando os seguidores mais radicais.
A burguesia prefere desgastar Bolsonaro e liquidá-lo nas eleições. No entanto, sua tentativa de criar a “terceira via” para 2022 é uma opção com poucas chances de sucesso. Parte disso se expressou nos fracassados atos convocados pelo reacionário MBL no último domingo, que vergonhosamente contou com a participação de lideranças de esquerda.
Avança a linha da “frente ampla”, a busca das direções ditas de “esquerda” por alianças com setores da burguesia que estão em oposição a Bolsonaro. Preparando a frente ampla eleitoral, dirigentes de PT, PCdoB e PSOL firmam acordo para convocação conjunta dos atos de 2 de outubro com os partidos burgueses PSB, PDT, Rede, PV, Cidadania e Solidariedade. O presidente do PSOL, Juliano Medeiros, justifica: “É um convite amplíssimo, sem vetos. Não se trata de um ato só da esquerda ou só da direita, mas de uma convocação pelo ‘fora, Bolsonaro'”.
Ou seja, unidade com setores da burguesia que estão contra Bolsonaro, mas a favor dos ataques aos direitos dos trabalhadores. A luta para pôr fim ao governo reacionário só pode ser efetiva com independência de classe. A burguesia se divide sobre as táticas, mas está sempre unida em defender seus lucros e intensificar a exploração da classe operária.
Participaremos dos atos de 2 de outubro, inicialmente convocados pela Campanha Fora Bolsonaro, que agrupa partidos de esquerda, sindicatos e movimentos populares. Porém, realizando a crítica a essa busca por aliança com a burguesia. Não é se aliando com representantes do sistema que se ampliará a participação, nas ruas, das amplas massas que rejeitam o sistema vigente e o governo Bolsonaro.
Nossa tarefa é organizar e agrupar os jovens e trabalhadores conscientes de que é preciso lutar para pôr abaixo o governo Bolsonaro agora e que alianças com a classe inimiga são o caminho para a derrota. Discutir e mobilizar, ampliar a força dos que lutam por um governo dos trabalhadores sem patrões nem generais, este é o objetivo dos “Comitês de Ação Abaixo Bolsonaro Já!’ que estão sendo constituído em todo o país. Conheça o manifesto aprovado pelo Encontro Abaixo Bolsonaro, junte-se a um comitê, venha combater conosco!